terça-feira, 28 de abril de 2020

POEMA: MUNDO GRANDE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Mundo Grande
               Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.
                                                          Carlos Drummond de Andrade
Entendendo o poema:

01 – No poema de Drummond, há uma metáfora que faz referência ao tipo de postura de sujeito romântico, rejeitada pelo poeta. O termo que indica esta METÁFORA é:
a)   Coração.
b)   Mundo.
c)   Fogo.
d)   Amor.

02 – Drummond refere-se a desajustes diante do mundo, que podem ser relacionados com o contexto histórico em que produziu o livro Sentimento do Mundo, do qual o poema “Mundo Grande” foi retirado. A opção que melhor caracteriza o contexto e a referência da época, que justificam a postura crítica do poeta no livro “Sentimento do Mundo” é:
a)   A implantação do Estado Novo.
b)   A Semana de Arte Moderna.
c)   O golpe militar de 1964.
d)   A primeira Guerra Mundial.

03 – Qual é a ânsia do eu poético?
      Em enlaçar destinos (o poeta / os outros), reunir os homens, nem que seja em forma de arquipélagos.

04 – Nos versos: “Fecha os olhos e esquece.
                             Escuta a água nos vidros,
                             tão calma, não anuncia nada.”
        De que se trata estes versos?
      Trata da alienação de uma classe privilegiada que se encontra protegida dentro de espaços fechados.

05 – O poeta percebe que o mundo cresce entre o “amor e o fogo”, entre “a vida e o fogo”, de que forma?
      Cresce todos os dias entre os homens, e que há esperança por trás de tanta maldade e sofrimento.

06 –Por que o poeta sabe que todos nós precisamos uns dos outros?
      Para criar uma vida futura mais melodiosa e agradável e fazer renascer as cidades submersas, inundando tudo de verdades e vidas futuras.


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