Conto: Exame e Pontuação – Emília no país da gramática
Monteiro Lobato
Depois de brincarem por algum tempo
naquele jardim de Períodos, e de discutirem novamente a campeação do Visconde,
os meninos resolveram ir ao bairro das Sílabas sherlockar o rapto do Ditongo —
como dizia a Emília.

— Não ainda — propôs Dona Sintaxe. —
Quero correr um exame nos meus alunos. Venham todos cá — e o senhor também, Seu
Rinoceronte.
Os meninos e o paquiderme perfilaram-se
diante da grande dama.
— Muito bem – disse ela. — Vou agora
ver se essas, cabecinhas guardaram o que ensinei, e para isso temos que
analisar uma frase.
E voltando-se para um grupo de frases
passeadeiras:
— Aproxime-se um Período para ser
analisado! Depressa!...
Apresentou-se incontinenti aquele
assanhadíssimo Período que dizia assim: Tia Nastácia faz bolinhos que todos
acham muito gostosos.
— Vamos ver, Emília, quantas Orações há
neste Período?
— Duas! — respondeu imediatamente a
boneca. — A primeira é a Principal e a segunda é a Subordinada.
—
Muito bem. E qual o Sujeito da primeira, Pedrinho?
— Tia Nastâcia.
— Muito bem. E qual o Sujeito da
segunda, senhor paquiderme?
— Todos — rosnou o rinoceronte com um
bamboleio de corpo.
— Muito bem. E qual o Predicado da
primeira, Narizinho?
— Faz bolinhos — disse a menina com
água na boca, porque estava chegando a hora do jantar.
— Muito bem. E qual o Predicado da
segunda, Quindim?
— Acham muito gostosos — respondeu o
rinoceronte, lambendo os beiços.
— Muito bem. E qual o Complemento
Verbal da primeira, Emília?
— Bolinhos! — berrou a boneca. —
Bolinhos é o Objeto Direto do Verbo Faz — quem não sabe disso?
— Muito bem. E qual o Complemento
Verbal da segunda, Pedrinho?
— Que.
— Esse Que a que se refere?
— Refere-se a Bolinhos.
— Bravos! — exclamou Dona Sintaxe. —
Vejo que não perdi o meu tempo. Podem ir brincar.
Foi uma gritaria, e todos saíram aos
pinotes. Emília espreguiçou-se e Quindim deu uma chifrada no ar, de
brincadeira.
— E agora? — disse Narizinho. — Ela nos
mandou brincar; mas brincar de quê, nesta cidade de palavras? Uma ideia!...
Vamos ver a Pontuação! Onde fica a Pontuação, Quindim?
— Aqui perto, num bazar. Eu sei o
caminho — respondeu o paquiderme.
No tal bazar encontraram os SINAIS DE
PONTUAÇÃO, arrumados em caixinhas de madeira, com rótulos na tampa. Emília
abriu uma e viu só VÍRGULAS dentro.
— Olhem que galanteza! — exclamou. —
Vírgulas, Vírgulas e mais Vírgulas! Parecem bacilos do cólera-morbo, que Dona
Benta diz serem virgulazinhas vivas.
Emília despejou um monte de Vírgulas na
palma da mão e mostrou-as ao rinoceronte.
— Essas Vírgulas servem para separar as
Orações, as Palavras e os Números — explicou ele. — Servem sempre para indicar
uma pausa na frase. A função delas é separar de leve.
Emília soprou o punhadinho de Vírgulas
nas ventas de Quindim e abriu a outra caixa. Era a do PONTO E VÍRGULA.
— E estes, Quindim, estes casaizinhos
de Vírgula e Ponto?
— Esses também servem para separar. Mas
separar com um pouco mais de energia do que a Vírgula sozinha.
Emília despejou no bolso de Pedrinho
todo o conteúdo da caixa.
— E estes aqui? — perguntou em seguida,
abrindo a caixinha dos DOIS PONTOS.
— Esses também servem para separar,
porém com maior energia do que o Ponto e Vírgula.
Metade daqueles Dois Pontos foram para
o bolso do menino. Emília abriu uma nova caixa.
— Oh, estes eu sei para que servem! —
exclamou ela, vendo que eram PONTOS FINAIS. — Estes separam duma vez — cortam.
Assim que aparece um deles na frase, a gente já sabe que a frase acabou. Finou-se...
Em seguida abriu a caixa dos PONTOS DE
INTERROGAÇÃO.
— Ganchinhos! — exclamou. — Conheço-os
muito bem. Servem para fazer perguntas. São mexeriqueiros e curiosíssimos.
Querem saber tudo quanto há. Vou levá-los de presente para Tia Nastácia.
Depois chegou a vez dos PONTOS DE
EXCLAMAÇÃO.
— Viva! — gritou Emília. — Estão cá os
companheiros das Senhoras Interjeições. Vivem de olho arregalado, a espantar-se
e a espantar os outros. Oh! Ah!!! Ih!!!
A caixinha imediata era a das
RETICÊNCIAS.
— Servem para indicar que a frase foi
interrompida em certo ponto — explicou Quindim.
— Não gosto de Reticências — declarou
Emília. — Não gosto de interrupções. Quero todas as coisas inteirinhas — pão,
pão, queijo, queijo — ali na batata! — e, despejando no assoalho todas aquelas
Reticências, sapateou em cima.
Depois abriu outra caixa e exclamou com
cara alegre:
— Oh, estes são engraçadinhos! Parecem
meias-luas. . . Quindim explicou que
se tratava dos
PARÊNTESES, que servem para encaixar numa frase alguma palavra, ou mesmo
outra frase explicativa, que a gente lê variando o tom da voz.
— E aqui, estes pauzinhos? — perguntou
Emília, abrindo a última caixa.
— São os TRAVESSÕES, que servem no
começo das frases de diálogo para mostrar que é uma pessoa que vai falar.
Também servem dentro duma frase para pôr em maior destaque uma Palavra ou uma
Oração.
— Que graça! — exclamou Emília. —
Chamarem Travessão a umas travessinhas de mosquito deste tamanhinho! Os
gramáticos não possuem o "senso da medida".
Quindim olhou-a com o rabo dos olhos.
Estava ficando sabida demais...
OBRA INFANTO-JUVENIL DE
MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.
Entendendo o conto:
01
– Qual é a frase que Dona Sintaxe seleciona para o exame dos alunos, e como
Emília a classifica imediatamente em relação à sua estrutura?
A frase
selecionada é: "Tia Nastácia faz bolinhos que todos acham muito
gostosos." Emília a classifica imediatamente como um Período Composto de
duas Orações, sendo a primeira a Principal e a segunda a Subordinada.
02
– Durante a análise da primeira Oração ("Tia Nastácia faz bolinhos"),
qual termo Emília identifica como o Complemento Verbal e qual o nome gramatical
que ela atribui a esse termo?
Emília identifica
"Bolinhos" como o Complemento Verbal (ou Objeto do Verbo) e o
classifica como Objeto Direto do Verbo "Faz".
03
– Qual é o Sujeito da Oração Principal e o Sujeito da Oração Subordinada na
frase analisada, conforme identificados pelos alunos de Dona Sintaxe?
O Sujeito da
primeira Oração ("Tia Nastácia faz bolinhos") é Tia Nastácia
(identificado por Pedrinho).
O Sujeito da segunda Oração
("que todos acham muito gostosos") é Todos (identificado por
Quindim).
04
– Ao chegarem ao bazar da Pontuação, o que Quindim explica sobre a função das
Vírgulas e por que elas se diferenciam dos outros sinais de pausa?
Quindim explica que as
Vírgulas servem para "separar as Orações, as Palavras e os Números"
e, principalmente, para indicar uma pausa na frase. A função principal delas é
"separar de leve".
05
– Qual é a hierarquia de separação apresentada, do sinal mais fraco ao mais
forte, entre a Vírgula, o Ponto e Vírgula e os Dois Pontos?
A hierarquia é
crescente na energia de separação:
Vírgulas: Separam de
leve.
Ponto e Vírgula:
Separam com um pouco mais de energia do que a Vírgula.
Dois Pontos: Separam
com maior energia do que o Ponto e Vírgula. O Ponto Final é o que separa duma
vez, ou seja, corta a frase.
06
– Com o que Emília compara os Pontos de Interrogação e por que ela não gosta
das Reticências?
Emília compara os
Pontos de Interrogação a "Ganchinhos" que são "mexeriqueiros e
curiosíssimos" por servirem para fazer perguntas.
Ela não gosta das
Reticências porque "não gosta de interrupções" e quer "todas as
coisas inteirinhas".
07
– O que são os Parênteses e os Travessões, e quais são as suas respectivas
funções, de acordo com as explicações de Quindim?
Parênteses: Servem para "encaixar numa frase alguma palavra, ou
mesmo outra frase explicativa," que a gente lê variando o tom da voz.
Travessões: Servem em
duas ocasiões: no começo das frases de diálogo (para mostrar que é uma pessoa
que vai falar) e dentro duma frase para pôr em maior destaque uma Palavra ou
uma Oração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário