Conto: Germinal – Terceira parte – III – Fragmento
Émile Zola
[...]
— Mas o pior é quando a gente se diz
que tudo isso não pode mudar... Quando se é jovem, imagina-se que a felicidade
virá, tem-se esperança, mas a miséria continua e nada muda... Eu não desejo mal
a ninguém, mas certas vezes ando revoltada com tanta miséria.
Descia um silêncio sobre o grupo, que
respirava a custo, no mal-estar resultante desse horizonte cerrado. Apenas o
velho Boa-Morte, quando estava, arregalava uns olhos surpresos, porque no seu
tempo ninguém se preocupava dessa maneira: nascia-se no carvão, escavava-se no
veio sem pedir mais nada. Agora, novos ventos enchiam os mineiros de ambição.
— Não presta cuspir no prato em que se
come — murmurava ele. — Uma boa cerveja é uma boa cerveja... Claro, os chefes
são quase sempre uns canalhas, mas sempre haverá chefes, não é verdade? Não
quebrem a cabeça pensando nisso.
Era como botar fogo em Etienne. Como?
Então os operários não podiam pensar? Pois esperassem e veriam... As coisas iam
mudar muito em breve, justamente porque o operário aprendera a pensar. No tempo
do velho, o mineiro vivia na mina como um animal de carga, como uma máquina de
extrair hulha, sempre enfurnado na terra, os ouvidos e os olhos tapados, sem
saber o que estava acontecendo no mundo. Por esse motivo os ricos que governam
podiam fazer o que bem entendessem, vendê-lo e comprá-lo, chupar-lhe o sangue,
o mineiro nem se dava conta. Agora ele estava acordado nas entranhas da terra,
germinava lá no fundo como uma semente. E todos veriam, um belo dia, brotar
homens da terra. Sim! Um exército de homens que restabeleceria a justiça... Ou
será que todos não eram iguais depois da Revolução?
Uma vez que tinha direito ao voto, por
que o operário deveria permanecer escravo do patrão que lhe pagava? As grandes
empresas, com suas máquinas, esmagavam tudo, e não se tinham sequer as
garantias de outrora, quando o pessoal da mesma profissão, reunido em
corporações, sabia defender-se. Raios! Era por isso, por isso e por muitas
outras coisas, que este mundo acabaria explodindo um dia, graças à instrução.
Era só olhar, ali no conjunto habitacional mesmo: os avós não sabiam nem
assinar o nome, os pais já o assinavam, enquanto os filhos liam e escreviam
como professores. Ah! Era uma bravia messe de homens amadurecendo ao sol,
crescendo pouco a pouco. Desde o momento em que já não se estava mais colado no
mesmo lugar a vida inteira e tinha-se a ambição de tomar o lugar do vizinho,
por que não abrir caminho à força e vencer de uma vez por todas?
Apesar de sensibilizado pelos
argumentos do rapaz Maheu continuava cheio de desconfiança.
— No momento em que a gente dá um pio é
despedido — disse ele. — O velho tem razão, o mineiro será sempre a vítima, sem
esperança de receber pelo menos uma perna de carneiro como recompensa.
[...]
Émile Zola. Germinal.
São Paulo: Círculo do Livro, p. 155.
Fonte: Linguagem em
Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São
Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 292-293.
Entendendo o conto:
01
– Qual a principal diferença entre as gerações de mineiros apresentadas no
texto?
A principal
diferença reside na consciência de classe e na esperança de mudança. A geração
mais velha, representada por Boa-Morte, aceita passivamente sua condição,
enquanto a geração mais jovem, liderada por Etienne, questiona o sistema e
busca por transformações sociais. A educação e o acesso à informação têm um
papel fundamental nessa mudança de mentalidade.
02
– Como a miséria e as condições de trabalho influenciam a visão de mundo dos
mineiros?
A miséria e as
condições de trabalho desumanas levam os mineiros a questionarem a ordem social
e a buscar por justiça. A esperança de uma vida melhor e a indignação com a
exploração são sentimentos que unem os trabalhadores e os impulsionam à luta
por seus direitos.
03
– Qual o papel da educação na conscientização dos trabalhadores?
A educação é fundamental para a conscientização dos
trabalhadores. Ao aprender a ler e escrever, os mineiros adquirem ferramentas
para se informar sobre seus direitos e para organizar a luta por melhores
condições de vida. A educação permite que os trabalhadores compreendam as
causas da exploração e busquem soluções coletivas para seus problemas.
04
– Como a figura de Etienne se diferencia dos demais mineiros?
Etienne se
destaca por sua liderança, sua capacidade de articulação e por sua fé na
possibilidade de mudança. Ele representa a voz daqueles que não se conformam
com a situação e que buscam uma sociedade mais justa e igualitária.
05
– Quais os obstáculos enfrentados pelos mineiros em sua luta por melhores
condições de trabalho?
Os mineiros enfrentam
diversos obstáculos em sua luta, como a repressão dos patrões, a divisão entre
os trabalhadores e a falta de organização. Além disso, a desconfiança e o medo
de perder o emprego impedem muitos trabalhadores de se engajar ativamente na
luta.
06
– Qual a importância da solidariedade entre os trabalhadores na luta por seus
direitos?
A solidariedade é
fundamental para a organização e a luta dos trabalhadores. Ao se unirem, os
trabalhadores se fortalecem e aumentam suas chances de conquistar seus
objetivos. A solidariedade permite que os trabalhadores superem as divisões e
as diferenças individuais e construam um movimento unido em defesa de seus
direitos.
07
– Qual a mensagem principal do fragmento?
O fragmento de
"Germinal" transmite uma mensagem de esperança e de luta. A história
dos mineiros mostra que a mudança é possível, mesmo diante de grandes
dificuldades. A educação, a organização e a solidariedade são elementos
essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
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