domingo, 1 de dezembro de 2024

CONTO: GERMINAL - TERCEIRA PARTE - III - FRAGMENTO - ÉMILE ZOLA - COM GABARITO

 Conto: Germinal – Terceira parte – III – Fragmento

           Émile Zola

        [...]

        — Mas o pior é quando a gente se diz que tudo isso não pode mudar... Quando se é jovem, imagina-se que a felicidade virá, tem-se esperança, mas a miséria continua e nada muda... Eu não desejo mal a ninguém, mas certas vezes ando revoltada com tanta miséria.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTFe4ANBf8Xq54NesSEOWGEcEsRfJjXKpbX31m_b77mXD1nNwK6UiMUtUw70RugZVppzO8rbJRiQNW9316pGP_4b326fLVcezGk_BsuJO6Fe-TwWZOHkRf_kDEdMgo62s1Be0G8zWSgrHvq92nNcvw2OZM21YcUSXmvfMtCUYz5D77aUtgchuZZ2zGVBQ/s320/GERMINAL.jpg


        Descia um silêncio sobre o grupo, que respirava a custo, no mal-estar resultante desse horizonte cerrado. Apenas o velho Boa-Morte, quando estava, arregalava uns olhos surpresos, porque no seu tempo ninguém se preocupava dessa maneira: nascia-se no carvão, escavava-se no veio sem pedir mais nada. Agora, novos ventos enchiam os mineiros de ambição.

        — Não presta cuspir no prato em que se come — murmurava ele. — Uma boa cerveja é uma boa cerveja... Claro, os chefes são quase sempre uns canalhas, mas sempre haverá chefes, não é verdade? Não quebrem a cabeça pensando nisso.

        Era como botar fogo em Etienne. Como? Então os operários não podiam pensar? Pois esperassem e veriam... As coisas iam mudar muito em breve, justamente porque o operário aprendera a pensar. No tempo do velho, o mineiro vivia na mina como um animal de carga, como uma máquina de extrair hulha, sempre enfurnado na terra, os ouvidos e os olhos tapados, sem saber o que estava acontecendo no mundo. Por esse motivo os ricos que governam podiam fazer o que bem entendessem, vendê-lo e comprá-lo, chupar-lhe o sangue, o mineiro nem se dava conta. Agora ele estava acordado nas entranhas da terra, germinava lá no fundo como uma semente. E todos veriam, um belo dia, brotar homens da terra. Sim! Um exército de homens que restabeleceria a justiça... Ou será que todos não eram iguais depois da Revolução?

        Uma vez que tinha direito ao voto, por que o operário deveria permanecer escravo do patrão que lhe pagava? As grandes empresas, com suas máquinas, esmagavam tudo, e não se tinham sequer as garantias de outrora, quando o pessoal da mesma profissão, reunido em corporações, sabia defender-se. Raios! Era por isso, por isso e por muitas outras coisas, que este mundo acabaria explodindo um dia, graças à instrução. Era só olhar, ali no conjunto habitacional mesmo: os avós não sabiam nem assinar o nome, os pais já o assinavam, enquanto os filhos liam e escreviam como professores. Ah! Era uma bravia messe de homens amadurecendo ao sol, crescendo pouco a pouco. Desde o momento em que já não se estava mais colado no mesmo lugar a vida inteira e tinha-se a ambição de tomar o lugar do vizinho, por que não abrir caminho à força e vencer de uma vez por todas?

        Apesar de sensibilizado pelos argumentos do rapaz Maheu continuava cheio de desconfiança.

        — No momento em que a gente dá um pio é despedido — disse ele. — O velho tem razão, o mineiro será sempre a vítima, sem esperança de receber pelo menos uma perna de carneiro como recompensa.

        [...]

Émile Zola. Germinal. São Paulo: Círculo do Livro, p. 155.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 292-293.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal diferença entre as gerações de mineiros apresentadas no texto?

      A principal diferença reside na consciência de classe e na esperança de mudança. A geração mais velha, representada por Boa-Morte, aceita passivamente sua condição, enquanto a geração mais jovem, liderada por Etienne, questiona o sistema e busca por transformações sociais. A educação e o acesso à informação têm um papel fundamental nessa mudança de mentalidade.

02 – Como a miséria e as condições de trabalho influenciam a visão de mundo dos mineiros?

      A miséria e as condições de trabalho desumanas levam os mineiros a questionarem a ordem social e a buscar por justiça. A esperança de uma vida melhor e a indignação com a exploração são sentimentos que unem os trabalhadores e os impulsionam à luta por seus direitos.

03 – Qual o papel da educação na conscientização dos trabalhadores?

      A educação é fundamental para a conscientização dos trabalhadores. Ao aprender a ler e escrever, os mineiros adquirem ferramentas para se informar sobre seus direitos e para organizar a luta por melhores condições de vida. A educação permite que os trabalhadores compreendam as causas da exploração e busquem soluções coletivas para seus problemas.

04 – Como a figura de Etienne se diferencia dos demais mineiros?

      Etienne se destaca por sua liderança, sua capacidade de articulação e por sua fé na possibilidade de mudança. Ele representa a voz daqueles que não se conformam com a situação e que buscam uma sociedade mais justa e igualitária.

05 – Quais os obstáculos enfrentados pelos mineiros em sua luta por melhores condições de trabalho?

      Os mineiros enfrentam diversos obstáculos em sua luta, como a repressão dos patrões, a divisão entre os trabalhadores e a falta de organização. Além disso, a desconfiança e o medo de perder o emprego impedem muitos trabalhadores de se engajar ativamente na luta.

06 – Qual a importância da solidariedade entre os trabalhadores na luta por seus direitos?

      A solidariedade é fundamental para a organização e a luta dos trabalhadores. Ao se unirem, os trabalhadores se fortalecem e aumentam suas chances de conquistar seus objetivos. A solidariedade permite que os trabalhadores superem as divisões e as diferenças individuais e construam um movimento unido em defesa de seus direitos.

07 – Qual a mensagem principal do fragmento?

      O fragmento de "Germinal" transmite uma mensagem de esperança e de luta. A história dos mineiros mostra que a mudança é possível, mesmo diante de grandes dificuldades. A educação, a organização e a solidariedade são elementos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

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