sábado, 1 de setembro de 2018

TEXTO: PALAVRAS SÃO PALAVRAS... CELSO FERREIRA COSTA - COM GABARITO


Texto: Palavras são palavras...

        Algumas palavras, mesmo que as ouçamos pela primeira vez, não carecem da explicação de seu significado. São autoexplicativas. Concupiscência, por exemplo, não pode ser boa coisa. Se alguém numa reunião familiar, de repente disser concupiscência, sem dúvida causará um mal-estar danado. A maioria não saberá o significado exato, mas não importa, concupiscência não é coisa que se diga perto de crianças e pronto! E depois, quando os mais curiosos forem sorrateiramente ao dicionário verificar o que a palavra quer dizer, aí é que ficarão realmente contrariados com o detrator da honra da família, aquele concupiscente!
        E elucubração? Aí já é caso de sair no tapa direto. Não precisa nem ficar matutando, caprichando no raciocínio, se esmerando em saber o significado. Elucubração, não! Imaginem só. O pai chega em casa e vai bater na porta do filho adolescente, que demora em abrir:
        -- Oi, pai.
        -- Oi filho. Estava aí em elucubrações, hein?
        -- Que é isso pai, estava estudando.
        -- Fique tranquilo, filho. Na sua idade eu também elucubrava muito.
        -- Mas, pai, eu só estava estudando!
        -- Eu sei, filho. Estudando, elucubrando... época de vestibular é tensa mesmo. Porque você não sai um pouco com sua namorada? É melhor que ficar elucubrando sozinho.
        -- Eu não tenho namorada, pai.
        -- Então elucubra. Mas matemática, não. É melhor decorar as fórmulas, filho. É por isso que muito vestibulando despiroca com os conselhos dos pais. E vou evitar confusão, não falando sobre despirocar, que é para manter um certo nível na conversa.
        Outras palavras não são ofensivas, mas também podem causar problemas. Exemplo: abjeta. Abjeta não é feminino de objeto, como queria aquela senhora que foi comprar um presente de casamento:
        – Eu estou à procura de uma abjeta pra minha sobrinha.
        – Abjeta, senhora? Não seria objeto?
        – Não. Objeto ela já tem. Eu quero fazer um parzinho. Vai ficar lindo no gazebo dela!
        E sobre gazebo também eu me omito. Ainda mais com o cacófato. Tenham paciência! Vamos em frente.
        E para terminar vou ser benevolente. Já viram palavra mais doce que essa: benevolente. É falar e transmitir aquela sensação gostosa de que as coisas vão dar certo, que todo mundo vai se unir, dar as mãos e sair fazendo caridade por aí, numa bondade opalescente danada.
        Opalescente? Olha, eu escrevi esta palavra assim de repente e depois fui ao Houaiss ver se ela cabia aqui. Não cabe, não. Quer dizer outra coisa. Mas agora embirrei. Ninguém me tira ela daqui. Achei que dá um certo brilho ao texto e, como a língua é dinâmica como a política, quem sabe um dia ela mude de opinião sobre si própria, reveja seus conceitos, se adeque aos novos tempos e venha finalmente se encaixar ao que eu quis dizer sem nenhum melindre.
        Melindre? Ah, não, chega, melindre é frescura! Paro por aqui.

Costa, Celso Ferreira. O Popular. Goiânia, 11/07/2003.

Entendendo o texto:
01 – O cronista acha ofensivas as palavras concupiscência e elucubração. Você sabe o que elas significam? Por que você acha que ele tem essa opinião sobre elas?
·        Concupiscência, significa desejo intenso de bens e prazeres materiais.
·        Elucubração, quer dizer meditação profunda.
Uma razão possível para justificar a opinião do jornalista é o uso pouco frequente das palavras, o que causaria estranheza a quem as ouvisse.

02 – Despirocar é termo de gíria. O que significa?
      Despirocar é enlouquecer, endoidar.

03 – Abjeta é palavra usada no texto como feminino de objeto, apesar de uma não ter nada a ver com a outra quanto a origem e significado. Que característica dessas palavras permitiu esse jogo entre masculino e feminino?
      O som das palavras, que é muito parecida.

04 – Cacófato é o som desagradável resultante da união do final de uma palavra com o início de outra. Onde o cronista percebeu um cacófato?
      Em gazebo dela, cuja junção resultou em bodela.

05 – Você conhece outros cacófatos? Quais?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestões: Quero amá-la até o fim dos meus dias. / Vou-me já para não atrasar. / O menino pegou a boneca dela. / Vivemos o boom da informática.

06 – O cronista sente que certas palavras transmitem sensações, como benevolente e opalescente. Para você, há palavras que transmitem sensações? Registre essas palavras e conte quais são as sensações que elas lhe passam.
        Resposta pessoal do aluno.

07 – Você sabe o significado das palavras abjeta, gazebo, benevolente e opalescente? Antes de ir ao dicionário, escreva o que você acha que elas significam. Depois, vá ao dicionário e confira o resultado.
·        Abjeta: desprezível, nojenta.
·        Gazebo: construção com pilares e teto, comum em jardins.
·        Benevolente: bondoso.
·        Opalescente: que tem cor de opala, leitosa e azulada.

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