sexta-feira, 14 de setembro de 2018

CRÔNICA: A MULHER DO VIZINHO - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A mulher do vizinho
                           
               Fernando Sabino

     Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.
     O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.
    O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:
        — O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: duralex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.
        Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:
               — Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?
        O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
        — Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?
        Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:
        — Da ativa, minha senhora?
        E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
        — Da ativa, Motinha! Sai dessa…

(Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872. Tudo sobre Fernando Sabino em "Biografias".)

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, o que gerou a situação conflituosa do texto?
      Os filhos do sueco jogando futebol com bola de meia, e às vezes a bola caía no carro do general.

02 – No primeiro parágrafo do texto, o narrador usa alguns recursos que o eximem da veracidade dos fatos narrados. Observe o trecho inicial do conto:
        “Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.”
a) Que pessoa do discurso indica o pronome me em destaque?
      1ª pessoa.

b) Por que da expressão “contaram-me”, o leitor é capaz de identificar com precisão a origem da história? Explique.
      Porque percebe-se que a história foi contada por outra pessoa.

c) O conto “A mulher do vizinho” é narrada em 1ª ou 3ª pessoa?
      3ª pessoa.

d) Qual seria a diferença de sentido, se o trecho inicial do conto tivesse sido iniciado desta forma?
        “Na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general do nosso exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.”
      Porque percebe-se que a história foi contada por outra pessoa.

e) Por que podemos afirmar que o uso da 1ª pessoa pelo narrador, no início do conto, é um recurso para se descomprometer da veracidade dos fatos?
      Ao fato dele atribuir na história que contaram para ele, nesse caso ele se descompromete totalmente do assunto contado.

03 – Qual é o assunto tratado nesse texto?
      O espanto do delegado ao conhecer a mulher do vizinho.

04 – Em que momento da narrativa se dá o clímax da história?
      8° e 9° parágrafo.

05 – Que tipo de discurso foi usado nesse conto: direto ou indireto?
      Indireto.

06 – Com que objetivo foi escrito esse conto?
      Para mostrar que se deve conhecer as pessoas antes de falarem alguma a seu respeito ou intimá-la para uma eventual situação. 

07 – Algumas expressões presentes no conto não fazem parte do vocabulário cotidiano de grande parte das pessoas; no entanto, analisando o contexto, é possível identificar a ideia que cada uma sugere. Então, escreva o que significam, nesse contexto, as seguintes expressões:
a) Passar uma chamada: Convocar.                       
b) Casa da sogra: Fazer o que bem quiser.
c) Ir em cana: Preso.                                           
d) Morou? Sacou, agora?

08 – Faça o resumo do texto, retirando de cada parágrafo sua ideia principal.
      O autor no primeiro parágrafo se descompromete da veracidade dos fatos narrados. E ainda ocorre a situação conflituosa do texto. O sueco e a mulher comparece à delegacia, obedecendo a convocação do delegado. Este repreende o sueco pela má disciplina dos filhos. A mulher do sueco apresenta uma descompostura para com o delegado. Este desalentado ficou sem palavras ao conhecer que aquela mulher era peixe grande.  E deu o caso por encerrado.

09. De acordo com o texto, o problema ocorrido entre o general e os filhos do sueco se  deu devido  

         (A)  a bola cair no carro do general.

         (B)  os meninos passarem o dia jogando futebol.

         (C)  ser um conhecido e antipático general do exército.

         (D)  o sueco ser um estrangeiro.

 10.  O trecho “... outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou?” A palavra CANA pode ser substituída por

       (A) preso.

       (B)  cachaça.

       (C)  colmo de várias plantas gramíneas.

       (D) sumarento.

 11. No fragmento a seguir: “O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio: ...” A palavra “INTERVEIO” pode ser substituída por

       (A) interferiu.

       (B)  acudiu.

       (C)  ingeriu.

       (D) sobreveio.

 12. De acordo com a leitura do texto, o sueco era um homem

           (A) bem parecido e dono de uma grande fábrica de papel.

           (B)  tímido, meio descuidado no vestir, porém, humilde.

           (C)  culto, avarento e soberbo.

           (D) de poucas palavras, porém, gentil.

 

 

 


        




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