quarta-feira, 19 de setembro de 2018

TEXTO: CULTURAS BRASILEIRA - SUPERINTERESSANTE - COM GABARITO


Texto: Culturas Brasileira

        Brasileiro se realiza em arte menor. Com raras exceções aqui e ali na literatura, no teatro ou na música erudita, pouco temos a oferecer ao resto do mundo em matéria de grandes manifestações artísticas. Em compensação, a caricatura ou a canção popular, por exemplo, têm sido superlativas aqui, alcançando uma densidade raramente obtida por nossos melhores artistas plásticos ou compositores sinfônicos. Outras artes, ditas “menores”, desempenham um papel fundamental na cultura brasileira. É o caso da crônica e da telenovela. Gêneros inequivocamente menores e que, no entanto, alcançam níveis de superação artística nem sempre observada em seus congêneres de outros quadrantes do planeta. 
        Mas são menores diante do quê? É óbvio que o critério de valoração continua sendo a norma europeia: a epopeia, o romance, a sinfonia, as “belas artes” em geral. O movimento é dialético e não pressupõe maniqueísmo. Pois se aqui não se geraram obras como as de Cervantes, Wagner ou Picasso, “lá” também – onde quer que seja esse lugar – nunca floresceu uma canção popular como a nossa que, sem favor, pode compor um elenco com o que de melhor já foi feito em matéria de poesia e de melodia no Brasil.
Machado de Assis, como de costume, intuiu admiravelmente tudo. No conto “Um homem célebre”, ele nos mostra Pestana, compositor que deseja tornar-se um Mozart mas, desafortunadamente, consegue apenas criar polcas e maxixes de imenso apelo popular. Morre consagrado – mas como autor pop.
        Aliás, não foi à toa que Caetano Veloso colocou uma frase desse conto na contracapa de Circuladô (1991). Um de nossos grandes artistas “menores” por excelência, Caetano sempre soube refletir a partir das limitações de seu meio, conseguindo às vezes transcendê-lo em verso e prosa. O curioso é que o conceito de arte acabou se alastrando para outros campos (e gramados) da sociedade brasileira. É o caso da consagração do futebol como esporte nacional, a partir da década de 30, quando o bate-bola foi adotado pela imprensa carioca, recebendo status de futebol-arte. Ainda no terreno das manifestações populares, o IBOPE de alguns carnavalescos é bastante sintomático: eles são os encenadores da mais vista de todas as nossas óperas, o Carnaval.
        Quem acompanha a cobertura do evento costuma ouvir o testemunho deliciado de estrangeiros a respeito das imensas “qualidades artísticas” dos desfiles nacionais...Seguindo a fórmula clássica de Antônio Candido em Formação da literatura brasileira (“Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, e não outra, que nos exprime.”), pode-se arriscar que muito da produção artística brasileira é tímida se comparada com o que é feito em outras paragens.
        Não temos Shakespeare nem Mozart? Mas temos Nelson Rodrigues, Tom Jobim, Nássara, Cartola – produtores de “miudezas” da mais alta estatura. Afinal são eles, e não outros, que expressam o que somos.

(Adaptado de Leandro Sarmatz. Superinteressante,
Novembro de 2000, p.106, (Ideias que desafiam o senso comum)
Entendendo o texto:

01 - Faça a interpretação e responda as questões de acordo com o texto:
(A) a arte brasileira não produziu expoentes de vulto como Shakespeare ou Mozart, tendo sua maior expressão em eventos populares, como o carnaval e o futebol.
(B) a literatura brasileira é realmente bastante pobre, pois é expressão de um meio limitado, com linguagem pouco expressiva, inadequada a grandes obras de arte.
(C) as novelas e as crônicas são os gêneros mais cultivados pelos autores brasileiros, por seu forte apelo popular, além da simplicidade de temas e de linguagem.
(D) a produção artística brasileira, embora possa ser considerada de menor pressão, apresenta grandes vultos em suas diversas e variadas manifestações.
(E) as manifestações artísticas nacionais são mais aceitas por critérios europeus do que por valores típicos brasileiros, o que as empobrece sobremaneira.

02 – Segundo o texto, está correto o que se afirma em:
(A) O 1o parágrafo aponta a tese que será desenvolvida em todo o texto, até seu final, de modo plenamente coerente.
(B) Entende-se o 2o parágrafo como a real proposição do texto, na defesa das manifestações da arte brasileira.
(C) Machado de Assis e Caetano Veloso são citados, no 3o parágrafo, como exemplos de expressões, respectivamente, do maior e do menor em nossa literatura.
(D) Embora seja habitual, tanto entre brasileiros quanto entre estrangeiros, considerar-se o carnaval como “arte” (5o parágrafo), suas manifestações não devem ser vistas como “artísticas”.
(E) O autor concorda com Antônio Candido, ao considerar, no último parágrafo, a pobreza da produção artística brasileira, em qualquer de seus aspectos.

03 – Um título adequado ao texto seria:
(A) A “pequena” grande produção artística brasileira.
(B) Manifestações populares de arte “menor” no Brasil.    
(C) Apelo popular define o que seja “arte brasileira”.
(D) Ibope determina “valor artístico” de manifestações populares.
(E) A norma europeia ainda é predominante na “arte brasileira”.

04 – Mantém-se o sentido original de um segmento do texto, com outras palavras, em:
(A) têm sido superlativas aqui = são as mais cultivadas no planeta.
(B) alcançam níveis de superação artística = precisavam apresentar qualidade superior.
(C) pode compor um elenco = apresenta uma equipe de prestígio.
(D) acabou se alastrando para outros campos = estendeu-se para diversas esferas.
(E) que é feito em outras paragens = que serve de exemplo para outros lugares.



Um comentário:

  1. em qual trecho do texto ''culturas brasileiras'' o autor leandro sarmatz deixa claro que nossa literatura é rica em manifestações?

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