Texto: Culturas
Brasileira
Brasileiro se realiza em arte menor.
Com raras exceções aqui e ali na literatura, no teatro ou na música
erudita, pouco temos a oferecer ao resto do mundo em matéria de
grandes manifestações artísticas. Em compensação, a caricatura ou
a canção popular, por exemplo, têm sido superlativas aqui, alcançando uma
densidade raramente obtida por nossos melhores artistas plásticos ou
compositores sinfônicos. Outras artes, ditas “menores”, desempenham um papel
fundamental na cultura brasileira. É o caso da crônica e da telenovela. Gêneros
inequivocamente menores e que, no entanto, alcançam níveis de superação
artística nem sempre observada em seus congêneres de outros quadrantes do
planeta.
Mas são menores diante do quê? É óbvio
que o critério de valoração continua sendo a norma europeia: a epopeia,
o romance, a sinfonia, as “belas artes” em geral. O movimento é dialético
e não pressupõe maniqueísmo. Pois se aqui não se geraram obras como as de
Cervantes, Wagner ou Picasso, “lá” também – onde quer que seja esse lugar –
nunca floresceu uma canção popular como a nossa que, sem favor, pode compor um
elenco com o que de melhor já foi feito em matéria de poesia e de melodia no
Brasil.
Machado de Assis, como de costume, intuiu admiravelmente tudo. No conto “Um homem célebre”, ele nos mostra Pestana, compositor que deseja tornar-se um Mozart mas, desafortunadamente, consegue apenas criar polcas e maxixes de imenso apelo popular. Morre consagrado – mas como autor pop.
Machado de Assis, como de costume, intuiu admiravelmente tudo. No conto “Um homem célebre”, ele nos mostra Pestana, compositor que deseja tornar-se um Mozart mas, desafortunadamente, consegue apenas criar polcas e maxixes de imenso apelo popular. Morre consagrado – mas como autor pop.
Aliás, não foi à toa que Caetano Veloso
colocou uma frase desse conto na contracapa de Circuladô (1991). Um de
nossos grandes artistas “menores” por excelência, Caetano sempre
soube refletir a partir das limitações de seu meio, conseguindo às vezes
transcendê-lo em verso e prosa. O curioso é que o conceito de arte acabou se
alastrando para outros campos (e gramados) da sociedade brasileira. É o caso da
consagração do futebol como esporte nacional, a partir da década de 30, quando
o bate-bola foi adotado pela imprensa carioca, recebendo status de
futebol-arte. Ainda no terreno das manifestações populares, o IBOPE de alguns
carnavalescos é bastante sintomático: eles são os encenadores da mais vista de
todas as nossas óperas, o Carnaval.
Quem acompanha a cobertura do evento
costuma ouvir o testemunho deliciado de estrangeiros a respeito das imensas
“qualidades artísticas” dos desfiles nacionais...Seguindo a fórmula clássica de
Antônio Candido em Formação da literatura brasileira (“Comparada às grandes, a
nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, e não outra, que nos exprime.”),
pode-se arriscar que muito da produção artística brasileira é tímida se
comparada com o que é feito em outras paragens.
Não temos Shakespeare nem Mozart? Mas
temos Nelson Rodrigues, Tom Jobim, Nássara, Cartola – produtores de “miudezas”
da mais alta estatura. Afinal são eles, e não outros, que expressam o que
somos.
(Adaptado de Leandro
Sarmatz. Superinteressante,
Novembro de 2000,
p.106, (Ideias que desafiam o senso comum)
Entendendo o texto:
01 - Faça a interpretação e
responda as questões de acordo com o texto:
(A) a arte brasileira não
produziu expoentes de vulto como Shakespeare ou Mozart, tendo sua maior
expressão em eventos populares, como o carnaval e o futebol.
(B) a literatura brasileira
é realmente bastante pobre, pois é expressão de um meio limitado, com linguagem
pouco expressiva, inadequada a grandes obras de arte.
(C) as novelas e as crônicas
são os gêneros mais cultivados pelos autores brasileiros, por seu forte apelo
popular, além da simplicidade de temas e de linguagem.
(D) a produção
artística brasileira, embora possa ser considerada de menor pressão, apresenta
grandes vultos em suas diversas e variadas manifestações.
(E) as manifestações
artísticas nacionais são mais aceitas por critérios europeus do que por valores
típicos brasileiros, o que as empobrece sobremaneira.
02 – Segundo o texto, está
correto o que se afirma em:
(A) O 1o parágrafo aponta a
tese que será desenvolvida em todo o texto, até seu final, de modo plenamente
coerente.
(B) Entende-se o
2o parágrafo como a real proposição do texto, na defesa das manifestações da
arte brasileira.
(C) Machado de Assis e
Caetano Veloso são citados, no 3o parágrafo, como exemplos de expressões,
respectivamente, do maior e do menor em nossa literatura.
(D) Embora seja habitual,
tanto entre brasileiros quanto entre estrangeiros, considerar-se o carnaval
como “arte” (5o parágrafo), suas manifestações não devem ser vistas como
“artísticas”.
(E) O autor concorda com
Antônio Candido, ao considerar, no último parágrafo, a pobreza da produção
artística brasileira, em qualquer de seus aspectos.
03 – Um título adequado ao
texto seria:
(A) A “pequena”
grande produção artística brasileira.
(B)
Manifestações populares de arte “menor” no Brasil.
(C) Apelo popular define o
que seja “arte brasileira”.
(D) Ibope determina “valor
artístico” de manifestações populares.
(E) A norma europeia ainda é
predominante na “arte brasileira”.
04 – Mantém-se o sentido original
de um segmento do texto, com outras palavras, em:
(A) têm sido superlativas
aqui = são as mais cultivadas no planeta.
(B) alcançam níveis de
superação artística = precisavam apresentar qualidade superior.
(C) pode compor um elenco =
apresenta uma equipe de prestígio.
(D) acabou se
alastrando para outros campos = estendeu-se para diversas esferas.
(E) que é feito em outras
paragens = que serve de exemplo para outros lugares.
em qual trecho do texto ''culturas brasileiras'' o autor leandro sarmatz deixa claro que nossa literatura é rica em manifestações?
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