Crônica: Um dedo na multidão
Dorival Coutinho da Silva
Um homem vai se atirar do sétimo andar
de um edifício em pleno centro de São Paulo.
Não é o primeiro.
Nem será o último.
Afinal nem todos os homens são
poetas.
Que os poetas desafogam na lira os
desencantos.
Um homem comum vai jogar as
migalhas da vida
Aos pombos famintos
Que se aglomeram.
O grupo que ensaia capoeira na
praça
Ao som do berimbau
Deixa de ser atração.
Todo mundo quer ver o homem que vai
pular
Do sétimo andar.
Doida escalada aos prédios vizinhos,
O melhor ângulo,
Posições estratégicas...
Quem sabe escapará algum detalhe
Nos noticiários de amanhã?
O estafeta liga para a repartição:
―Que venham logo! Pois um homem vai
pular do sétimo andar.
E tem até TV!
Expectativa pesada. Olhos fincados no
sétimo andar.
Uma palavrinha ao companheiro do lado,
Um acocorar para prender os cadarços,
Uma visita aos sanitários...
Nem cogitar!
Tampouco amendoins e pipocas
Antecipam os louros na espera.
Mas agora um dedo na multidão,
Entre mil indicadores algozes, eretos,
Pressiona os três dígitos
Da salvação.
E
só depois de uma operação súbita
Audaciosa
Precisa
Remove-se o trágico misantropo
Para o interior do prédio
(Mas não de si mesmo).
Cortinas cerradas.
Silêncio na praça.
O homem não se jogou do sétimo
andar
E a multidão
se dispersa
Melancólica
Desapontada
Porque a vida continua....
Entendendo a crônica:
01 – “Mas agora um dedo na multidão,
Entre mil indicadores algozes, eretos,
Pressiona os três dígitos
Da salvação.”
A ideia deduzida no trecho
acima encontra-se na alternativa:
a) Entre
aqueles mil indicadores, somente um apontava seu dedo para
a salvação do homem.
b) Entre
mil dedos na multidão, apenas um se compadeceu daquele homem
comum e acionou o corpo de bombeiros.
c) Naquela multidão,
somente uma pessoa continuava indiferentemente a pressionar os dígitos de
seu telefone celular.
d) Uma
pessoa apenas, no meio daquela multidão de algozes, recusou-se a
pressionar os dígitos da salvação.
02 – O tom predominante no
texto é:
a) Crítico, pois, sob
o pretexto de mostrar a possibilidade de um suicídio, o
autor transmite sua visão de mundo, que pode ser depreendida das ações
atribuídas aos personagens.
b) Melancólico, visto o tema central versar sobre o
estado depressivo em que se encontram as pessoas que vivem nas grandes cidades.
c) Pessimista, pois é evidente a disposição de
espírito do autor, que encara tudo pelo lado negativo, como comprova a
predominância de substantivos e adjetivos desse mesmo valor.
d) Trágico, já que a ação do homem
suicida infunde piedade e terror na multidão que se aglomerava
na praça.
03 – A última estrofe do
texto permite a seguinte leitura:
a) A
indiferença da multidão desmotivou o homem anônimo a jogar-se
do sétimo andar.
b) A
melancolia e o desapontamento da multidão se devem ao fato
de a vida voltar à rotina, visto que o homem não se jogou do sétimo andar.
c) A multidão, dispersa devido à melancolia do dia-a-dia, não
se importa com o homem que tenta se jogar do sétimo andar.
d) A vida
só continua porque o homem não se suicidou.
04 – Diz-se do texto, quanto
à estrutura, que: se caracteriza como descritiva, pois detém-se na
observação dos detalhes do centro de São Paulo.
a) não se
caracteriza como narrativa, uma vez que foi escrito em
verso e detém-se ao lirismo do poeta.
b) se
caracteriza como narrativa, que se utiliza de recursos descritivos
e reflexivos para reforçar seu conflito.
c) não se
pode defini-la, pois apresenta trechos descritivos e dissertativos.
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