quinta-feira, 20 de setembro de 2018

CRÔNICA: UM DEDO NA MULTIDÃO - DORIVAL COUTINHO DA SILVA - COM GABARITO

Crônica: Um dedo na multidão
                     Dorival Coutinho da Silva

      Um homem vai se atirar do sétimo andar de um edifício em pleno centro de São Paulo.
        Não é o primeiro.
        Nem será o último. 
        Afinal nem todos os homens são poetas.
        Que os poetas desafogam na lira os desencantos.
       
        Um homem comum vai jogar as migalhas da vida 
        Aos pombos famintos
        Que se aglomeram.
     
        O grupo que ensaia capoeira na praça 
        Ao som do berimbau
        Deixa de ser atração.
        Todo mundo quer ver o homem que vai pular 
        Do sétimo andar.
        Doida escalada aos prédios vizinhos,
        O melhor ângulo,
        Posições estratégicas...
        Quem sabe escapará algum detalhe
        Nos noticiários de amanhã?
       
        O estafeta liga para a repartição:
        ―Que venham logo! Pois um homem vai pular do sétimo andar.
         E tem até TV!
        Expectativa pesada. Olhos fincados no sétimo andar.
        Uma palavrinha ao companheiro do lado, Um acocorar para prender os cadarços,
        Uma visita aos sanitários...
        Nem cogitar!

        Tampouco amendoins e pipocas 
        Antecipam os louros na espera.

        Mas agora um dedo na multidão,
        Entre mil indicadores algozes, eretos,
        Pressiona os três dígitos
        Da salvação.
        E só depois de uma operação súbita 
        Audaciosa
        Precisa
        Remove-se o trágico misantropo
        Para o interior do prédio
        (Mas não de si mesmo).

        Cortinas cerradas.
        Silêncio na praça.
        O homem não se jogou do sétimo andar 
        E a multidão
        se dispersa
        Melancólica
        Desapontada
        Porque a vida continua....

Entendendo a crônica:

01 – “Mas agora um dedo na multidão,
         Entre mil indicadores algozes, eretos,
         Pressiona os três dígitos
         Da salvação.”
        A ideia deduzida no trecho acima encontra-se na alternativa:
a) Entre aqueles mil indicadores, somente um apontava seu dedo para a salvação do homem.
b) Entre mil dedos na multidão, apenas um se compadeceu daquele homem comum e acionou o corpo de bombeiros.
c) Naquela multidão, somente uma pessoa continuava indiferentemente a pressionar os dígitos de seu telefone celular.
d) Uma pessoa apenas, no meio daquela multidão de algozes, recusou-se a pressionar os dígitos da salvação.

02 – O tom predominante no texto é:
a) Crítico, pois, sob o pretexto de mostrar a possibilidade de um suicídio, o autor transmite sua visão de mundo, que pode ser depreendida das ações atribuídas aos personagens.
b) Melancólico, visto o tema central versar sobre o estado depressivo em que se encontram as pessoas que vivem nas grandes cidades.
c) Pessimista, pois é evidente a disposição de espírito do autor, que encara tudo pelo lado negativo, como comprova a predominância de substantivos e adjetivos desse mesmo valor.
d) Trágico, já que a ação do homem suicida infunde piedade e terror na multidão que se aglomerava na praça.

03 – A última estrofe do texto permite a seguinte leitura:
a) A indiferença da multidão desmotivou o homem anônimo a jogar-se do sétimo andar.
b) A melancolia e o desapontamento da multidão se devem ao fato de a vida voltar à rotina, visto que o homem não se jogou do sétimo andar.
c) A multidão, dispersa devido à melancolia do dia-a-dia, não se importa com o homem que tenta se jogar do sétimo andar.
d) A vida só continua porque o homem não se suicidou.

04 – Diz-se do texto, quanto à estrutura, que: se caracteriza como descritiva, pois detém-se na observação dos detalhes do centro de São Paulo.
a) não se caracteriza como narrativa, uma vez que foi escrito em verso e detém-se ao lirismo do poeta.
b) se caracteriza como narrativa, que se utiliza de recursos descritivos e reflexivos para reforçar seu conflito.
c) não se pode defini-la, pois apresenta trechos descritivos e dissertativos.



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