Poema: O
Enterrado Vivo
Carlos Drummond de Andrade
É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Composição: Drummond De Andrade / Stephen Emmer.
Entendendo o poema:
01 – (Unesp 1990) Os
três primeiros versos instauram uma relação entre passado/presente/futuro,
sendo que a ideia de "presente" é retomada no restante do poema.
Analise a primeira relação e mostre como a ideia de presente permanece nas
demais estrofes.
O presente se
mostra na impossibilidade do eu lírico vencer seus limites, daí o “pânico”.
02 – (Unesp 1990) A
palavra "sempre", no último verso do poema de Drummond, é repetida,
porém manifestada em classes gramaticais diferentes.
a)
Quais são essas classes gramaticais?
Advérbio e substantivo (no meu SEMPRE).
b)
Que efeito de sentido essa diferença de
classe gramatical provoca no poema?
A circunstância transforma-se em substância, reforçando a perenidade
da ausência.
03 – Comparando os dois
primeiros parágrafos do texto, podemos perceber uma oposição entre eles. Essa
oposição aponta para duas consequências do ofício do cronista ao agir sobre o
mundo, através das palavras. Quais são essas duas consequências?
A boa ou a má recepção de suas palavras.
04 – No poema, quais os
sentimentos do eu poético com relação ao seu modo de vida atual?
Ele sente: a
angustia, a indecisão e o sofrimento.
05 – De acordo com o poema,
por que o autor colocou este título?
Porque o eu poético sente-se enterrado
vivo, alguém que está no mundo mas não desfruta do que este pode lhe
proporcionar, alguém que não sente-se útil para ninguém, ou, como dizem
popularmente: alguém que morreu e esqueceram de enterrar.
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