Texto: Diálogos
Ele
telefonou aflitíssimo.
─ Preciso marcar um horário, não é para
mim, é para minha filha.
─ Que idade
tem sua filha?
─ Quinze
anos.
─ Ela quer
vir?
─ Quer,
quer...
Chegam na consulta antes da hora.
Agitado, ele fala muito, essa é minha filha, desejo que fale com ela, que a
convença a não viajar.
A garota, adolescente, mal-humorada,
queixo projetado pra cima, boca cerrada com determinação.
─ Vamos
entrar? Ana convida os dois.
─ Não, não, ela entra sozinha. A menina
levanta-se e dirige-se para a sala de consulta.
─ O que
trouxe vocês aqui?
─ Nada, não tenho o que falar, não
tenho o que discutir, não queria vir, não preciso vir aqui. Já falei para o meu
pai.
─ Mas já
que veio, não poderia contar do que se trata?
─ Quero viajar, encontrar minha mãe que
mora fora, quero ir morar com ela. Meus pais são separados, ele não quer me
deixar, mas vou assim mesmo.
─ Você tentou
falar com ele?
─ Não adianta, ele não quer ouvir, e
por isso que minha mãe foi embora e eu não quero mais falar disso.
(Estaria repetindo o gesto da mãe, indo
embora sem conversa, sem explicação?)
─ Parece
que o diálogo não é bem-vindo em sua casa.
─ Não,
levanta-se para sair, não é isso.
─ Talvez quisesse que seu pai
conversasse com você, em vez de lhe trazer para falar com uma psicóloga que não
conhece nem pediu pra conhecer.
Esse é o
único momento em que Maria olha de fato para Ana.
─ É isso
mesmo, diz e dirige-se à porta.
Na sala de
espera, Ana diz ao pai:
─ Sua filha quer que você fale com ela,
quer ser ouvida por você, não por mim. Ela não tem o que falar para mim, mas
tem muito a dizer a você.
─ Não, não, não sei falar com ela, não
entendo o que ela diz, é igual à mãe, por isso a trouxe aqui, para que você
fale com ela.
─ Vamos
então falar juntos?
─ Não, não posso. Levantam-se e saem
para nunca mais voltar.
LOEB, Sylvia. Diálogos. In:
____. Contos do divã. Cotia: Ateliê Editorial, 2007. P. 73.
Entendendo o texto:
01 – O uso de reticências
que se apresenta no diálogo inicial do texto entre o pai e a psicóloga
demonstra:
a) o lado calmo do pai.
b) o lado intelectual do pai.
c) o lado raivoso do pai.
d) o lado emocional do pai.
e) o lado religioso do pai.
02 – A partir da leitura do
texto, podemos dizer que a filha de quinze anos:
a) é uma menina feliz.
b) é uma menina inteligente.
c) é uma menina que defende os animais.
d) é uma menina que briga já brigou com a mãe.
e) é uma menina que tem conflitos com o pai.
03 – No trecho “─ Parece que
o diálogo não é bem-vindo em sua casa.”:
a) a psicóloga sugere que pai e filha devem conversar
menos.
b) a psicóloga contraria a menina.
c) a psicóloga sugere uma hipótese para o
problema.
d) a psicóloga apresenta uma solução definitiva para o
problema.
e) a psicóloga demonstra impaciência com a atitude da
menina.
04 – Em relação aos nomes dos personagens, é possível:
a) saber qual é o nome da filha de quinze anos.
b) saber o nome da mãe da menina.
c) saber o nome da irmã da menina.
d) saber o nome do pai da menina.
e) afirmar que Ana é o nome da filha de quinze anos.
05 – De acordo com o texto, NÃO é correto concluir que:
a) o pai tinha dificuldade de falar com a filha.
b) que a menina abandonou o pai para morar com
a mãe.
c) Ana era o nome da psicóloga que os atendeu.
d) o pai ligou muito aflito para a psicóloga.
e) pai e filha não voltaram mais à consulta.
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