Crônica: Furto
de flor
Carlos Drummond de Andrade
Furtei uma flor daquele jardim. O
porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo
com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e
flor não é para ser bebida
Passei-a para o vaso, e notei que ela
me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há
numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a
obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi
por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de
flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da
morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O
porteiro estava atento e repreendeu-me.
– Que ideia
a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
Carlos Drummond de
Andrade. Contos plausíveis.
Rio de Janeiro, José
Olympio, 1985. p. 80.
Entendendo a crônica:
01 – “Furto de flor”, é uma
narrativa em que o autor também é personagem. Retire do texto e anote o que
comprove essa afirmação.
(Eu) “Furtei uma flor (...)”. A narrativa
é feita na 1ª pessoa do singular.
02 – O narrador trata a flor
como se fosse uma pessoa. Reconheça no texto algumas passagens em que isso
ocorre.
“Logo senti que ela não estava feliz.
Passei-a para um vaso e notei que ela me agradecia...”
03 – Em vez de ter usado o
verbo furtar, o narrador poderia ter usado o verbo roubar? Por quê?
Não, porque ele se apoderou da flor
furtivamente. Roubar geralmente supõe violência. A pessoa roubada presencia o
fato.
04 – Segundo o texto, o
porteiro considerou lixo a flor morta. Qual a intenção do autor ao querer
depositá-la no jardim?
Sentiu-se culpado por tirar a vida da
flor. Quis devolvê-la, pois ali era o seu lugar.
05 – Qual é o título do
texto? Quem é o autor?
Furto de flor.
Carlos Drummond de Andrade.
ok
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirUow
ResponderExcluirA onde se passar a história?
ResponderExcluirNo edifício
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