domingo, 17 de junho de 2018

CONTO: O MERCADOR E O GÊNIO - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

CONTO: O Mercador e o Gênio
             Ferreira Gullar

     -- Senhor, havia em outros tempos um mercador que possuía grandes riquezas em escravos, terras, mercadorias e ouro. Obrigado de quando em quando a viajar para tratar de seus negócios, partiu um dia montado em seu cavalo, levando boa provisão de biscoitos e tâmaras para alimenta-se durante a travessia do deserto. Terminada sua tarefa, tomou o caminho de volta à sua casa.
        No quarto dia de caminhada, sentindo-se sufocado pelo calor do sol, buscou a sombra de umas árvores que divisou ao longe. Junto a uma delas havia uma fonte cristalina, e ali então desmontou para descansar.
        Sentou-se à margem do riacho e tirou do surrão as provisões que lhe restavam. Depois de comer as tâmaras airou para os lados os caroços e, terminado seu lanche, lavou o rosto, as mãos e os pés, como bom muçulmano, e rezou sua oração de costume.
        Estava ainda ajoelhado quando lhe apareceu um gênio de enorme estatura, cuja cabeça estava coberta com a neve dos anos, e que, caminhando em sua direção, com a espada na mão, disse-lhe em tom assustador:
        -- Levanta-te, porque vou te matar como fizeste com meu filho.
        Amedrontado com a figura do gênio e suas palavras ameaçadoras, o mercador respondeu:
        -- Meu bom senhor! Que crime cometi para merecer tal castigo? Não conheço nem nunca vi jamais vosso filho.
        -- Ah, é? E por acaso não acabas de jogar para os lados caroços de tâmaras?
        -- Sim, não posso negar que fiz isso.
        -- Pois bem – explicou o gênio, - meu filho, que passava junto a ti, foi atingido por um desses caroços no olho e caiu morto no mesmo instante. Não posso te perdoar e vou te arrancar a vida.
        -- Misericórdia, senhor! - implorou o mercador diante de tão absurda acusação. – Se matei vosso filho, foi sem querer e, por isso, mereço vosso perdão.
        O gênio, em vez de responder, agarrou o mercador e, derrubando-o no chão, ergueu a espada para cortar lhe a cabeça, indiferente a seus apelos em nome da esposa e dos filhos.
        Quando o mercador viu que a espada descia em direção a seu pescoço, soltou um grito horrível e disse:
        -- Por favor, esperai um pouco e ouvi-me! Já que estais disposto a matar-me, concedei-me um prazo para que possa despedir-me de minha família, fazer o testamento e acertar meus negócios. Juro pelo Deus do Céu e da Terra que aqui voltarei pontualmente para submeter-me a vossa vontade.
        -- E de quanto tempo necessitas?
        -- Peço-vos um ano de prazo, ao fim do qual me encontrareis junto a esta mesma árvore, disposto a entregar-vos a vida.
        -- Juras por Deus?
        -- Juro – respondeu o mercador, - e podeis confiar na verdade de meu juramento.
        O gênio, ao ouvir essas palavras, desapareceu, e o mercador, mais tranquilo agora, montou no cavalo e continuou seu caminho. A mulher e os filhos o receberam com grandes demonstrações de alegria, mas o infeliz desandou a chorar pensando no fatal juramento que fizera. E terminou contando o que lhe acontecera na viagem. A mulher e os filhos não ficaram menos aflitos e amargurados com o que ouviram.
        O mercador pagou suas dívidas, deu presentes aos amigos e esmolas aos pobres, libertou seus escravos, dividiu os bens com os filhos e, ao cabo de um ano, teve de partir. É impossível descrever o sofrimento de seus familiares no momento da despedida.
        Depois de muitas reflexões e inúteis palavras de consolo, desprendeu-se dos braços da esposa e dos filhos e dirigiu-se ao lugar onde ficou de encontra-se com o gênio. Postou-se sob a mesma árvore, perto do riacho cristalino, e esperou por ele, com a tristeza de quem espera pela morte.
        Sherazade, ao chegar a este ponto, percebeu que já era dia e, como sabia que o sultão deveria reunir-se com o Conselho, calou-se...
        Dinarzade exclamou:
        -- Que conto maravilhoso!
        -- O que falta contar é melhor ainda, disse à irmã – e te convencerias disso se o sultão me deixasse viver este dia para, à noite, continuar com a história.
        Shariar, cheio de curiosidade, concordou com a proposta da moça, levantou-se e foi presidir o Conselho.
        O grão-vizir, entretanto, passara a noite inquieto, pensando no cruel destino que aguardava sua querida filha. Mas grande foi sua surpresa, ao encontrar o sultão, sem ouvir dele a ordem para matá-la.
        No dia seguinte, na hora acertada, Dinarzade voltou a dirigir à irmã as mesmas palavras da manhã anterior, e o sultão acrescentou com impaciência:
        -- Sim, termina o conto, pois desejo saber o desfecho.
        [...]

              As mil e uma noites. Seleção e tradução de Ferreira Gullar.
                                                 Rio de Janeiro: Revan, 2000, p. 22-5.

Entendendo o conto:
01 – Releia este trecho:
        “-- Senhor, havia em tempos mercador que possuía riquezas em escravos, terras, mercadorias e ouro. Obrigado de quando em quando a viajar para tratar de negócios, partiu dia, montado em cavalo, levando provisão de biscoitos e tâmaras para alimenta-se durante travessia do deserto. Terminada tarefa, tomou caminho de volta à casa.
        No dia de caminhada, sentindo-se sufocado pelo calor do sol, buscou sombra de árvores que divisou ao longe.”

a)   Você deve ter notado que faltam algumas palavras no trecho acima. Elas são indispensáveis para a compreensão dos períodos?
Não.

b)   Copie o trecho acima, completando com as palavras que faltam de acordo com texto:
Resposta pessoal do aluno.

02 – As palavras que você escreveu na atividade anterior delimitam ou especificam o significado das palavras que acompanham. A qual classe gramatical pertencem as palavras delimitadas/especificadas pelos artigos, pronomes e numerais?
      Substantivo.

03 – Na atividade 1, você observou algumas palavras que exercem uma função junto a outras na organização das orações. Essas palavras chamam-se adjuntos adnominais (ad = “que está junto de”). Escreva uma definição para os adjuntos adnominais, considerando o que você estudou até aqui.
      Os adjuntos adnominais especificam/delimitam o significado de um substantivo.

04 – Copie as manchetes abaixo no seu caderno e acrescente-lhes adjuntos adnominais.
        ONG ALERTA MORADORES SOBRE PERIGO DE
        FILME REÚNE ELENCO
        PARA POLÍTICOS DE *, O PARTIDO É DEMOCRÁTICO E POPULAR
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Leia as orações seguintes e copie no seu caderno todas as palavras e expressões que indiquem circunstâncias de tempo, lugar, modo, afirmação e negação:
a)   “Sentou-se à margem do riacho [...]”.
Á margem, do riacho, aqui: lugar.

b)   “Não conheço nem nunca vi jamais vosso filho”.
Não: negação.

c)   “-- Sim, não posso negar que fiz isso.”
Sim: afirmação.

d)   “—Juro pelo Deus do Céu e da Terra que aqui voltarei pontualmente [...]”
Nunca, jamais: tempo.

06 – A qual classe de palavras pertencem as palavras e expressões que você encontrou na atividade 5? Qual é a classe das palavras que estão sendo modificadas?
      Advérbio/verbo.

07 – Na atividade anterior, você observou algumas palavras e expressões que exercem uma função junto a outras na organização das orações. Essas palavras/expressões chamam-se adjuntos adverbiais. Escreva uma definição para os adjuntos adverbiais, considerando o que você observou nas frases da atividade 5.
      Os adjuntos adverbiais indicam as circunstâncias em que ocorre o fato expresso pelo verbo ou intensificam seu sentido.

08 – Observe os adjuntos adverbiais destacados na frase abaixo.
        Era muito tarde, e o sultão ouvia bastante atento as histórias de Sherazade.
Responda às questões seguintes no caderno.
a)   Quais palavras eles modificam?
Tarde e atento.

b)   A que classe gramatical pertencem as palavras que você apontou no item a?
Ás classes dos advérbios (tarde) e dos adjetivos (bastante).

c)   Qual a mudança de sentido efetuada pelos adjuntos adverbiais?
Eles intensificam o sentido das palavras que acompanham.

d)   Considerando-se o que você observou acima, quais as três classes gramaticais que podem ser modificadas pelos adjuntos adverbiais?
Verbos, advérbios e adjetivos.

09 – Copie as manchetes abaixo no caderno e acrescente-lhes adjuntos adverbiais.
        CHOVERÁ E FARÁ SOL
        CADERNO TRAZ DICAS PARA IR A
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia estes trechos do texto “O mercador e o gênio”:     
        “[...] voltarei pontualmente para submeter-me à vossa vontade.”
        “-- O que falta contar é melhor ainda, disse à irmã [...]”
        “[...] Dinarzade voltou a dirigir à irmã as mesmas palavras [...]”

Responda às questões seguintes no caderno.
a)   Os verbos submeter, dizer e dirigir pedem qual preposição?
A preposição a.

b)   As palavras que estão completando o sentido desses verbos são masculinas ou femininas?
Femininas: vossa vontade e irmã.

c)   Os substantivos femininos são terminados por qual artigo?
Pelo artigo a.

d)   Nas orações acima, portanto, temos verbos que pedem a preposição a e complementos verbais que são determinados pelo artigo a. Como está indicada a fusão dessas duas palavras nas frases que você leu?
Estão indicadas pelo sinal grave sobre a vogal: à.

11 – Leia as frases abaixo observando os destaques:
        Sentou-se à margem do riacho.
        Á noite, Sherazade contava lindas histórias.
        Ela não ficava muito à vontade na presença do sultão.
        Ás vezes, as histórias podem ter inúmeros desfechos.

a)   As expressões destacadas indicam circunstâncias? Qual?
Sim. Indicam lugar, modo e tempo.

b)   A qual classe gramatical pertencem as palavras que indicam circunstâncias?
Advérbio.

c)   Os substantivos que compõem essas locuções são femininos ou masculinos?
Femininos.

d)   Você acaba de conhecer mais um emprego da crase. Escreva no caderno a regra que você observou.
Ocorre crase antes de locuções adverbiais em que o substantivo é feminino.



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