domingo, 1 de dezembro de 2024

POESIA: MELIBEU - VIRGÍLIO - COM GABARITO

 Poesia: Melibeu

             Virgílio

Homem feliz, pois que os campos permanecerão em tua posse!

E são bastante extensos para ti embora haja pedras expostas,

E alagados cubram as pastagens com limoso junco.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlEjpKlgr99n00R8LulENI4RCvA0zB6a6ePQruXOackdWKaCInLBqZU1KaT4iVkuAfD6mjb4Yw0ZDsQP4WSM85gdHRaCl5exeySswdza6vmlycwqKMIxni8uF_gO80GSweUr7_7bb3JSg99wkhHoKTzC3p_wvMjzpwDkcHOLBRk9bvwTqH6beVfWH9Nds/s320/FONTE.jpg


Pastos estranhos não seduzirão os animais prenhes,

Nem lhes causará dano alguma doença contagiosa do gado vizinho.

Homem feliz, aqui, entre os rios que te são familiares

E as fontes sagradas, terás uma sombra fresca.

De um lado, a cerca viva que marca o limite com o campo vizinho,

E que é constantemente sugada pelas abelhas do Hibla,

Te induzirá ao sono com o zumbido suave;

De outro, sob um elevado rochedo, o podador enviará seu canto aos ares.

Nesse meio tempo, nem as pombas roucas que são objeto de teu amor

Nem as rolinhas deixarão de arrulhar do alto do olmeiro.

Virgílio. In: Poesia lírica latina (organização Maria da Gloria Novak e Maria Luiza Neri). São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 49.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 240.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Junco: vegetação típica de terrenos alagados.

·        Podador: besouro que se alimenta de folhagem, flores e frutificações.

·        Estranhos: pertencentes aos vizinhos, terras ao redor.

·        Arrulhar: produzir arrulhos, sons emitidos por pombos e rolas.

·        Prenhes: fêmeas em período de gestação.

·        Hibla: região da Sicília (Itália) conhecida desde a Antiguidade pela qualidade de sua produção de mel.

·        Olmeiro: tipo de árvore alta e folhosa.

02 – Qual a principal característica da vida no campo retratada por Virgílio neste trecho?

      O poema idealiza a vida no campo, apresentando-a como pacífica, simples e em harmonia com a natureza. A terra fértil, os animais saudáveis, a companhia dos pássaros e o som das abelhas evocam uma imagem de tranquilidade e bem-estar.

03 – Que elementos da natureza são destacados no poema e qual a função deles?

      O poema destaca diversos elementos da natureza, como campos, pedras, alagados, rios, fontes, abelhas, rochas, pombas e rolinhas. Esses elementos servem para criar um cenário bucólico e idealizado, reforçando a ideia de uma vida simples e em contato com a natureza.

04 – Qual a importância da posse da terra para o homem feliz descrito por Virgílio?

      A posse da terra é fundamental para a felicidade do homem no poema. A terra representa segurança, sustento e um modo de vida autônomo. A ideia de cultivar a própria terra e cuidar dos animais está intrinsecamente ligada à noção de felicidade e bem-estar.

05 – Que tipo de sons são mencionados no poema e qual o efeito que eles produzem?

      O poema menciona diversos sons, como o zumbido das abelhas, o canto do podador e o arrulhar das pombas e rolinhas. Esses sons contribuem para criar uma atmosfera serena e relaxante, caracterizando a vida no campo como harmoniosa e pacífica.

06 – Qual a relação entre o homem e a natureza estabelecida no poema?

      O poema estabelece uma relação de harmonia e interdependência entre o homem e a natureza. O homem é visto como parte integrante do ambiente natural, beneficiando-se de seus recursos e contribuindo para sua preservação. A natureza é retratada como fonte de vida, beleza e inspiração.

 

CONTO: PAPÉIS DE CIRCUNSTÂNCIAS - FRAGMENTO - CORA CORALINA - COM GABARITO

 Conto: Papéis de circunstância – Fragmento

           Cora Coralina

        Como me lembro deles...

        De muita coisa passada na infância a gente se esquece, de outras não. Elas nos acompanham a vida inteira, embora não sejam coisas de profundidade nem tenham em si mesmo conteúdo de alto ensinamento. Foram simplesmente alguns traços vivos que, repetidos, de certa forma gravaram-se no disco das impressões deixando marca para sempre. Nos longos anos que passei longe da velha casa, sobrecarregada com os fardos, mais arrochos da vida, muita coisa desapareceu da minha lembrança, sobre outras se fecharam de forma inviolável os escaninhos – melhor direi – as gavetinhas da memória. Mas aqueles papéis de circunstância e junto a eles, a figura alta, magra e severa de minha mãe, esse quadro só a morte poderá apagar.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsCRHoQ7ygIEnAlH3-Ni2JkxwlCDZIddTrGIy-MiltC1KhH7LVA0xzFkV4K1jm0w_EyqEfqMCbOb8gX-KCURlf6_7UuIGeQbUfMK5ITffqDaNUjcmvg9PPLTtDVmNT-ZqMTu8DqUNeq0xL_Uc6kD6hmrvjJfUy7l06Pgkj0mfbzI3v4wtvGhnKGpq760A/s320/CASA.jpg


        Papéis de circunstâncias eram todos aqueles papéis que pertenciam a ela, que existiam na casa ou que ali foram deixados por meu pai, tios e parentes, falecidos ou ausentados. Eram guardados em velhas canastras de couro tacheadas de amarelo, com arabescos, datas e iniciais e pesadas fechaduras de ferro. Atulhavam gavetas enormes e escaninhos de segredo. [...]

        Eram papéis amarrados com nastro verde. Outros lacrados com plastas de um lacre vermelho que já foi de bom uso nas casas e no correio e que se comprava no comércio em tabletes compridos. Havia também ali uma caixinha misteriosa com fecho de segredo que criança não tinha de saber e que não era para se tocar. [...]

        Não havia distração para criança naquele tempo. Era-nos proibido sair à rua ou aparecer à porta, senão em dias excepcionais, e ainda assim acompanhadas. Eu tinha, portanto, de descobrir meu pequeno mundo interessante dentro da velha casa e satisfazer minha curiosidade faminta, violando coisas guardadas. [...]

Cora Coralina. In: Estórias da casa velha da ponte. São Paulo: Global, 2001, p. 87-90.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 279-280

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Fardos: problemas difíceis de suportar.

·        Nastro: cadarço, fita de algodão.

·        Arrochos: sérias dificuldades.

·        Plastas: que tem consistência moldável, como uma massa mole.

·        Inviolável: que não se pode abrir, danificar.

·        Violando: abrindo sem permissão, devassando.

·        Canastras: baús, caixas.

02 – A memória seletiva: Por que a narradora se lembra com tanta vivacidade dos "papéis de circunstância" e da figura de sua mãe, enquanto outros detalhes da infância parecem ter se apagado? Que papel a emoção e a importância atribuída a esses elementos desempenham na construção da memória?

      A emoção como gatilho: A intensidade das emoções ligadas aos "papéis de circunstância" – mistério, proibição, curiosidade – faz com que essas lembranças se fixem mais profundamente na memória da narradora.

      A importância atribuída aos objetos: Os papéis representam um pedaço do passado familiar e da história da casa, carregando consigo um peso simbólico e emocional que os torna inesquecíveis.

      A construção identitária: As lembranças selecionadas ajudam a construir a identidade da narradora, moldando sua visão de si mesma e do mundo.

03 – Os papéis como objetos de fascínio: O que torna os "papéis de circunstância" tão fascinantes para a criança que a narradora um dia foi? Que mistérios e possibilidades esses objetos representam para ela? Como a proibição de tocá-los intensifica esse fascínio?

      O mistério e o proibido: A proibição de tocar nos papéis desperta a curiosidade da criança, tornando-os ainda mais atraentes.

      A imaginação infantil: A criança projeta suas próprias histórias e significados nos objetos, criando um universo particular e imaginativo.

      A busca por conhecimento: A curiosidade infantil é um motor que impulsiona a busca por conhecimento e compreensão do mundo.

04 – A casa como universo: A velha casa é descrita como um microcosmo repleto de segredos e histórias. De que forma esse espaço confinado influencia a imaginação da criança e molda sua percepção do mundo? Como a casa se torna um reflexo do passado familiar?

      O microcosmo familiar: A casa é um espaço que guarda as histórias e os segredos da família, sendo um reflexo do passado e das tradições.

      O desenvolvimento da identidade: A casa é o primeiro ambiente que a criança conhece e onde ela constrói suas primeiras experiências e relações.

      A limitação e a expansão: A casa, ao mesmo tempo em que limita o universo da criança, estimula sua imaginação e a busca por novos horizontes.

05 – O papel da mulher: A figura materna é apresentada de forma bastante marcante, associada à severidade e à guarda de segredos. Qual é o papel da mulher na sociedade retratada no conto? Como a figura materna se relaciona com os valores e as tradições familiares?

      A figura materna como guardiã: A mãe é retratada como a guardiã dos segredos da família, responsável por preservar as tradições e os valores.

      A submissão feminina: A figura feminina é associada à submissão e ao cumprimento de papéis sociais predefinidos.

      A complexidade da figura materna: A mãe é uma figura ambígua, que inspira tanto admiração quanto medo.

06 – O tempo e a memória: A passagem do tempo é um tema central no conto. Como a narradora concilia as lembranças da infância com a experiência da vida adulta? De que forma o passado influencia o presente?

      A memória como construção: A memória não é uma reprodução fiel do passado, mas uma construção subjetiva e seletiva.

      A passagem do tempo e a transformação: A passagem do tempo transforma as lembranças, dando-lhes novos significados e nuances.

      A nostalgia e a saudade: As lembranças da infância são marcadas pela nostalgia e pela saudade de um tempo que já passou.

07 – A linguagem e a construção do texto: Cora Coralina utiliza uma linguagem rica em detalhes e imagens sensoriais para descrever os "papéis de circunstância" e a atmosfera da casa. Como essa linguagem contribui para a criação de um clima de mistério e nostalgia?

      A descrição detalhada: Cora Coralina utiliza uma linguagem rica em detalhes para criar uma atmosfera envolvente e realista.

      As sensações e as emoções: A linguagem evoca sensações e emoções, transportando o leitor para o universo do conto.

      A musicalidade: A linguagem poética de Cora Coralina confere ao texto uma musicalidade e uma beleza únicas.

08 – A importância dos objetos: Os objetos, como os "papéis de circunstância", desempenham um papel fundamental na narrativa. De que forma esses objetos se tornam porta-vozes da história familiar e da identidade da narradora? Qual a relação entre os objetos e a memória?

      Os objetos como testemunhas do passado: Os objetos guardam a memória das pessoas e dos acontecimentos, sendo verdadeiros testemunhos do tempo.

      A relação entre objetos e identidade: Os objetos possuem um valor simbólico e afetivo, contribuindo para a construção da identidade individual e coletiva.

      A materialidade da memória: Os objetos materializam a memória, tornando-a tangível e palpável.

 

CONTO: VIAGEM À TERRA DE SHAKESPEARE - FRAGMENTO - JOSÉ LINS DO REGO - COM GABARITO

 Conto: Viagem à terra de Shakespeare – Fragmento

           José Lins do Rego

        [...]

        A primavera estava viva e bulindo por toda a parte. As cerejeiras cobriam de cor-de-rosa o verde dos parques onde vacas malhadas, espichadas na grama, tomavam banhos de sol. Carneiros tosados ficavam em rebanhos, na quietude do meio-dia. E havia alguma coisa de poema mansinho, de doce poesia de acalento, sem rugidos furiosos de dor.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxrtDbPBn0eOpz8OOPTU7qz0Qot7e6Yc0rjv2nHWrwTZRfGKAYrL7Pq_dTlimQ7x6esSAp6IeVQ90_KbncBgrNioJi3GXrWyZD74To8OB7VKgYK-B588UaY_tOBPkdYRbU0tXUsWPJHQaDFYcegBJlJ6n5QQ49LXi7BwqHIB5zpIOI4Z-_wqOgVT4wJXg/s320/CEREJA.jpg


        A manhã de Strarford não era em nada shakespeariana. Mas era de Shakespeare aquela cidade, era bem de Shakespeare aquele vilarejo de casas pequenas, de tristes telhados, de janelas apertadas. Ali nascera e morrera um rival de Deus, o que tivera forças para modelar naturezas humanas com o barro de sua própria lavra. Gênio que fizera almas desabrochar, pedras gemer, fantasmas descer à terra, crimes ascender aos cimos da tragédia.

        Subimos as escadas humildes e frágeis que pisavam os seus pés. Tudo feito para uma vida de pobres, tudo acanhado. Móveis e utensílios de gente de posses reduzidas. Uma moça nos vai dizendo: “Tudo isto que veem é da época. Esse jarro de couro, estes pratos de madeira, estas panelas de cobre”. A mesa de comer é uma miserável mesa de madeira sem trabalho. Todos comiam com as mãos na casa de Shakespeare. A cama de dormir é uma enxerga. Não havia um quadro nas paredes nuas. Assoalho de tábuas remendadas. O maior gênio do século morreu numa casa sombria, sem o mínimo sinal de fartura. Embaixo, na cozinha, há uma espécie de bolandeira. Ali ficavam os meninos amarrados para aprender a andar. As mulheres trabalhavam em almofadas, na feitura de uma renda que dá pena, de tão primitiva. As mulheres nordestinas, as negras dos engenhos, seriam, junto à mãe de Shakespeare, admiráveis artistas. Como os vaqueiros sertanejos, bebiam água em vasos de couro curtido.

        Lá fora é o jardim da casa. Ameixeiras florescem no pátio. Entram turistas para castigarem as pobres tábuas de quatrocentos anos da casa do gênio. Shakespeare em rações para americanos gordos e velhas fanhosas. [...] Saímos para ver a casa da mulher de Shakespeare. havia muita gente parada à porta de uma casa, no fim da rua. Na noite anterior havia sido estrangulada uma moça naquela habitação inocente. Caliban descera na paz de Stratford, para nos mostrar que os monstros de Shakespeare não eram somente de papel e de tinta. [...]

José Lins do Rego. In: O cravo de Mozart é eterno (seleção, organização e apresentação de Ledo Ivo). Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 281.

Entendendo o conto:

01– De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bulindo: agitando.

·        Bolandeira: grande roda denteada usada nos engenhos para moer a cana-de-açúcar.

·        Acalanto: cantiga suave para adormecer bebês.

·        Caliban: ser horrendo, de corpo disforme, capaz de muita brutalidade.

·        Lavra: criação.

·        Enxerga: colchão grosseiro.

02 – O contraste entre a obra e a vida: Como José Lins do Rego contrasta a grandiosidade da obra de Shakespeare com a simplicidade e a pobreza da vida do dramaturgo? Qual o efeito dessa contraposição na construção do texto?

      Lins do Rego estabelece um contraste marcante entre a grandiosidade da obra de Shakespeare e a simplicidade da vida que o dramaturgo levou. A descrição da casa humilde, dos móveis simples e da vida cotidiana em Stratford-upon-Avon serve como um contraponto à complexidade e à profundidade das peças de Shakespeare. Essa contraposição ressalta a ideia de que a genialidade artística não está necessariamente ligada a uma vida luxuosa ou privilegiada. Ao mostrar a vida "real" por trás da obra, o autor humaniza Shakespeare, aproximando-o do leitor e convidando-o a refletir sobre a natureza da criação artística.

03 – A universalidade do gênio: O autor afirma que Shakespeare foi um "rival de Deus", capaz de modelar naturezas humanas. Como essa afirmação se relaciona com a ideia de que a obra do dramaturgo ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço, atingindo uma dimensão universal?

      A afirmação de que Shakespeare era um "rival de Deus" enfatiza a sua capacidade de compreender a natureza humana em profundidade e de criar personagens universais que transcendem as barreiras do tempo e do espaço. As obras de Shakespeare continuam a ser relevantes e a emocionar pessoas de diferentes culturas e épocas, o que demonstra a sua genialidade e a sua capacidade de abordar temas atemporais como o amor, a morte, a ambição e o poder.

04 – A casa como reflexo do homem: A descrição da casa de Shakespeare revela detalhes sobre a vida cotidiana do dramaturgo e de sua família. De que forma essa descrição contribui para a construção de uma imagem mais humana e cotidiana do gênio?

      A descrição detalhada da casa de Shakespeare revela aspectos importantes da sua personalidade e da sua vida. A simplicidade dos móveis e a ausência de objetos de luxo sugerem um homem modesto e pouco apegado aos bens materiais. A casa, como um reflexo do seu dono, revela um homem mais preocupado com a criação artística do que com a ostentação.

05 – A violência e o grotesco: A menção ao assassinato da mulher de Shakespeare introduz um elemento de violência e grotesco no texto. Como esse elemento se relaciona com a obra do dramaturgo e com a própria vida?

      A menção ao assassinato da mulher de Shakespeare introduz um elemento de realismo e de brutalidade na narrativa, contrastando com a idealização romântica que muitas vezes se faz da figura do dramaturgo. Essa violência nos lembra que a vida, mesmo dos grandes gênios, é marcada por tragédias e acontecimentos inesperados. A presença do grotesco também serve para conectar a obra de Shakespeare com a realidade, mostrando que o autor não estava alheio às questões mais sombrias da natureza humana.

06 – O turismo e a banalização: A presença de turistas na casa de Shakespeare é utilizada pelo autor para fazer uma crítica à banalização da cultura e à transformação de um lugar histórico em um mero ponto turístico. Qual a sua opinião sobre essa crítica?

      A crítica à banalização da cultura e à transformação de um lugar histórico em um mero ponto turístico é uma reflexão pertinente sobre a relação entre o passado e o presente. Ao transformar a casa de Shakespeare em um local de peregrinação para turistas, corre-se o risco de reduzir a sua obra a uma mera atração turística, esquecendo o seu valor histórico e cultural. A presença de "americanos gordos e velhas fanhosas" representa uma caricatura do turista desinteressado e superficial, que consome a cultura sem aprofundar-se em seu significado.

 

 

CRÔNICA: O PERNILONGO - MÁRIO PRATA - COM GABARITO

 Crônica: O pernilongo

              Mário Prata

        Era o melhor dos mundos. Mata Atlântica e praia, num mesmo local, num mesmo momento. Uma varanda, uma churrasqueira (nunca usada, mas lá), uma rede.

        Doces loiras a caminho do mar, The Beatles alto, a culpa baixa. E a pressa, nenhuma. Vinho.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE-dy7aflfXKu1yQr1JuVuvgD04PsFGCSG2RFZjY97F6hs7DTfdmAw8CaLTyKMz0sPBMbNw_1KF5LHJqEInDmwUjwq-3-6dKnoFviNekl7ElNgtOBl2BluBSEbAwSh812YtIw482edx6ON_Vwl3uAEdc3kjCmDVB1YOIhKwzwBVhjuP8FVA6pjQEnp8-0/s320/PERNILONGO.jpg


        Mas tinha pernilongo.

        A primeira providência foi chamar o Flávio Scherer, cobra em telas para janelas. Fiz uma no meu escritório e outra entre a varanda e a sala. No quarto já tinha. Fechando a porta da cozinha eu estava salvo dele, o pernilongo.

        Mas na primeira noite, já me sentindo isolado do zumbidinho e das picadonas, ele apareceu nos ares, ele estava lá. E pernilongo é maldoso. Não basta picar. Primeiro ele fica te azucrinando o ouvido. E você, feito um idiota, dando tapas na própria orelha. Não há nenhum registro no mundo de alguém que tenha matado um pernilongo assim.

        No dia seguinte comprei aqueles tabletinhos verdes que coloca na tomada. E deixei, antes de ir dormir, o quarto todo borrifado com um spray que dizia que matava tudo. Fui deitar com um cheiro ruim no quarto. Mas quem é que aparece lá de madrugada? Como se a coisa não fosse com ele.

        Levanto, acendo a luz. Vejo onde ele está, pego a toalha todo sonolento e vou à luta. Mas ele sempre ganha. Mesmo quando você acerta uma toalhada nele, ele dá uma de que vai a nocaute, mas faz uma curva no ar e vai lá para cima. A noite está perdida.

        Chamo o Flávio de novo. Quero telas protetoras na cozinha, no outro quarto, na área de serviço, no quarto de empregada e no banheiro idem. Em uma semana a casa estava completamente protegida. E, quando eu entrava da rua era rápido e abria a porta o menos possível. Eu estava protegido. Ele não teria por onde entrar.

        Duas da manhã, ele. Direto na minha orelha, me gozando, pensei. Mas por onde teria entrado? Não havia nenhuma possibilidade. Foi quando eu pensei que talvez ele já estivesse lá dentro quando o Flávio colocou todas as telas e estaria me avisando que queria sair. Mas era um só e eu resolvi ir à luta. Na mão esquerda um superjato e na direita a toalha. Fechei todas as portas do quarto. Era eu e ele. Um dos dois ia morrer. Não chegou a ser a Guerra dos 100 Anos, mas ele desaparecia como o Bin Laden, que era como eu o chamava: aparece, Bin, se você for macho! Já estava clareando quando eu acertei uma bordoada fatal nele. Sujou a parede de sangue. Sangue meu, naturalmente.

        Na noite seguinte, outro. Resolvi olhar todas as telas, ver se havia uma frestinha. Nada, o Flávio é cobra. Quando entrei no banheiro, tinha dois lá dentro. Pensei: o ninho é aqui. E descobri. Eles entravam pela ventilação no teto. O Flávio colocou uma tela lá. Aproveitou e colocou outra debaixo do ralo.

        Antes de ir dormir, chequei a casa toda. Não havia a menor possibilidade.

        Até os ralos de todas as pias e banheiras, tapados. Hoje eu ia dormir em paz.

        Dormi. Até que ele voltou. Acendi a luz e fiquei olhando para ele. Era o Bin Laden, eu havia matado o afegão, perdão, o pernilongo errado. Como que eu sabia que era o Bin? Minha senhora, eu estava havia dias convivendo com ele, conhecia seu jeitão, seu estilo de voar, e principalmente, sua voz.

        Ele ficava zanzando na minha frente, parecendo que pedia uma trégua, um acordo. Fiz o tal de acordo. Me cubro todo e deixo o pé de fora. Você só pica o pé, tudo bem? Ele balançou a cabeça. E mais, pica uma vez só por noite. Tudo bem? E mais uma coisa e a mais importante de todas. Calado! Nada de zumbido no meu ouvido, pelo amor de Deus!

        E assim foi. Meu pé direito começou a ficar inchado. E o Bin, gordo, imenso, tendo dificuldade até para voos mais rasantes. Comecei a me afeiçoar a ele.

        E tive a grande ideia. Toda noite, antes de dormir, fazia um micro furinho no dedo, saia um sanguinho, deixava num pires para ele. Na manhã seguinte o pires está limpinho. Impressionante.

        Antes de ontem ele amanheceu morto, ao lado do pires. Deve ter morrido de velho. Ou de dengue.

        Agora dormia tranquilo, no silêncio das ondas do mar. Mas acordava sobressaltado toda hora: cadê o Bin? Cadê o Bin? E penso, de vez em quando: Será que ele morreu mesmo? Será que ele não vai aparecer a qualquer momento?

        Não sei, mas continuo dormindo com o pé fora das cobertas. Quem sabe, né?

Mário Prata. O Estado de São Paulo, 27/3/2002.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 260-261.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal temática abordada na crônica?

      A crônica de Mário Prata aborda de forma humorística e irônica a luta de um homem contra um pernilongo. Por trás dessa história aparentemente simples, o autor explora temas como a busca pela perfeição, a relação do homem com a natureza e a dificuldade de controlar o inesperado.

02 – Como o autor caracteriza a relação entre o homem e o pernilongo?

      A relação entre o homem e o pernilongo é apresentada como uma verdadeira batalha. O homem utiliza diversos recursos para se livrar do inseto, mas este sempre encontra uma forma de escapar e contra-atacar. Essa relação é marcada pela persistência do pernilongo e pela frustração do homem.

03 – Quais os recursos linguísticos utilizados pelo autor para criar o humor na crônica?

      O autor utiliza diversos recursos linguísticos para criar o humor na crônica, como:

      Ironia: O autor ironiza a situação ao descrever a guerra contra o pernilongo como uma batalha épica, comparando-o a figuras históricas como Bin Laden.

      Hipérbole: O autor exagera a importância do combate ao pernilongo, transformando-o em uma obsessão.

      Linguagem coloquial: O uso de uma linguagem informal e próxima do cotidiano torna a crônica mais divertida e fácil de identificar com o leitor.

04 – Qual o papel do cenário na crônica?

      O cenário paradisíaco da praia e da mata atlântica contrasta com a irritação causada pelo pernilongo, criando uma situação irônica. A natureza, que deveria ser um refúgio tranquilo, torna-se um campo de batalha.

05 – Qual a evolução da relação entre o homem e o pernilongo ao longo da crônica?

      Inicialmente, a relação é marcada pela hostilidade e pela tentativa de extermínio. No entanto, com o passar do tempo, o homem passa a conviver com o pernilongo, criando até mesmo uma espécie de vínculo. Ao final da crônica, o homem demonstra um misto de medo e afeição pelo inseto.

06 – Qual a mensagem que a crônica transmite?

      A crônica transmite uma mensagem sobre a impossibilidade de controlar tudo e a importância de aceitar o inesperado. A luta contra o pernilongo simboliza a luta do homem contra as pequenas frustrações do dia a dia, que por mais que tentemos, nunca conseguimos eliminar completamente.

07 – Como o leitor pode se identificar com a crônica?

      O leitor pode se identificar com a crônica por meio das situações cotidianas e dos sentimentos descritos. A luta contra um inseto irritante é uma experiência universal, e a frustração e o humor presentes na crônica são sentimentos que todos já experimentaram em algum momento.

 

 

CONTO: O CÓDIGO CALLOWAY - FRAGMENTO - O. HENRY - COM GABARITO

 Conto: O código Calloway – Fragmento

        A New York Enterprise enviou H. B. Calloway como correspondente especial para a guerra russo-japonesa-Portsmouth. Por dois meses, Calloway ficou por Yokohama e Tóquio, jogando dados com os outros correspondentes. Mas logo a legião de repórteres que acompanhariam o Primeiro Exército ajustou a alça de seus binóculos e seguiu para o rio Yalu com o general Kuroki. Calloway estava entre eles.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm-U-9tC2o5plYYY8sW7ZUjOj3VFNerPmRjTHVWDo7S75B6ScQoy7yPWj1tq3lpCuuESpjEnZhqvbwEWvR1U-Dy7jrg4rmbNgqGn_LlXRsfiCFS8jHvpoEWIOnaUHofWghFYLc0VGc5mW7Hy7vMT3D3_M5KV_h0DZf0gUVgS8P-F9952ISwaqYi7kF-08/s1600/CODIGO.png


        O grande feito de Calloway estava terminando antes da batalha. O que ele fez foi fornecer à Enterprise o maior furo jornalístico da guerra. O jornal publicou com exclusivamente e em detalhes a notícia do ataque contra as tropas do General Russo no mesmo dia em que ocorreu. Nenhum outro jornal publicou uma só palavra sobre a investida durante dois dias, com exceção de um jornal de inglês, que fez um relato incorreto e falso.

        Calloway conseguiu essa proeza apesar de o General Kuroki manter sua tática no mais completo segredo, ao menos para além dos limites do front. Os correspondentes estavam proibidos de enviar qualquer mensagem a respeito de seus planos; e toda mensagem que se emitia por telegrama era severamente censurada.

        O correspondente do jornal The Times, de Londres entregou um telegrama descrevendo os planos de Kuroki; mas, como era uma fantasia do começo ao fim, o censor fez uma careta e deixou passar.

        Então, lá estavam eles — Kuroki de um lado do Yalu, com quarenta e dois mil homens na infantaria, cinco mil na cavalaria e cento e vinte e quatro canhões. No outro lado, Zassulitch esperava por ele com apenas vinte e três mil homens e com uma longa faixa do rio para defender. E Calloway teve acesso a algumas informações sigilosas que ele sabia que poriam o pessoal do Enterprise em volta do telegrama como se fosse uma nuvem de moscas ao redor de um daqueles quiosques de limonada da avenida Park. Se ele conseguisse ultrapassar a barreira do censor — o novo censor que tinha chegado justamente naquele dia!

        Calloway fez o que era mais óbvio e apropriado. Acendeu seu cachimbo e sentou na carreta de um canhão para refletir. E aí nós devemos deixá-lo; porque o resto da história pertence a Vesey, um repórter do Enterprise que trabalha por 16 dólares por semana.

        O telegrama de Calloway foi entregue ao editor-chefe às quatro horas da tarde. Ele o leu três vezes; e depois pegou um espelhinho de um escaninho de sua mesa e olhou seu reflexo atentamente. Então foi até a mesa de Boyd, seu assistente (ele normalmente chamava Boyd quando precisava dele), e pôs o telegrama na frente dele.

        -- É de Calloway – ele disse. – Veja o que você consegue entender.

        A mensagem era datada em Wi-ju, e dizia o seguinte:

        Indubitável cartesiano impensado bruxas absoluto circulam presença fiéis silenciosa faixa Campos do Jordão financeiras Branca roça imunológica bruta recursos deslavada últimas especial previsão paradeiro nua e crua.

        Boyd leu duas vezes.

        -- Ou é uma mensagem cifrada ou uma insolação.

        -- Já ouviu falar de algum código na redação, um código secreto? – perguntou o editor-chefe, que tinha assumido a função havia apenas dois anos. Editores-chefes vão vêm.

        -- Nada, exceto aquele tipo de linguagem que eles usam lá na redação dos cadernos para mulheres. Será que pode ser um acróstico?

        -- É, foi o que eu pensei – disse o editor-chefe –, mas não parece que se possa ler alguma coisa com as letras iniciais. Deve ser outro tipo de código.

        -- Tente agrupar as palavras, sugeriu Boyd. Deixe ver... “cartesiano impensado bruxas”, não, com estas não dá. “Circulam presença fiéis”, deve ter alguma ligação escondida. “Silenciosa faixa Campos do Jordão”, por que aconteceria algo de importante nessa cidade? “Financeiras Branca roça”. Não faz o menor sentido. Vou chamar o Scott.

        O editor do caderno de cidades veio apressadamente e deu umas sugestões. Um editor de cidades deve conhecer um pouco de cada coisa; então Scott sabia um pouquinho sobre escritas cifradas.

        -- Pode ser aquilo que se chama de um alfabeto invertido – ele disse. – Vamos tentar. “B” parece ser a letra mais usada como início das palavras da mensagem. Vamos supor que “b” seja “a”, a mais usada vogal no início de palavras. Se a gente transpõe as letras -- então...

        Scott ficou rabiscando freneticamente com seu lápis por dois minutos; e então mostrou a primeira palavra que conseguiu traduzir de acordo com seu código: a palavra "hmctahszudk”.

        -- Perfeito! – gritou Boyd. – É uma charada. A primeira palavra deve ser de um general russo. Continue, Scott.

        -- Não, não vai dar certo! – disse o editor de cidade. – É mesmo uma linguagem cifrada. É impossível compreende-la sem uma chave. Alguma vez já se usou linguagem cifrada aqui na redação?

        -- É o que eu queria saber – disse o editor-chefe. – Pergunte para todo mundo que possa saber. Temos de decifrar de qualquer jeito. Calloway obviamente descobriu algo quente e o censor não deu moleza, senão ele não teria mandado essa salada mista no telegrama.

        Um esquema de investigação se espalhou por toda a redação do Enterprise, intimando todos que, por seus conhecimentos, inteligência natural ou tempo de serviço, talvez soubessem da existência de um código, no passado ou no presente. Eles se reuniram na sala da redação, com o editor-chefe no centro. Ninguém havia ouvido falar de um código.

        Então chegou Vesey.

        [...]

        Ele era o repórter mais jovem. Ele tinha mais de oitenta centímetros de tórax e usava colarinho número cinco. Mas seu terno xadrez bem escocês, lhe dava certa presença e não deixava dúvida sobre sua origem. Ele usava seu chapéu numa posição tal que as pessoas o seguiam para ver quando ele o tirava, convencidos de que estava preso por um pregador acoplado à sua nuca. Ele usava sempre uma imensa bengala de madeira de lei com um cabo de prata.

        [...]

        Explicaram a situação a Vesey, com aquele tom meio condescendente que sempre usavam com ele. Vesey se esticou num bote e pegou o telegrama das mãos do editor-chefe. Sob a proteção de alguma Providência especial, ele sempre estava fazendo coisas esquisitas como aquela, com ar de quem não fez nada.

        -- É um código – disse Vesey. – Alguém conhece a chave?

        -- Não temos nenhuma chave – disse Boyd tentando agarrar a mensagem. Vesey manteve-a em suas mãos.

        [...]

        Vesey sentou-se no canto de uma mesa e começou a assobiar sossegadamente, franzindo a testa enquanto olhava para o telegrama.

        -- Devolva isso – disse o editor-chefe. – Não temos de descobrir o que significa.

        -- Eu acho que tenho uma pista – disse Vesey. – Deem-me dez minutos.

        Ele dirigiu-se a sua mesa, jogou seu chapéu num cesto de lixo, debruçou-se sobre o tampo da mesa como um enorme lagarto e começou a rabiscar. Os sábios do Enterprise permaneceram juntos e sorriam entre si, balançando sua cabeça enquanto viam Vesey trabalhar. Então começaram a trocar ideias sobre a mensagem cifrada.

        Vesey levou exatamente quinze minutos. Ele entregou ao editor-chefe um papel com a chave do código.

        -- Eu senti o jeitão da coisa assim que olhei – disse Vesey. – Viva o velho Calloway! [...]

        Então Vesey leu o código:

        Indubitável (conclusão) cartesiano (plano) impensado (ato) bruxas (hora das) absoluto (segredo) circulam (boatos) presença (confirmada) fiéis (legiões de) bife (a cavalo) silenciosa (maioria) faixa (de pedestre) Campos do Jordão (campos) financeiras (condições) Branca (de neve) roça (caminho da) imunológica (defesa) bruta (força) recursos (parcos) deslavada (mentira) últimas (notícias) especial (enviada) previsão (do tempo) paradeiro (desconhecido) nua e crua (verdade).

        [...]

        -- É simplesmente a linguagem dos jornais – explicou Vesey.  – Trabalho aqui no Enterprise há tempo suficiente para saber de cor como é essa linguagem. Calloway nos dá a palavra-chave, e a gente usa a palavra que normalmente está associada a ela, justamente como costuma aparecer no jornal. Leia novamente e você verá como é óbvio. Agora aqui está a mensagem que ele queria que nós recebêssemos.

        Vesey entregou outro papel.

        “Concluído o plano para agir à meia-noite em segredo. Boatos confirmam que legiões a cavalo e maior número de infantaria estarão em campo. As condições são de neve. O caminho será defendido por poucas forças.  São mentirosas as notícias do enviado do jornal ‘O tempo’ (The Times), que desconhece a verdade”.

        [...]

        -- Mr. Vesey – disse o editor-chefe com um contentamento que deveria ser entendido como um favor – você fez uma séria crítica aos padrões de linguagem deste jornal em que trabalha. Você também cooperou substancialmente com o maior furo do ano. Eu lhe informarei em um ou dois dias se você será despedido ou se receberá um aumento.

        [...]

        Foi maravilhoso. E Calloway foi maravilhoso por fazer o censor crer que aquele amontoado de palavras não significava mais do que uma queixa contra a escassez de notícias e o pedido por mais dinheiro. E Vesey foi maravilhoso. E mais maravilhoso que tudo foram as palavras e como elas estabelecem amizade umas com as outras, aparecendo sempre associadas, de modo que nem notícias de obituário conseguem separá-las.

        Dois dias depois, o editor de cidades parou na mesa de Vesey, que estava escrevendo uma notícia sobre um homem que quebrou uma perna ao cair num portão.

        -- O velho homem disse que seu salário subirá para vinte por semana – disse Scott.

        [...]

O. Henry. Texto traduzido pelos autores. http://www.classicreader.com/read.php/sid.6/bookid.1216.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 305-309.

Entendendo o conto:

01 – Qual a importância da mensagem cifrada de Calloway para o desenrolar da história?

      A mensagem cifrada é o ponto central da trama, pois é através dela que a informação crucial sobre o ataque militar é transmitida, desafiando a censura e garantindo o sucesso jornalístico do Enterprise.

02 – Qual o papel de Vesey na resolução do enigma?

      Vesey, apesar de subestimado, demonstra uma habilidade inusitada para decifrar códigos, revelando-se fundamental para a descoberta do significado da mensagem e garantindo o furo jornalístico do Enterprise.

03 – Qual a importância da linguagem jornalística na construção do código?

      A linguagem jornalística é a chave para decifrar o código, pois Calloway utiliza termos e expressões comuns no meio jornalístico para transmitir a informação de forma disfarçada, enganando o censor.

04 – Como O. Henry utiliza o humor e a ironia na narrativa?

      O autor utiliza o humor e a ironia para tornar a história mais leve e divertida, além de destacar a ingenuidade de alguns personagens e a astúcia de outros. A descrição de Vesey e a forma como ele é subestimado pelos colegas são exemplos dessa ironia.

05 – Qual o papel da linguagem coloquial na construção da narrativa?

      A linguagem coloquial utilizada na conversa entre os jornalistas confere um tom mais realista e informal à história, aproximando o leitor do universo jornalístico.

06 – Qual a crítica implícita à censura presente na história?

      A história critica a censura ao mostrar como a informação pode ser transmitida de forma criativa e subversiva, mesmo diante de obstáculos.

07 – Qual a importância da criatividade e da perspicácia na resolução de problemas?

      A história destaca a importância da criatividade e da perspicácia na resolução de problemas, mostrando como a capacidade de pensar fora da caixa pode levar a resultados surpreendentes.

08 – Como o contexto da guerra russo-japonesa influencia a trama?

      A guerra russo-japonesa serve como pano de fundo para a história, criando um clima de tensão e urgência e tornando a obtenção de informações privilegiadas ainda mais valiosa.

09 – Qual o papel do jornalismo na sociedade da época?

      O jornalismo é retratado como uma profissão competitiva e dinâmica, na qual a busca por informações exclusivas é fundamental para o sucesso.

10 – Como a linguagem pode ser utilizada como uma ferramenta de poder e controle?

      A história demonstra como a linguagem pode ser utilizada como uma ferramenta de poder e controle, tanto para transmitir informações de forma clara e precisa, quanto para disfarçá-las e manipular a opinião pública. A censura e a criação de códigos secretos são exemplos disso.