Prosa: Transplante de Menina (Atividade elaborada pela professora Maria Fernandes, autora de livros didáticos).
Tatiana
Belinky
Corria o ano de 1931.
Aproximava-se a data do meu
aniversário: eu ia completar (dez/onze/doze) anos. Lá em Riga, nossos aniversários eram
comemorados com animadas reuniões, no meio de uma grande família: avós, tios e
tias, muitos primos e primas, a casa toda (enfeitada/desarrumada/feia), teatrinho feito por
nós mesmos, jogos, cirandas, cantorias. E muitos presentes, muitos bolos e
doces, e principalmente muito carinho e (tormento/aconchego/tristeza). A cadeira do
aniversariante, na cabeceira da mesa, era decorada como um trono, com grinaldas
e enfeites de papel, a criançada toda endomingada, ostentando chapéus de
penacho e coroas de flores de crepom, tudo confeccionado por nossas próprias
mãos. Eram eventos festivos, aguardados com palpitante antecipação, e
registrados em (cartões/bilhetes/fotografias)
feitas com “explosões” de magnésio, que faziam metade do grupo sair na foto de
olhos fechados, e a outra, de olhos arregalados...
Mas os nossos primeiros aniversários no
Brasil nem chegaram a ser comemorados, passaram “em branca nuvem”, em meio à
afobação e aos mil problemas da grande mudança. Assim, o dia dos meus 11 anos
não teve festa. Mas agora eu ia fazer 12, e estava na Escola Americana, e (morávamos/corríamos/saíamos)
numa casa bastante espaçosa, e eu tinha uma porção de coleguinhas – e achei que
já poderia recebê-los. Achei, mas não falei nada: a proposta de fazer uma
festinha para mim partiu dos meus pais, e eu, claro, fiquei (pouco/muito/sem)
contente. Eu deveria convidar alguns meninos e algumas meninas da minha classe,
aqueles com quem me relacionava melhor, uns dez ou doze. (Mamãe/saída/quando)
prepararia uma bonita mesa de doces e refrigerantes – uma extravagância, nas
nossas condições econômicas. E eu e meu irmão faríamos a decoração com enfeites
de papel, chapéus e bandeirolas, como fazíamos em lá em Riga. E eu teria minha
primeira festa de aniversário no Brasil.
Dito e feito. Escrevi até convites, com
letra caprichada, em cartões com vinhetas (tristes/coloridas/coloridos) da minha própria
lavra, e os entreguei aos colegas de classe, na escola, alguns dias antes do
evento, encabulada e contente com a receptividade amável dos convidados.
Quando chegou o dia – era um sábado,
dia sem aulas na Escola Americana – preparei tudo, enfeitei a sala, me
“enchiquetei” com o primeiro vestido e o primeiro par de sapatos (novos/novas/sujos) desde
que chegamos a São Paulo, e esperei pelos meus convidados, ao lado da mesa toda
decorada e cheia de guloseimas. Os convidados estavam demorando a chegar, mas
já me haviam dito que no Brasil não se costuma chegar na hora, especialmente em
festas – pontualidade também era “coisa de estrangeiros” –, então não me
preocupei muito, apesar da natural impaciência. Só que a demora estava se
prolongando, e uma hora depois da hora marcada ainda não chegara ninguém. Nem
duas horas depois. E nem três. E a minha aflição aumentando, a angústia subindo
como um nó na garganta, um aperto no coração...
Resumindo, a triste e interminável
tarde chegou ao fim, e (amanheceu/anoiteceu/saiu)
sem que aparecesse um só dos meus convidados, nem um único! Frustração,
decepção, rejeição – essas foram as minhas companheiras naquele malfadado (presente/aniversário/alegria)
dos meus doze anos. Eu não era de chorar, e diante dos meus aflitos pais, que
não sabiam o que fazer para me ajudar naquele transe amargo, eu não podia “dar
parte de fraca”. Mas a noite, na minha cama, quando ninguém viu, (chorávamos/chorarei/chorei)
muito, sufocando as lágrimas no travesseiro. E no ano seguinte eu não quis
festa nenhuma.
Este foi um dos grandes traumas de
transição do meu primeiro ano no Brasil, na Rua Jaguaribe. Felizmente, foi
também um dos últimos, senão o último, de tamanho impacto. Mas que me deixou
uma “equimose” na alma, que custou muito a desaparecer.
BELINKY, Tatiana.
Transplante de menina: da rua dos Navios à rua Jaguaribe.
São Paulo: Moderna,
2003, p. 153-155. (Adaptado)
Fonte:(ATIVIDADE ELABORADA PELA PROFª MARIA FERNANDES, AUTORA DE LIVROS DIDÁTICOS)
Entendendo a prosa:
01 – Leia o trecho a seguir:
“[...] Eram eventos festivos, aguardados
com palpitante antecipação, e registrados em fotografias feitas com “explosões”
de magnésio, que faziam metade do grupo sair na foto de olhos fechados, e a
outra, de olhos arregalados [...]”. Sobre o emprego dos tempos verbais no
trecho apresentado, é possível afirmar que a palavra:
a)
“Eram” expressa uma ação concluída no
presente.
b)
“Faziam” indica um fato rotineiro e
ação passada.
c)
“Aguardados” indica um fato não habitual concluído
no passado.
d)
“Sair” expressa uma ação corriqueira e
concluída no presente. Habilidade Localizar uma informação explícita em um
texto (notícia, relato de viagem, diário, crônica social ou crônica esportiva).
02 – Os primeiros
aniversários no Brasil passaram “em branca nuvem” devido à:
a)
Ausência dos avós, tios e tias, primos e
primas.
b)
Afobação e aos mil problemas da
grande mudança.
c)
Extravagância, nas condições econômicas da
família.
d)
Necessidade de convidar alguns colegas da
escola.
03 – O uso do travessão em “[...] eu tinha uma porção de coleguinhas –
e achei que já poderia recebê-los”, indica que o narrador está fornecendo
ao leitor uma:
a)
Informação a mais.
b)
Explicação rotineira.
c)
Afirmação sem importância.
d)
Indicação de que está triste.
04 – No texto, a expressão “[...] nossos primeiros aniversários no
Brasil nem chegaram a ser comemorados, passaram ‘em branca nuvem’” marca a:
a)
Alegria da família em promover uma festa de
12 anos
b)
Desilusão da menina em não
comemorar seus 12 anos.
c)
Tristeza da aniversariante por não receber os
parentes que moram em Riga.
d)
Decepção da garota por convidar somente
alguns meninos e meninas da classe.
05 – Releia o texto,
procurando nos parênteses as palavras mais adequadas para completa-lo.
As palavras, na
ordem, são: doze; enfeitada; aconchego; fotografias; morávamos; muito; mamãe;
coloridas; novos; anoiteceu; aniversário; chorei.
06 – Explique por que esse
texto não é uma receita, nem um manual, nem uma história em quadrinhos, nem uma
poesia.
O texto não apresenta
“ingredientes e modo de fazer”, instruções para o funcionamento de um objeto,
ilustrações e balões em quadrinhos nem versos.
07 – Que tipo de texto é
este?
É um texto literário, narrado “em prosa”.
08 – Explique o que
significa:
·
Endomingada: roupas usadas aos domingos.
·
Passar
em branca nuvens: não acontecer nada
de importante.
·
Equimose
na alma: marca, ferida.
·
Enchiquetei: fiquei chique.
·
Coisas
de estrangeiros: costume de pessoas
que vieram de outros países.
·
Dou
parte de fraca: ficar triste, enfraquecer.
09 – Escreva uma frase ou um
parágrafo que resuma o assunto do texto.
É a história de uma menina que preparou
uma festa de aniversário à qual nenhum colega ou convidado compareceu.
10 – Compare a festa de
aniversário que as pessoas costumavam fazer em Riga e a festa de 12 anos da
personagem.
Em Riga os
aniversários eram comemorados com festas animadas, teatro, cantorias, enfeites,
presentes e, principalmente, muito carinho.
A festa de doze anos da personagem foi
preparada com cuidado e carinho (convites, doces e guloseimas, roupa, sapato),
mas, na verdade, não aconteceu. Foi muito triste.
11 – Encontre os
substantivos próprios presentes no texto. Que papel eles representam na
narrativa?
Os substantivos próprios são: Riga, Brasil,
Escola American, São Paulo, Rua Jaguaribe. São substantivos que representam
nomes de lugares, importantes para situar a narrativa da personagem.