Ziraldo entrevista Mauricio de Sousa
no ABZ do Ziraldo
Ziraldo: Vamos começar o programa
que hoje é um programa completamente diferente, completamente diferente, e
vocês vão entender por quê. Porque eu… eu… eu vou contar aqui, na companhia
dele, a biografia de um sujeito muito importante na minha vida, na vida do
Brasil inteiro. Realizou um milagre fantástico na história cultural do Brasil e
eu… eu acompanho a vida dele praticamente desde que ele começou. É uma das mais
antigas amizades da minha vida. Ele se chama Mauricio de Sousa. Pããããã!
Mauricio
de Sousa: (risos )
Z:
Mauricio de Sousa, que coisa fantástica, hein? Olha quanta coisa aconteceu
nesses 50 anos na sua vida! Aí está o Mauricio de Sousa, criador deste universo
que faz parte da história de… contemporânea do Brasil. Tem também as… as coisas
didáticas que o Mauricio faz que as pessoas encomendam, escola, institutos, é…
tudo. É muito… muita coisa didática, inclusive pro mundo inteiro! Esta aqui é
uma história, né?
MS: É…
essa é do…
Z:
Conta a história da… da… da descoberta da América ééé para uma revista do
Vietnã. É uma coisa impressionante. Mauricio, vamo começar a contar. Mauricio
de Sousa nasceu em…?
MS:
Santa Isabel, estado de São Paulo!
Z: O
que é isso?! Mogi das Cruzes, rapaz.
MS:
Não, não, nasci em Santa Isabel, uma cidade pequena, perto de Mogi das Cruzes…
Z:
Hã…
MS:
Minha família viajou para Santa Isabel, nasci lá…
Z:
Mas chegou a morar em Santa Isabel?
MS: Lá
ela ficou uns tempos lá, até eu ficar taludinho e poder mudar pra Mogi das
Cruzes, onde eu me criei.
Z:
Você já desenhava na infância e o tempo todo obsessivamente, naturalmente…?
MS: Eu
me lembro da infância desenhando, pintando, rabiscando. Papai era poeta, ele
tinha umas… livros, uns cadernos de poesia muito bonitos e eu adorava, quando
ele saía, pegar o caderno dele e ilustrar as poesias dele. Z: Ah…!
MS:
Ilustrar daquele jeito estragando o caderno dele, né? (risos)
Z:
(risos)
MS:
Daí o meu pai, muito sabido…
Z:
Deixou você, deixou…
MS:
Olhou… falou: “ah, você gosta disso?” Saiu, comprou um caderno igual o dele,
lápis, tudo mais e me deu falando: “esse aqui é seu, esse aqui é meu. Agora cê
usa o seu”.
Z:
(risos)
[…]
MS:
Quandooo eu tava pra fazer o Bidu, um colega meu, Lourenço Diaféria,
jornalista, tava fazendo uma revista e ele falou “Mauricio, eu tô precisando de
uma página com charges pra minha revista. Cê pode fazer uma pra mim?” Falei:
“eu posso fazer”. Fui pra casa e desenhei umas charges com um cachorrinho, que
era parecido com o Bidu, né?, daí ele falou “me traz amanhã tudo pronto”. No
dia seguinte, eu levei, peguei o material pra levar pra ele, pra vender, né, e
esqueci no táxi o desenho. Falei: “ih, Lourenço, esqueci no táxi! Mas me dá
mais 24 horas”. Fui pra casa, desenhei de novo as charges. No que você desenha
de novo, você sabe disso, você melhora, você já tá dominando mais…
Z:
Claro, claro…
MS: …
a técnica e o personagem e tudo mais.
Transcrição
de entrevista concedida por Mauricio de Sousa a Ziraldo. Disponível em: (parte
1) e (parte 2). Acesso em: 31 jul. 2018. (Fragmentos).
1. O que torna a entrevista feita por Ziraldo semelhante a uma biografia?
Assim como em uma biografia, as perguntas conduzem o entrevistado a
contar uma parte da história de sua vida.
2. O que as torna diferentes?
Na biografia, um produtor conta a história de vida de uma pessoa
pública ou, no caso da autobiografia, a figura pública conta sua própria
história de vida. Na entrevista, essa história chega ao leitor por meio de uma
interação (pergunta-resposta) entre o entrevistador e a pessoa pública.
3. Embora seja uma situação de comunicação formal, essa entrevista se assemelha a um bate-papo entre amigos. Explique por quê.
Porque o entrevistador, com frequência, interrompe o entrevistado
para completar ou reconduzir sua fala, e parece haver grande intimidade entre
eles.
4. Por ser uma transcrição, o texto mantém marcas que são típicas da fala. Cite duas delas.
Sugestão: Alongamento de vogais (“Quandooo eu tava pra fazer o Bidu
[…]”), marcadores conversacionais (“Esta aqui é uma história, né?”), repetições
(“Porque eu… eu… eu vou contar aqui […]”) e encurtamento de palavras (“Cê pode
fazer uma pra mim?”).
5. Observe o que aconteceu com os turnos de fala entre as linhas 14 e 18.
a) Que
elemento usado por Ziraldo, no primeiro trecho, levou Mauricio a entender que
deveria responder?
O marcador “né?”
b) Era
essa a expectativa do entrevistador? Justifique analisando sua reação.
Não, como mostra o fato de Ziraldo
rapidamente interromper.
c) Provavelmente
a reação de Ziraldo ocorreu porque ele tinha planejado um roteiro para a
conversa. Com o que ele queria começar?
Pela narrativa da infância do
entrevistado.
6. Releia, agora, as linhas 38 a 42. Ziraldo invade o turno conversacional de Mauricio. Qual é o objetivo dele ao fazer isso?
Participar da narrativa, ajudar a contar a história.
7. desafio de escrita .Como já dissemos no início deste capítulo, os boxes “De quem é o texto?” são brevíssimas biografias. Usando as informações da entrevista, redija um desses boxes para apresentar Mauricio de Sousa.
Sugestão de resposta: Mauricio de Sousa nasceu
em Santa Isabel, próximo a Mogi das Cruzes, onde morou durante a infância.
Começou a desenhar ilustrando poemas de seu pai, e hoje suas obras estão em
vários lugares do mundo. Seu primeiro personagem foi Bidu e, quanto mais ele o
desenha, mais aprimora seus traços.
Muito bom 👏
ResponderExcluirMas tem outro texto
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