ARTIGO: Pagando a dívida alheia
Lya Luft
Não deixem de fazer nada disso; as
elites brancas não querem que vocês tenham nada”.
E saíram os brasileiros confiantes e
crédulos a consumir – como se consumo, e não investimento de parte do governo,
fosse crescimento. Realmente tivemos por um breve período uma sensação nova de
confiança e bem-estar. Disseram (e acreditamos) que a miséria tinha sido
liquidada no país; e éramos todos da classe média: quem ganhava mais do que 350
reais era da classe média.
[...]
O Estado que ganhou mais do que podia
e devia, com gestão equivocada, gastos faraônicos em empreendimentos luxuosos
logo abandonados por falta de planejamento, agora nos convoca a pagar também
suas dívidas – que não são nossas.
Há poucos
dias fomos avisados: a caixa está vazia, o dinheiro do governos acabou, entrou
no ralo da imprudência.
Suspendem-se bolsas de estudo,
investimentos em saúde e infraestrutura, e abrese a dura realidade: projetos,
comissões, estudos, palavrórios, mas não sabem o que fazer com o Brasil.
Para consertar o que parece
inconsertável, corta-se na carne... sobretudo na nossa. Cortam-se benefícios
como tempo de trabalho para ter seguro-desemprego, dificultam-se condições para
obter aposentadoria, reduzem-se pensões, e aumenta a angústia do povo. Cresce a inflação, sobe o desemprego, combinação
fatal. Operários, funcionários, empregados domésticos, gerentes de lojas e de
empresas, de repente às voltas com falta de trabalho e excesso de dívidas.
[...]
A explicação fornecida para a crise é
de romance: a Europa e os Estados Unidos são os responsáveis, e São Pedro, que
faz chover demais numa região e pouco em outra. Se não formos um povo
escolarizado, um povo informado, que lê jornal, assiste a noticiosos, conversa
com família, amigos e colegas para saber o que se passa, é assim que seremos
tratados. Promessas retumbantes e discursos otimistas e confusos não deviam
mais nos enganar. A gente precisa da verdade. Precisa de respeito. Precisa das
oportunidades que nos foram tiradas quando nos colocaram entre os últimos do
mundo em educação, economia, confiabilidade e outros.
Mas
talvez se possa ajudar o Brasil usando as armas mais eficientes que temos, se
bem usadas: manifestações ordeiras, não acreditar em promessas vazias, nem dar
atenção a dança de políticos que trocam de partidos e convicções, na festa das
gavetas que reina no Congresso. E usar o “voto” – gesto mínimo e definitivo que
pode derrubar estruturas perversas e chamar de volta entre nós as duas irmãs
indispensáveis para uma nação soberana: esperança
e confiança.
Lya Luft.
Veja, ano 48, nº 23, 10 de junho de 2015, p.23.
01. A
partir do trecho “A explicação fornecida para a crise é de romance...”, pode-se
entender que
a) as
causas atribuídas à crise são fantasiosas, inverossímeis.
b) a
situação econômica do Brasil é grave, mas pode ter um final feliz.
c) a
crise econômica constitui-se numa sequência de fatos interligados.
d) os
vilões da crise econômica do Brasil são a Europa e os Estados Unidos.
e) a
crise é uma narrativa baseada em acontecimentos dramáticos e reais.
02. No
trecho “E usar o ‘voto’ – gesto mínimo e definitivo que pode derrubar
estruturas perversas [...]” (último parágrafo), o uso do travessão indica
a)
conclusão das ideias desenvolvidas no parágrafo.
b)
enunciação da mudança de interlocutor do texto.
c)
opinião contrária à afirmação apresentada no texto.
d)
ressalva que vem confirmar uma ideia apresentada.
e)
explicação para um termo apresentado anteriormente.
03. Pode-se
afirmar sobre a linguagem empregada no texto que
a) o uso
parcial da primeira pessoa indica que a autora deixa prevalecer a subjetividade
na defesa do seu ponto de vista.
b) o
uso predominante da primeira pessoa é um recurso argumentativo usado pela
autora para convencer o interlocutor.
c) o
uso predominante da terceira pessoa é um recurso argumentativo usado para
marcar a pessoalidade.
d) o
emprego parcial da terceira pessoa justifica-se pela necessidade de marcar a
subjetividade na apresentação dos fatos.
e) o
emprego parcial da terceira pessoa justifica-se por tratar-se de um gênero
discursivo pertencente à esfera acadêmica.
04. A
finalidade do texto consiste em
a)
refletir sobre a crise econômica que afeta toda a população brasileira.
b)
expor sobre as medidas de contenção de gastos realizadas pelo governo.
c)
apresentar sugestões de enfrentamento da crise econômica que assola o Brasil.
d) mostrar
que as pessoas são vulneráveis às situações de consumo impostas pelo estado.
e)
explicar por meio de fatos como se deu o endividamento dos brasileiros nos
últimos anos.
05. Em
“Suspendem-se bolsas de estudo, investimentos em saúde e infraestrutura, e
abre-se a dura realidade: projetos, comissões, estudos, palavrórios, mas não
sabem o que fazer com o Brasil.”, pode-se depreender do emprego do termo “se”
que
a) na
primeira ocorrência, o se indica indeterminação do sujeito e na segunda,
pronome apassivador.
b) na
primeira ocorrência, o se constitui um pronome apassivador e na segunda,
índice de indeterminação do sujeito.
c) na
primeira ocorrência, o se é índice de indeterminação do sujeito e na
segunda, é parte integrante do verbo.
d) na
primeira e na segunda ocorrência, o se indica indeterminação do sujeito;
e) na
primeira e na segunda ocorrência, o se constitui um pronome apassivador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário