sábado, 7 de novembro de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: PAGANDO A DÍVIDA ALHEIA - LYA LUFT - COM GABARITO

 ARTIGO: Pagando a dívida alheia

                     Lya Luft

 De repente estamos todos endividados e inadimplentes – ao menos a maioria de nós brasileiros comuns, sem mansões, nem iates, nem casas em Miami. Estamos assim porque fomos conclamados, tempos atrás, a consumir. Lembram? Eu não esqueci, e não consumi porque estava mais alerta e menos confiante: “Comprem seu carro! Troquem a geladeira! Comprem TV plana!

           Não deixem de fazer nada disso; as elites brancas não querem que vocês tenham nada”.

           E saíram os brasileiros confiantes e crédulos a consumir – como se consumo, e não investimento de parte do governo, fosse crescimento. Realmente tivemos por um breve período uma sensação nova de confiança e bem-estar. Disseram (e acreditamos) que a miséria tinha sido liquidada no país; e éramos todos da classe média: quem ganhava mais do que 350 reais era da classe média.

[...]

         O Estado que ganhou mais do que podia e devia, com gestão equivocada, gastos faraônicos em empreendimentos luxuosos logo abandonados por falta de planejamento, agora nos convoca a pagar também suas dívidas – que não são nossas.

Há poucos dias fomos avisados: a caixa está vazia, o dinheiro do governos acabou, entrou no ralo da imprudência.

          Suspendem-se bolsas de estudo, investimentos em saúde e infraestrutura, e abrese a dura realidade: projetos, comissões, estudos, palavrórios, mas não sabem o que fazer com o Brasil.

         Para consertar o que parece inconsertável, corta-se na carne... sobretudo na nossa. Cortam-se benefícios como tempo de trabalho para ter seguro-desemprego, dificultam-se condições para obter aposentadoria, reduzem-se pensões, e aumenta a angústia do povo.     Cresce a inflação, sobe o desemprego, combinação fatal. Operários, funcionários, empregados domésticos, gerentes de lojas e de empresas, de repente às voltas com falta de trabalho e excesso de dívidas.

[...]

         A explicação fornecida para a crise é de romance: a Europa e os Estados Unidos são os responsáveis, e São Pedro, que faz chover demais numa região e pouco em outra. Se não formos um povo escolarizado, um povo informado, que lê jornal, assiste a noticiosos, conversa com família, amigos e colegas para saber o que se passa, é assim que seremos tratados. Promessas retumbantes e discursos otimistas e confusos não deviam mais nos enganar. A gente precisa da verdade. Precisa de respeito. Precisa das oportunidades que nos foram tiradas quando nos colocaram entre os últimos do mundo em educação, economia, confiabilidade e outros.

Mas talvez se possa ajudar o Brasil usando as armas mais eficientes que temos, se bem usadas: manifestações ordeiras, não acreditar em promessas vazias, nem dar atenção a dança de políticos que trocam de partidos e convicções, na festa das gavetas que reina no Congresso. E usar o “voto” – gesto mínimo e definitivo que pode derrubar estruturas perversas e chamar de volta entre nós as duas irmãs indispensáveis para uma nação soberana: esperança e confiança.

Lya Luft. Veja, ano 48, nº 23, 10 de junho de 2015, p.23.

 

01. A partir do trecho “A explicação fornecida para a crise é de romance...”, pode-se entender que

a) as causas atribuídas à crise são fantasiosas, inverossímeis.

b) a situação econômica do Brasil é grave, mas pode ter um final feliz.

c) a crise econômica constitui-se numa sequência de fatos interligados.

d) os vilões da crise econômica do Brasil são a Europa e os Estados Unidos.

e) a crise é uma narrativa baseada em acontecimentos dramáticos e reais.

 

02. No trecho “E usar o ‘voto’ – gesto mínimo e definitivo que pode derrubar estruturas perversas [...]” (último parágrafo), o uso do travessão indica

a) conclusão das ideias desenvolvidas no parágrafo.

b) enunciação da mudança de interlocutor do texto.

c) opinião contrária à afirmação apresentada no texto.

d) ressalva que vem confirmar uma ideia apresentada.

e) explicação para um termo apresentado anteriormente.

 

03. Pode-se afirmar sobre a linguagem empregada no texto que

a) o uso parcial da primeira pessoa indica que a autora deixa prevalecer a subjetividade na defesa do seu ponto de vista.

b) o uso predominante da primeira pessoa é um recurso argumentativo usado pela autora para convencer o interlocutor.

c) o uso predominante da terceira pessoa é um recurso argumentativo usado para marcar a pessoalidade.

d) o emprego parcial da terceira pessoa justifica-se pela necessidade de marcar a subjetividade na apresentação dos fatos.

e) o emprego parcial da terceira pessoa justifica-se por tratar-se de um gênero discursivo pertencente à esfera acadêmica.

 

04. A finalidade do texto consiste em

a) refletir sobre a crise econômica que afeta toda a população brasileira.

b) expor sobre as medidas de contenção de gastos realizadas pelo governo.

c) apresentar sugestões de enfrentamento da crise econômica que assola o Brasil.

d) mostrar que as pessoas são vulneráveis às situações de consumo impostas pelo estado.

e) explicar por meio de fatos como se deu o endividamento dos brasileiros nos últimos anos.

 

05. Em “Suspendem-se bolsas de estudo, investimentos em saúde e infraestrutura, e abre-se a dura realidade: projetos, comissões, estudos, palavrórios, mas não sabem o que fazer com o Brasil.”, pode-se depreender do emprego do termo “se” que

a) na primeira ocorrência, o se indica indeterminação do sujeito e na segunda, pronome apassivador.

b) na primeira ocorrência, o se constitui um pronome apassivador e na segunda, índice de indeterminação do sujeito.

c) na primeira ocorrência, o se é índice de indeterminação do sujeito e na segunda, é parte integrante do verbo.

d) na primeira e na segunda ocorrência, o se indica indeterminação do sujeito;

e) na primeira e na segunda ocorrência, o se constitui um pronome apassivador.

 

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