sábado, 14 de novembro de 2020

CONTO: BRUXAS NÃO EXISTEM - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

 CONTO: BRUXAS NÃO EXISTEM


Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de "bruxa".

Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.

Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando "bruxa, bruxa!".

Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O que seria fácil. Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimento, ela deixara aberta a janela da frente. Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.

– Vamos logo – gritava o João Pedro –, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.

E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.

Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente.

– Está quebrada – disse por fim. – Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.

Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. "Chame uma ambulância", disse a mulher à minha mãe. Sorriu.

Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em poucas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana Custódio.

(SCLIAR, Moacyr. Revista Nova Escola – especial Era uma vez... contos. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/bruxas-nao-existem-689866.shtml. Acesso em: 31/08/2013.)


Após ler o conto com atenção, responda às questões a seguir:

1) O narrador conta que, quando era garoto, acreditava em bruxas. Para ele, o que era uma bruxa?

     Para o narrador, bruxas eram “mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas”.

2) Qual era a prova concreta, para o narrador e seus amigos, de que as bruxas existiam?

     A prova para eles era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim da rua.

3) Como ele descreve sua vizinha, Ana Custódio?

     Segundo ele, ela era muito feia, gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, tinha uma enorme verruga no queixo e estava sempre falando sozinha.

 4) Qual era a diversão predileta dos meninos?

    ( X ) Incomodar a senhora, fazendo travessuras.

    (     ) Ajudar a velha a fazer compras no pequeno armazém.

   (      ) Entrar na casa da “bruxa” e vê-la preparando venenos no caldeirão.

  5) Um dia, ao tentar jogar um bode morto na casa da senhora pela janela da frente, a velha apareceu empunhando um cabo de vassoura. Os meninos saíram correndo, e o narrador enfiou o pé num buraco, caiu e quebrou a perna. O que aconteceu após isso?

    (   ) Os colegas voltaram para ajudá-lo.

   (    ) A mulher o alcançou e descarregou nele sua raiva.

   ( X ) A mulher, que já foi enfermeira, ajudou-o, cuidando de sua perna.

  6)  Por que o título do conto é “Bruxas não existem”? Relacione o título ao final da história.

      Porque o narrador deixou de acreditar em bruxas desde que a senhora o ajudou quando ele quebrou a perna; a partir dessa ocasião, ele tornou-se grande amigo dela.

 Observe as palavras empregadas no conto e marque a opção correta.

  7) Releia o trecho:

Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo.

As palavras em destaque apresentam características, modificando outras palavras. Tais palavras ajudam a criar cenários, paisagens e são muito importantes nos textos descritivos. Por isso, com relação à classe gramatical, podemos dizer que são exemplos de:

( X ) adjetivos.

( ) advérbios.

( ) pronomes.

( ) substantivos.

  8) No mesmo fragmento, encontramos a palavra “ela”, utilizada para se referir à mulher: “Era muito feia, ela; [...] ela tinha uma enorme verruga no queixo”. Essa palavra pode ser classificada como um:

     (   ) adjetivo.

     (   ) advérbio.

    ( X ) pronome.

    (   ) substantivo.

9)  No trecho:

De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui.

Essas palavras indicam os acontecimentos, as sequências de ações, a passagem de tempo e dão movimento ao texto. Não há como contar uma história ou narrar um fato sem elas. Essas palavras são:

       ( X ) verbos.

       (   ) artigos.

       (   ) adjetivos.

      (    ) pronomes.

10) Observe os substantivos destacados e numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª:

     ( 1 ) “Quando eu era garoto, acreditava em bruxas”.

     ( 2 ) “Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital”.

     ( 3 ) “Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho”.

     ( 4 ) “De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada”.

        ( 4 ) Substantivos abstratos.

        ( 3 ) Substantivo próprio e substantivo comum.

        ( 2 ) Substantivo derivado e substantivo primitivo.

       ( 1 ) Substantivos concretos (ser real / ser imaginário).

11)  Releia e observe as palavras destacadas:

A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua.

Nesse trecho, o narrador apresenta a mulher, que ele achava que era uma bruxa, ao leitor. Os termos destacados são:

     ( ) pronomes demonstrativos, pois indicam a posição de um ser ou objeto.

     ( ) artigos definidos, pois designam um ser já conhecido do leitor ou ouvinte.

    ( X ) artigos indefinidos, pois designam um ser ao qual não se fez menção anterior.

 12) Analise o fragmento:

[...] a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto.

Os termos em destaque designam uma circunstância de lugar; fazem referência a onde era o armazém. Por isso, esses termos podem ser considerados:

      (   ) verbos.

     (    ) artigos.

    ( X ) advérbios.

    (    ) substantivos.

    13)  As palavras que acompanham o substantivo normalmente concordam com ele em gênero (masculino/ feminino) e número (singular/plural). Veja:

A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua.

Reescreva o trecho acima, trocando a palavra mulher pela palavra homem e fazendo as alterações necessárias.

A prova para nós era um homem muito velho, um solteirão que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua.

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