POEMA: OLHO AS MINHAS MÃOS
Mário QuintanaPorque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar…
Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras !
Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
Pertenço?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: “existo”.
Porque apenas existem…
Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
Palavras mágicas,
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar…
Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
Foi este o fim da Criação!
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?
Quem faz – em mim – esta interrogação?
Entendendo o poema
1) Além de funcionar como elemento de ligação entre termos de mesmo valor, o conectivo foi utilizado no texto, algumas vezes, para exprimir o efeito de aceleração contínua. Esse conectivo foi empregado para produzir tal efeito em:
a) “Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento”.
b) “E
no alto as nuvens improvisando sem cessar.”
c) “E,
cheios de esperança e medo.”
d) “Mistura, confunde e dispersa no ar...”.
2) Que figuras de linguagem podemos encontrar nos seguintes versos:
a) “Os
dedos como pétalas carnívoras”.
Símile ou comparação.
b) “Que
me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento.”
Anáfora.
c) “O
tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses.
Aliteração.
d) “Nem
na estrela do céu nem na estrela do mar.”
Polissíndeto.
3) Por que o eu lírico diz que suas mãos não são estranhas?
Porque elas são dele.
Está escrito na 1ª pessoa do singular.
“Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas.”
Questiona sua existência.
“A que mundo
Pertenço?”
“Mas nada, disso tudo, diz “existo”.
Sim, pois nos leva a uma reflexão.
Através do olhar em suas mãos questiona sua existência fazendo
algumas comparações.
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