segunda-feira, 9 de novembro de 2020

REPORTAGEM: CORO QUE NÃO SE DEVE OUVIR - PAULO CÉSAR VASCONCELLOS - COM GABARITO

 Reportagem artigo: Coro que não se deve ouvir

                    Paulo César Vasconcellos

        Ainda bem que alguns torcedores europeus levam ao estádios o racismo que os alimenta nas refeições, nas orações feitas todas as noites antes de dormir e na literatura consumida nos porões que frequentam, disfarçados de domicílios, para reuniões de explícita intolerância. Melhor que seja assim. Detesto comportamentos ocultos, dissimulados e hipócritas.

        Quando Roberto Carlos, melhor lateral esquerdo do mundo e titular absoluto do time do Real Madri, é chamado de “macaco” pelo coral de beócios das arquibancadas, o mundo se defronta com um olhar tão míope quanto antigo e inaceitável: o preconceito de raça. A ofensa e a humilhação a Roberto Carlos – tal e qual acontecera antes com Juan e Roque Júnior, jogadores do Bayer Leverkusen, da Alemanha – mostram que o lado humanista do homem anda para trás na mesma velocidade em que a tecnologia avança. A agressão ao lateral atinge a todos os brasileiros. Cutuca o tumor maligno de uma doença antiga e necessitada de tratamento diário: a intolerância desses jovens aprisionados por ideias ridículas e alimentados pela pobreza intelectual.

        A agressão aos nossos jogadores, que são chamados de macaco por torcedores nos estádios da Espanha, atinge a todos os brasileiros.

        Cenas explícitas de racismo

        O sujeito careca, baixinho, negro e habituado a vestir a camisa da Seleção Brasileira há tempos é um verde e amarelo em estado puro. Basta consultar a biografia dele. Faz parte daquela camada da população   acostumada a ouvir não para a saúde, a educação e a comida desde os tempos da tataravó. Ofendê-lo é um desrespeito à história construída por Roberto Carlos dentro do esporte. Trata-se de um ídolo. Capaz de levar multidões ao estádio, inclusive o bando de idiotas que saiu do campo rouco de tanto ofendê-lo.

        É bom deixar claro que as cenas explícitas de racismo – há as implícitas e estas são as piores – não se concentram nos brasileiros. Esta onda de ofensas aos jogadores negros avança com a mesma velocidade com que desaparecem os neurônios desse pessoal. E não se limitam à Espanha. Varrem a Europa, sob o olhar complacente da cartolagem, o que aumenta a dose de inquietação.

        É preciso punição exemplar

        Não dá mais para ninguém ficar calado. O silêncio tem ajudado a encorpar a visão equivocada dessa tribo agressiva e viúva de uma época dominada pela intolerância. Aumenta, em progressão geométrica, o número de toscos defensores do segregacionismo. Mesmo assim ainda é uma minoria e, portanto, o momento da reação faz-se mais do que necessário. Há séculos, o negro não vai para o tronco, não viaja nos porões do navio e tampouco é comercializado nas ruas. Há séculos, o negro anda de cabeça erguida, levanta troféus, ganha chuteiras de ouro e faz História. Quem ainda não percebeu a mudança no planeta – por não aceitar ou por falta de inteligência – está condenado ao degredo. Merece ser preso e punido com rigor exemplar.

        A diferença de pontos de vista passa pela aceitação de todas as ideias. Mas o ódio é coisa de quem não sabe dialogar e pensar. Todos devem gritar.

Revista Raça Brasil, mar. 2005.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 233-35.

Entendendo a reportagem:

01 – No artigo, fica clara a crítica dirigida ao grupo de torcedores europeus. No caderno, identifique a atitude que provocou a crítica.

      Certos torcedores, numa atitude racista e intolerante, chamaram em coro, num estádio da Espanha, o jogador Roberto Carlos de macaco.

02 – Releia o início do artigo e responda: Por que o articulista acha bom que os europeus levem o racismo aos estádios?

      O texto sugere que apenas com uma atitude explícita de racismo torna-se possível a discussão clara do tema e que isso é muito melhor do que o racismo oculto, dissimulado, com cara de que não existe.

03 – Como forma de mostrar sua indignação, Paulo César Vasconcellos emprega diversas expressões para qualificar a atitude dos torcedores, o preconceito e a humanidade em geral. No caderno, faça um levantamento de todas essas expressões, distribuindo-as num quadro como este:

a)   Expressões usadas para qualificar os torcedores e sua atitude racista.

Beócios; olhar míope, antigo, inaceitável; jovens aprisionados por ideias ridículas e alimentados pela pobreza intelectual; bando de idiotas; tribo agressiva e viúva de uma época dominada pela intolerância; toscos defensores do segregacionismo; desaparecem os neurônios desse pessoal.

b)   Expressões usadas para qualificar o preconceito.

Tumor maligno; doença antiga e necessitada de tratamento diário; esta onda de ofensas aos jogadores negros avança com a mesma velocidade com que desaparecem os neurônios desse pessoal.

c)   Expressões usadas para qualificar o comportamento humano.

O lado humanista do homem anda para trás na mesma velocidade em que a tecnologia avança.

04 – Agora, faça um levantamento das referências usadas para qualificar o jogador Roberto Carlos.

      Melhor lateral esquerdo do mundo; Titular absoluto do time do Real Madrid; Careca, baixinho, negro, um verde e amarelo em estado puro; é da camada da população que não teve direito a nada; trata-se de um ídolo, capaz de levar multidões ao estádio.

05 – No caderno, destaque o trecho em que o articulista faz referência aos negros.

      “Há séculos, o negro não vai para o tronco, não viaja nos porões do navio e tampouco é comercializado nas ruas. Há séculos, o negro anda de cabeça erguida, levanta troféus, ganha chuteiras de ouro e faz História.”.

06 – Reveja o conjunto de características atribuídas aos torcedores europeus, a Roberto Carlos e aos negros.

a)   Que características as palavras atribuídas aos torcedores europeus destacam?

A burrice, a pobreza intelectual.

b)   Que característica as palavras atribuídas a Roberto Carlos destacam?

Destacam o lugar de ídolo que ele ocupa no esporte.

c)   Que característica as palavras atribuídas ao negro destacam?

Destacam a atual dignidade do negro.

07 – O articulista não usa argumentos de autoridade (depoimentos de especialistas, resultados de pesquisas, etc.), mas envolve o leitor adotando os recursos usados pelos próprios torcedores europeus. Com base nas respostas anteriores, responda no caderno:

a)   O título do texto é “Coro que não se deve ouvir”. Que coro não deve ser ouvido?

O coro de torcedores que ofendem jogadores negros com termos racistas e preconceituosos.

b)   O texto termina com a frase “Todos devem gritar”. O que todos devem gritas? Comprove sua resposta com uma frase do texto.

Todos devem gritar contra a intolerância e o comportamento racista. Todos devem se indignar e denunciar o preconceito. “Não dá mais para ninguém ficar calado. O silêncio tem ajudado a encorpar a visão equivocada dessa tribo agressiva e viúva de uma época dominada pela intolerância”.

c)   Explique em que medida a frase: “Todos devem gritar” adota o mesmo recurso usado pelos torcedores europeus para ofender os jogadores negros.

Paulo César Vasconcellos pede um coro contra o racismo e a intolerância, assim como foi usado um coro para ofender Roberto Carlos e outros jogadores negros.

d)   Para tornar clara sua indignação, o autor emprega expressões que relacionam as atitudes preconceituosas à burrice, à idiotice, à pobreza intelectual, enfim, à falta de inteligência. Em que medida esse recurso se assemelha àqueles usados pelos torcedores?

Assim como os torcedores ofenderam os jogadores chamando-os de “macacos”, Paulo César Vasconcellos opta por ofendê-los chamando-os de atrasados, burros, donos de ideias ridículas, etc.

e)   Responder a uma ofensa com outra ofensa normalmente só serve para alimentar os ódios. Na sua opinião, o que diferenciaria as ofensas feitas pelos torcedores das ofensas de Paulo César?

Resposta pessoal do aluno.

f)    Ao chamar os jogadores negros de “macacos”, os torcedores europeus sugerem que são uma raça superior. De que modo Paulo César, em seu texto, responde a essa ofensa?

Paulo César opõe a biografia de Roberto Carlos e a dignidade dos negros, sua história de conquistas e vitórias à falta de inteligência das pessoas que ainda não perceberam ou não aceitaram essa realidade.

 

 

     

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