Conto: O DOUTOR SARACURA
Anda que anda, Pedro Malasarte chegou a
uma cidade onde o maior edifício era o hospital. Havia para mais de trezentos
enfermos ali internados, cada um deles padecendo dos mais variados males.
Pedro Malasarte matutou um pouco e foi
procurar o diretor do hospital.
— Não há mais lugar – foi lhe dizendo
este ao vê-lo entrar, com medo que fosse mais um doente.
Realmente, velho e cansado, o doutor
Pulsação já não conseguia dar contar de tantos enfermos. E estava ficando
difícil arranjar comida e roupa lavada para toda aquela gente. É que mais da
metade era de espertalhões que se fingiam de doentes para comer e beber de
graça.
— Meu bom colega – disse Pedro
Malasarte. – Imagine que soube das suas dificuldades e viajei de muito longe
para ajudá-lo. Meu nome é doutor Saracura e já acabei com muitas epidemias.
Pela módica importância de duzentas moedas prometo esvaziar seu hospital amanhã
ao meio-dia.
O velho diretor ficou exultante. Estava
mais do que barato. O grande médico estrangeiro ia pôr toda aquela gente na
rua, curada!
Havia muitos doentes de verdade,
aleijados, paralíticos, loucos... Mas Pedro Malasarte deu um jeito de se
aproximar de um por um, sempre com a pose de um grande doutor, e, fingindo
examiná-los dizia-lhes no ouvido:
— Homem, quem não estiver em condições
de sair correndo pela porta da rua amanhã ao meio-dia, será torrado para se
preparar um xarope para os outros.
Mesmo os que estavam em pior estado – e
até os loucos – compreenderam muito bem suas palavras e arregalaram os olhos. E
todos trataram de preparar suas trouxas para escapulir dali logo que pudessem.
No dia seguinte, Pedro Malasarte mandou
abrir de par em par os portões do hospital.
Então subiu até a enfermaria, junto com
o doutor Pulsação, e bradou:
— Quem se sentir curado pode sair
correndo pelo portão!
Não ficou um só doente na cama. Todos,
sem exceção, dos que tinham bronquite a dor de cabeça, pularam do leito e, com
a trouxa nas costas, trataram de dar o fora com quantas pernas tinham. E os que
não tinham pernas ou eram paralíticos arranjaram quem os carregasse.
O doutor Pulsação ficou boquiaberto com
aquele milagre. Em poucos minutos o hospital ficou deserto. O único paciente
que permaneceu deitado foi o que morrera de noite e por isso mesmo não podia se
levantar.
Pagou ao extraordinário médico
estrangeiro as duzentas moedas pedidas, ao que este se despediu:
— Tenho muito que fazer em outras
terras.
Passou-se uma semana na mais perfeita
paz. O doutor Pulsação nunca tivera tanto sossego. Então, meio ressabiados,
começaram a voltar os doentes. Mas só os doentes de verdade, que não se
aguentavam em pé. Os outros, os aproveitadores, resolveram ficar longe do
hospital onde se torrava gente para fazer remédio...
TEIXEIRA. Sérgio
Augusti. As aventuras de Pedro Malasarte.
Rio de Janeiro,
Ediouro.
Entendendo o conto:
01 – Substitua as palavras
destacadas nas orações por outras de mesmo sentido.
a)
“... cada um deles padecendo dos mais variados males.”
“... cada um deles sofrendo dos mais variados males.”
b)
“O velho diretor ficou exultante.”
“O velho diretor ficou alegre,
jubiloso.”
c)
“Pela módica
importância de duzentas moedas prometo esvaziar seu hospital.”
“Pela insignificante importância de
duzentas moedas prometo esvaziar seu hospital.”
d)
“Então subiu até a enfermaria junto com o
doutor Pulsação, e bradou:”
“Então subiu até a enfermaria junto
com o doutor Pulsação, e falou.”
e)
“Então, meio ressabiados, começaram a voltar os doentes.”
“Então, meio cismados, começaram a voltar os doentes.”
02 – O que mais chamou a
atenção de Pedro Malasarte ao chegar à cidade?
A quantidade de
pessoas enfermas internadas no hospital.
03 – É possível identificar
o tamanho da cidade? Justifique sua resposta com elementos do texto.
Sim. “Chegou a
uma cidade onde o maior edifício era o hospital.”
04 – Por que algumas pessoas
fingiam que estavam doentes?
Porque podiam comer e beber de graça.
05 – Qual o sentido da
expressão “... trataram de dar o fora com quantas pernas tinham”?
Que saíram o mais
rápido possível de dentro do hospital.
06 – Assinale a alternativa
que melhor caracteriza a personalidade de Pedro Malasarte e, em seguida,
justifique sua resposta.
(A) Caridoso por ajudar o
diretor do hospital.
(B) Aproveitador
por se aproveitar de uma situação para levar vantagem.
(C) Generoso por prestar
serviços comunitários na cidade.
(D) Afetuoso por ajudar a
cuidar de doentes em um hospital.
07 – Depois de executado o
plano de Pedro Malasarte, o hospital permaneceu vazio por muito tempo?
Justifique sua resposta com elementos do texto.
“Passou-se uma semana na mais perfeita
paz.”
08 – Qual é o nome que Pedro
Malasarte usou para se apresentar ao diretor do hospital?
Ele se apresentou
como sendo o Doutor Saracura.
09 – Por que os pacientes
deixaram o hospital correndo?
Porque o doutor Saracura, disse aos
pacientes que, quem não estiver em condições de sair correndo pela porta, seria
torrado para servir de remédio para os outros.
10 – Quando o Pedro
Malasarte, subiu junto com o Doutor Pulsação até a enfermaria. O que ele disse
aos pacientes?
“Quem se sentir
curado pode sair correndo pelo portão.”
11 – Após o milagre, quem
voltou ao hospital?
Só os doentes de
verdade, é que começaram a voltar ao hospital.
12 – A personagem principal
Pedro Malasarte representa no texto:
(A) as pessoas que são
ludibriadas por outras.
(B) as pessoas que
só querem levar vantagens sobre as outras pessoas.
(C) a classe dos médicos que
curam doentes.
(D) a classe dos doentes que
precisam de atendimentos médicos.
13 – Sobre o espaço da
narrativa, é correto afirmar que:
(A) é centralizado em
ambientes diretamente ligados a doentes: hospital, farmácia, posto de saúde.
(B) a maior parte
do desenvolvimento da narrativa acontece em um hospital de uma cidade pequena.
(C) os lugares por onde
“anda que anda” Pedro Malasarte.
(D) não é descrito no conto
apresentado.
14 – O conto popular de
Pedro Malasarte tem como objetivo:
(A) proporcionar
momentos de lazer e diversão na leitura.
(B) apresentar modelos de
comportamento.
(C) transmitir valores e
concepções próprios da sociedade.
(D) nenhuma das alternativas
anteriores.
15 – De acordo com as
sequências de ações ou frases descritas, identifique na estrutura do conto a
situação inicial, o desenvolvimento, o conflito, a frase indicadora do clímax e
o desfecho.
a) “— Quem se sentir curado
pode sair correndo pelo portão!”
Indicadora do
clímax.
b) O Hospital estava cheio
de espertalhões que se fingiam de doentes para comer e beber de graça.
O conflito.
c) Pedro Malasarte chega à
cidade e observa o hospital.
Situação inicial.
d) Pedro Malasarte, o Dr.
Saracura, faz uma proposta ao diretor do hospital.
O
desenvolvimento.
e) Não ficou um só doente na
cama. O Dr. Saracura espantou os espertalhões e apenas os doentes de verdade
voltaram ao hospital uma semana depois para serem tratados.
O desfecho.
16 – Você acredita que
existem pessoas como Pedro Malasarte que se aproveitam das situações para levar
vantagens sobre as outras pessoas? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal
do aluno.
17 – Você já deve ter ouvido
vários contos nessa sua “vida escolar”. De qual você mais gostou? Quem lhe
contou? Faça um breve comentário sobre a história.
Resposta pessoal
do aluno.
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