domingo, 3 de agosto de 2025

CORDEL: HISTÓRIA DO BOI LEITÃO OU O VAQUEIRO QUE NÃO MENTIA - FRAGMENTO - FRANCISCO FIRMINO DE PAULA - COM GABARITO

 Cordel: História do Boi Leitão ou o Vaqueiro que não mentia – Fragmento

           Francisco Firmino de Paula

Numa cidade distante

há muito tempo existiu

um distinto fazendeiro

o mais rico que se viu

e tinha um jovem vaqueiro

homem que nunca mentiu.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXJS12rrbb7mfDiSmKHaVX6lDJ3HvGtcfhro_UOIgDzRL-mTVbrk7wyFksWxLHJgIf7xb2CUPyXVHqJv4EcqWRvBnvwv_oEDkMZEVmJ97JZsB2eHvvgoMOSaaPlS9QJ3SerS7fAcZAnsMt8GcSkoJxmbbwxVYDd3v1q1sDfJyOlhFDcW1sYoOz-IxKuG4/s1600/images.jpg

Também esse fazendeiro

muitas lojas possuía

tinha muitos empregados

porém ele garantia

que só aquele vaqueiro

era sério e não mentia.

 

Seus amigos em palestras

exclamavam admirados

porque é que entre tantos

homens nobres empregados

somente um rude vaqueiro

é quem não causa cuidado?

 

Respondia o fazendeiro:

-- Tudo é nobre e decente,

Porém, capaz de mentir,

digo conscientemente,

mas Dorgival meu vaqueiro

por forma nenhuma mente.

 

O conheço há muitos anos

e nunca ouvi ele mentir,

é rude por ser vaqueiro

mas sabe entrar e sair

se faz uma coisa errada

nunca procura fingir.

[...]

Juntaram-se 10 amigos

e mandaram o fazendeiro

inventar uma cilada

pra Dorgival o vaqueiro

cair na falta, por verem

se ele era verdadeiro.

 

Disse o doutor aos amigos:

nós temos que apostar

dará vinte contos cada

se o que digo aprovar

perderei duzentos contos

se o meu vaqueiro falhar.

 

Eu mandarei minha filha

a Dorgival seduzir

e fazer todo possível

dele no laço cair,

e depois veremos ele

falar verdade ou mentir.

 

Concordaram e a aposta

fecharam rapidamente

dizendo: esperaremos

o dia conveniente

e provaremos doutor

que o seu vaqueiro mente.

 

O vaqueiro Dorgival

morava um pouco afastado

em uma grande fazenda

aonde era empregado

ali existia um boi

do patrão muito estimado.

 

O vaqueiro também tinha

ao boi estimação

pois era um touro bonito

o orgulho do patrão

era de raça gigante

lhe chamavam o «Boi Leitão».

[...]

 

Toda vez que o vaqueiro

a seu patrão visitava

logo depois de saudá-lo

o doutor lhe perguntava

pelo gado e, em seguida

o Boi Leitão como estava?

 

O vaqueiro respondia

nosso gado vai feliz

e o nosso Boi Leitão?

-- é gordo e bom de raiz

dizia o patrão, você

somente a verdade diz.

 

De formas que o patrão tinha

muita confiança nele

o moço lá na fazenda

cumprindo os deveres dele

não sabia que os ricos

estavam mexendo com ele.

 

Na referida fazenda

quem quisesse ali chegar

vindo da cidade, havia

de um rio atravessar

tinha ali uma jangada

pra quem quisesse passar.

 

O doutor chamou a filha

disse: vá com a criada

amanhã logo cedinho

na fazenda da jangada

do vaqueiro Dorgival

se faça de namorada.

 

Vá lindamente vestida

com lindos trajes vermelhos

no rio próximo rio à fazenda

preste atenção a meus conselhos

vá passear e levante

a roupa até aos joelhos.

 

Se o vaqueiro lhe chamar

Diga: mate o Boi Leitão

e tire ligeiramente

o fígado e o coração

mande fazer um cozido

pra comermos um pirão.

 

A moça chegou no rio

pôs-se ali a passear

com as vestes aos joelhos

alegremente a cantar

o vaqueiro ouvindo a voz

veio fora observar.

 

Dorgival vendo a donzela

disse rindo: oh! minha santa

me alegro em ver e ouvir

quem assim tão linda canta

venha pro lado de cá

longe assim não adianta!

 

Respondeu ela: eu irei

se matar o Boi Leitão

e tirar ligeiramente

o fígado e o coração

mandar fazer um cozido

pra comermos um pirão.

 

O vaqueiro francamente

deu a resposta imediata

donzela, você merece

por ser gentil e exata

mas lhe digo: o Boi Leitão

do meu senhor não se mata.

 

Disse a moça: tem razão

e saiu no mesmo instante

o rapaz ficou olhando

aquele porte elegante

pensando naquelas pernas

de beleza fascinante.

 

O vaqueiro não sabia

que aquela moça bela

era filha de seu amo

pois não conhecia ela

quase não dormia a noite

com o pensamento nela.

 

Deolinda ao chegar

em casa contou ao pai

a resposta do vaqueiro

disse o doutor: você vai

amanhã e o seduza

pra ver se ele cai!

 

Amanhã você levante

até as coxas o vestido

se ele chamar, você diga

vou se fizer meu pedido

de matar o Boi Leitão

pra comermos um cozido.

 

A moça no próximo dia

lá na fazenda chegou

na beira do rio, a roupa

até as coxas levantou

e se pôs a passear

Dorgival vendo-a chamou.

 

Meu anjo venha pra cá

-- só vou se matar o Boi

-- não, assim é impossível

minha santa me perdoe

-- tem razão respondeu ela

rapidamente se foi.

 

O pai lhe disse: amanhã

termine a sua aventura

vá passear e levante

a roupa até na cintura

e mande-o matar o Boi

que ele não se segura.

[...]

Ela foi no outro dia

e ficou lá passeando,

com a roupa até na cinta

Dorgival foi lhe avistando

gritou: moça venha cá

você está me aperriando.

 

Deolinda disse: eu vou

se matar o Boi Leitão

do coração e o fígado

fazer para nós um pirão

o vaqueiro disse: venha

hoje eu mato até o "cão".

 

Dorgival rapidamente

botou no rio a jangada

chegando do outro lado

trouxe a moça e criada

matou logo o Boi Leitão

para fazer a mesada.

 

Fez a carne toda em mata

pegou o couro espichou,

o coração e o fígado

a criada preparou

fez o pirão e depois

com prazer tudo almoçou.

[...]

Deolinda com o vaqueiro

ali o dia passou

palestrando e a tardinha

ele a donzela abraçou

e ela com a criada

pra cidade regressou.

 

Chegando informou ao pai

tudo que tinha se dado

contou que pelo vaqueiro

havia se apaixonado

disse o pai: ele é solteiro

vamos ver o resultado.

 

No outro dia o vaqueiro

amanheceu pensativo

e disse: meu amo pensa

que o Boi Leitão está vivo

mas vou lhe dizer que não,

gosto de ser positivo.

 

Ali botou o chapéu

na cabeça do mourão

se afastando montou-se

em um cavalo cardão

pôs-se a dirigir ao pau

como se fosse ao patrão.

[...]

Francisco Firmino de Paula. Disponível em: http://www.ablc.com.br/cordeis.html. Acesso em: mar. 2013.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 343-344.

Entendendo o cordel:

01 – Qual a principal característica que o fazendeiro atribuía ao seu vaqueiro, Dorgival?

A – Ele nunca mentia.

B – Ele era o mais rude entre os vaqueiros.

C – Ele era o mais rico da região.

D – Ele era o empregado mais antigo da fazenda.

02 – Qual era o objetivo da aposta proposta pelos amigos do fazendeiro?

A – Provar que o fazendeiro era o mais rico.

B – Verificar se Dorgival falava a verdade ou mentia sob pressão.

C – Conhecer a filha do fazendeiro.

D – Aumentar a confiança do fazendeiro em Dorgival.

03 – Qual era o nome do boi muito estimado pelo patrão e pelo vaqueiro?

A – Boi Gigante

B – Boi Leitão

C – Boi Forte

D – Boi Dourado

04 – Qual foi a condição inicial que Deolinda impôs a Dorgival para atravessar o rio e ir para perto dele?

A – Que ele lhe desse flores do campo.

B – Que ele matasse o Boi Leitão e preparasse um cozido com seu fígado e coração.

C – Que ele construísse uma ponte sobre o rio.

D – Que ele a pedisse em casamento.

05 – Por que Dorgival inicialmente se recusou a atender ao pedido de Deolinda?

A – Porque ele não tinha os utensílios necessários para matar o boi.

B – Porque ele desconfiava das intenções de Deolinda.

C – Porque ele não sabia cozinhar.

D – Porque o Boi Leitão era muito estimado pelo seu patrão e por ele mesmo.

06 – O que fez Dorgival mudar de ideia e finalmente matar o Boi Leitão?

A – Ele descobriu que o Boi Leitão estava doente e precisava ser abatido.

B – Deolinda insistiu e levantou a roupa cada vez mais, seduzindo-o a ponto de ele ceder.

C – O patrão deu permissão para que o boi fosse sacrificado.

D – Deolinda ameaçou contar ao pai que ele não era fiel.

07 – Qual foi a reação de Dorgival na manhã seguinte após matar o Boi Leitão e passar o dia com Deolinda?

A – Ele planejou esconder a verdade do patrão, fingindo que o boi ainda estava vivo.

B – Ele decidiu fugir da fazenda para não enfrentar o patrão.

C – Ele se arrependeu de ter cedido à sedução de Deolinda.

D – Ele estava pensativo e decidiu que diria a verdade ao patrão sobre o Boi Leitão.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): GELÉIA GERAL - GILBERTO GIL - COM GABARITO

 Música (Atividades): Geleia Geral

             Gilberto Gil

Um poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_FO9h_G09wjcLDkm8hyphenhyphenMclmkkWjxY9fDMopeGiCAt0OkhRmn7RQgr6xdsnp2eMLu8QhdqlUgb_OBwB0fFqhRI9pZLH_m0fbPqI-xTeKEzQyZL8JhhPzJuJThUNZsrUpogkm4Twg0IMhKMYSadeWXRaQymqjp99-bSefOdDXA8HhP8kIJJWMHVMDujbPc/s320/unnamed.png


A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o Sol é mais limpo
E Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala
No Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Superpoder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne-seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade jardim

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira
Miss linda Brasil diz: Bom dia
E outra moça também Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bananas ao vento

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi.

Composição: Gilberto Gil / Torquato Neto. Tropicália ou panis et circencis. Philips, 1968.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 314-315.

Entendendo a música:

01 – Qual é o significado da expressão "Geleia Geral Brasileira" no contexto da música?

      A expressão "Geleia Geral Brasileira" é central para a música e representa a fusão caótica, mas vibrante, de elementos díspares que compõem a cultura e a realidade do Brasil. Gilberto Gil a utiliza para descrever a mistura de tradições antigas e modernidade, o popular e o erudito, o belo e o brutal, o nacional e o estrangeiro. A "geleia" sugere uma mistura densa e heterogênea, onde tudo se entrelaça sem uma ordem aparente, refletindo a complexidade e a diversidade do país, que é anunciada, ironicamente ou não, pelo "Jornal do Brasil". É a coexistência de contrastes que define a identidade brasileira.

02 – De que forma a música explora a dualidade entre otimismo e pessimismo na realidade brasileira?

      A música explora a dualidade entre otimismo e pessimismo de várias maneiras. Por um lado, há uma clara exaltação da alegria e da beleza do Brasil, com versos como "a manhã tropical se inicia / Resplandente, cadente, fagueira / Num calor girassol com alegria" e "Minha terra é onde o Sol é mais limpo / E Mangueira é onde o samba é mais puro". A "alegria é a prova dos nove", sugerindo sua força e resiliência. Por outro lado, há a menção de que "a tristeza é teu porto seguro", reconhecendo a presença constante da melancolia e das dificuldades. A coexistência de "Hospitaleira amizade" e "Brutalidade jardim" também ilustra essa dualidade, mostrando que a beleza e a cordialidade podem coexistir com aspectos mais ásperos da realidade brasileira. A música, portanto, não nega os desafios, mas celebra a capacidade de encontrar alegria e resiliência neles.

03 – Quais elementos da cultura e do cotidiano brasileiros são citados na letra e o que essa variedade sugere?

      A letra de "Geleia Geral" cita uma vasta gama de elementos da cultura e do cotidiano brasileiros, misturando o popular e o erudito, o tradicional e o moderno:

      Elementos culturais e geográficos: "Mangueira", "Pindorama", "Santo barroco baiano", "Portela", "carnaval de verdade".

      Objetos e costumes: "bandeira", "Tumbadora", "LP de Sinatra", "Maracujá", "carne-seca na janela".

      Sensações e conceitos: "calor girassol", "alegria", "tristeza", "sexto sentido", "voz do morro", "Tropicália", "bananas ao vento".

      Personagens e mídias: "poeta", "Jornal do Brasil", "Miss linda Brasil", "Carolina", "Canecão", "TV". Essa variedade sugere a diversidade e a complexidade da identidade brasileira, reforçando a ideia da "geleia geral". É um mosaico de referências que não se limita a um único aspecto, mas abraça a totalidade da experiência brasileira, com suas contradições, belezas e particularidades.

04 – Como o refrão "Ê, bumba-yê-yê-boi / Ano que vem, mês que foi / Ê, bumba-yê-yê-yê / É a mesma dança, meu boi" contribui para o sentido da música?

      O refrão "Ê, bumba-yê-yê-boi / Ano que vem, mês que foi / Ê, bumba-yê-yê-yê / É a mesma dança, meu boi" é fundamental para o sentido da música, pois ele evoca a circularidade do tempo e a persistência das tradições. A referência ao "bumba-meu-boi" conecta a música a uma manifestação cultural popular e ancestral, que se repete ciclicamente. As expressões "Ano que vem, mês que foi" e "É a mesma dança, meu boi" reforçam a ideia de que, apesar das mudanças e da passagem do tempo, certas essências e ritmos da vida brasileira permanecem, marcados por uma repetição quase ritualística. O refrão, portanto, serve como um elo entre o passado e o presente, e uma celebração da continuidade cultural em meio à "geleia geral" de transformações.

05 – Qual o papel da figura do "poeta desfolha a bandeira" na abertura e no encerramento da música?

      A figura do "poeta desfolha a bandeira" no início e no final da música é simbólica e multifacetada. Ao "desfolhar a bandeira", o poeta pode estar realizando um ato de desconstrução da identidade nacional oficial, revelando as múltiplas camadas e realidades por trás dos símbolos patrióticos. É como se ele estivesse abrindo a bandeira para expor as contradições e a riqueza da "geleia geral". No final, quando o eu-lírico afirma "Um poeta desfolha a bandeira / E eu me sinto melhor colorido", há uma sugestão de que essa desconstrução e a exposição da complexidade brasileira levam a uma maior compreensão e a um sentimento de pertencimento mais profundo e autêntico. O poeta, assim, atua como um mediador entre a realidade multifacetada e a percepção do indivíduo.

06 – Como a música aborda a relação entre o observador (aquele que "não dança") e a "Geleia Geral"?

      A música aborda a relação entre o observador e a "Geleia Geral" de forma crítica e sugestiva na estrofe: "E quem não dança não fala / Assiste a tudo e se cala / Não vê no meio da sala / As relíquias do Brasil". Aqui, a ação de "dançar" é uma metáfora para a participação ativa na vida e na cultura brasileira, enquanto "não dançar" representa a passividade, a alienação ou a incapacidade de se engajar com a complexidade do país. Quem não participa ("não dança") é incapaz de expressar-se ("não fala") e apenas observa passivamente ("Assiste a tudo e se cala"). Mais crucialmente, essa passividade impede que o observador perceba as "relíquias do Brasil" – os elementos ricos e valiosos que compõem a identidade nacional, que estão "no meio da sala", visíveis para quem se permite interagir. A crítica é àqueles que se afastam ou se recusam a imergir na diversidade cultural.

07 – Que papel a "Tropicália" desempenha na mensagem final da música, especialmente quando mencionada em conjunto com "bananas ao vento"?

      A menção de "Tropicália" no final da música, em conjunto com "bananas ao vento", é crucial para a mensagem. A Tropicália foi um movimento artístico e cultural do qual Gilberto Gil foi um dos principais expoentes, caracterizado justamente pela fusão de elementos diversos, nacionais e estrangeiros, tradicionais e modernos, em uma estética de apropriação e ressignificação. "Bananas ao vento" é uma imagem icônica do Tropicalismo, remetendo à antropofagia cultural (devorar e digerir influências) e a um certo exotismo e autoafirmação tropical. Ao citar esses elementos, a música reforça sua própria identidade como uma manifestação da Tropicália, celebrando a liberdade criativa, a mistura e a capacidade do Brasil de reinventar-se a partir de suas próprias particularidades. É um manifesto final sobre a vitalidade e a originalidade da cultura brasileira, que se expressa nessa "geleia geral".

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): TROPICÁLIA LIXO LÓGICO - TOM ZÉ - COM GABARITO

 Música (Atividades): Tropicália Lixo Lógico

             Tom Zé

A pureza Chapeuzinho
Passeando na floresta
Enquanto Seu Lobo não vem:
Mas o Lobo entrou na festa
E não comeu ninguém.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBbIV2eWktJmZluO5l12fEk8jC3oD-t6ts4b7R-r0YZJUfhyphenhyphenfieNq3bkPp5kb255l1TD0GA8J279fcnMQ5P3D4bU0DDmKE9-RVer9M3KbSH_8Q3Hj5WoE2sVhsYDQKGH62eWwZmBaHjj_dJTXwNiGIVwqxpNtm1z-3Z_YBFHrr6WeW2IrhS56QT5nliY8/s320/ab67616d0000b2732fa7da9beb47f795fd6beda1.jpg


Era uma tentação,
Ele tinha belos motes,
O Lobo Seu Aristotes:
Expulsava todo incréu
Ali do nosso céu

Não era melhor, tampouco pior,
Apenas outra e diferente a concepção
Que na creche dos analfatóteles regia
Nossa moçárabe estrutura de pensar
Mas na escola, primo dia,
Conhecemos Aristotes,
Que o seu grande pacote
De pensar oferecia

Não recusamos
Suas equações
Mas, por curiosidade, fez-se habitual
Resolver também com nossas armas a questão -
Uma moçárabe possível solução
Tudo bem, que legal,
Resultado quase igual,
Mas a diferença que restou
O lixo lógico

Aprendemos a jogá-lo
No poço do hipotalo*.
Mas o lixo, duarteiro,
O córtex invadia:
Caegitano entorta rocha
Capinante agiu.

Composição: Tom Zé. Tropicália lixo lógico, 2012. Gravadora independente.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 328-329.

Entendendo a música:

01 – Qual é a crítica central que Tom Zé faz à "pureza" e à entrada do "Lobo" na festa no início da música?

      No início da música, Tom Zé utiliza a metáfora da "pureza Chapeuzinho / Passeando na floresta / Enquanto Seu Lobo não vem" para representar uma visão ingênua ou idealizada da cultura e do pensamento. A "pureza" pode ser interpretada como uma forma de pensamento ocidental dominante, talvez o racionalismo cartesiano ou a lógica aristotélica, que busca a ordem e evita o caos. A entrada do "Lobo" – que não "comeu ninguém" – é uma reviravolta irônica. Esse "Lobo" é, na verdade, "Seu Aristotes", uma personificação da lógica aristotélica e do pensamento ocidental racional. A crítica central é que essa imposição de uma lógica "pura" ou hegemônica, embora não seja destrutiva no sentido literal ("não comeu ninguém"), tenta expulsar ou silenciar outras formas de pensar ("Expulsava todo incréu / Ali do nosso céu"), especialmente as que não se encaixam em seus moldes.

02 – Como a música apresenta a relação entre a "concepção" "moçárabe" de pensar e o "pacote de pensar" de Aristóteles?

      A música apresenta a relação entre a "concepção" "moçárabe" de pensar e o "pacote de pensar" de Aristóteles como um confronto de sistemas de lógica e raciocínio. A "moçárabe estrutura de pensar" refere-se a uma forma de conhecimento híbrida, que emerge da mistura de culturas (como a árabe e a ibérica na Península Ibérica durante a Idade Média), caracterizada por sua flexibilidade e talvez uma menor rigidez lógica. Em contrapartida, o "pacote de pensar" de Aristóteles representa a lógica ocidental formal, com suas "equações" e regras bem definidas. Tom Zé sugere que, embora não recusem as equações de Aristóteles, há uma curiosidade e uma necessidade de resolver questões "com nossas armas", ou seja, com a própria lógica moçárabe. O resultado, embora "quase igual", revela uma "diferença que restou" – o "lixo lógico". Isso indica que a lógica ocidental não é a única nem a superior, e que outras formas de raciocínio, mesmo que consideradas "impuras" ou "ilógicas" por ela, são válidas e necessárias.

03 – O que Tom Zé quer dizer com "lixo lógico" e como ele se relaciona com a ideia de "Tropicália"?

      O "lixo lógico" é a diferença que resta quando se tenta aplicar a lógica aristotélica (ocidental e racional) a uma realidade que não se encaixa perfeitamente nela. É aquilo que é descartado, considerado irracional, absurdo ou sem sentido pelas regras estabelecidas. Para Tom Zé, esse "lixo" não é desprezível; ao contrário, ele é valorizado e se torna a essência da "Tropicália". O movimento tropicalista defendia a antropofagia cultural, a apropriação e a digestão de elementos diversos (nacionais, estrangeiros, populares, eruditos) para criar algo novo e autêntico, que muitas vezes desafiava as categorizações e as lógicas estabelecidas. O "lixo lógico" é justamente a riqueza da contradição, da ambiguidade e do sincretismo que define a identidade brasileira, algo que a lógica pura tenta descartar, mas que o Tropicalismo abraça como fonte de criatividade e verdade.

04 – Qual é o significado de "Aprendemos a jogá-lo / No poço do hipotalo" e o que acontece quando "o lixo... o córtex invadia"?

      A frase "Aprendemos a jogá-lo / No poço do hipotalo" sugere que, em algum momento, as formas de pensar consideradas "ilógicas" ou "desviantes" foram suprimidas ou relegadas às áreas do cérebro associadas a funções mais primitivas, emoções ou inconsciente (o hipotálamo). É como se houvesse um esforço para reprimir ou esconder aquilo que não se encaixa na lógica dominante. No entanto, o poema afirma que "Mas o lixo, duarteiro, / O córtex invadia". O córtex é a parte do cérebro associada ao raciocínio, à linguagem e à consciência. Isso significa que o "lixo lógico" – as formas de pensar não convencionais, a criatividade, a irreverência, o hibridismo – não pode ser contido. Ele irrompe, toma conta do pensamento racional e o subverte. Essa invasão é uma vitória do pensamento não-linear e da cultura híbrida sobre a lógica cartesiana, resultando em novas formas de expressão e percepção.

05 – Como as últimas linhas, "Caegitano entorta rocha / Capinante agiu", personificam a ideia do "lixo lógico" em ação?

      As últimas linhas, "Caegitano entorta rocha / Capinante agiu", são uma personificação vibrante da ideia do "lixo lógico" em ação, usando neologismos e nomes próprios para ilustrar essa subversão.

      "Caegitano entorta rocha": "Caegitano" é uma fusão de Caetano Veloso e Gilberto Gil, figuras centrais do Tropicalismo. "Entorta rocha" sugere um poder transformador, quase mágico, que desafia a rigidez e a solidez da lógica estabelecida ("rocha"). É a ideia de que a criatividade e a irreverência tropicalista são capazes de moldar e redefinir a realidade, quebrando paradigmas.

      "Capinante agiu": "Capinante" remete à ação de "capinar", de limpar ou cortar mato, mas aqui ganha um sentido de ação direta e talvez inesperada, "agindo" de forma transformadora. Pode também ser uma alusão a Capinam, outro artista ligado ao movimento.

 

 

POEMA: O TEATRO, CASA DOS SONHOS - BERTOLD BRECHT - COM GABARITO

 Poema: O TEATRO, CASA DOS SONHOS

             Bertold  Brecht

Muitos veem o teatro como casa

De produção de sonhos. Vocês atores são vistos

Como vendedores de drogas. Em seus locais escurecidos

As pessoas se transformam em reis e realizam

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAckNp32tmRQv64huv2wwDkyBA5CWxLIheSLttO2T0827uT9k3IqkbvdCANzvnYJE8mqb00TtkiqlgcuEp5eRo0Gs_d8dmXXZq-HxMWziZRFfh5cCUpZOg1otArHC_kRPLWEohv1YzFLCQ_xWess7OijRbxZLRFuK3TNbDICn9QZLkP9JSpIZS2g_-yZc/s320/165824021662d6bcd8a82ec_1658240216_5x2_lg.jpg

Atos heroicos sem perigo. Tomado de entusiasmo

Consigo mesmo ou de compaixão por si mesmo

Fica-se sentado, em feliz distração esquecendo

As dificuldades do dia a dia – um fugitivo.

Todo tipo de fábula preparam com mãos hábeis, de modo a

Mexer com nossas emoções. Para isso utilizam

Acontecimentos do mundo real. Sem dúvida, alguém

Que aí chegasse de repente, o barulho do tráfico ainda nos ouvidos

E ainda sóbrio, mal reconheceria sobre essas tábuas

O mundo que acabou de deixar. E também

Saindo por fim desses locais,

Novamente o homem pequeno, não mais o rei

Deslocado na vida real. Muitos, é verdade

Veem essa atividade como inocente. Na mesquinhez

E uniformidade de nossas vidas, dizem, sonhos

São bem-vindos. Como suportar

A vida mesquinha e uniforme, e a renunciar

Por si mesmo. Mas vocês

Mostram um falso mundo, descuidadamente juntado

Tal como os sonhos o mostram, transformado por desejos

Ou desfigurado por medos, tristes

Enganadores.

BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956. 5. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 255-256.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal crítica que Brecht faz à percepção comum do teatro como uma "casa de produção de sonhos"?

      Brecht critica fundamentalmente a visão do teatro como um refúgio escapista, uma "casa de produção de sonhos", onde o público se transforma em "reis" e esquece as "dificuldades do dia a dia". Ele descreve os atores como "vendedores de drogas", sugerindo que a arte teatral, nesse modelo, atua como um narcótico que aliena o espectador da realidade. A crítica reside no fato de que, ao se entregar a essa "feliz distração", o indivíduo se torna um "fugitivo" que, ao sair do teatro, volta a ser o "homem pequeno, não mais o rei / Deslocado na vida real". Para Brecht, essa forma de teatro oferece um "falso mundo, descuidadamente juntado", que, como os sonhos, é "transformado por desejos / Ou desfigurado por medos", resultando em uma experiência ilusória e, em última instância, enganadora.

02 – De que forma o poema contrasta a experiência do público dentro e fora do teatro?

      O poema de Brecht estabelece um contraste marcante entre a experiência do público dentro e fora do teatro. Dentro dos "locais escurecidos", as pessoas se transformam, tornam-se "reis" e realizam "atos heroicos sem perigo", sentindo entusiasmo ou compaixão por si mesmas em uma "feliz distração". É um mundo de fábula onde as emoções são manipuladas e a realidade cotidiana é esquecida. No entanto, o poema enfatiza a abrupta transição ao sair desses locais: "Saindo por fim desses locais, / Novamente o homem pequeno, não mais o rei / Deslocado na vida real." Essa antítese ressalta a artificialidade da experiência teatral criticada por Brecht, onde a euforia e o escapismo são temporários, e a volta à vida "mesquinha e uniforme" é inevitável e, por vezes, mais dolorosa devido ao contraste.

03 – O que Brecht quer dizer ao afirmar que o teatro utiliza "acontecimentos do mundo real" para "mexer com nossas emoções" e qual é a sua ressalva a isso?

      Brecht reconhece que o teatro, mesmo em sua forma criticada, utiliza "acontecimentos do mundo real" para "mexer com nossas emoções". Isso significa que as histórias e situações encenadas têm suas raízes na vida cotidiana e nas experiências humanas, servindo como base para as narrativas dramáticas. No entanto, sua ressalva reside no modo como esses acontecimentos são apresentados e percebidos. Ele aponta que, para o espectador ainda "sóbrio" e com "o barulho do tráfico ainda nos ouvidos", seria difícil reconhecer nessas "tábuas" (o palco) o mundo que acabou de deixar. A crítica não está no uso da realidade em si, mas na sua transformação e distorção para fins de entretenimento e escapismo, onde o mundo real é "descuidadamente juntado" e "transformado por desejos / Ou desfigurado por medos", perdendo sua capacidade de provocar reflexão crítica e ação.

04 – Como o poema caracteriza os atores e sua função nesse tipo de teatro?

      No poema "O Teatro, Casa dos Sonhos", Brecht caracteriza os atores como "vendedores de drogas". Essa metáfora é profundamente crítica e sugere que a função dos atores, nesse modelo de teatro, é a de induzir um estado de alheamento e ilusão no público. Eles são os agentes que administram essa "droga" do escapismo, preparando "todo tipo de fábula com mãos hábeis, de modo a / Mexer com nossas emoções". A implicação é que, em vez de provocarem o pensamento crítico ou a conscientização social, os atores servem para anestesiar o público, oferecendo um refúgio temporário da realidade. Eles são, na visão de Brecht, "tristes / Enganadores", pois mostram um "falso mundo" que, embora possa trazer alívio momentâneo, não contribui para uma compreensão genuína ou para a transformação da vida real.

05 – Qual é a crítica subjacente de Brecht à inércia ou complacência do público diante desse tipo de representação teatral?

      A crítica subjacente de Brecht à inércia e complacência do público diante desse tipo de representação teatral é evidente em sua descrição do espectador como um "fugitivo" que se senta em "feliz distração". Ele questiona a aceitação generalizada dessa "atividade como inocente", onde os "sonhos / São bem-vindos" para suportar a "vida mesquinha e uniforme". Brecht parece lamentar que o público, ao invés de buscar a verdade ou a transformação de suas condições, se contente com uma ilusão momentânea. Há uma implicação de que essa complacência contribui para a perpetuação de um sistema que oferece fugas, mas não soluções. A crítica reside no fato de que o teatro, em vez de ser um catalisador para a mudança e a reflexão crítica sobre a realidade social, torna-se um cúmplice na manutenção da "mesquinhez / E uniformidade de nossas vidas", ao permitir que o indivíduo "renunciar / Por si mesmo" em favor de um mundo fabricado.

 

 

NOTÍCIA: BOAS MANEIRAS PARA EVITAR UM "MICO" NUMA SALA DE ESPETÁCULOS - FRAGMENTO - GEISA AGRÍCIO - COM GABARITO

 Notícia: Boas maneiras para evitar um ‘mico’ numa sala de espetáculos – Fragmento

        Quando a gente se programa para um evento, faz de tudo para que seja uma noite alegre e memorável. Tenta-se eliminar ao máximo os fatores de estresse: chegar cedo, comprar ingresso adiantado, escolher o melhor lugar etc. Tudo para acompanhar confortavelmente aquela atração que se queria tanto ver. Mas nem sempre tudo sai como gostaríamos. O fator ‘espectador inconveniente’ pode ser o balde de água fria num programa que tinha tudo pra ser maravilhoso.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNz9guk_peCOgGJJg_oHA5PR4EZj1gNhx9sQiwZSMmyYXtgncoVcvfXdB7KyLTrFhxxUlXCN2fPbHd-vuMH_fAxrmsHCTt3_Fj4AjXy2bu6Bv88vQL11BRYxuO2ONe9An_kZhwys3JZOsGLV5M5QLwo9rOZdl_8afxJZwmMv86IyCPWxLU2IwgCkgjfqI/s320/br-o-1679948440-boas-maneiras_ver_1.png


        “Um vizinho de poltrona inconveniente tira a paciência, a concentração para curtir e apreender a obra e nos faz perder o humor. Certa vez, no cinema, uma turma de adolescentes gritava e fazia zorra com um laser vermelho mirado para a tela. A sessão ficou tão insuportável que saí no meio do filme”, conta a historiadora Emanuele de Maupeou, que reclamou na gerência da sala do Multiplex do Shopping Recife, e recebeu ingressos para ver o filme em outra oportunidade. 

        Quem nunca passou por situações incômodas, como um chato que bate as pernas na poltrona dianteira, um vizinho que conversa ou atende ao celular ou mesmo aquele fã arvorado que grita no ouvido alheio achando que o cantor lá no palco vai ouvir o seu backing vocal de banheiro, que atire a primeira pipoca. 

        Casos como o vexame coletivo promovido pela plateia presente na estreia da peça Sopros de Vida, que passou no Recife na última semana, suscitam a pergunta ‘Por que algumas pessoas não sabem como se comportar numa casa de espetáculos?’. Carmem Peixoto, jornalista e consultora de etiqueta social e empresarial, é taxativa: por falta de educação e postura.

        “Isso começa muito antes de se transformar num adulto que frequenta produções culturais. Começa quando as crianças não sentam à mesa na hora das refeições, passam como um furacão pela casa e não aprendem a arrumar sua própria bagunça. Isso vai incutindo que todo comportamento é válido, daí pra ir pra rua é só um passo”, conta Carmem Peixoto.

        “A geração pós-movimento hippie passou tempos negando as regras sociais e considerando-as piegas, mas hoje em dia o bom senso precisa ser resgatado. Chegamos ao ponto em que é preciso ter assento reservados para idosos, coisa que deveria ser estabelecida pela gentileza. As pessoas pensam que etiqueta se restringe a como segurar o talher ou mastigar de boca fechada, mas é fundamental para o bem-estar na convivência”, avalia a consultora.

        E a falta de maneiras na privacidade das famílias facilmente se expande para as relações públicas. Os jovens de outros tempos se trancavam em seus quartos e aquele era seu universo particular. Hoje as pessoas estão interligadas o tempo todo, pelas tecnologias e redes sociais, e as distancias inexistem. “Na cabeça dessas pessoas, é como se o próprio o mundo fosse uma extensão desse seu espaço e acham natural agir em qualquer situação como fazem com seus pares”, conclui Peixoto.

        Esse é o perfil dos inconvenientes, ou ‘folgados’, que acabam recebendo coros de Psssssiu! ou Silêncio! no escurinho das salas. Para evitar que os bons cidadãos involuntariamente cometam gafes na hora de assistir a algum espetáculo, o JC Online preparou uma cartilha básica para a boa convivência durante a sessão:

        Atraso – Já não é de bom tom chegar depois do espetáculo iniciado, mas brigar por lugares marcados, mesmo com as entradas em mão, atrapalha todo mundo. Mesmo que tenha ‘direito’, não é educado. Afinal de contas, se chegou atrasado e conseguiu entrar já é lucro. De resto, é melhor deixar pra lá e, discretamente, ir sentando nas poltronas traseiras, sem incomodar ninguém.

        Comida – No cineminha até é sugerido a clássica pipoca e outras guloseimas. Porém, no teatro, principalmente quando a casa não permite, não é indicado abrir embalagens e nem mesmo mastigar durante um espetáculo. Nem se fala sobre esconder alimentos ou bebidas na bolsa, não é?

        Interação com o artista – O melhor agrado que você pode dar ao artista é a concentração do silêncio e o reconhecimento com aplausos. Não é elegante soltar gritinhos de 'Lindo’, ‘Maravilhoso’. Em shows em que a plateia fica de pé, até vale cantar junto e acompanhar o repertório. Num teatro, nem pensar.

        Cochilo – É uma tremenda saia justa. Alguém próximo à sua poltrona caiu no sono e está soltando aquele ronco. O que fazer? Não perca a paciência nem o espetáculo. Delicadamente deve-se acordar o dorminhoco e relembrá-lo onde está.

        Pernas e pés – Nem sempre as poltronas são as mais confortáveis. Às vezes, falta até lugar para colocar as pernas. Mas nada serve de desculpa para ficar batendo pernas ou recostando os pés na cadeira à frente. Tirar os sapatos é ainda mais execrável. Você não está no sofá da sua casa!

        [...]

        Celular – Todo mundo sabe que é para manter o aparelho desligado. Mesmo que esteja no modo silencioso e não soe o ringtone, atendê-lo em público é inadmissível.

        Conversa – Se você pretende conversar com seu acompanhante ou cumprimentar conhecidos, o ideal é chegar com folga, pelo menos uns 30 minutos antes. Depois que o terceiro toque é entoado e as luzes baixam, silêncio é obrigatório. Diálogos só no palco, nada de conversas paralelas. A dica serve para beijos e carícias também. Casais apaixonados devem deixar os momentos mais íntimos para depois.

        Crianças – A classificação indicativa não é simplesmente uma censura moral. Eventos adultos não devem ser frequentados por crianças, mesmo na presença dos pais, por mais modernos e liberais que eles sejam. É chato para os pequenos, que ficam inquietos, e inconveniente para quem está perto. Existem espaços e espetáculos destinados ao público infantil, onde eles podem se comportar com liberdade e espontaneidade características da idade.

        Vestimentas – Não vivemos mais nos tempos coloniais em que o teatro era o grande evento social, em que ver uma ópera era como um grande baile. Então, mesmo nas casas mais tradicionais, é de bom tom um casual chic ou esporte fino bem comportado. Brilhos, paetês, sedas, trajes de gala, saltos altíssimos e finíssimos são desnecessários. E, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os shortinhos com aquele ar de quem saiu da praia também são dispensáveis.

Geisa Agricio. JC Online, 5 maio 2010. Disponível em: http://ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2010/05/25/boas-maneiras-para-evitar-um-mico-numa-sala-de-espetaculos-223025.php. Acesso em: 8 fev. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 150-152.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é o principal fator que pode "estragar" um programa de lazer em uma sala de espetáculos, de acordo com o texto?

      O principal fator que pode estragar um programa é o "espectador inconveniente", cujas atitudes podem tirar a paciência, a concentração e o bom humor dos demais.

02 – Qual exemplo de experiência negativa a historiadora Emanuele de Maupeou compartilha?

      Emanuele de Maupeou relata que, no cinema, uma turma de adolescentes gritava, fazia zorra e mirava um laser vermelho na tela, tornando a sessão insuportável a ponto de ela ter que sair no meio do filme.

03 – Segundo a consultora de etiqueta Carmem Peixoto, qual a principal razão para o mau comportamento em casas de espetáculos?

      Carmem Peixoto afirma que a principal razão é a falta de educação e postura, que se inicia na infância, quando as crianças não aprendem regras básicas de convivência e organização.

04 – Como a consultora Carmem Peixoto relaciona a negação de regras sociais pela "geração pós-movimento hippie" com a necessidade atual de bom senso?

      Ela explica que essa geração negou as regras sociais, considerando-as "piegas", mas que hoje o bom senso precisa ser resgatado, pois a falta de gentileza e etiqueta social básica tem levado a situações como a necessidade de assentos reservados para idosos.

05 – O que o texto sugere para quem chega atrasado a um espetáculo com lugar marcado?

      Para quem chega atrasado, o texto aconselha a não brigar por lugares marcados, mesmo tendo direito, e, discretamente, sentar nas poltronas traseiras para não incomodar os outros, considerando a entrada já como um "lucro".

06 – Quais são as orientações do texto sobre o uso de celular durante uma sessão?

      A orientação é manter o aparelho desligado. Mesmo no modo silencioso, atendê-lo em público é inadmissível, pois o brilho da tela ou a simples ação de mexer no aparelho pode distrair.

07 – Qual é a recomendação do texto sobre a interação da plateia com o artista em diferentes tipos de espetáculo?

      Para a maioria dos espetáculos, o melhor agrado é o silêncio, a concentração e os aplausos. Soltar gritinhos de "Lindo" ou "Maravilhoso" não é elegante. Em shows em que a plateia fica de pé, é aceitável cantar junto, mas em teatro, isso não é recomendado.

 

MINICONTO: O PLANETINHA ENCHARCADO - FRAGMENTO - LUCA RISCHBIETER - COM GABARITO

 Miniconto: O planetinha encharcado – Fragmento

        Luca Rischbieter

Era uma vez um médico de planetas
Que passeava em uma galáxia
Muuuuuito distante
Quando... Vejam só
Que interessante:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3AKJkXgqzyiPOTkcM-YSHTDLuyuIIbTMkNVhqou3JWH-v8Zy7HiNouziONHXhAZfRK9bX_lHdFJwyHLnstomFrSCZGyDuJRiG7mTHqbV-6hthRYlcDpZLzD8q_6mxzd8Qlq1JR8lAnHNRT2XRpZDdw_27vEm_ZUseCngZ5RTy_W1a-SdPBCCQ0GyXhoY/s320/MINICONTO.jpg



Encontrou três
Planetinhas,
Que eram aquecidos
Pelo mesmo sol.

Olhando com atenção, o doutor
Percebeu que dois de três
Planetinhas estavam dormindo
E que só um deles parecia
Acordado.
O doutor perguntou-se,
Ensimesmado:
"Por que será que, em dois
Planetinhas, as coisas
Andam tão quentinhas?"
[...]

Luca Rischbieter. O planetinha encharcado. Curitiba: Aymará, 2009. p. 7-8.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 82.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual a profissão do personagem principal do miniconto?

      O personagem principal do miniconto é um médico de planetas.

02 – Onde o médico de planetas encontrou os três planetinhas?

      Ele encontrou os três planetinhas enquanto passeava em uma galáxia "muuuuito distante".

03 – Qual característica comum os três planetinhas compartilhavam?

      Os três planetinhas eram aquecidos pelo mesmo sol.

04 – O que o médico de planetas percebeu sobre os três planetinhas ao observá-los atentamente?

      Ele percebeu que dois dos três planetinhas estavam "dormindo", e apenas um deles parecia "acordado".

05 – Qual a pergunta que o médico de planetas se fez ao final do fragmento?

      O médico de planetas se perguntou: "Por que será que, em dois planetinhas, as coisas andam tão quentinhas?"

 

MINICONTO: DE UM CERTO TOM AZULADO - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Miniconto: De um certo tom azulado

       Marina Colasanti

        Casou-se com o viúvo de espessa barba, embora sabendo que antes três esposas haviam morrido. E com ele subiu em dorso de mula até o sombrio castelo.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU8Bv8piGlrKbtWjQmgIJ2rQdYlK_CevgwksHPQwE9M1-VbRxII85MijY5WPrppQewYwAtph0H33iQdITLKAwFDJkCzr0hf2DpkcTzK1qDtYjUeaFykj9eTaUx3hopnof0bOq1M629rHL-FnVd1L0rN6IVLvMx19tlkFaYmS74S8caby4k4e05lSBEEso/s320/AZUL.jpg

        Poucos dias haviam passado, quando ele a avisou de que num cômodo jamais deveria entrar. Era o décimo quinto quarto do corredor esquerdo, no terceiro andar. A chave, mostrou, estava junto com as outras no grande molho. E a ela seria entregue, tão certo estava de que sua virtude não lhe permitiria transgredir a ordem.

        E não permitiu, na semana toda em que o marido ficou no castelo. Mas chegando a oportunidade da primeira viagem, despediu-se ela acenando com a mão, enquanto com a outra
apalpava no bolso a chave proibida.

        Só esperou ver o marido afastar-se caminho abaixo. Então, rápida, subiu as escadas do primeiro, do segundo, do terceiro andar, avançou pelo corredor, e ofegante parou frente à décima quinta
porta.

        Batia seu coração, inundando a cabeça de zumbidos. Tremia a mão hesitante empunhando a chave. Nenhum som vinha além da pesada porta de carvalho. Apenas uma fresta de luz escorria junto ao
chão.

        Devagar botou a chave na fechadura. Devagar rodou, ouvindo o estalar de molas e linguetas. E empurrando lentamente, bem
lentamente, entrou.

        No grande quarto, sentadas ao redor da mesa, as três esposas esperavam. Só faltava ela para completar o jogo de buraco.

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 115-116.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 77.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual a principal proibição imposta pelo marido à sua nova esposa?

      A principal proibição imposta pelo marido à sua nova esposa era a de jamais entrar no décimo quinto quarto do corredor esquerdo, no terceiro andar do castelo.

02 – Como a esposa demonstra sua intenção de desobedecer à proibição?

      A esposa demonstra sua intenção de desobedecer à proibição ao apalpar no bolso a chave proibida com uma mão, enquanto acena com a outra para o marido em sua partida. Isso revela sua antecipação e determinação em transgredir a ordem.

03 – Qual o ambiente físico e psicológico criado pela narrativa antes da revelação final?

      A narrativa cria um ambiente de tensão e mistério. A descrição da esposa subindo as escadas "rápida", o coração batendo "inundando a cabeça de zumbidos", a mão tremendo e a porta pesada com uma fresta de luz, tudo contribui para a expectativa do que seria revelado no quarto proibido.

04 – Quem a esposa encontra dentro do quarto proibido?

      Dentro do quarto proibido, a esposa encontra as três esposas anteriores do viúvo, sentadas ao redor de uma mesa.

05 – Qual é o desfecho surpreendente do miniconto e o que ele sugere?

      O desfecho surpreendente é que as três esposas anteriores estavam esperando a nova esposa para "completar o jogo de buraco". Isso sugere um destino macabro e recorrente para as esposas do viúvo, indicando que elas não morreram de causas naturais, mas possivelmente foram vítimas de um padrão sombrio que a nova esposa agora também enfrentaria