sábado, 14 de maio de 2022

POEMA: A RONDA NOTURNA - OLAVO BILAC - COM GABARITO

 Poema: A ronda noturna

          Olavo Bilac


Noite cerrada, tormentosa, escura, 

Lá fora. Dorme em trevas o convento. 

Queda imoto o arvoredo. Não fulgura 

Uma estrela no torvo firmamento. 

 

Dentro é tudo mudez. Flébil murmura, 

De espaço a espaço, entanto, a voz do vento: 

E há um rasgar de sudários pela altura, 

Passo de espectros pelo pavimento... 

 

Mas, de súbito, os gonzos das pesadas 

Portas rangem... Ecoa surdamente 

Leve rumor de vozes abafadas. 

 

E, ao clarão de uma lâmpada tremente, 

Do claustro sob as tácitas arcadas 

Passa a ronda noturna, lentamente... 

 

BILAC, Olavo. In: CANDIDO, Antônio. Presença da literatura brasileira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972. v. 2.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 180-1.

Entendendo o poema:

01 – Complete a frase: "A ronda noturna" é um poema que ..............

a)   Conta uma história de terror. 

b)    Apenas descreve um ambiente. 

c)   Defende um ponto de vista. 

d)   Expõe um sentimento. 

e)   Apresenta narração e descrição. 

02 – A resposta à questão anterior pode ser justificada por uma das seguintes afirmações sobre o poema. Escreva-a no caderno.

a)    Trata-se apenas da descrição impessoal, distanciada, da atmosfera que envolve um convento. 

b)    Trata-se de uma tentativa de convencer os leitores de que o eu lírico viu fantasmas percorrendo os corredores de um convento. 

c)     Trata-se da expressão emocionada e pessoal de um eu lírico fascinado pela visão noturna de um convento.

d)    Trata-se de um poema narrativo em que predomina a descrição pouco pessoal do entorno e da atmosfera noturna de um convento, seguida de um evento que quebra parte do silêncio que envolve o local. 

03 – Nas duas primeiras estrofes é descrito o clima que circunda o convento. Observe que em cada uma delas predomina um aspecto. 

a)   Na primeira estrofe, o que circunda o convento? Que palavras ou expressões do texto justificam sua resposta?

A escuridão circunda o convento: noite, cerrada, escura, trevas, não fulgura, torvo.

b)   Na segunda estrofe, o que envolve o convento? Que expressões do texto justificam sua resposta? 

O silêncio, quebrado apenas pelos ruídos do vento: mudez, murmura, voz do vento. 

c)   Releia todo o poema e observe que a escolha do vocabulário e sua organização nos versos produzem uma sonoridade coerente com o clima da cena descrita. Considere que determinados sons podem ser associados ao significado das próprias palavras em que eles se repetem. Depois, copie as frases abaixo em seu caderno e completa-as com as informações corretas:  

·        A ocorrência da consoante v nos três últimos versos da primeira estrofe e no segundo e terceiro versos da segunda estrofe 2.

·        A ocorrência da consoante r em praticamente todos os versos do poema 1.

·        A grande ocorrência da vogal u e o predomínio da vogal o em quase todos os versos do poema 3.

(1) Pode sugerir um rumor que permeia todo o poema. 

(2) Pode sugerir o som do vento. 

(3) Podem reforçar a ideia de escuridão e de som murmurado, fechado, que ecoa pouco. 

04 – Releia: 

“De espaço a espaço, entanto, a voz do vento: 

E há um rasgar de sudários pela altura, 

Passo de espectros pelo pavimento..." 

        Esses versos sugerem som (voz do vento, passo) e movimento (rasgar, espaço, passo). Por que, no entanto, numa primeira leitura, eles apenas reforçam a ausência de vida? 

      Porque se trata, a princípio, apenas do som do vento e do movimento vindo de coisas sem vida – o sudário, espectros (fantasmas), etc.      

05 – Há perfeita oposição entre elementos das duas primeiras estrofes e elementos das duas últimas: a escuridão, a imobilidade e o silêncio murmurado que, nas primeiras estrofes, envolvem o convento são quebrados por eventos que ocorrem nas duas últimas. Estabeleça a correspondência:

a)   O que quebra o silêncio?

O ranger das dobradiças da porta e o rumor de vozes abafadas.

b)   O que quebra a escuridão? 

O clarão de uma lâmpada tremente.

c)   O que quebra a imobilidade? 

O movimento da porta e, sobretudo, a passagem da ronda noturna.

06 – Escreva no caderno apenas as afirmações que poderiam completar corretamente a frase abaixo: 

        O poema “A ronda noturna" .......................

a)   Trata do medo da morte, representada pela angústia do eu lírico com a atmosfera sombria e fantasmagórica do convento. 

b)   Pode ser visto como metáfora da presença vigilante da vida, mesmo em situações em que parece haver o predomínio de um cenário de morte. 

c)   Procura surpreender ao mostrar luz e movimento suaves em um cenário de escuridão e imobilidade pesadas. 

d)   Trata da oposição noite e dia. Assim, as duas primeiras estrofes representam o dia e as duas últimas, a noite. 

 

POEMA: A PELEJA DO CÉREBRO COM O CORAÇÃO - MARCUS LUCENNA - COM GABARITO

 Poema: A Peleja do Cérebro com o Coração

             Marcus Lucenna


O Cérebro e o Coração
Um dia marcaram encontro
E como dois violeiros
Pelejaram num confronto
Pra disputar qual dos dois
Pra vida estava mais pronto

Essa história agora eu conto
Meu leitor sinta e entenda
Com o coração e o cérebro
Pra que você compreenda
Que essa briga é verdadeira
Não é invenção ou lenda

O Cérebro abriu a contenda
Dizendo pro Coração
Eu fiz o homem crescer
Ter lucidez e razão
Graças a mim ele pôde
Dominar a criação

Retrucou o Coração
Cérebro deixe de heresia
A evolução da vida
Antes de ti já existia
Antes de um cérebro pensar
Um coração já batia

Isso de nada valia
Faltava minha influência
A vida era primitiva
Sem matemática ou ciência
Eu cheguei e dei a ela
O poder da consciência

É muita maledicência
Também muita pretensão
Chegar por último e querer
Ser dono da evolução
Cérebro, você só existe,
Por causa do coração

Sou a fonte da razão
Em mim nasce o pensamento
Sou o pai da inteligência
Da criação, do invento,
Dou ao homem lucidez
A competência e o talento

Já eu, sou o sentimento,
Que eleva a sabedoria
Eu tenho cinco sentidos
Trabalhando noite e dia
Pra dotar a existência
De prazer, sonho, magia.

Os neurônios seguem a guia
Das ordens que me apetecem
Glândulas e conexões
Sensoriais me obedecem
Os músculos fazem o que mando
Minhas ordens reconhecem

Os neurônios adoecem
Graças a sua impostura
O pensamento enlouquece
Vem depressão e amargura
A dor que o cérebro causa
É o coração quem cura

Isso é mentira pura
Só vindo do coração
Que é o órgão da frescura
Da fraqueza e da ilusão
Dizer que o cérebro é culpado
Da loucura e depressão

Eu sou o pai da emoção
Da paixão e do amor
Em mim nascem sentimentos,
Esse é meu maior valor
Meu pulsar marca os momentos,
Da vida saiba o senhor

Sou o cérebro pensador
Moro dentro da cabeça
Ponto mais alto do corpo
Pra que ele não se esqueça
Sou eu quem comanda ele
É bom que ele me obedeça

Cérebro, não se aborreça,
Sou a fonte da ternura
Moro no meio do peito
Onde a alma se depura
Nem acima nem abaixo
No equilíbrio da altura

És um músculo sem postura
Disso eu nunca me esqueço
Bomba de bombear sangue
Contigo não me aborreço
É pobre a sua função
Mas tem valor, reconheço.

Sou músculo e não lhe obedeço
Bato à sua revelia
Se eu parar a vida acaba
Cessa a sua serventia
Reconheço o seu valor
Mas tu, não é o meu guia

Mas sou eu quem te alumia
Quando você se apaixona
Fica tonto, perde o rumo
Circo com fogo na lona
Te dou o meu equilíbrio
Se não você desmorona.

Eu trago você à tona
Quando te vejo afundar
Ao imaginar ser Deus
Por ser capaz de criar
Se eu não te desse humildade
Teu ego ia nos matar

Coração vou te falar
Você é digno de pena
E vive dando trabalho
Ao pobre Marcus Lucenna
De tanto cair do galho
Sofre mais que Madalena

Cérebro o Marcus Lucenna
Por mim se tornou poeta
Por você ele seria
Um matemático, um atleta
Fazia tudo certinho
Só andava em linha reta

Coração eu dou a meta
Que o homem deve alcançar
Você com seu romantismo
Só serve pra atrapalhar
Vive no mundo da lua
Só presta para sonhar

És vaidoso sem par
Orgulhoso e prepotente
Tu queres controlar tudo
Vives sempre descontente
És pai de qualquer estudo
Mas és chamado “de mente”

Que trocadilho indecente                                      
Demente és tu coração
Que bates descompassado
Comprometendo a pressão
Ao ficar apaixonado
E sofrer uma traição

Feliz é o coração
Que de amor adoece
O cérebro é tão racional
Que o amor não lhe apetece
Eu tenho a maior razão
A que a razão desconhece

Coração ao que parece
Essa nossa discussão
Nos dá a chance sagrada
Para a valorização
Do trabalho de nós dois
Se for feito em união

Eu te dou de coração
Minha sensibilidade
Se você me emprestar
Sua criatividade
Juntaremos nossas forças
Pro bem da humanidade

Te dou essa qualidade
De ti quero a emoção
Quero a sensibilidade
O sonho, o amor, a paixão
Para o homem ser feliz
Depois da nossa união

Sinto com toda emoção
Que a discussão chega ao fim
Com a gente se entendendo
E se completando enfim
Porque coração e cérebro
Não são Abel e Caim

Você não sente sem mim,
Não penso sem teu bater
Você me entende, eu te entendo
É melhor a gente ser
Dois parceiros que precisam
Um do outro pra viver

Eu não paro de bater
Tu não paras de pensar
Quando eu precisar de ti
Te peço pra me ajudar
Ao precisares de mim
Te dou o que lhe faltar

Meu amigo, o coração
Ao cérebro falou bonito
Razão é muito importante
Com emoção, sem conflito
Um dá suporte pro outro
Sem confronto e nem atrito

Lá no cérebro ecoa um grito
Una-se à lógica a paixão
Com a junção dessas forças
Encontramos emoção
Na vida ao buscar apoio
Na ordem que deu o joio
Ao trigo na evolução.

LUCENNA, Marcus. A peleja do cérebro com o coração. Disponível em: www.ablc.com.br/popups/cordeldavez/cordeldavez036.htm.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 41-5.

Entendendo o poema:

01 – No cordel “A peleja do cérebro com o coração”, o cordelista apresenta a contenda entre dois órgãos do corpo humano: o cérebro, associado à emoção, à sensibilidade e à inconstância. Para dar voz a esses dois órgãos, o autor, como é bastante comum nas pelejas, expõe a situação inicial apresentada nas quatro primeiras estrofes. Escreva no caderno palavras e expressões que podem indicar a voz de um narrador nessas estrofes.

      Na 1ª estrofe, a referência às personagens (coração e cérebro) é feita na terceira pessoa; na 2ª estrofe, a presença do narrador em primeira pessoa (“agora eu conto”); nas estrofes seguintes, o uso do discurso direto, em que fica clara a presença do narrador dando voz às personagens.

02 – A partir da 5ª estrofe, as falas das personagens predominam no cordel e delas surgem os elementos para a disputa. Da 5ª à 9ª estrofe, cérebro e coração comunicam suas virtudes ao leitor/ouvinte.

a)   Destaque dessas estrofes aquelas que, em sua opinião, são as principais virtudes de cada órgão. Copie-as no caderno.

O cérebro diz ser a fonte da razão, ser o pai da inteligência, da criação, do invento; diz também ser o responsável pela lucidez, pela competência e pelo talento do homem. O coração diz ser o sentimento, aquele que eleva a sabedoria, que tem a capacidade, por meio dos cinco sentidos, de dotar vida de magia, de alegria e de prazer.

b)   Em sua opinião, as qualidades associadas ao cérebro e aquelas associadas ao coração podem existir em uma mesma pessoa, ou seja, elas podem ser complementares? Ou, ao contrário, essas qualidades são concorrentes e não podem coexistir? Explique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Elas são complementares, pois o indivíduo necessita tanto da eazão quanto dos sentimentos para viver mais plenamente os potenciais humanos.

03 – Se nas estrofes iniciais o cérebro e o coração destacam principalmente suas virtudes, na 10ª e na 11ª estrofes o tom da discussão muda bastante.

a)   O que as personagens passam a enfatizar na 10ª e na 11ª estrofes?

Os defeitos que cada personagem julga existir na outra. Nessas duas estrofes, o cérebro e o coração se atacam.

b)   Depois da 11ª estrofe, identifique as estrofes em que esse tom de disputa volta a predominar.

Da 15ª à 20ª estrofe.

04 – Quando a disputa entre os dois órgãos fica mais acirrada, além da troca de ofensas, há também a tentativa de provar quem é mais importante, até mesmo para que o outro trabalhe melhor.

a)   Identifique quais são, em sua opinião, os principais argumentos de cada uma das partes.

O cérebro afirma dar equilíbrio ao coração quando este se apaixona; o coração afirma dar humildade ao cérebro para que o ego não o mate.

b)   Indique quais são as ofensas que eles trocam.

O coração diz que o cérebro é vaidoso, orgulhoso, prepotente, quer controlar tudo e está sempre descontente. O cérebro diz que o coração é demente e que bate descompassado por causa de paixão ou de traição, e que isso compromete a sua saúde.

05 – A partir da 21ª estrofe, a discussão entre o cérebro e o coração toma uma direção completamente diferente.

a)   O que acontece, ou seja, o que é proposto e por quem é proposto?

O cérebro propõe que os dois órgão valorizem as qualidades de um e de outro e que, em lugar de discutir, passem a trabalhar em conjunto.

b)   Como reage o oponente a essa proposta?

Imediatamente o coração oferece ao cérebro a sensibilidade em troca do empréstimo da criatividade.

c)   Em sua opinião, há um vencedor nessa disputa?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, mas a proposta da união das qualidades de ambos para o término da briga foi sugerida pelo cérebro, e que isso pode não ter ocorrido à toa.

06 – A relação cérebro/razão e coração/emoção, além da própria separação entre razão e emoção, é cultural, simbólica, não se trata de um fato cientifico. Hoje se sabe que o cérebro é o portador da personalidade do indivíduo e que razão e emoção estão mais ligadas do que se supunha. Essa separação simbólica, entretanto, possibilitou a exploração de diferenças significativas entre os dois órgãos.

a)   Indique como o cordelista explorou no texto a localização do cérebro e a do coração no corpo humano.

O cérebro está na cabeça, o ponto mais alto do corpo, para que este não se esqueça de que é o cérebro que o comanda. O coração está no meio do peito, em um ponto de equilíbrio.

b)   Copie no caderno alguns versos em que o cordelista usa vocabulário cientifico para destacar as diferenças entre os dois órgãos.

“Os neurônios seguem a guia / [...] Glândulas e conexões / Sensoriais me obedecem / Os músculos fazem o que mando [...]”; “És um músculo sem postura / [...] Bomba de bombear sangue”; “Sou músculo e não lhe obedeço / Bato à sua revelia”.

07 – Em filosofia, existe um método de discussão ou raciocínio usado como meio de tentar explicar a realidade. Trata-se do método dialético, que consiste em apresentar uma tese, que é a ideia inicial, e a antítese, que é a oposição a essa ideia. Do embate entre tese e antítese deve emergir a síntese, uma reflexão nova que carrega os elementos da discussão. Em sua opinião, é possível destacar do cordel “A peleja do cérebro com o coração” esses três elementos? Identifique-os, se for o caso.

      É possível destacar desse cordel os três grandes momentos: o momento em que cada órgão destaca sua virtude (a tese); o momento em que eles se atacam ressaltando os defeitos do outro (a antítese); e o momento em que tentam conciliar suas qualidades (a síntese).

 

CRÔNICA: CARTA AO PADRE GERAL - (FRAGMENTO) - JOSÉ DE ANCHIETA - COM GABARITO

 Crônica:  Carta ao Padre Geral – Fragmento        

              José de Anchieta

        Carta ao Padre Geral, de São Vicente, 1° de junho de 1560.

        [...]

        Darei agora conta do que depois sucedeu, e principalmente que recebêssemos grande alegria com as cartas, que agora recebemos, máxime com as de V. Paternidade, nas quais se mostrava o paternal amor e singular cuidado, que tem de nós outros. Porque, além de V. Paternidade não cessar de nos oferecer à Divina Majestade em suas orações, ordenou que todos os nossos irmãos nos encomendem mui particularmente a Nosso Senhor, do que, está claro, nos há de vir muita ajuda e proveito. Porque, como era possível que pudéssemos sofrer tanto tempo, e com tanta alegria, tanta dureza de coração dos Brasis que ensinamos, tão cerrados ouvidos à Palavra Divina, tão fácil renunciantes aos bons costumes, que alguns hão desaprendido, tão pronto relaxo aos costumes e pecados de seus maiores, e finalmente tão pouco e nenhum cuidado de sua própria salvação, se as contínuas orações da Companhia nos não dessem mui grande ajuda?

        Há tão poucas coisas dignas de se escrever, que não sei o que escreva, porque, se espera V. Paternidade que haja muitos dos Brasis convertidos, enganar-se-à a sua esperança, porque os adultos, a querem os maus costumes de seus pais têm convertido em natureza, cerram os ouvidos para não ouvir a palavra de salvação e converter-se ao verdadeiro culto de Deus, não obstante, que continuamente trabalhamos pelos trazer à fé; todavia, quando caem em alguma enfermidade, de que parece morrerão, procuramos de os mover a que queiram receber o batismo, porque então comumente estão mais aparelhados; mas quantos são os que conhece e queiram estimar tão grande benefício? Darei dois ou três exemplos, com que isto se possa entender. 

        Adoeceu um destes catecúmenos em uma aldeia nos arrabaldes de Piratininga e fomos lá para lhe dar algum remédio, principalmente para sua alma: Dizíamos-lhe que olhasse por sua alma, e que deixando os costumes passados, se preparasse para o batismo: Respondeu que o deixássemos sarar primeiro, e esta resposta somente nos dava a tudo o que lhe dizíamos nós outros: declarávamos abreviadamente os artigos da Fé, e os mandamentos de Deus, que muitas vezes de nós outros tinha ouvido, e respondido, como enjoado, que já tinha os ouvidos tapados, sem ouvir ao que lhe dizíamos, em todas as outras cousas fora deste propósito, respondia prontamente, que bem parecia não ter tapados os ouvidos do corpo, e somente os do coração. 

        [...]

ANCHIETA, José de. Carta ao Padre Geral. Cronistas do descobrimento. 4. ed. São Paulo: Ática, 2009. p. 109-110.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 217-8.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Brasil: Neste caso, o termo é uma referência ao indígena brasileiro.

·        Catecúmeno: Aquele que está sendo preparado para receber o batismo.

·        Máxime: Principalmente, especialmente.

·        Padre Geral: Também chamado de Prepósito Geral, é o religioso considerado a principal autoridade entre os jesuítas. Na época da carta de Anchieta, o Prepósito Geral era Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus que foi canonizado em 1622.

02 – O fragmento lido apresenta preocupações de seu narrador que revelam um de seus principais objetivos em terras brasileiras. Que objetivo era esse e que dificuldades são encontradas para alcança-lo?

      Um dos principais objetivos dos jesuítas, como José de Anchieta, era a conversão dos indígenas, os “brasis”, ao cristianismo. No fragmento, Anchieta cita como dificuldade os “maus costumes” dos pais (ou seja, dos ancestrais) dos indígenas adultos, e diz também que estes “cerram os ouvidos para não ouvir a palavra de salvação”.

03 – Considerando o trecho acima, qual parece ser o propósito dessa carta do padre José de Anchieta para seu superior?

      Informar o Padre Geral sobre acontecimentos relativos à catequização: os cuidados com os habitantes do Brasil e as queixas em relação às dificuldades para se conseguir sua conversão religiosa.

04 – Além da data em que foi escrita, que características ajudam a inserir essa carta no conjunto de relatos produzidos no Brasil quinhentista?

      A descrição de eventos do cotidiano dos moradores da nova terra; As tentativas, muitas vezes frustradas, de conversão religiosa dos indígenas no Brasil; O relato objetivo, mas rico em detalhes, sobre os acontecimentos vividos pelos jesuítas.

05 – Qual é a importância desse tipo de relato para a história brasileira?

      Esse relato de Anchieta pode ser visto como um documento histórico que traz registros sobre os habitantes do Brasil no início da colonização.

06 – Quais devem ser os cuidados ao interpretar esses relatos de época? Converse com seus colegas sobre esse assunto.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Esses relatos apresentam uma visão de mundo particular, em que cada um de seus autores mostram sua concepção do mundo considerando os valores das instituições das quais fazem parte e o momento histórico vivido.

 

 

CRÔNICA: TRÊS NATAIS PARA UM HOMEM SÓ - (FRAGMENTO) - JAMIL SNEGE - COM GABARITO

 Crônica: Três Natais para um homem só – Fragmento

             Jamil Snege

        Retiro da gaveta o presente que comprei para o Freitas e coloco no bolso de seu paletó.

        -- Gravata? – ele já rasgou o embrulho e contempla com nostalgia os hieróglifos dourados sobre o fundo azul. – Egípcia?

        -- Italiana. Não gostou?

        -- Eu deveria ter nascido nessa época... – Freitas faz um olhar de pirâmides ao longe. – Ter vivido a.C., entendeu, a.C.! Antes de Cristo?

        -- Exatamente. (Suspira) Não aguento mais esses Natais.

        Cabeça baixa, mão comprimindo a testa, Freitas começa a rodar pela sala. Para de repente:

        -- Quantas mulheres você tem?

        -- Acho que uma só – respondo tolamente.

        -- Pois eu tenho três. Três ex-mulheres, filhos com as três. Três Natais para ir e tenho de ir aos três.

        -- E o que há de tão desagradável nisso? – quero saber.

        -- Você não conhece minhas três ex-sogras...

        -- Horríveis?

        -- Ao contrário. Me adoram. Me obrigam a comer.

        [...]

Jamil Snege. Gazeta do Povo, Paraná, 24/12/2000.

Fonte:  Livro – Coleção ALET – Língua Portuguesa – Kátia P. G. Sanches & Sebastião Andreu – 6ª Série – 1ª edição – São Paulo. Ediouro, 2002 – p. 169-170.

Entendendo a crônica:

01 – De que se trata o referido texto?

      Trata da festa de Natal.

02 – Quem são as personagens?

      O autor e Freitas.

03 – Cite os pronomes pessoais do caso reto e oblíquo que aparecem no texto.

      Os pronomes do caso reto são: “ele” e “eu”. O pronome do caso obliquo é “me”.

04 – A quais pessoas do discurso esses pronomes se referem?

      Os pronomes do caso reto referem-se, respectivamente, à 3ª pessoa e 1ª pessoa, ambas do singular. O pronome do caso oblíquo refere-se à 1ª pessoa do singular.

05 – Qual o pronome de tratamento usado no texto? Ele está adequado à situação e às pessoas envolvidas? Explique.

      É o pronome “Você”, adequado à situação e às pessoas, pois trata-se de uma situação familiar, entre duas pessoas conhecidas.

06 – Retire os pronomes possessivos do texto, identifique a quem se referem e explique qual o sentido deles no texto.

      Os pronomes possessivos “Seu”, que se refere a “paletó”, e “minhas”, que se refere às “sogras”. Ambos indicam posse.

07 – Qual é a frase em que aparece um pronome interrogativo?

      A frase é: “Quantas mulheres você tem?” O pronome interrogativo é “quantas”.

08 – No texto aparecem três pronomes demonstrativos. Explique o uso deles.

      São os pronomes “esses”, referente a Natais; “nessa”, referente à época; “nisso”, referente ao fato de ter de ir a três Natais. Foram usados porque referem-se a um passado próximo.

09 – No primeiro parágrafo, há um pronome relativo. A que palavra ele se refere?

      O pronome relativo “que”, refere-se à palavra “presente”.

10 – No sexto parágrafo, o substantivo próprio pode ser substituído por qual pronome?

      O substantivo “Freitas” poderia ser substituído pelo pronome “ele”.

CRÔNICA: SKETCH. DOIS HOMENS TRAMANDO UM ASSALTO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Sketch. Dois homens tramando um assalto

                Luís Fernando Veríssimo

        -- Valeu, mermão? Tu traz o berro que nóis vamo rendê o caixa bonitinho. Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra arejá.

        -- Podes crê. Servicinho manero. É só entrá e pegá.

        -- Tá com o berro aí?

        -- Tá na mão.

        Aparece o guarda

        -- Ih, sujou. Disfarça, disfarça...

        O guarda passa por eles.

        -- Discordo terminantemente. O imperativo categórico de Hegel chega a Marx diluído pela fenomenologia de Feuerbach.

        -- Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo que dizer que Kierkegaard não passa de um Kant com algumas sílabas a mais. Ou que os iluministas do século 18...

        O guarda se afasta.

        -- O berro, tá recheado?

        -- Tá.

        -- Então vamlá!

VERISSIMO, Luís Fernando. O Estado de S. Paulo, 8 mar. 1998.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 101.

Entendendo a crônica:

01 – Para representar por escrito a variante coloquial, algumas palavras e expressões sofreram alterações a fim de indicar na grafia a sonoridade que apresentam na linguagem oral. Indique exemplos de palavras com reduções nas formas infinitas, ressaltando assim que a última sílaba é a tônica.

      As palavras rendê, arejá, entrá, pegá, tá.

02 – Indique exemplos de gírias referentes à ideia de assalto, crime.

      As palavras chumbo, berro, servicinho.

03 – A crônica, na mudança brusca de variante linguística é motivada por qual razão?

      Pela chegada do policial.

04 – Quais são as marcas linguísticas, ou seja, os termos que comprovam a mudança de variante?

      Os termos terminantemente, imperativo categórico, fenomenologia, iluministas, além dos nomes Hegel, Marx, Feuerbach, Kierkegaard e Kant, referentes a filósofos.

05 – Qual é o grupo que os assaltantes passam a representar no momento em que mudam a variante?

      Um grupo de intelectuais ou de pessoas que discutem filosofia.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE) - MILTON NASCIMENTO/CHICO BUARQUE - COM GABARITO

 Música(Atividades): O Que Será (À Flor da Pele)

                                      Milton Nascimento

O que será que me dá

Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
E nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo.

                   HOLLANDA, Chico Buarque de. Chico Buarque – Letra e música. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 60-2.

Entendendo a música:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Alquimia: a química da Idade Média, que buscava o remédio contra todos os males físicos e morais e a pedra filosofal, que transformaria os metais em ouro.

·        Dissimular: disfarçar.

·      Quebranto: segundo a crendice popular, efeito maléfico que o olhar ou a atitude de uma pessoa produz em outra.

·        Revelia: rebeldia; teimosia.

·        Unguento: medicamento de uso externo à base de gordura.

02 – Diante das sensações que o envolvem, o eu lírico dessa letra fica confuso, surpreso, mas não consegue atribuir nome a seu sentimento. Relacione essa afirmação ao título da canção.

      Mesmo sem o ponto de interrogação, é possível que o título “O que será” seja uma pergunta; o próprio eu lírico desejaria saber o que ele tem. Entre parênteses, portanto, está uma das chaves para a compreensão da letra, “À flor da pele”, indicando que, seja qual for a causa perturbadora, as manifestações seriam sensações físicas.

03 – Releia os versos das linhas 1 a 7 e responda às questões abaixo:

a)   Pode-se afirmar que nesses versos há uma gradação de sentimentos? Explique.

Sim, trata-se de uma gradação. A sensação é percebida primeiro internamente (“por dentro”), depois da pele, no rosto, nos olhos e na fala, ficando, assim, cada vez mais evidente, impossível de disfarçar.

b)   Como se pode descrever o sentimento do eu lírico? Ele controla com facilidade o que sente?

O eu lírico não tem controle sobre o sentimento que o invade, que é praticamente autônomo.

04 – A descrição de sensações feita pelo eu lírico nos versos dados na atividade 3, permite uma hipótese de resposta à pergunta “O que será?”

a)   O que está provocando todas essas sensações no eu lírico seria, aparentemente ............

·        Uma doença contagiosa.

·        Uma paixão amorosa.

·        Um segredo que ele não consegue esconder.

b)   Pensando na resposta dada ao item a, explique com suas palavras os cinco últimos versos da primeira estrofe.

Resposta pessoal do aluno.

05 – A resposta ao item b, da questão 3, pode ser confirmada por versos da segunda estrofe. Quais?

      “Que dá dentro da gente e que não devia / Que desacata a gente, que é revelia.”

06 – Releia os versos 16 a 18. Eles revelam que o sentimento do eu lírico é ........

a)   Contraditório e insaciável.

b)   Carnavalesco.

c)   Insatisfeito e religioso.

07 – Releia os versos 19 e 20. Esses versos da segunda estrofe retomam um da primeira, tornando-o mais concreto. Copie esse verso no caderno.

      “O que não tem remédio, nem nunca terá”.

08 – O verso identificado na atividade anterior permite comparar o estado em que se encontra o eu lírico a uma doença. Copie as palavras da segunda e da terceira estrofe que confirmem essa afirmação.

      Na segunda estofe: doente, unguentos, quebrantos, alquimia, santos. Na terceira estrofe: tremores, agitar, ardores, atiçar, suores, encharcar.

09 – A ideia de que o sentimento do eu lírico é algo que ele não pode controlar, se repete em alguns versos. Copie-os.

      “O que não tem medida, nem nunca terá”, “O que não tem limite”, “O que não tem governo, nem nunca terá”.

10 – Entre as propostas a seguir, apenas uma não serve como recurso para determinar o sentimento do eu lírico. Complete a frase no caderno, fazendo adaptações, conforme necessário.

O sentimento que transforma o eu lírico em “O que será (À flor da pele)”, de Chico Buarque, mesmo sem ser nomeado em nenhum momento, é percebido por meio dos seguintes recursos:

a)   O eu lírico descreve as sensações que um sentimento, que pode ser a paixão, lhe provoca.

b)  Certas ideias importantes para a compreensão do sentido do texto são repetidas de diferentes maneiras ao longo das estrofes.

c)   Empregam-se palavras do campo semântico da doença a fim de expressar as sensações físicas do eu lírico.

d)   Empregam-se palavras relacionadas à suavidade e à doçura para expressar a felicidade do amor correspondido

e)   A ideia da ausência de controle do eu lírico sobre suas sensações é reiterada.