terça-feira, 11 de dezembro de 2018

TEXTO: PORQUE NO CÉU HÁ TANTAS ESTRELAS? LEONARDO BOFF - COM GABARITO

Texto: Por que no céu há tantas estrelas?
         Leonardo Boff


     Esse índio Karajá amava a natureza e mais que tudo os animais e os pássaros, com os quais falava, usando a linguagem deles.
        Certa manhã, olhando um bando de papagaios que voava bem alto, se deu conta que o firmamento estava vazio. Nenhum astro o embelezava. 
         O clarão do dia, especialmente sob a canícula, tornava o céu cinzento.
        -- Por que o céu é assim tão vazio? – perguntou o Karajá aos pássaros que estavam na árvore próxima. Mas eles fingiram que não entenderam sua pergunta, embora a voz lhes fosse tão familiar. O índio, com voz forte e quase lancinante, perguntou de novo:
        -- Por que o céu é assim tão vazio? – respondam-me, por favor!
        A raposa antecipou-se e disse, em tom quase de acusação:
        -- Foi o urubu-rei, rei das alturas, que roubou as estrelas para enfeitar o penacho em sua cabeça e torná-lo assim ainda mais resplendente.
        Ao ouvir isto, o índio Karajá decidiu tirar a limpo a questão com o urubu-rei. Tomou suas armas e procurou o refúgio onde ele se aninhava. Ao vê-lo aproximar-se, disse logo o urubu-rei:
        -- Você é quem veio desafiar-me? Você não conhece, pequeno homem, a força de minhas garras e de meu bico. Em poucos minutos, posso abrir suas veias e deixá-lo em pedaços.
        O Karajá, que sempre mostrara coragem e que, no fundo, amava os animais, deixou cair as armas. E avançou sobre o urubu-rei. Houve uma luta longa e sanguinolenta. Se o urubu-rei tinha força, o Karajá tinha habilidade para evitar os cortes profundos das garras e das bicadas potentes. Depois de longa luta, rolando pelo chão entre penas e gritos, ambos estavam extenuados. Até que o Karajá conseguiu imobilizar o urubu-rei, prendendo-lhe as pernas e segurando-lhe, fechado, o bico.
        - Se quiser recuperar a liberdade – disse, triunfante, o Karajá – entregue a luz que escondeu em seu penacho na cabeça e nas plumas do corpo. O criador colocou as estrelas no firmamento para embelezar a noite e não para alimentar a sua vaidade.
        Mas o rei das alturas, que detinha também o segredo da eterna juventude, não quis saber de renunciar às luzes que tornavam sua plumagem tão fascinante. De que valeria ser eternamente jovem se continuasse sem atrativos e feio?
        Cansado de esperar uma decisão do urubu-rei, o Karajá começou a tirar as penas de sua cabeça. Cada pena que lançava no ar se transformava numa estrela do firmamento.
        Arrancou depois um chumaço e o lançou ao alto e irromperam os astros que os Karajá chamam de “olhos espantados do peru” – Alfa e Beta do Centauro. Com outro chumaço, os “sete papagaios” – as Plêiades. 
        Com outro ainda, os “olhos dos homens” – Alfa e Beta do Cruzeiro do Sul. Por fim, quando arrancou mais um monte de penas e o lançou ao céu, apareceu “o caminho das estrelas” – a Via-Láctea.
        Mas as penas mais brilhantes permaneciam ainda na cabeça do urubu-rei. Quando o Karajá conseguiu tirá-las e lançá-las ao alto, o céu se encheu de um brilho terno e doce. Era a lua cheia. Logo depois se acendeu um grande tição de fogo, que iluminou todo o céu e esquentou os dias. Nascia o sol.
        Mas, considerando aquele grande esplendor, o índio Karajá disse de si para consigo:
        -- Bom seria se o sol, por respeito ao brilho tênue das estrelas e à timidez da lua, se escondesse um pouco.
        O sol ouviu este sussurro do Karajá e lhe atendeu o desejo. Por isso, à noite ele se esconde. Assim, as estrelas podem mostrar a beleza de seu brilho e a lua revelar a suavidade de sua luz.
        O urubu-rei, com a chegada da noite, aproveitou para fugir. Agora não ostentava mais, como nos tempos remotos, um penacho brilhante e um pescoço luzidio. Sua cabeça parecia uma casca de laranja cortada e seu pescoço um ramo seco.
        Mas ao fugir, gritou, em tom de deboche, ao karajá:
        -- Você me tirou as penas, mas conservo ainda o segredo da eterna juventude.
        E para fazer raiva ao índio, pronunciou o segredo com voz, sussurrante, imaginando que ninguém estivesse por perto para ouvi-lo. Ocorre que o Karajá não ouviu direito, mas os pássaros e as árvores ouviram as frases principais.
        Por isso, eles aprenderam a conservar, até os dias de hoje, o segredo da perene juventude: de tempos em tempos, as aves do céu sempre renovam suas penas e as plantas, suas folhas.
        E o índio Karajá continua sendo lembrado quando a tribo, à noite, se reúne ao redor do fogo, para ouvir os antigos contarem as estórias do céu e da terra, do sol e da lua, das estrelas e do firmamento. E olham, deslumbrados, para a grandiosidade majestática do céu estrelado. E quando o fogo se apaga, eles se calam reverentes. E um a um se recolhem, calmamente, carregando o céu estrelado dentro de seu coração. Deitam-se nas redes e dormem com grande serenidade.
   Adaptado de: BOFF, Leonardo. O casamento entre o céu e a terra.
 Rio de Janeiro: Salamandra, 2001. p. 15-7.
Entendendo o texto:
01 – Preencha o quadro a seguir com os elementos da narrativa.

Personagens: O índio Karajá, o urubu-rei, a raposa e os outros animais.

Local em que ocorrem os fatos principais: A mata onde vivia o índio Karajá.

Quando ocorrem os fatos principais: No dia do combate final entre o índio Karajá e o urubu-rei.

Tipo de narrador: Narrador observador.

02 – Qual o grande desejo de Karajá?
      Seu desejo era ver o Sol, a Lua e as estrelas no céu.

03 – Quais das características do índio Karajá, listadas abaixo, ajudaram-no a derrotar o urubu-rei?
Coragem – Rapidez – Juventude – Esperteza – Egoísmo – Medo.
      Coragem; rapidez e esperteza.

04 – Para atingir seu objetivo, o Karajá agiu sozinho ou teve ajuda de alguém?
      O Karajá teve ajuda da raposa, que lhe contou que o urubu-rei roubara as estrelas para enfeitar o penacho em sua cabeça.

05 – Complete o trecho abaixo baseando-se no combate entre o Karajá e o urubu-rei:
a)   O índio Karajá decidiu tirar a limpo a história do vazio firmamento. Tomou suas armas e procurou o refúgio onde o urubu-rei se aninhava.

b)   Mas o urubu-rei, desafiador, disse-lhe que em poucos minutos podia abrir as veias do Karajá e deixa-lo em pedaços.

c)   O Karajá, que sempre mostrara coragem e que, no fundo, amava os animais, deixou cair as armas e avançou sobre o urubu-rei.

d)   O urubu-rei tinha força, mas Karajá tinha habilidade para evitar os cortes profundos das garras e das bicadas potentes do adversário.

e)   Depois de longa luta, o Karajá conseguiu imobilizar o urubu-rei, prendendo-lhe as pernas e segurando-lhe, fechando, o bico.

06 – Depois de imobilizar o urubu-rei, o que o Karajá fez?
      Começou a arrancar-lhe as penas, jogando-as no firmamento para que se transformassem em astros outra vez.

07 – Numere os fatos abaixo, colocando-os na mesma sequência em que aparecem na narrativa:
(6) As penas mais brilhantes ainda permaneciam na cabeça do urubu-rei.
(3) O urubu-rei perguntou a Karajá se ele tinha vindo desafiá-lo.
(5) Cansado de esperar uma decisão do urubu-rei, o Karajá começou a tirar as penas de sua cabeça.
(4) O Karajá disse ao urubu-rei que ele devia entregar a luz que escondeu em seu penacho na cabeça e nas plumas do corpo.
(2) O índio Karajá decidiu tirar a limpo a questão com o urubu-rei.
(7) Para fazer raiva ao índio, o urubu-rei pronunciou seu grande segredo com voz sussurrante.
(1) Karajá se deu conta de que o firmamento estava vazio.

08 – O desfecho da história é de sucesso ou de fracasso? Explique sua resposta.
      O desfecho é de sucesso, porque o Karajá conseguiu devolver os astros ao firmamento, de onde tinham sido tirados pelo urubu-rei.




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