segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

SONETO: ENQUANTO QUIS FORTUNA QUE TIVESSE - LUIZ VAZ DE CAMÕES - COM GABARITO


Soneto: ENQUANTO QUIS FORTUNA QUE TIVESSE
                                     Luiz Vaz de Camões


Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co tormento,
Pera que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.
                              Luís de Camões. Lírica Completa – II Lisboa: IN-CM, 1994. p. 12

Entendendo o poema:
01 – De que fala o soneto?
      Faz uma reflexão sobre os efeitos avassaladores do Amor.

02 – Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades são contrapostas por exercerem um poder sobre o eu lírico. Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exercem sobre a experiência amorosa do eu lírico.
      As divindades são Fortuna e Amor. Tais entes modulam a apreensão amorosa no poema. Por um lado, enquanto Fortuna permitiu, o eu lírico pôde ter “esperança de algum contentamento”. Por outro lado, Amor “escureceu-me o engenho com tormento”. Dessa forma, essas alusões mitológicas geram o conflito entre forças opostas no qual o eu lírico está imerso.

03 – Um soneto é uma composição poética composta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos encerram o núcleo temático ou a ideia principal do poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos versos desse soneto de Camões, levando-se em consideração o conjunto do poema?
      A ideia contida nos dois últimos versos é a de experiência comum entre eu lírico e o leitor, já que, depois de o leitor experimentar o amor, ele poderia compreender melhor os conflitos amorosos do eu lírico.

04 – Nos sonetos de Camões, inclusive no soneto apresentado acima, é frequente que substantivos que, em circunstâncias normais da língua, são reconhecidos como substantivos comuns apareçam nos poemas como substantivos próprios. No soneto acima, as palavras “Fortuna” e “Amor” aparecem como substantivos próprios, e esse fato é importante para a interpretação do texto. Assinale a alternativa correta, que leva esse fato em consideração:
a)   A “Fortuna” e o “Amor” são representados como força que agem desde fora do sujeito, influindo-lhe atitudes contraditórias e limitando o domínio total de sua própria liberdade individual.
b)   A “Fortuna” e o “Amor” são representados como personagens de ficção, participando da ação dramática de modo dinâmico por meio de falas entre si.
c)   No poema de Camões, apesar de “Fortuna” e “Amor” aparecerem como substantivos próprios, isso não tem nenhuma consequência drástica para a interpretação do texto. Ao escrever substantivos como iniciais maiúsculas, o objetivo do autor é apenas realçar sua importância na economia do texto.
d)   No poema de Camões, a “Fortune” e o “Amor” são representados como estados psicológicos do eu lírico, que se sucedem no desenrolar do poema para lhe incutir sentimentos diferentes diante da mesma experiência.

05 – Podemos dizer que o poema põe em evidência:
a)   Apenas o amor a as armadilhas que este cria para o sujeito.
b)   Somente a inocência daqueles que amam cegamente.
c)   Principalmente a ausência de amor, que faz com que não se compreenda o que o poeta diz.
d)   A arte literária que estabelece um vínculo entre o escritor e o leitor por meio das experiências de ambos.
e)   A ambiguidade da mulher que, representada pelo Amor, é vista como um ser que engana.

06 – Descreva a Fortuna na 1ª estrofe.
      Ela é destino ou entidade mística e espera que o poeta escreva os efeitos dela: a “esperança de algum contentamento” e “o gosto de um suave pensamento”.

07 – Já na 2ª estrofe, o que a voz poética introduz?
      Outra entidade mística: o Amor.

08 – O Amor busca impedir o eu lírico de quê?
      De advertir aqueles que não amam, sobre os perigos desse sentimento.

09 – De que forma é mostrada a força do Amor nas 3ª e 4ª estrofes?
      Do Amor que submete os amantes a seu domínio. E quando os amantes lerem sobre casos de amor, entenderão os versos do eu poemático de acordo com o tipo de amor a que estão submetidos.
                    


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