quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

CRÔNICA: MILA - CARLOS HEITOR CONY - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Mila           

              Carlos Heitor Cony

      Era pouco maior do que minha mão: por isso eu precisei das duas para segurá-la, 13 anos atrás. E, como eu não tinha muito jeito, encostei-a ao peito para que ela não caísse, simples apoio nessa primeira vez. Gostei desse calor e acredito que ela também. Dias depois, quando abriu os olhinhos, olhou-me fundamente: escolheu-me para dono. Pior: me aceitou.
  Foram 13 anos de chamego e encanto. Dormimos muitas noites juntos, a patinha dela em cima do meu ombro. Tinha medo de vento. O que fazer contra o vento?
        Amá-la — foi a resposta e também acredito que ela entendeu isso. Formamos, ela e eu, uma dupla dinâmica contra as ciladas que se armam. E também contra aqueles que não aceitam os que se amam. Quando meu pai morreu, ela se chegou, solidária, encostou sua cabeça em meus joelhos, não exigiu a minha festa, não queria disputar espaço, ser maior do que a minha tristeza.
        Tendo-a ao meu lado, eu perdi o medo do mundo e do vento. E ela teve uma ninhada de nove filhotes, escolhi uma de suas filhinhas e nossa dupla ficou mais dupla porque passamos a ser três. E passeávamos pela Lagoa, com a idade ela adquiriu "fumos fidalgos'; como o Dom Casmurro, de Machado de Assis. Era uma lady, uma rainha de Sabá numa liteira inundada de sol e transportada por súditos imaginários.
        No sábado, olhando-me nos olhos, com seus olhinhos cor de mel, bonita como nunca, mais que amada de todas, deixou que eu a beijasse chorando. Talvez ela tenha compreendido. Bem maior do que minha mão, bem maior do que o meu peito, levei-a até o fim.
        Eu me considerava um profissional decente. Até semana passada, houvesse o que houvesse, procurava cumprir o dever dentro de minhas limitações. Não foi possível chegar ao gabinete onde, quietinha, deitada a meus pés, esperava que eu acabasse a crônica para ficar com ela.
        Até o último momento, olhou para mim, me escolhendo e me aceitando. Levei-a, em meus braços, apoiada em meu peito. Apertei-a com força, sabendo que ela seria maior do que a saudade.


Entendendo a crônica:
01 – Nesse texto, o cronista revela o enorme sentimento de amor entre ele e seu cão, do momento da adoção até o dia em que o levou para o sacrifício. 

a) Que trecho do texto revela o primeiro e o último contato entre o cronista e seu cão? 
      Era pouco maior do que minha mão: por isso eu precisei das duas para segurá-la, 13 anos atrás. E, como eu não tinha muito jeito, encostei-a ao peito para que ela não caísse, simples apoio nessa primeira vez. Gostei desse calor e acredito que ela também. Dias depois, quando abriu os olhinhos, olhou-me fundamente: escolheu-me para dono. Pior: me aceitou.
     
b) Você já viveu ou vivencia experiência semelhante?
      NÃO. Resposta pessoal do aluno.

02 – Com que propósito, na sua opinião, o cronista publicou essa história em um jornal? 
      Para mostrar que essa história era bonita e interessante.

03 – É comum a ideia de que são as pessoas que escolhem os seus animais de estimação. Segundo o cronista, no momento da adoção foi Mila que o escolheu como dono.
a) Por que você acha que o cronista inverteu essa ideia? 
      Porque talvez no momento que Mila seria adotada ela deve ter feito algo que mostrasse ao personagem que ela tinha gostado dele.

b) Em que outro momento o cronista confirma essa ideia?
      No momento que Mila chegou nos joelhos do personagem... como se estivesse dando consolo para o dono.

04 – Leia os versos a seguir. A partir da ideia ou imagem que transmitem, estabeleça uma associação com alguma situação narrada na crônica de Cony. 

Observação: para cada estrofe faça uma associação com a situação do texto, isto é, terá três associações. 

a) "A estrela cadente
     me caiu
    ainda quente
    na palma da mão.
       [...]"
                     (Paulo Leminski)
      O momento em que o personagem pega Mila nas mãos.

b) "O vento está dormindo na calçada,
      O vento enovelou-se como um cão...
      Dorme, ruazinha... Não há nada..."

                                              (Mário Quintana)
      Quando ele sentia medo do vento.

c) "Aquilo que ontem cantava
      já não canta.
     Morreu de uma flor na boca:
    Não do espinho na garganta."

                                        (Cecília Meirelles)
      Quando Mila morreu.

05 – Localize, na crônica, expressões que caracterizam:
a)   O narrador como carinhoso e amigo.
O momento em que ele a beija chorando e quando ele a leva para seus braços e lhe dá um abraço forte.

b)   Mila como pequena e carinhosa. 
Na primeira vez em que ela a pega nas mãos e no dia em que ela o olha nos olhos e o aceita.



5 comentários:

  1. Umas das crônicas mais lindas de Heitor Cony, quem gosta de seus verdadeiros amigos chora.

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  2. porque a funcao metalinguistica de linguagem

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  3. Quantos parágrafos há no texto?quantas frases? E de que se trata cada um dos parágrafos?

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  4. Muito bom né ajudou em uma prova OBRIGADOOOOOOOOO MUITOOOOOOOOOO MESMOOOOOOOOO❤❤❤❤❤❤❤❤❤

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