quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

POEMA: ADORMECIDA - CASTRO ALVES - COM GABARITO

Poema: Adormecida
            
                 Castro Alves

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberta o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, um pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,

Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
“Virgem! – tu és a flor da minha vida!...”

                                     Castro Alves, Espumas Flutuantes.

Entendendo o poema:
01 – Em relação ao poema “Adormecida”, explique de que modo se dá a identificação entre sujeito e natureza, comum no Romantismo.
      Ele se apaixonava no lugar da flor.

02 – O poema descreve uma cena presenciada pelo eu lírico: sua amada adormecida em uma rede. Como a jovem é caracterizada?
      Ela está recostada “molemente” na rede, tem o roupão aberto, o cabelo solto e os pés descalços roçam o tapete.

03 – Essa caraterização sugere uma imagem de mulher mais sensual, diferente daquela apresentada pelos poetas da segunda geração romântica. Justifique, exemplificando suas afirmações com expressões do texto.
      As referências ao roupão “quase aberto”, aos cabelos soltos e aos pés descalços sugerem a sensualidade dessa mulher. Além disso, o uso da expressão “molemente” para caracterizar a maneira languidez que também denota sensualidade.

04 – Além da moça, outra “personagem” aparece: o jasmineiro. Que papel ele desempenha?
      O jasmineiro age como um amante que, sorrateiramente, afaga a jovem, beija sua face e depois se afasta quando ela tenta beijá-lo. Quando parece que a jovem vai se irritar com suas ações, o jasmineiro derrama-lhe uma “chuva de pétalas no seio”.

05 – Transcreva as expressões que indicam a personificação desse elemento da natureza.
      As expressões usadas para qualificar os galhos: “indiscretos”; “trêmulos”; “alegre”.
      Os verbos que se referem às suas ações: “beija-la”; “fugia”; “brincava”; “chegava”; “afastava-se”.
      E a comparação da planta a uma criança cândida: “Dir-se-ia [...] / Brincavam duas cândidas crianças...”.

06 – A personificação do jasmineiro e as reações da jovem aos seus “beijos” contribuem para reforçar a sensualidade da cena. Explique por quê?
      Toda a descrição que faz o eu lírico da cena sugere uma espécie de dança amorosa entre a jovem e a natureza, repleta de sensualidade. Os estremecimentos da moça a cada “afago” do jasmineiro, suas tentativas de retribuir os “beijos” e a chuva de pétalas sobre o seu seio reforçam esse clima sensual.

07 – Releia:
        “Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
        “Virgem! – tu és a flor da minha vida! ...”.
De que maneira, nesses versos, o eu lírico estabelece uma relação de identificação entre a mulher e a natureza?
      No primeiro verso transcrito, o eu lírico chama o jasmineiro de “flor”, caracterizando-o como a “virgem das campinas”.
      No seguinte, dirige-se a sua amada usando a expressão “virgem” e a define como a flor de sua vida. A natureza e a jovem são denominados pelas mesmas expressões, promovendo-se, dessa forma, a identificação entre elas.


6 comentários: