Texto: Muito
prazer
Valéria Piassa Polizzi
Já devia ter começado a escrever há
algum tempo mas, como escrever sobre a vida da gente não é nada fácil, vivo
adiando. Ainda hoje me ligaram a Priscila e o Cristiano, e os dois me cobraram:
-- Já começou a escrever o livro?
Não. E já teria desistido se na semana
passada não tivesse ido na Sylvia e, por coincidência ou sei lá o quê, ela
tivesse dado a mesma ideia: escrever. Eu disse que já havia pensado naquilo, só
que achava muita responsabilidade.
-- Não escrever também é – ela
respondeu. E isto não saiu da minha cabeça a semana inteira.
Para começar, deixe me apresentar. Meu
nome é Valéria, tenho 23 anos, altura média, magra, morena, cabelos pretos e
lisos. Neta de italianos, filha de pais separados, pertencente à classe média
alta. Como você pode ver, uma pessoa comum, ou pelo menos é assim que eu
gostaria de ser vista. E tenho certeza de que assim todos me veriam, não fosse
um pequeno detalhe: sou HIV positivo. Sabe o que isso significa? É isso aí,
tenho o vírus da Aids. Assustou? Não me diga que teve vontade de largar este
livro e ir correndo desinfetar as mãos, com medo de ser contaminado. Tudo bem,
não precisa entrar em pânico, não é assim que se pega. Pode até ler de novo:
A-I-D-S, Aids! Viu? Não aconteceu nada. Ainda que eu estivesse aí do seu lado,
você pegasse na minha mão, me desse um beijo e um abraço e me dissesse “muito
prazer”, eu responderia “o prazer foi todo meu”, e isso não lhe causaria dano
algum.
Podemos continuar? Então, continuemos.
Você deve estar se perguntando agora como foi que isto aconteceu e aposto que
deve estar pensando que eu sou promíscua, uso drogas e, se fosse homem, era
gay. Lamento informar que não é nada disso e, mesmo que fosse, não viria ao
caso. Mas acontece que eu era virgem, nunca tinha usado drogas e obviamente não
sou gay. O que aconteceu então? É simples, transei sem camisinha.
POLIZZI, Valéria Piassa. Depois
daquela viagem: diário de bordo de uma jovem que aprendeu a viver com Aids. 18.
ed. Sâo Paulo: Ática, 2001. p. 7-8.
Entendendo o texto:
01 – Antes da leitura, você
levantou hipóteses sobre o possível conteúdo do texto. As suposições de você se
confirmaram após a leitura? Explique.
Resposta pessoal
do aluno.
02 – Quem conta essa
história? Como você sabe?
A autora do texto
está contando sua própria história; ela usa sempre a 1ª pessoa; já devia ter
começado a escrever, vivo adiando, ainda hoje me ligaram, me cobraram, etc.
03 – Qual é o assunto do
texto?
Ela começa
expressando a hesitação em escrever sua história, apresenta-se e diz o motivo
que a levou a tomar a decisão de escrever o livro: ser HIV positivo.
04 – Releia este trecho:
“Você
deve estar se perguntando agora como foi que isto aconteceu e aposto que deve
estar pensando que eu sou promíscua, uso drogas e, se fosse homem, era gay.”
a)
Em sua opinião, por que a autora já pressupõe
o que o leitor deve estar pensando?
Devido ao preconceito existente na década de 1990, e ainda hoje, de
que somente pessoas promíscuas (prostitutas, travestis, etc.) drogadas e
homossexuais se contaminavam com o vírus da Aids.
b)
Você já conviveu ou conhece alguém que tenha
convivido com um soropositivo para o vírus HIV? Fale com os colegas sobre esta
experiência.
Resposta pessoal do aluno.
c)
Você sabe quais são as formas de
contaminar-se com o vírus da Aids?
Resposta pessoal do aluno.
d)
O que leva uma pessoa a omitir que é
portadora de determinas doenças?
Sugestões: não saber que é portador, ficar revoltado e querer passar
para frente, vergonha de assumir a doença, etc.
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