terça-feira, 18 de dezembro de 2018

CONTO: A TORRE - PAULINE ALPHEN - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: A TORRE      

     Pauline Alphen

        Um dia entre os dias, numa manhã de sol e vento, investigando o labiríntico harém, a odalisquinha descobriu uma porta que nunca tinha visto. A porta era velha e reclamou quando Leila fez força para entrar. Lá dentro, o escuro era frio e o silêncio medonho. Ao ouvir passos se aproximando, Leila fechou a porta e saiu dali como quem não quer nada.
        No dia seguinte, numa tarde de vento e sol, quando até as escravas cochilavam enquanto espantavam as moscas da mulherada adormecida, ela voltou com um xale para o frio e, para o escuro, uma lamparina a óleo digna de confiança – isto é, cheia de óleo e não de gênio peludo. Para o medo, ela escolheu uma de suas canções preferidas e foi cantarolando enquanto subia os degraus, pois a porta dava diretamente numa escada, uma escada em caracol que não parava de subir. Leila já tinha cantado a música 33 vezes quando viu uma luz no fim da escada. Outra porta, pequena e oval. Leila encostou a mão. A porta era de uma madeira quentinha e não deu um pio quando a menina a empurrou.
        O pequeno aposento era uma concha, um ninho, uma caverna. Parecia pequeno, mas era infinito, parecia novo e muito antigo. As paredes, o teto e o chão eram de madeira trabalhada, muitas madeiras de várias cores, encaixadas umas nas outras, formando desenhos que mais tarde Leila soube serem os desenhos do mundo como ele é.
        As paredes côncavas estavam cobertas de livros e pergaminhos, desenhos, pincéis e tintas, mapas-múndi, objetos estranhos e instrumentos que ela logo reconheceu, porque eram os mesmos que seu pai usava quando namorava as estrelas. Tudo isso banhava numa luz, ora doce, ora forte, ora dourada, ora transparente, segundo o humor do dia e a forma das janelas e vitrais encravados entre as estantes. O quarto flutuava num permanente sussurro aquático que lhe dava ares de navio.
        Atrás de Leila a porta fechou-se devagar. A menina suspirou profundamente: aquele lugar provocava muitos sentimentos embolados dentro dela. Evocava um mar quentinho e escuro de um tempo antes da memória. Lembrou-lhe seu pai, com sua cabeça no lugar, fingindo não perceber que ela se escondia entre as mangas de suas largas vestes de astrônomo para tirar uma casquinha de seu namoro com as estrelas. E lembrou-lhe também lembranças futuras, que por serem futuras não podem ser descritas no tempo de agora.
        A pequena odalisca dirigiu-se para a janela maior, coroada de hera, onde os pássaros minúsculos, cujas asas batiam mais rápido que o coração de Leila, tinham feito seus ninhos. A janela abriu-se sozinha e Leila viu. Viu que o harém era um emaranhado de jardins, fontes, árvores, frutos, pássaros, mulheres, aconchegado no abraço dos muros do palácio. Que o palácio era protegido pelas muralhas da cidade onde cantavam mil minaretes e cujas cúpulas cintilavam sob o sol.
        Que a cidade estava num país azul de montanhas e lagos. E que, em toda parte, circundava o deserto, o móvel, absoluto, enigmático e ventoso deserto. E lá, no mais longe dos longes, Leila viu o verde mar com pontinhos dourados que são as cócegas que faz o sol brincando nele. Pela ogiva da janela da torre, Leila viu o mundo e, surpresa, adormeceu ao som fluido da luz do poente.
 ALPHEN, Pauline. A odalisca e o elefante. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.

Entendendo o conto:
01 – Quando decidiu investigar o castelo onde era prisioneira, Leila deparou com uma porta que nunca tinha visto:
a)   O que havia do lado de lá dessa porta?
Um “escuro frio” e um “silêncio medonho”.

b)   Leila entrou por essa porta, depois de a abrir? Por quê?
Não, porque ouviu passos se aproximando.

02 – No dia seguinte, Leila retorna à exploração do castelo munida de algumas “armas”. Qual a finalidade de cada uma delas? Responda completando o esquema baixo:
ARMA                                     FINALIDADE
Xale                                        Combater o frio.
Lamparina cheia de óleo      Combater a escuridão.
Canção                                  Combater o medo provocado pelo
                                                   Silêncio.

03 – Releia a frase:
        “[...] Leila já tinha cantado a música 33 vezes quando viu uma luz no fim da escada. [...]”
Assinale com X a alternativa que você julga correta em relação a essa frase. O narrador quis mostrar que:
(   ) Leila gostava muito da canção que tinha escolhido para cantar enquanto subia a escada.
(X) Leila estava com muito medo.
(   ) Leila ficou enjoada de tanto cantar a mesma canção.

04 – O pequeno aposento em que Leila chegou é descrito como se fosse um lugar que causava em quem o via impressões diferentes e contraditórias. Assinale o trecho que pode ser usado para comprovar tal afirmação:
(   ) “As paredes côncavas estavam cobertas de livros e pergaminhos. [...]”.
(X) “[...] Parecia pequeno, mas era infinito, parecia novo e muito antigo. [...]”
(   ) “As paredes, o teto e o chão eram de madeira trabalhada. [...]”.

05 – No texto, há inúmeros trechos que descrevem lugares. Relacione cada um dos trechos a seguir ao sentido privilegiado pelo narrador para descrever como são esses lugares.
1 – visão.                        2 – audição.                3 – tato.
a)   “[...] A porta era de uma madeira quentinha 1 – 3 e não deu um pio 2 quando a menina a empurrou.
b)   “[...] As paredes, o teto e o chão eram de madeira trabalhada, muitas madeiras de várias cores 1 [...]”.

06 – Assinale as alternativas que completam corretamente o trecho a seguir:
        “Dentro do pequeno aposento, Leila...”
(X) Recordou-se de seu pai, pois ali havia os mesmos aparelhos que ele usava para estudar o céu.
(X) Sentiu-se navegando no mar, uma vez que o local parecia flutuar.
(   ) Ficou encantada com a sensação de paz do local.

07 – Ao olhar pela janela da torre, qual a descoberta de Leila? O que ela viu que tanto a impressionou?
      Leila ficou impressionada porque descobriu o mundo.

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