sábado, 9 de agosto de 2025

REPORTAGEM: É FREVO! - FRAGMENTO - FELIPE OLIVEIRA - COM GABARITO

 Reportagem: É frevo! – Fragmento

        Ele tem cerca de 100 anos de idade, é natural do Recife e faz qualquer um se mexer. Agora, no Carnaval, queima montes de calorias. Tem gente dizendo que pode até virar a primeira dança clássica brasileira

        Quando alguém fala em dança, música ou Carnaval brasileiro, todo mundo pensa logo no samba. Mas o frevo, nascido em Pernambuco, mais precisamente no Recife, não só é igualmente brasileiro como também explode no Carnaval. A grande diferença é que, ao contrário do samba, não se espalhou pelo país.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJUlXZJpDIRoMWkd5mxTanIOuIp3CkyTJ1r_DVT-bEqsBT7w2jIr3TbzkixFF0qYN2rdLoWvpIAHke11lKwfRDnHXNEOPb9kAneTZ1H97mbV-BHWkyt9MskbTYV4KkpVE-ZZSpws15C-ib05mF3XdEwPocvW_sNirgtLtT1IH-loZAhgp6OcASlPfxD_E/s320/9c655bc5-e08d-4a90-8ba0-d288a6b02c1e.jpeg


        Claro que brasileiros de todos os cantos reconhecem o ritmo quando o ouvem. Afinal, cantores conhecidos, como Caetano Veloso ou Moraes Moreira, já gravaram frevos que ficaram famosos nacionalmente. Muitos também são capazes de identificar – ainda que para alguns seja impossível botar em prática – os passos que acompanham esse tipo de música. Mas tocar, cantar e dançar frevo é coisa de pernambucano. Uma pena, na opinião do músico e bailarino também de Pernambuco Antônio Nóbrega, que defende a possibilidade de se usar o frevo como base para o desenvolvimento de uma dança clássica genuinamente brasileira. Algo para ser ensinado nas academias, ao lado do conhecido clássico europeu e do jazz. [...]

        Saltos e piruetas

        Mas por que o papel de gerar esse produto artístico nacional não poderia ser do samba? “Porque o samba não é uma dança”, justifica Nóbrega. “É basicamente um passo, ao qual podem ser acrescidos adornos.” Opiniões à parte, o certo é que a coreografia do frevo não padece dessa carência. São cerca de 120 passos diferentes. Muitos tão acrobáticos quanto aquelas piruetas nas quais o russo Mikhail Baryshnikov é craque. Segundo o compositor erudito brasileiro César Guerra Peixe (1914-1994), trata-se de um gênero único, pois o dançarino dança a orquestração. Por isso mesmo, para compor um frevo é preciso conhecer os papéis dos vários instrumentos numa orquestra, principalmente os dos metais.

        As primeiras composições, não por acaso, foram de mestres de bandas, como José Lourenço da Silva, o Zuzinha. É que o frevo nasceu da competição entre bandas marciais (veja o quadro ao lado). Cada uma com seu grupo de capoeiras, leões-de-chácara cheios de ginga, à frente, elas foram moldando as marchas militares à cadência da luta-dança, dando origem à nova música. “O nascimento do frevo não tem data específica”, avisa o historiador Leonardo Dantas Silva, da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. “Ele foi nascendo aos poucos, resultado de uma sincronização entre música e dança.”

        Levado para o Rio, não empolgou

        Por volta de 1880 começaram a surgir as primeiras sociedades carnavalescas do Recife. Eram os chamados “clubes pedestres”. Compostos por populares, eles se apresentavam assim mesmo: a pé. A aristocracia ficava nos clubes fechados. Quando os capoeiras eram reprimidos à frente das bandas marciais [...], se refugiavam nos desfiles dessas agremiações e passavam a defender seus estandartes.

        As orquestras desses clubes tocavam polca, maxixe, tango, marchas. E também foram influenciadas pelos passos da capoeira. Quando nasceu, em 1889, é provável que o Clube Vassourinhas já tocasse o frevo. Depois o gênero evoluiu, adquirindo uma personalidade ainda mais marcante. Quem ouvia essa música nova tentava encontrar paralelos. Em visita a Recife, em 1942, o cineasta americano Orson Welles teria chegado a acha-la parecida com a italiana tarantela. Especialistas negam a semelhança.

        Difícil de identificar, o frevo era também duro de imitar. Bem que se tentou, várias vezes, levá-lo para o Rio, mas não deu certo. “Frevo não é espetáculo, que nem as escolas de samba, mas participação do povo”, explicou o estudioso Valdemar de Oliveira no livro Frevo, Capoeira e Passo. “Se não há povo participante em quantidade e, sobretudo, em qualidade, que lhe dê corpo e alma, desfilará um ajuntamento de virtuose, ou pseudo-virtuose, não frevo”.

        Malabarismo na rua não é pra qualquer um

        Se é importante conhecer bem música para compor o frevo, parece ser necessário ainda algo mais para tocá-lo bem. Valdemar de Oliveira reclama que só quando a Federação Carnavalesca Pernambucana resolveu mandar o maestro Zuzinha ao Rio, para ensaiar as bandas cariocas encarregadas de gravar as composições premiadas no Carnaval, os resultados ficaram melhores. Antes, as notas vinham corretas, ele conta, mas o andamento era errado e o ritmo, frouxo.

        Talvez haja um pouco de bairrismo na avaliação. Mais aberto, Francisco Nascimento da Silva, 60 anos, o Nascimento do Passo, resolveu até abrir uma escola em Recife para ensinar a dança a turistas ou mesmo a moradores mais duros de cintura. “Em um mês qualquer um pode se tornar um bom dançarino”, exagera. Talvez a generosidade venha do fato de que ele não é pernambucano. Veio, menino, do Amazonas. Cá para nós, um mês de aulas deve dar apenas para passar o Carnaval sem vexame, arriscando uns vinte dos 120 passos conhecidos.

        [...].

Felipe Oliveira. É frevo! Revista Superinteressante, n° 113, fev. 1997. Disponível em: http://super.abril.com.br/historia/frevo-436886.shtml. Acesso em: 22 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 118-119.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal diferença apontada entre o frevo e o samba?

      A principal diferença é a popularização. O samba se espalhou por todo o país e é universalmente associado ao Carnaval brasileiro. Já o frevo, embora seja reconhecido por brasileiros, não se espalhou tanto e é predominantemente uma manifestação cultural de Pernambuco. Outra distinção é que o frevo, com seus cerca de 120 passos, é considerado uma dança, enquanto o samba é definido na reportagem como um passo básico, ao qual podem ser acrescentados adornos.

02 – Quem é Antônio Nóbrega e qual é a sua proposta para o frevo?

      Antônio Nóbrega é um músico e bailarino pernambucano. Ele defende a ideia de que o frevo poderia se tornar a base para o desenvolvimento de uma dança clássica genuinamente brasileira, sendo ensinado em academias de dança ao lado do balé europeu e do jazz.

03 – Por que, segundo César Guerra Peixe, o frevo é considerado um gênero único?

      Segundo o compositor erudito, o frevo é único porque o dançarino "dança a orquestração". Isso significa que a dança não é apenas um acompanhamento da música, mas uma interpretação física da complexidade musical. Por isso, para compor um frevo, é preciso ter um conhecimento aprofundado dos instrumentos de uma orquestra, especialmente os de metal.

04 – Como o frevo nasceu, de acordo com o historiador Leonardo Dantas Silva?

      O frevo nasceu da competição entre bandas marciais. Essas bandas, que tinham grupos de capoeiristas à frente, foram moldando as marchas militares à cadência da capoeira (uma luta-dança), resultando em uma nova música. O historiador explica que o frevo não tem uma data de nascimento específica, mas foi o resultado de uma "sincronização entre música e dança" que aconteceu gradualmente.

05 – Qual a razão, segundo o estudioso Valdemar de Oliveira, para o frevo não ter se popularizado no Rio de Janeiro?

      Valdemar de Oliveira explica que o frevo não é um espetáculo como as escolas de samba, mas uma "participação do povo". Ele defende que a essência do frevo está na participação espontânea de um grande número de pessoas com qualidade e alma. Sem essa participação popular em massa, o frevo perde sua essência e se torna apenas um "ajuntamento de virtuose" (pessoas talentosas), mas não o frevo de verdade.

06 – Que dificuldades foram relatadas em relação à execução musical do frevo fora de Pernambuco?

      A reportagem menciona que, quando as bandas cariocas tentaram gravar composições de frevo, os resultados não foram satisfatórios. Embora as notas estivessem corretas, o andamento era errado e o ritmo, "frouxo". Somente quando um maestro pernambucano foi enviado ao Rio para ensiná-los os resultados melhoraram, indicando a necessidade de uma sensibilidade cultural e rítmica específica para tocar o frevo corretamente.

07 – Quem é Nascimento do Passo e qual sua visão sobre o aprendizado da dança?

      Nascimento do Passo, um dançarino de 60 anos que veio do Amazonas, é o dono de uma escola de frevo no Recife. Ele é descrito como "mais aberto" do que outros e acredita que qualquer pessoa pode se tornar um bom dançarino em apenas um mês de aulas. Embora a reportagem considere essa afirmação um exagero, ela mostra a visão generosa de alguém que busca democratizar a dança.

 

 

FÁBULA: A CIGARRA E A FORMIGA - LA FONTAINE - COM GABARITO

 Fábula: A cigarra e a formiga

            La Fontaine

        Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVetm3Jyu861L_t9Esp6HaEhSosnyocog5g-yUnHCOL72aB_DLa0ggqtgc7l3g-d3vIJ0IhUkSm0PWd99OlAt8u56aapfUgEDld0Ce0r4OIJDzarDlgHbKD-_51OMe_ZOnPYzWctqUbxdt4mAE8mTCtDQxtkdHMMtdwOE-wZYn6eZh46QSbn1ZWBus3L8/s320/La-cigale-et-la-fourmi.jpg

        -- Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para se aproveitar! O verão é para se divertir!

        -- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno.

        Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque e quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer.

        Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha.

        A cigarra então aconselhou:

        -- Deixa esse trabalho para as outras! Vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar!

        A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga.

        Mas, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa.

        A rainha das formigas falou então para a cigarra:

        -- Se não mudar de vida, no inverno você há de se arrepender, cigarra! Vai passar fome e frio.

        A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou:

        -- Hum!! O inverno ainda está longe, querida!

        Para a cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo!

        Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga.

        Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio.

        Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa.

        Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse à cigarra:

        -- No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós.

        Para a cigarra e para as formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas.

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=563. Acesso em: 20 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 82-83.

Entendendo a fábula:

01 – Qual era a principal diferença entre a forma de viver da cigarra e da formiga?

      A cigarra vivia o presente, aproveitando o verão para cantar e se divertir, sem se preocupar com o futuro. A formiga, por outro lado, era trabalhadora e previdente, focando em guardar comida durante o verão para se preparar para a escassez do inverno.

02 – O que a cigarra tentou fazer quando encontrou a formiga?

      Ela tentou convencer a formiga a parar de trabalhar e aproveitar o verão, cantando e dançando com ela. A cigarra não entendia a necessidade de tanto esforço, vendo o trabalho como uma "perda de tempo".

03 – Qual foi a reação da rainha das formigas ao ver a cigarra e a formiga se divertindo?

      A rainha olhou feio para a formiguinha que estava se divertindo e ordenou que ela voltasse imediatamente ao trabalho. Ela também repreendeu a cigarra, alertando que ela se arrependeria no inverno.

04 – O que aconteceu com a cigarra quando o inverno chegou?

      Ela começou a passar frio e fome, pois não havia se preparado. Desesperada, ela bateu na casa da formiga em busca de ajuda.

05 – Qual foi a atitude da formiga e de sua rainha quando a cigarra pediu ajuda?

      A formiga abriu a porta, acolheu a cigarra, deu-lhe agasalho e uma sopa quente. A rainha, por sua vez, ofereceu à cigarra a chance de ficar no formigueiro, mas com uma condição: que ela trabalhasse, tocando e cantando para todas as formigas.

06 – Qual é a lição principal ou "moral" desta versão da fábula?

      Ao contrário da versão tradicional, onde a cigarra é deixada de lado, esta fábula ensina sobre a importância da cooperação e do valor de diferentes talentos. O trabalho da formiga (provisão) e o da cigarra (arte e alegria) se complementam, tornando a vida de todos mais feliz. A moral é que cada um tem seu papel, e todos podem contribuir.

07 – De que forma a solução encontrada pela rainha das formigas representa uma nova perspectiva sobre o trabalho e o lazer?

      A rainha reconheceu que a cigarra tinha um talento que as formigas não tinham: a música. Em vez de puni-la por não ter trabalhado como as outras, ela encontrou uma forma de a cigarra contribuir com a comunidade de acordo com sua habilidade natural, transformando a música (que era vista como lazer) em uma forma de trabalho que enriqueceu a vida de todos no formigueiro.

 

CRÔNICA: ALÉM DO POSSÍVEL - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Crônica: Além do possível

              Ferreira Gullar

        Coisa fácil é julgar os outros e difícil é compreendê-los. Já afirmei, aqui, que quem admite a complexidade da realidade não pode ser radical nem sectário, pela simples razão de que, se os problemas são complexos, não serão resolvidos de uma penada. Alias, toda vez que se tenta fazê-lo, o desastre é inevitável. Mas a tendência mais comum é acreditar nas soluções milagrosas, mesmo porque aceitar que as coisas são complicadas custa muito, a não ser se se trata de nós mesmos. Claro, quando alguém nos acusa de ter agido mal, nossa resposta é sempre que não deu pra fazer melhor. “As coisas são complicadas”, a gente argumenta. E são mesmo, mas para os outros também.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgrN-1FZnXiXRai23fdTszZuI8cMijpWOoQREPvnHih5DG6bes92ZnpEE73ij-4_HZf5c7-hTbpwx1kZ53hPU6_fQ2p5XNEUDVsG91x3Uy2424fA3VsFHn3Y6TqiHdqhqFSZTxXnR7z6Mca-22v2MbTIBxWioe4sKqnMmdTQzgqi40W1tW-Haq0vVFl3w/s1600/images.jpg


        Essas considerações vêm a propósito de uma conversa que tive com uma amiga muito querida, que vive sonhando. Devo esclarecer que nasci sob o signo de Virgo e sou, portanto, segundo a discutível astrologia, um tipo da terra, que vive pesando e medindo tudo, sem tirar os pés do chão. Tanto isso é verdade que muito raramente escrevo poesia, uma vez que a poesia nos obriga a voar. Essa é a razão por que, quando me perguntam se eu sou o poeta Ferreira Gullar, eu respondo: “Às vezes”. Dá então para entender a dificuldade que tenho de discutir certas coisas com uma pessoa do signo de Balança, por exemplo. Essa minha amiga é de Balança, isto é, não só hesita, sobe e desce, como flutua o tempo todo. E por isso, apesar do carinho que nos une, frequentemente nos desentendemos.

        -- Mas você não vê que isso é loucura, menina?

        -- Loucura? Só porque desejo ir pro deserto de Atacama catar múmia?

        -- Não sabia que você virou arqueóloga!

        -- E precisa ser arqueóloga pra ir catar múmia em Atacama?

        -- Precisa, sim. Mesmo porque aquilo deve ser um campo arqueológico, supervisionado pelo governo chileno. Não pode qualquer pessoa chegar lá e começar a cavucar.

        -- Você é um chato, ouviu! É por isso que não suporto os virginianos!

        -- Você não suporta é a realidade, meu amor!

        Pedi a conta e saímos amuados do restaurante. Ao chegar em casa, refleti.

        -- Que diabo tenho eu que ficar botando areia no sonho dos outros?

        E, como bom virginiano, aleguei que só falara aquilo temendo que ela entrasse numa fria, se tocasse para o deserto de Atacama e desse com os burros n’água.

        No dia seguinte, liguei para ela e me desculpei, expliquei-lhe que minha intenção era apenas alertá-la.

        -- E você pensa que eu sou maluca? Acha que eu ia mesmo me tocar para Atacama semana que vem?

        -- Temia que...

        -- O que você não entende é que tenho necessidade de sonhar, de imaginar coisas maravilhosas. Se as levarei à prática ou não, é secundário. Às vezes levo, como a viagem que fiz ao Himalaia e a outra, a Machu Picchu. Sei muito bem que fazer é mais difícil que sonhar, e por isso mesmo é que eu sonho.

        Caí em mim. Lembrei-me de uma coisa que sei e de que às vezes me esqueço: a vida não é só o possível. Sem o impossível, não se vai muito além da próxima esquina.

Ferreira Gullar. Além do possível. Em: Ferreira Gullar: crônicas para jovens. São Paulo: Global, 2011. p. 108-109 (Coleção Crônicas para jovens).

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 80-81.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal diferença de personalidade e visão de mundo entre o narrador e sua amiga, segundo o texto?

      O narrador, um virginiano, é pragmático e realista, "pesando e medindo tudo" e mantendo os "pés no chão". Ele foca no que é possível e concreto. Sua amiga, uma libriana, é sonhadora e flutuante. Ela tem a necessidade de imaginar coisas e idealizar, mesmo que não as realize de fato. Essa diferença de temperamentos é a causa de seus desentendimentos.

02 – Por que o narrador se identifica como poeta "às vezes"?

      Ele afirma que nasceu sob o signo de Virgem e se considera um tipo da terra, o que contrasta com a natureza da poesia, que exige "voar", ou seja, imaginar e sair da realidade concreta. Por isso, ele se vê como poeta apenas em momentos específicos, quando consegue se desprender de seu lado racional e pragmático para criar.

03 – Qual o motivo do desentendimento entre o narrador e sua amiga durante a conversa no restaurante?

      A amiga, sonhadora, expressa o desejo de ir ao deserto de Atacama catar múmias, uma ideia que o narrador considera "loucura" e irrealista. Ele, com sua visão pragmática, aponta as dificuldades práticas (a necessidade de ser arqueólogo, a supervisão governamental, etc.), enquanto ela enxerga a ideia como um simples sonho.

04 – Após a discussão, qual foi a reflexão do narrador?

      Depois de se desentender com a amiga, o narrador reflete sobre sua atitude e se questiona: "Que diabo tenho eu que ficar botando areia no sonho dos outros?". Ele percebe que sua tentativa de ser realista e alertá-la sobre os perigos foi, na verdade, uma intromissão desnecessária em algo que era apenas um sonho.

05 – Qual a principal lição que o narrador aprende com a amiga no final da crônica?

      A amiga explica que a necessidade de sonhar é essencial, e que a realização ou não do sonho é algo secundário. A partir disso, o narrador compreende que a vida não se resume apenas ao "possível" e que sem o "impossível" — ou seja, sem a capacidade de sonhar e idealizar — a vida se torna limitada e sem grandes avanços.

06 – Como a crônica "Além do Possível" trata a ideia de julgamento e compreensão?

      O texto começa afirmando que "coisa fácil é julgar os outros e difícil é compreendê-los". O narrador, ao longo da narrativa, exemplifica essa ideia. Inicialmente, ele julga o sonho da amiga como loucura, sem tentar entender a sua real importância para ela. Ao final, ele a compreende e se desculpa, percebendo que sua visão pragmática o impediu de enxergar o valor do "impossível".

07 – Qual o significado da última frase da crônica: "a vida não é só o possível. Sem o impossível, não se vai muito além da próxima esquina"?

      Essa frase sintetiza o aprendizado do narrador. Ela significa que a realidade concreta e pragmática (o possível) é apenas uma parte da vida. Para que haja progresso, inovação e até mesmo um sentido maior, é preciso sonhar, ter aspirações e idealizar (o impossível). Ficar preso apenas ao que é viável impede a pessoa de ir longe, de se aventurar e de transcender a rotina.

 

CRÔNICA: RUÍDOS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: RUÍDOS

             Luís Fernando Veríssimo

        A única linguagem verdadeiramente internacional é a linguagem do corpo. Não, não os gestos: os ruídos. A tosse, o espirro, o pum, o trombone de sovaco, você os conhece. Também é a única linguagem autêntica. Talvez por isso mesmo haja tanta preocupação em disfarçá-la, e desencorajar o seu uso em público. Desde pequenos aprendemos a reprimir, na medida do possível, as manifestações naturais do nosso corpo, e a nos sentirmos embaraçados quando não dá para controlar e o corpo se faz ouvir claramente, causando espanto e mal-estar. Ao mesmo tempo, aprendemos a nos expressar com palavras e frases – ou seja, a linguagem da dissimulação, da mentira e, ela sim, da ofensa – que, por mais bem pensadas e articuladas que sejam, não tem a honestidade de um bom arroto.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmt_1Jkwf9WlWu1N8clUca1eBBhxQMyI_qA_UmOJZ8Zt6kL_MSMfEOjiAAlzilqmYeOcOb0BW_t4iwb5RCU3bwJeXHdwoD8Drj2w9T0nUtCdhI0sOBRkYkROVUuwZQP1dK45fo3fARXvnwj4UbdTuZByCTN4kQRpXkggiDHrPp6DrmZ6iQWQvkzcQZ1rA/s320/Sinais-e-ruidos-e1717186397125.jpg


        Valorizamos a hipocrisia, condenamos a autenticidade. E o que é mais civilizado, a palavra, que discrimina e exclui, ou o ronco da barriga, que é igual para todos e que aproxima as pessoas, além de descontrair o ambiente? Uns podem ser mais ou menos espalhafatosos, mas todos os homens espirram da mesma maneira. Os puns também são iguais – respeitadas as variações de entonação, inflexão e duração –, independentemente de raça, cor, classe ou credo religioso. E ninguém tosse com sotaque, ou com mais correção gramatical do que seu vizinho.

        E sustento a tese de que, para conferências de paz ou qualquer negociação internacional, os países deveriam mandar os "mal-educados", no bom sentido. Pessoas que estabelecessem, de saída, sua humanidade comum, fazendo os ruídos que todos os homens e todas as mulheres (menos) fazem, em qualquer lugar do mundo. A primeira meia hora dos encontros poderia ser só de troca de ruídos do corpo, para criar o clima. Depois, o entendimento viria naturalmente. Mas não, quem é que mandam para essas reuniões? Diplomatas. Logo diplomatas, educadíssimos, incapazes de chuparem um dente na frente de quem quer que seja!

        Não admira que ainda exista tanta discórdia no mundo.

Luís Fernando Veríssimo. O Mundo é Bárbaro: e o que nós temos a ver com isso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p. 87-88.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 78.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o autor, qual é a única linguagem verdadeiramente internacional e autêntica?

A – A linguagem escrita, pois supera barreiras de sotaque e pronúncia.

B – A linguagem verbal, pois permite expressar pensamentos complexos.

C – A linguagem dos gestos, pois é compreendida globalmente.

D – Os ruídos do corpo, como a tosse e o espirro.

02 – Qual é a principal crítica do autor em relação à educação social?

A – Ela não ensina as pessoas a se expressarem bem com palavras.

B – Ela valoriza a hipocrisia e condena a autenticidade dos ruídos do corpo.

C – Ela não considera a importância dos gestos em público.

D – Ela não prepara as pessoas para reuniões internacionais.

03 – A que o autor se refere quando fala em 'linguagem da dissimulação'?

A – Às palavras e frases, que podem ser usadas para mentir e ofender.

B – Ao sotaque e à correção gramatical na fala.

C – Aos ruídos do corpo que as pessoas tentam esconder.

D – À linguagem corporal não intencional.

04 – Qual é a proposta inusitada do autor para as conferências de paz?

A – Que os diplomatas sejam substituídos por pessoas 'mal-educadas' para criar um clima de humanidade comum.

B – Que os encontros comecem com uma discussão sobre os ruídos que mais aproximam as pessoas.

C – Que todas as reuniões sejam feitas sem o uso de palavras, apenas com ruídos.

D – Que diplomatas sejam ensinados a fazer os ruídos do corpo para se comunicarem melhor.

05 – Por que o autor argumenta que 'não admira que ainda exista tanta discórdia no mundo'?

A – Porque as pessoas valorizam a linguagem verbal em detrimento da linguagem autêntica dos ruídos corporais.

B – Porque os ruídos do corpo nem sempre são iguais para todos.

C – Porque as pessoas são incapazes de se comunicar de forma clara.

D – Porque os diplomatas são as pessoas mais educadas do mundo.

 

 

 

 

CRÔNICA: GENTE BOA - MAITÊ PROENÇA - COM GABARITO

 Crônica: Gente boa

              Maitê Proença

        Li outro dia um artigo sobre monges budistas, freiras de clausura e essa gente toda que medita com frequência. Estudos provam que eles têm mais desenvolvida a parte do cérebro que percebe o aspecto luminoso das coisas. Enxergam mínimas virtudes, têm mais com paixão e sabem amar com desprendimento.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxWvouuPwYTcVwE7V9rAVyXnfyoBBTyBef7OB_jq2LX204Q_EBuaKxrA9VJL5nFNsO2PT6Gih-FL9kTj65D-_mzxHfwLBdPfscihNYRuv8vdfAUZpDDDl5-DjUzFcaJx6_y3HT6xx-0Ll0w8XihzPDo4CvRfEE2HG88mhh-Xy4IBTYzQRKT6Hzj6b0r0Q/s320/79192016-conjunto-de-pessoas-de-religi%C3%A3o-cole%C3%A7%C3%A3o-de-personagens-diferentes-monge-budista-sacerdotes.jpg

        Há sete anos passei um mês em Myanmar, a antiga Birmânia, e lembro-me de sentir nitidamente que aquela gente era melhor que eu. Havia harmonia e benevolência na expressão das pessoas. Não penso que fosse a visão superficial de quem enxerga os encantos do exotismo. Lá eu acordava predisposta para o bem e não porque seja de fato boa, mas porque era o que se esperava de mim. Ninguém na rua imaginava que eu pudesse dar um golpezinho, enganar ou pensar algo negativo enquanto sorria gentilmente. A delicadeza estava por toda parte apontando para o que há de mais puro na gente, contagiando com qualidades altruístas. Enquanto estive com aquela gente, umas belezas emboloradas foram brotando feito susto de dentro de meus egoísmos. Não havia, na época, o hábito da televisão a qualquer hora, sequer existia TV por satélite, e a cultura mantinha-se, assim, preservada dos costumes ocidentais. Não vi uma pessoa vestindo calça jeans, nem eu mesma, que rapidamente aprendi a amarrar panos na cintura pra fazer saia igual à das moças de lá — se amarrar diferente vira saia de homem. A única infiltração de hábito ocidental que se percebe é um pouco de cinema e, mesmo assim, os filmes são quase sempre indianos. Quem chega ali vindo de um mundo onde tudo se consegue pela força fica perplexo diante de meninos e meninas que escolhem passar às vezes três anos de sua adolescência burilando o espírito em monastérios budistas, no preparo para a vida adulta. Saem sabendo tudo de abnegação, de generosidade, da importância do silêncio, do não julgamento… Sabem pouco ou nada de sexo, drogas e rock’n’roll. E conseguem viver sem isso, rindo! Não falarei do sistema político e suas violências, contradições há por toda parte, e não se contrapõem ao relato que faço aqui. Também não pretendo fazer o relato sentimental da pureza de um povo simples e isolado do mundo, mas é que a virtude precisa mesmo de exercício para manter-se espontânea, e aquele povo, sei lá por que, parece achar essa prática importante.

        Também não compreendo por que as pessoas mais simples tendem a ser melhores. Por que os jogadores de futebol, por exemplo, compram casa pra mãe, pra tia e pra família inteira, enquanto os “bem de berço”, se fazem fortunas, tratam logo de brigar com qualquer infeliz que possa um dia vir tirar uma lasquinha.

        Tenho consciência de que um dia fui melhor que hoje — quando era mais simples. A vida foi se sofisticando, me deixando esperta e mais apta pro jogo social. Tive ganhos com isso, mas perdi algo de genuíno que me diferenciava. Fui perdendo, no corre-corre do “fiz faço aconteço”, o que me aproximava de uma experiência particular e única — e melhor, eu acho. Felizmente, nada é irreversível e não preciso ir morar em Myanmar pra resgatar minhas virtudes distantes. Posso fazer isso do meu apartamento em Copacabana, já que nada é mais poderoso que a firmeza de uma intenção.

        Mas aí… cadê a firmeza?

Maitê Proença. Entre ossos e a escrita. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 95-96.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 66.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual foi a principal percepção da autora durante sua estadia em Myanmar?

A – Ela ficou frustrada com a falta de modernidade e de entretenimento como televisão e cinema.

B – Ela percebeu que as pessoas eram melhores que ela e que ela mesma se sentia predisposta ao bem.

C – Ela sentiu que a cultura ocidental era superior e que o povo de lá era muito atrasado.

D – Ela se sentiu isolada e solitária, pois não conseguia se comunicar com os habitantes locais.

02 – A autora compara a generosidade de monges e freiras com qual característica das pessoas simples em geral?

A – A capacidade de se afastar do mundo ocidental para ter virtudes.

B – A tendência de serem melhores e a espontaneidade da virtude em suas vidas.

C – A tendência a viverem em monastérios budistas.

D – A habilidade de meditar para desenvolver o cérebro.

03 – Qual é a principal razão pela qual a autora acredita que os habitantes de Myanmar mantêm suas virtudes?

A – O isolamento do país devido a um sistema político violento.

B – A exposição constante à cultura ocidental através da televisão e internet.

C – A forte influência do cinema indiano.

D – A prática constante da virtude, que se torna espontânea.

04 – A autora faz uma distinção entre jogadores de futebol e pessoas 'bem de berço' com fortunas. Qual é essa diferença?

A – Ambos os grupos tendem a brigar para proteger suas fortunas.

B – Jogadores de futebol compram casa para a família, enquanto os 'bem de berço' evitam dividir a fortuna.

C – Os 'bem de berço' são mais simples e generosos, enquanto os jogadores de futebol são mais espertos e egoístas.

D – Jogadores de futebol tendem a gastar seu dinheiro consigo mesmos, enquanto os 'bem de berço' ajudam a família.

05 – No final da crônica, qual é a principal reflexão da autora sobre o resgate de suas virtudes?

A – Ela decide que precisa se mudar para um local mais simples, como Myanmar, para se tornar uma pessoa melhor novamente.

B – Ela conclui que é impossível recuperar suas virtudes perdidas devido ao 'jogo social'.

C – Ela acha que suas virtudes se perderam para sempre no corre-corre da vida e não há como recuperá-las.

D – Ela acredita que a firmeza de uma intenção é o mais poderoso, mas questiona se ela tem essa firmeza.

 

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): DESAFINADO - TOM JOBIM - COM GABARITO

 Música (Atividades): Desafinado

            Tom Jobim

Quando eu vou cantar, você não deixa
E sempre vêm a mesma queixa
Diz que eu desafino, que eu não sei cantar
Você é tão bonita
Mas tanta beleza também pode se acabar

Fonte:  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqaWaA6Ghv5zYfhyphenhyphenkg6cVwxp1uZ8zr3tXb4aRRbZL7HnuofEDFXNfRlUC8ggqoquHngRcCYVxvTczxZYJ0-AhsGazy9RhyphenhyphenrzR9sHg-1zdGilT8PB2nBUxxvnX5lFhVOkAqATGr_8d3PErcajp8_5RYMxcLnbamgFWPMqpMSOFemP6YIufuSeSFId7FLto/s320/maxresdefault.jpg


Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isto em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural

O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolleiflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão

Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados

também bate um coração.

Composição: Newton Mendonça / Tom Jobim.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 32.

Entendendo a música:

01 – Qual é a principal queixa que a parceira do cantor tem sobre ele, de acordo com o início da música?

A – Ele desafina e não sabe cantar.

B – Ele canta muito alto, causando incômodo.

C – Ele não consegue compor novas músicas.

D – Ele canta músicas de outro estilo musical.

02 – Como o cantor justifica o seu estilo de cantar, após ser classificado como 'anti-musical'?

A – Ele diz que é o jeito dele, pois 'possuo apenas o que Deus me deu'.

B – Ele afirma que o gosto musical de sua parceira é ultrapassado.

C – Ele propõe que eles cantem juntos para verem a diferença.

D – Ele argumenta que 'isto é Bossa Nova, isto é muito natural'.

03 – O que o cantor usa para 'fotografar' a parceira, revelando a sua ingratidão?

A – Uma câmera Rolleiflex.

B – Uma máquina Polaroid.

C – A imagem foi capturada em sua memória, não com uma câmera.

D – Uma câmera digital.

04 – O que os 'desafinados' também têm, de acordo com a música?

A – Um coração, no peito.

B – Uma habilidade musical secreta.

C – Uma paixão por música popular.

D – Uma voz que precisa de correção.

05 – Qual é a única coisa sobre a qual a parceira 'não poderá falar assim', segundo o cantor?

A – O seu amor por ela.

B – O seu ouvido, que ele diz ser o que 'Deus me deu'.

C – Seu estilo de cantar, pois é o que ele sabe fazer.

D – A sua enorme ingratidão.

 

 

REPORTAGEM: O ENSINO MÉDIO E SEUS CAMINHOS - FRAGMENTO - FILIPE JAHN - COM GABARITO

 Reportagem: O ensino médio e seus caminhos – Fragmento

        Programas governamentais miram a integração entre a educação profissional e o ensino médio tradicional e a flexibilização do currículo, com a introdução de disciplinas optativas para que alunos possam construir seu percurso de aprendizado

        Por Filipe Jahn – Publicado em 10/09/2011

        Um dos principais dilemas da educação contemporânea é aquele que gira em torno da permanência dos alunos do ciclo médio nos bancos escolares. Atraídos pelo número de estímulos e pela velocidade da sociedade, a escola lhes parece enfadonha. No entanto, muito do que lhes parece fora de propósito nessa fase – experiências, relações, conhecimentos – só irá adquirir sentido ao longo do tempo. Muitas vezes acaba por não fazer, por diversos motivos, entre eles o abandono da escola.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCH0faaHBjlKpabmTlLjRNrhLyedoq6ZtZ3iQ_u3EHhd0bvIr0wuSh1jAf-kPhvyFZcsoUzNiOpZlYr11UdVMYNXrT75SP2Dn7eHoNaSYoIsioU7fHS57Y_redQr6uiobgTiW18qqq_kthYtR71hBVV4YUZtnLEWzYKEfvsd5_huoblgPWCthFN9_Mpdo/s320/918.jpg


        Todo esse clima de desinteresse dos adolescentes pela vida escolar tem gerado muitas reflexões mundo afora sobre os possíveis caminhos de fazer com que o ensino médio seja vivido e percebido como significativo. Nessa perspectiva, o desafio dos sistemas de ensino nos últimos anos envolve a capacidade de organizar um programa curricular que consiga, ao mesmo tempo, formar os jovens para continuar os estudos no ensino superior e prepará-los para o mercado de trabalho. [...].

        No Brasil, o cenário segue roteiro parecido. As novas proposições do governo federal para o ensino médio têm o objetivo de elevar o índice de conclusão do ensino médio regular para o patamar de países mais desenvolvidos. [...]

        [...]

        Para aumentar esses índices de conclusão, o MEC aposta na ampliação da educação profissional, ainda pouco expressiva no Brasil. No âmbito do ensino secundário, ela responde por apenas 14% das matrículas, contra 77% da Áustria, 58% da Alemanha, 44% da França, 42% da China e 37% do Chile.

        Realidade brasileira

        Para melhorar o cenário, o governo federal aposta, desde 2004, em propostas que apontem para um programa curricular mais flexível. Uma das principais medidas foi a possibilidade de integrar ensino regular e a educação profissional, sacramentada pelo decreto 5.154/04. Dessa maneira, instituições privadas e públicas oferecem as aulas regulares em um turno e cursos que preparem para o mercado de trabalho em outro, sob uma mesma matrícula.

        Esse é o caso de Matheus Escobar, aluno do 2º ano da Escola Técnica Estadual (Etec) Jorge Street, em São Paulo. Durante a tarde, ele cursa as disciplinas do ensino formal tradicional; de manhã, tem aulas de desenho técnico mecânico, automação industrial e eletrônica digital, entre outras.

        Aos 16 anos, Matheus resolveu fazer o ensino médio integrado porque, na sua opinião, esse caminho lhe dará mais chances de seguir os estudos no ensino superior. “Quero ir o mais rápido possível para a universidade. Se tiver de ser uma particular, com a mecatrônica tenho chances de arrumar um bom trabalho para conseguir pagá-la”, diz, referindo-se à formação técnica que está cursando, umas das 83 oferecidas no ensino técnico paulista.

        Os números comprovam a tese do estudante. Uma pesquisa conduzida pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada em 2010, apontou que a chance de arrumar emprego para jovens que cursam alguma modalidade de educação profissional é 48% maior. A possibilidade de carteira assinada também cresce 38%. Para chegar a esses índices a pesquisa relacionou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007 e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) dos oito anos anteriores.

        [...]

        Novo modelo

        Outra proposta implantada em caráter experimental é o Ensino Médio Inovador (EMI). Lançado no ano passado, tem entre as suas principais ações o aumento da carga horária letiva anual de 800 para mil horas e a destinação de 20% dessa carga à oferta, pela escola ou por parceiros, de disciplinas eletivas.

        Nesse modelo, o currículo passa a valorizar a interdisciplinaridade e deve ser organizado em torno de quatro eixos: trabalho, tecnologia, ciência e cultura. Também é previsto o incentivo à contratação de professores com dedicação exclusiva e o estímulo às atividades de produção artística e de aulas teórico-práticas em laboratórios.

        O EMI funciona atualmente em escolas de 18 estados que resolveram aderir a ele e recebem apoio técnico e financeiro da União. Segundo dados da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), os recursos totais somam R$ 33 milhões e atingem 296 mil estudantes em 357 escolas.

        Atualmente a SEB reformula o programa e uma nova versão está prevista para maio. Uma das medidas sendo planejadas é articulá-lo com outro programa do ministério, o Mais Educação, que oferece suporte financeiro diretamente às escolas para passarem a ofertar atividades optativas. Elas são agrupadas em macrocampos como esporte e lazer, cultura e artes, cultura digital, educomunicação e educação econômica.

        Na opinião de Maria Sylvia Simões, professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, as ideias do Ensino Médio Inovador representam um avanço na educação brasileira. Por outro lado, lembra a professora, a consolidação do projeto no país inteiro esbarra em um ponto bastante complicado: o MEC e os governos estaduais precisam estar em sintonia. Mas alguns estados já sinalizaram que não deverão aderir. “Se não há vontade política de quem tem o poder de decisão, fica difícil implantar”, comenta Maria Sylvia Simões. Outro problema é o custo do modelo, bem superior ao do ensino médio tradicional.

        O $ da questão

        Esse descompasso entre os entes federativos também está refletido na educação profissional. De acordo com o Censo Escolar 2010, nas escolas da rede federal, o ensino técnico integrado representa a maior parte das matrículas da área, com 46% (76 mil alunos entre 165 mil). Agora, considerando toda a educação profissional, ele cai para último, com 18,9% (215 mil em um universo de 1,14 milhão).

        Entretanto, além de questões políticas, as propostas do governo federal para o ensino médio também enfrentam dificuldades para emplacar nacionalmente por causa de seu custo, difícil de ser assumido pelos estados. Álvaro Chrispino, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), explica que, no caso do ensino integrado, o custo de laboratórios e equipamentos é alto e essa forma de articulação também exige capacitar os docentes das duas áreas. “A maioria dos estados só consegue ofertar em quantidade se houver contrapartida da federação.”

        [...]

        A contratação de docentes é outra questão. Maria Sylvia Simões afirma que o sucesso do Ensino Médio Inovador e do ensino integrado significará crescimento da demanda. Assim, as secretarias de Educação precisarão abrir novos concursos e aumentar a carga horária de quem já é da rede. “Só que aí tem de ver quem consegue financiar isso e, ao mesmo tempo, oferecer um salário decente”, pontua.

        [...]

        Quem se beneficia

        Outra discrepância que as propostas do MEC não solucionam é a qualidade das instituições e redes em um sistema que privilegia o mérito do aluno. Como mostra o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) observado em 2009, a média do segundo grau nas redes estaduais brasileiras é 3,4, mas a diferença entre os entes pode chegar a mais de um ponto.

        [...]

        Álvaro Chrispino, docente do Cefet/RJ, diz que, se não houver igualdade de condições entre as escolas, as vagas daquelas que tiverem sucesso com a implantação dos projetos do MEC serão cada vez mais concorridas. Com o tempo, elas podem acabar utilizando mecanismos de seleção.

        Essa tendência decorreria de uma precipitação do MEC, que elaborou boas ideias para todo o país sem levar em conta as desigualdades históricas. “Se a qualidade do sistema de uma rede se mantém desnivelada, as propostas para todo o ensino médio continuam a surtir efeito apenas em uma pequena parcela de jovens”, conclui ele. Ou seja, a educação, ao contrário dos discursos públicos, continuaria a não se efetivar como um fator de redução das desigualdades sociais, ou o faria em ritmo muito menor que o necessário ao equilíbrio social do país. 

Filipe Jahn. O ensino médio e seus caminhos. Revista Educação, n° 169, p. 28-32, maio 2011.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 194-196.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal dilema da educação contemporânea, de acordo com o texto, e por que ele acontece?

      O principal dilema é a evasão escolar dos alunos do ensino médio. Isso acontece porque a escola, muitas vezes, parece enfadonha para os adolescentes, que são atraídos pelos estímulos e pela velocidade da sociedade contemporânea. Muitos não veem sentido nas experiências e conhecimentos oferecidos na escola, o que leva ao abandono dos estudos.

02 – Quais são as duas principais propostas do governo federal mencionadas na reportagem para combater o desinteresse e a evasão no ensino médio?

      As duas principais propostas são:

      A integração entre o ensino profissional e o ensino médio tradicional, permitindo que os alunos cursem as disciplinas regulares e, ao mesmo tempo, uma formação técnica.

      O Ensino Médio Inovador (EMI), que busca aumentar a carga horária e flexibilizar o currículo com disciplinas eletivas.

03 – De que forma a educação profissional, segundo a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), beneficia os jovens?

      A pesquisa da FGV mostrou que a educação profissional aumenta em 48% a chance de os jovens conseguirem um emprego e em 38% a possibilidade de terem um contrato formal de trabalho (carteira assinada).

04 – Quais são os quatro eixos temáticos que o currículo do Ensino Médio Inovador (EMI) valoriza?

      O currículo do EMI é organizado em torno de quatro eixos principais: Trabalho; Tecnologia; Ciência e Cultura.

05 – Por que, na opinião de Maria Sylvia Simões, a implantação do Ensino Médio Inovador em todo o país enfrenta dificuldades?

      A professora Maria Sylvia Simões aponta dois problemas principais: a falta de sintonia e vontade política entre o Ministério da Educação (MEC) e os governos estaduais, e o alto custo do modelo, que é superior ao do ensino médio tradicional.

06 – Além dos desafios políticos, qual é a principal dificuldade financeira que as propostas do governo enfrentam para serem implementadas nacionalmente?

      O alto custo é o principal desafio. O texto menciona que, tanto para o ensino integrado quanto para o Ensino Médio Inovador, os gastos com laboratórios, equipamentos e a contratação de docentes qualificados são altos, o que dificulta a adesão dos estados sem uma contrapartida financeira significativa do governo federal.

07 – De acordo com o professor Álvaro Chrispino, qual é o grande risco que as desigualdades históricas podem causar nas propostas do MEC?

      O professor Álvaro Chrispino afirma que, se não houver igualdade de condições entre as escolas, as propostas do MEC só terão efeito em uma pequena parcela de jovens. Isso pode levar a um aumento da concorrência por vagas nas escolas que conseguirem implantar os projetos com sucesso, e essas escolas podem até começar a usar mecanismos de seleção. O resultado é que a educação continuaria a não cumprir seu papel de reduzir as desigualdades sociais.