domingo, 3 de agosto de 2025

POEMA: O TEATRO, CASA DOS SONHOS - BERTOLD BRECHT - COM GABARITO

 Poema: O TEATRO, CASA DOS SONHOS

             Bertold  Brecht

Muitos veem o teatro como casa

De produção de sonhos. Vocês atores são vistos

Como vendedores de drogas. Em seus locais escurecidos

As pessoas se transformam em reis e realizam

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAckNp32tmRQv64huv2wwDkyBA5CWxLIheSLttO2T0827uT9k3IqkbvdCANzvnYJE8mqb00TtkiqlgcuEp5eRo0Gs_d8dmXXZq-HxMWziZRFfh5cCUpZOg1otArHC_kRPLWEohv1YzFLCQ_xWess7OijRbxZLRFuK3TNbDICn9QZLkP9JSpIZS2g_-yZc/s320/165824021662d6bcd8a82ec_1658240216_5x2_lg.jpg

Atos heroicos sem perigo. Tomado de entusiasmo

Consigo mesmo ou de compaixão por si mesmo

Fica-se sentado, em feliz distração esquecendo

As dificuldades do dia a dia – um fugitivo.

Todo tipo de fábula preparam com mãos hábeis, de modo a

Mexer com nossas emoções. Para isso utilizam

Acontecimentos do mundo real. Sem dúvida, alguém

Que aí chegasse de repente, o barulho do tráfico ainda nos ouvidos

E ainda sóbrio, mal reconheceria sobre essas tábuas

O mundo que acabou de deixar. E também

Saindo por fim desses locais,

Novamente o homem pequeno, não mais o rei

Deslocado na vida real. Muitos, é verdade

Veem essa atividade como inocente. Na mesquinhez

E uniformidade de nossas vidas, dizem, sonhos

São bem-vindos. Como suportar

A vida mesquinha e uniforme, e a renunciar

Por si mesmo. Mas vocês

Mostram um falso mundo, descuidadamente juntado

Tal como os sonhos o mostram, transformado por desejos

Ou desfigurado por medos, tristes

Enganadores.

BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956. 5. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 255-256.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal crítica que Brecht faz à percepção comum do teatro como uma "casa de produção de sonhos"?

      Brecht critica fundamentalmente a visão do teatro como um refúgio escapista, uma "casa de produção de sonhos", onde o público se transforma em "reis" e esquece as "dificuldades do dia a dia". Ele descreve os atores como "vendedores de drogas", sugerindo que a arte teatral, nesse modelo, atua como um narcótico que aliena o espectador da realidade. A crítica reside no fato de que, ao se entregar a essa "feliz distração", o indivíduo se torna um "fugitivo" que, ao sair do teatro, volta a ser o "homem pequeno, não mais o rei / Deslocado na vida real". Para Brecht, essa forma de teatro oferece um "falso mundo, descuidadamente juntado", que, como os sonhos, é "transformado por desejos / Ou desfigurado por medos", resultando em uma experiência ilusória e, em última instância, enganadora.

02 – De que forma o poema contrasta a experiência do público dentro e fora do teatro?

      O poema de Brecht estabelece um contraste marcante entre a experiência do público dentro e fora do teatro. Dentro dos "locais escurecidos", as pessoas se transformam, tornam-se "reis" e realizam "atos heroicos sem perigo", sentindo entusiasmo ou compaixão por si mesmas em uma "feliz distração". É um mundo de fábula onde as emoções são manipuladas e a realidade cotidiana é esquecida. No entanto, o poema enfatiza a abrupta transição ao sair desses locais: "Saindo por fim desses locais, / Novamente o homem pequeno, não mais o rei / Deslocado na vida real." Essa antítese ressalta a artificialidade da experiência teatral criticada por Brecht, onde a euforia e o escapismo são temporários, e a volta à vida "mesquinha e uniforme" é inevitável e, por vezes, mais dolorosa devido ao contraste.

03 – O que Brecht quer dizer ao afirmar que o teatro utiliza "acontecimentos do mundo real" para "mexer com nossas emoções" e qual é a sua ressalva a isso?

      Brecht reconhece que o teatro, mesmo em sua forma criticada, utiliza "acontecimentos do mundo real" para "mexer com nossas emoções". Isso significa que as histórias e situações encenadas têm suas raízes na vida cotidiana e nas experiências humanas, servindo como base para as narrativas dramáticas. No entanto, sua ressalva reside no modo como esses acontecimentos são apresentados e percebidos. Ele aponta que, para o espectador ainda "sóbrio" e com "o barulho do tráfico ainda nos ouvidos", seria difícil reconhecer nessas "tábuas" (o palco) o mundo que acabou de deixar. A crítica não está no uso da realidade em si, mas na sua transformação e distorção para fins de entretenimento e escapismo, onde o mundo real é "descuidadamente juntado" e "transformado por desejos / Ou desfigurado por medos", perdendo sua capacidade de provocar reflexão crítica e ação.

04 – Como o poema caracteriza os atores e sua função nesse tipo de teatro?

      No poema "O Teatro, Casa dos Sonhos", Brecht caracteriza os atores como "vendedores de drogas". Essa metáfora é profundamente crítica e sugere que a função dos atores, nesse modelo de teatro, é a de induzir um estado de alheamento e ilusão no público. Eles são os agentes que administram essa "droga" do escapismo, preparando "todo tipo de fábula com mãos hábeis, de modo a / Mexer com nossas emoções". A implicação é que, em vez de provocarem o pensamento crítico ou a conscientização social, os atores servem para anestesiar o público, oferecendo um refúgio temporário da realidade. Eles são, na visão de Brecht, "tristes / Enganadores", pois mostram um "falso mundo" que, embora possa trazer alívio momentâneo, não contribui para uma compreensão genuína ou para a transformação da vida real.

05 – Qual é a crítica subjacente de Brecht à inércia ou complacência do público diante desse tipo de representação teatral?

      A crítica subjacente de Brecht à inércia e complacência do público diante desse tipo de representação teatral é evidente em sua descrição do espectador como um "fugitivo" que se senta em "feliz distração". Ele questiona a aceitação generalizada dessa "atividade como inocente", onde os "sonhos / São bem-vindos" para suportar a "vida mesquinha e uniforme". Brecht parece lamentar que o público, ao invés de buscar a verdade ou a transformação de suas condições, se contente com uma ilusão momentânea. Há uma implicação de que essa complacência contribui para a perpetuação de um sistema que oferece fugas, mas não soluções. A crítica reside no fato de que o teatro, em vez de ser um catalisador para a mudança e a reflexão crítica sobre a realidade social, torna-se um cúmplice na manutenção da "mesquinhez / E uniformidade de nossas vidas", ao permitir que o indivíduo "renunciar / Por si mesmo" em favor de um mundo fabricado.

 

 

NOTÍCIA: BOAS MANEIRAS PARA EVITAR UM "MICO" NUMA SALA DE ESPETÁCULOS - FRAGMENTO - GEISA AGRÍCIO - COM GABARITO

 Notícia: Boas maneiras para evitar um ‘mico’ numa sala de espetáculos – Fragmento

        Quando a gente se programa para um evento, faz de tudo para que seja uma noite alegre e memorável. Tenta-se eliminar ao máximo os fatores de estresse: chegar cedo, comprar ingresso adiantado, escolher o melhor lugar etc. Tudo para acompanhar confortavelmente aquela atração que se queria tanto ver. Mas nem sempre tudo sai como gostaríamos. O fator ‘espectador inconveniente’ pode ser o balde de água fria num programa que tinha tudo pra ser maravilhoso.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNz9guk_peCOgGJJg_oHA5PR4EZj1gNhx9sQiwZSMmyYXtgncoVcvfXdB7KyLTrFhxxUlXCN2fPbHd-vuMH_fAxrmsHCTt3_Fj4AjXy2bu6Bv88vQL11BRYxuO2ONe9An_kZhwys3JZOsGLV5M5QLwo9rOZdl_8afxJZwmMv86IyCPWxLU2IwgCkgjfqI/s320/br-o-1679948440-boas-maneiras_ver_1.png


        “Um vizinho de poltrona inconveniente tira a paciência, a concentração para curtir e apreender a obra e nos faz perder o humor. Certa vez, no cinema, uma turma de adolescentes gritava e fazia zorra com um laser vermelho mirado para a tela. A sessão ficou tão insuportável que saí no meio do filme”, conta a historiadora Emanuele de Maupeou, que reclamou na gerência da sala do Multiplex do Shopping Recife, e recebeu ingressos para ver o filme em outra oportunidade. 

        Quem nunca passou por situações incômodas, como um chato que bate as pernas na poltrona dianteira, um vizinho que conversa ou atende ao celular ou mesmo aquele fã arvorado que grita no ouvido alheio achando que o cantor lá no palco vai ouvir o seu backing vocal de banheiro, que atire a primeira pipoca. 

        Casos como o vexame coletivo promovido pela plateia presente na estreia da peça Sopros de Vida, que passou no Recife na última semana, suscitam a pergunta ‘Por que algumas pessoas não sabem como se comportar numa casa de espetáculos?’. Carmem Peixoto, jornalista e consultora de etiqueta social e empresarial, é taxativa: por falta de educação e postura.

        “Isso começa muito antes de se transformar num adulto que frequenta produções culturais. Começa quando as crianças não sentam à mesa na hora das refeições, passam como um furacão pela casa e não aprendem a arrumar sua própria bagunça. Isso vai incutindo que todo comportamento é válido, daí pra ir pra rua é só um passo”, conta Carmem Peixoto.

        “A geração pós-movimento hippie passou tempos negando as regras sociais e considerando-as piegas, mas hoje em dia o bom senso precisa ser resgatado. Chegamos ao ponto em que é preciso ter assento reservados para idosos, coisa que deveria ser estabelecida pela gentileza. As pessoas pensam que etiqueta se restringe a como segurar o talher ou mastigar de boca fechada, mas é fundamental para o bem-estar na convivência”, avalia a consultora.

        E a falta de maneiras na privacidade das famílias facilmente se expande para as relações públicas. Os jovens de outros tempos se trancavam em seus quartos e aquele era seu universo particular. Hoje as pessoas estão interligadas o tempo todo, pelas tecnologias e redes sociais, e as distancias inexistem. “Na cabeça dessas pessoas, é como se o próprio o mundo fosse uma extensão desse seu espaço e acham natural agir em qualquer situação como fazem com seus pares”, conclui Peixoto.

        Esse é o perfil dos inconvenientes, ou ‘folgados’, que acabam recebendo coros de Psssssiu! ou Silêncio! no escurinho das salas. Para evitar que os bons cidadãos involuntariamente cometam gafes na hora de assistir a algum espetáculo, o JC Online preparou uma cartilha básica para a boa convivência durante a sessão:

        Atraso – Já não é de bom tom chegar depois do espetáculo iniciado, mas brigar por lugares marcados, mesmo com as entradas em mão, atrapalha todo mundo. Mesmo que tenha ‘direito’, não é educado. Afinal de contas, se chegou atrasado e conseguiu entrar já é lucro. De resto, é melhor deixar pra lá e, discretamente, ir sentando nas poltronas traseiras, sem incomodar ninguém.

        Comida – No cineminha até é sugerido a clássica pipoca e outras guloseimas. Porém, no teatro, principalmente quando a casa não permite, não é indicado abrir embalagens e nem mesmo mastigar durante um espetáculo. Nem se fala sobre esconder alimentos ou bebidas na bolsa, não é?

        Interação com o artista – O melhor agrado que você pode dar ao artista é a concentração do silêncio e o reconhecimento com aplausos. Não é elegante soltar gritinhos de 'Lindo’, ‘Maravilhoso’. Em shows em que a plateia fica de pé, até vale cantar junto e acompanhar o repertório. Num teatro, nem pensar.

        Cochilo – É uma tremenda saia justa. Alguém próximo à sua poltrona caiu no sono e está soltando aquele ronco. O que fazer? Não perca a paciência nem o espetáculo. Delicadamente deve-se acordar o dorminhoco e relembrá-lo onde está.

        Pernas e pés – Nem sempre as poltronas são as mais confortáveis. Às vezes, falta até lugar para colocar as pernas. Mas nada serve de desculpa para ficar batendo pernas ou recostando os pés na cadeira à frente. Tirar os sapatos é ainda mais execrável. Você não está no sofá da sua casa!

        [...]

        Celular – Todo mundo sabe que é para manter o aparelho desligado. Mesmo que esteja no modo silencioso e não soe o ringtone, atendê-lo em público é inadmissível.

        Conversa – Se você pretende conversar com seu acompanhante ou cumprimentar conhecidos, o ideal é chegar com folga, pelo menos uns 30 minutos antes. Depois que o terceiro toque é entoado e as luzes baixam, silêncio é obrigatório. Diálogos só no palco, nada de conversas paralelas. A dica serve para beijos e carícias também. Casais apaixonados devem deixar os momentos mais íntimos para depois.

        Crianças – A classificação indicativa não é simplesmente uma censura moral. Eventos adultos não devem ser frequentados por crianças, mesmo na presença dos pais, por mais modernos e liberais que eles sejam. É chato para os pequenos, que ficam inquietos, e inconveniente para quem está perto. Existem espaços e espetáculos destinados ao público infantil, onde eles podem se comportar com liberdade e espontaneidade características da idade.

        Vestimentas – Não vivemos mais nos tempos coloniais em que o teatro era o grande evento social, em que ver uma ópera era como um grande baile. Então, mesmo nas casas mais tradicionais, é de bom tom um casual chic ou esporte fino bem comportado. Brilhos, paetês, sedas, trajes de gala, saltos altíssimos e finíssimos são desnecessários. E, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os shortinhos com aquele ar de quem saiu da praia também são dispensáveis.

Geisa Agricio. JC Online, 5 maio 2010. Disponível em: http://ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2010/05/25/boas-maneiras-para-evitar-um-mico-numa-sala-de-espetaculos-223025.php. Acesso em: 8 fev. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 150-152.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é o principal fator que pode "estragar" um programa de lazer em uma sala de espetáculos, de acordo com o texto?

      O principal fator que pode estragar um programa é o "espectador inconveniente", cujas atitudes podem tirar a paciência, a concentração e o bom humor dos demais.

02 – Qual exemplo de experiência negativa a historiadora Emanuele de Maupeou compartilha?

      Emanuele de Maupeou relata que, no cinema, uma turma de adolescentes gritava, fazia zorra e mirava um laser vermelho na tela, tornando a sessão insuportável a ponto de ela ter que sair no meio do filme.

03 – Segundo a consultora de etiqueta Carmem Peixoto, qual a principal razão para o mau comportamento em casas de espetáculos?

      Carmem Peixoto afirma que a principal razão é a falta de educação e postura, que se inicia na infância, quando as crianças não aprendem regras básicas de convivência e organização.

04 – Como a consultora Carmem Peixoto relaciona a negação de regras sociais pela "geração pós-movimento hippie" com a necessidade atual de bom senso?

      Ela explica que essa geração negou as regras sociais, considerando-as "piegas", mas que hoje o bom senso precisa ser resgatado, pois a falta de gentileza e etiqueta social básica tem levado a situações como a necessidade de assentos reservados para idosos.

05 – O que o texto sugere para quem chega atrasado a um espetáculo com lugar marcado?

      Para quem chega atrasado, o texto aconselha a não brigar por lugares marcados, mesmo tendo direito, e, discretamente, sentar nas poltronas traseiras para não incomodar os outros, considerando a entrada já como um "lucro".

06 – Quais são as orientações do texto sobre o uso de celular durante uma sessão?

      A orientação é manter o aparelho desligado. Mesmo no modo silencioso, atendê-lo em público é inadmissível, pois o brilho da tela ou a simples ação de mexer no aparelho pode distrair.

07 – Qual é a recomendação do texto sobre a interação da plateia com o artista em diferentes tipos de espetáculo?

      Para a maioria dos espetáculos, o melhor agrado é o silêncio, a concentração e os aplausos. Soltar gritinhos de "Lindo" ou "Maravilhoso" não é elegante. Em shows em que a plateia fica de pé, é aceitável cantar junto, mas em teatro, isso não é recomendado.

 

MINICONTO: O PLANETINHA ENCHARCADO - FRAGMENTO - LUCA RISCHBIETER - COM GABARITO

 Miniconto: O planetinha encharcado – Fragmento

        Luca Rischbieter

Era uma vez um médico de planetas
Que passeava em uma galáxia
Muuuuuito distante
Quando... Vejam só
Que interessante:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3AKJkXgqzyiPOTkcM-YSHTDLuyuIIbTMkNVhqou3JWH-v8Zy7HiNouziONHXhAZfRK9bX_lHdFJwyHLnstomFrSCZGyDuJRiG7mTHqbV-6hthRYlcDpZLzD8q_6mxzd8Qlq1JR8lAnHNRT2XRpZDdw_27vEm_ZUseCngZ5RTy_W1a-SdPBCCQ0GyXhoY/s320/MINICONTO.jpg



Encontrou três
Planetinhas,
Que eram aquecidos
Pelo mesmo sol.

Olhando com atenção, o doutor
Percebeu que dois de três
Planetinhas estavam dormindo
E que só um deles parecia
Acordado.
O doutor perguntou-se,
Ensimesmado:
"Por que será que, em dois
Planetinhas, as coisas
Andam tão quentinhas?"
[...]

Luca Rischbieter. O planetinha encharcado. Curitiba: Aymará, 2009. p. 7-8.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 82.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual a profissão do personagem principal do miniconto?

      O personagem principal do miniconto é um médico de planetas.

02 – Onde o médico de planetas encontrou os três planetinhas?

      Ele encontrou os três planetinhas enquanto passeava em uma galáxia "muuuuito distante".

03 – Qual característica comum os três planetinhas compartilhavam?

      Os três planetinhas eram aquecidos pelo mesmo sol.

04 – O que o médico de planetas percebeu sobre os três planetinhas ao observá-los atentamente?

      Ele percebeu que dois dos três planetinhas estavam "dormindo", e apenas um deles parecia "acordado".

05 – Qual a pergunta que o médico de planetas se fez ao final do fragmento?

      O médico de planetas se perguntou: "Por que será que, em dois planetinhas, as coisas andam tão quentinhas?"

 

MINICONTO: DE UM CERTO TOM AZULADO - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Miniconto: De um certo tom azulado

       Marina Colasanti

        Casou-se com o viúvo de espessa barba, embora sabendo que antes três esposas haviam morrido. E com ele subiu em dorso de mula até o sombrio castelo.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU8Bv8piGlrKbtWjQmgIJ2rQdYlK_CevgwksHPQwE9M1-VbRxII85MijY5WPrppQewYwAtph0H33iQdITLKAwFDJkCzr0hf2DpkcTzK1qDtYjUeaFykj9eTaUx3hopnof0bOq1M629rHL-FnVd1L0rN6IVLvMx19tlkFaYmS74S8caby4k4e05lSBEEso/s320/AZUL.jpg

        Poucos dias haviam passado, quando ele a avisou de que num cômodo jamais deveria entrar. Era o décimo quinto quarto do corredor esquerdo, no terceiro andar. A chave, mostrou, estava junto com as outras no grande molho. E a ela seria entregue, tão certo estava de que sua virtude não lhe permitiria transgredir a ordem.

        E não permitiu, na semana toda em que o marido ficou no castelo. Mas chegando a oportunidade da primeira viagem, despediu-se ela acenando com a mão, enquanto com a outra
apalpava no bolso a chave proibida.

        Só esperou ver o marido afastar-se caminho abaixo. Então, rápida, subiu as escadas do primeiro, do segundo, do terceiro andar, avançou pelo corredor, e ofegante parou frente à décima quinta
porta.

        Batia seu coração, inundando a cabeça de zumbidos. Tremia a mão hesitante empunhando a chave. Nenhum som vinha além da pesada porta de carvalho. Apenas uma fresta de luz escorria junto ao
chão.

        Devagar botou a chave na fechadura. Devagar rodou, ouvindo o estalar de molas e linguetas. E empurrando lentamente, bem
lentamente, entrou.

        No grande quarto, sentadas ao redor da mesa, as três esposas esperavam. Só faltava ela para completar o jogo de buraco.

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 115-116.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 77.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual a principal proibição imposta pelo marido à sua nova esposa?

      A principal proibição imposta pelo marido à sua nova esposa era a de jamais entrar no décimo quinto quarto do corredor esquerdo, no terceiro andar do castelo.

02 – Como a esposa demonstra sua intenção de desobedecer à proibição?

      A esposa demonstra sua intenção de desobedecer à proibição ao apalpar no bolso a chave proibida com uma mão, enquanto acena com a outra para o marido em sua partida. Isso revela sua antecipação e determinação em transgredir a ordem.

03 – Qual o ambiente físico e psicológico criado pela narrativa antes da revelação final?

      A narrativa cria um ambiente de tensão e mistério. A descrição da esposa subindo as escadas "rápida", o coração batendo "inundando a cabeça de zumbidos", a mão tremendo e a porta pesada com uma fresta de luz, tudo contribui para a expectativa do que seria revelado no quarto proibido.

04 – Quem a esposa encontra dentro do quarto proibido?

      Dentro do quarto proibido, a esposa encontra as três esposas anteriores do viúvo, sentadas ao redor de uma mesa.

05 – Qual é o desfecho surpreendente do miniconto e o que ele sugere?

      O desfecho surpreendente é que as três esposas anteriores estavam esperando a nova esposa para "completar o jogo de buraco". Isso sugere um destino macabro e recorrente para as esposas do viúvo, indicando que elas não morreram de causas naturais, mas possivelmente foram vítimas de um padrão sombrio que a nova esposa agora também enfrentaria

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

TEXTO: DISCURSO POLÍTICO-ESTUDANTIL - FRAGMENTO - J.D.D.N. ALUNO DA 8ª SÉRIE - COM GABARITO

 Texto: Discurso político-estudantil – Fragmento

        Bom dia, pessoal. Nós somos da chapa de oposição e vamos apresentar propostas que vão mudar a vida de vocês dentro e fora da escola.

        A primeira proposta é “música no recreio”, mas com banda ao vivo uma vez por mês. Provavelmente, vocês estão pensando “todo ano é a mesma promessa, mas ninguém cumpre”. Por que vocês devem acreditar que nós vamos cumprir a promessa? Porque, na nossa chapa, duas pessoas são de bandas, o que facilita o contato com músicos. [...] Durante a gestão da atual chapa, alguma banda veio tocar ao vivo no recreio da escola?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifQmCUmF692P05FqI4ssn1giT8habUSbEzchLsLpG_INgm65LCCruUe23iK0dg3XzsQUoXsMhyMJYu1jKonheSnJXJ-S23zDR9twnz5FmhaSnXhR0DjGMcDHLo5rFnVOkE0M72nGBtPjc5NSRyZ8q_y_zNvWEwM2XESgkpsUDD1FCvmhuo83BwTAcizXE/s320/Beijing_students_protesting_the_Treaty_of_Versailles_(May_4,_1919).jpg


        A segunda proposta é de continuidade do “Baile do aluno”, mas com melhoria. A nossa chapa vai continuar com o “Baile do aluno”, que já foi realizado nos dois últimos anos. No entanto, vai ser um baile muito melhor, pois vamos propor à direção que seja um baile para os dois turnos e não como aconteceu no ano passado e no retrasado, dividindo todo mundo: turno da manhã em um dia, turno da noite em outro dia. Nós sabemos que essa divisão foi uma exigência da direção, que tinha medo de que muita gente reunida pudesse causar tumulto e estragar alguma coisa na escola. Nossa chapa já começou a conversar com a direção e vai assumir a responsabilidade pela realização de um único baile. Nós vamos entrar em todas as turmas e vamos pedir a colaboração de todos. [...] Não adianta a outra chapa dizer que vai fazer isso, pois eles ficaram um ano à frente do Grêmio e nem tocaram no assunto.

        A terceira proposta tem a ver com a carteirinha de estudante, mas carteirinhas pra valer. Vocês vão falar “mas não tem novidade alguma na carteirinha de estudante, o ano passado teve, o ano retrasado teve”. Qual é a novidade da carteirinha de estudante? A gente pesquisou e descobriu que esta carteirinha aqui, a do ano passado, a do ano retrasado, só é válido em Dracena. [...] Qual é a solução? A solução é simples e fácil: dia trinta, vocês votam na nossa chapa. Por quê? Porque há três meses a gente está em contato com um órgão que se chama UBES, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. É o maior órgão de estudantes do Brasil. É uma espécie de grêmio do Brasil inteiro essa UBES, para ficar mais claro. A nossa carteirinha passaria a valer por todo o Brasil. Vocês podem até falar “ah, por isso não, eu voou votar na outra chapa, porque eles também podem fazer esse projeto da carteirinha válida por todo o Brasil”. Olha, eu não vou falar que eles não podem, só que é o seguinte: como eu já disse, há três meses a nossa chapa já está em contato com a UBES. Então, vamos fazer um cálculo assim: eles vão demorar, no mínimo, seis meses para entregar a carteirinha de estudante válida por todo o Brasil, para vocês. Com a gente, não, com a gente, vai ser diferente. Como já tem um contato, tem tudo esquematizado, em menos de um mês, ou até dois, no máximo, essas carteirinhas estariam prontas para vocês.

        Então, resumindo e deixando claro: carteirinha de estudante que vale por todo o Brasil é só com a gente! Baile do aluno em conjunto com os dois turnos é só com a gente! Recreio com música e banda ao vivo uma vez por mês é só com a gente! Com a outra chapa, vocês vão ter carteirinha de estudante que só vale em Dracena; baile do aluno da tarde separado do baile do aluno da manhã; recreio desanimado, de vez em quando uma musiquinha.

        Então, essas são as nossas propostas para vocês pensarem. Nós temos certeza de que, se vocês pensarem direitinho, dia trinta, vocês vão votar na chapa de oposição. Obrigado pela atenção. No dia trinta, o voto de vocês vai decidir se as coisas vão continuar como estão ou se vão mudar para melhor.

J. D. D. N., aluno da 8ª série (9º ano), 2006. Discurso coletado para esta edição/Arquivo da editora.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 16-17.

Entendendo o texto:

01 – Quem está apresentando o discurso e qual é o objetivo principal?

      O discurso está sendo apresentado pela chapa de oposição em uma eleição estudantil. O objetivo principal é convencer os alunos a votarem neles ao apresentar propostas que prometem mudar a vida deles dentro e fora da escola para melhor.

02 – Qual é a primeira proposta da chapa de oposição e como eles pretendem garantir seu cumprimento?

      A primeira proposta é "música no recreio", com banda ao vivo uma vez por mês. Eles pretendem garantir o cumprimento porque duas pessoas da chapa são de bandas, o que facilita o contato com músicos, diferenciando-os da chapa atual que não cumpriu essa promessa.

03 – Como a chapa de oposição pretende melhorar o "Baile do aluno"?

      A chapa de oposição pretende melhorar o "Baile do aluno" tornando-o um baile para os dois turnos (manhã e noite) em um único dia, ao invés de dividi-los como nos anos anteriores. Eles já estão conversando com a direção e assumirão a responsabilidade para garantir essa unificação.

04 – Qual é a principal inovação proposta pela chapa de oposição em relação à carteirinha de estudante?

      A principal inovação é oferecer uma carteirinha de estudante válida em todo o Brasil, e não apenas na cidade de Dracena, como as carteirinhas anteriores. Eles afirmam ter contato com a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) para agilizar esse processo.

05 – Qual argumento a chapa de oposição usa para mostrar sua vantagem em relação à outra chapa na questão da carteirinha de estudante?

      A chapa de oposição argumenta que, como já estão em contato com a UBES há três meses e têm tudo "esquematizado", eles conseguirão entregar a carteirinha válida em todo o Brasil em menos de um mês ou no máximo dois. Eles sugerem que a outra chapa, se tentasse, demoraria no mínimo seis meses.

06 – Como a chapa de oposição resume suas principais propostas no final do discurso?

      No final do discurso, a chapa de oposição resume suas principais propostas como: carteirinha de estudante que vale por todo o Brasil, baile do aluno em conjunto com os dois turnos, e recreio com música e banda ao vivo uma vez por mês. Eles contrastam essas propostas com o que a outra chapa oferece ("carteirinha que só vale em Dracena; baile do aluno da tarde separado do baile do aluno da manhã; recreio desanimado").

07 – Qual é o apelo final da chapa de oposição aos eleitores?

      O apelo final é para que os alunos pensem direitinho e votem na chapa de oposição no dia trinta. Eles enfatizam que o voto dos estudantes "vai decidir se as coisas vão continuar como estão ou se vão mudar para melhor".

 

POEMA: MAMÃ NEGRA - FRAGMENTO - VIRIATO DA CRUZ - COM GABARITO

 Poema: Mamã negra – Fragmento

             Viriato da Cruz

Tua presença, minha Mãe – drama vivo duma Raça,

Drama de carne e sangue

Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDhVUnyp_jHHgX1dniYS4AAJyDPtwV_hOZvbTaGpysZKBVoiAe_z0AwejdfR4zLpjgarJcRloAlbNMZxEU6NsSkPBQGF1OwCu7Ls_IfVICEl_7k9r84rNecaLJmZ4yA7nSr4Kum9LrV8ePPRUbLA_2whthLyCAXU0M9z__LyVgrJxAuFtRXZ73tP95VNg/s320/hq720.jpg


Pela tua voz

Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais

dos seringais dos algodoais!...

 

Vozes das plantações de Virgínia

dos campos das Carolinas

Alabama

Cuba

Brasil...

Vozes dos engenhos dos banguês das tongas dos eitos

das pampas das minas!

Vozes de Harlem Hill District South

vozes das sanzalas!

Vozes gemendo blues, subindo do Mississipi, ecoando

dos vagões!

Vozes chorando na voz de Carrothers:

Lord God, what will have we done [Ó, Deus, o que teríamos feito?]

Vozes de toda América! Vozes de toda a África!

[...]

Viriato da Cruz. Em: Maria Alexandre Dáskalos; Lívia Apa; Arlindo Barbeitos. Poesia africana de língua portuguesa (antologia). Rio de Janeiro: Lacerda, 2003. p. 55.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 47.

Entendendo o poema:

01 – Qual o tema central abordado pelo poema?

      O poema aborda o drama e sofrimento da raça negra, personificados na figura da "Mamã negra". Ele explora a dor, o trabalho forçado e a opressão vivenciados por essa raça ao longo dos séculos.

02 – Como o poema evoca a dimensão geográfica do sofrimento?

      O poema evoca a dimensão geográfica ao mencionar uma vasta gama de locais, como canaviais, arrozais, cafezais, seringais, algodoais, além de regiões específicas como Virgínia, Carolinas, Alabama, Cuba, Brasil, Harlem, Hill District, South e sanzalas. Essa lista exaustiva de lugares demonstra a abrangência global da exploração e da diáspora africana.

03 – Que tipo de trabalho é associado à voz da "Mamã negra" no poema?

      A voz da "Mamã negra" é associada a trabalhos agrícolas e extrativistas, como o cultivo de cana, arroz, café, borracha e algodão. Também são mencionados os "engenhos, banguês, tongas, eitos, pampas e minas", que remetem a locais de intensa exploração e trabalho escravo.

04 – De que forma o poema utiliza o elemento "voz" para construir seu significado?

      O poema usa a "voz" como um elemento central para representar a memória coletiva e o lamento histórico da raça negra. As "vozes" vêm de diversos lugares e contextos de sofrimento, culminando em "vozes gemendo blues" e chorando, simbolizando a expressão da dor e da resiliência.

05 – Qual a conexão entre a "Mamã negra" e a "História" no fragmento?

      A "Mamã negra" é descrita como um "drama de carne e sangue / Que a Vida escreveu com a pena / dos séculos!". Isso estabelece uma conexão direta entre ela e a própria história da raça negra, indicando que sua existência e sofrimento são a materialização viva de um passado de opressão e luta.

 

 

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: COMO, ONDE E QUANDO NASCEU A LÍNGUA PORTUGUESA? FRAGMENTO - ATALIBA T. DE CASTILHO - COM GABARITO

 Divulgação Científica: Como, onde e quando nasceu a língua portuguesa? – Fragmento

            Ataliba T. de Castilho (USP, CNPq)

        [...]

        Para saber como, onde e quando nasceu a Língua Portuguesa, precisaremos em primeiro lugar entender o que é a Europa Latina.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWH8-7IStAW0mwItCkWDRzc3wmIQsaTozyvU2rjoxJs4Y6rdCFvHPC54IK8faUp1CBIyqp3RXVB1ctcYvRPAY8Fexm5AwKt0YnNxRbfrA1Qhmnr2nmVRcZ-TEJHksjPQAFWgLEFkwnGOcG4tXdo2Ffy6vVDhA-aoxVz92Z34iSbYMz9KId-molIT4uRss/s320/maxresdefault.jpg


        [...]

        Tópico 1

        Pra começo de conversa, você sabia que existe a América Latina, mas sabia também que existe uma Europa Latina? Pois é, além de América Latina também existe uma Europa Latina. É isso mesmo, só que ao contrário. É porque existiu uma Europa Latina que temos hoje uma América Latina, onde se falam o Português, o Espanhol e o Francês, trazidos pelos colonizadores.

        A Europa Latina é a parte europeia do que sobrou do Império Romano. O Império Romano desapareceu enquanto organização política e administrativa, mas sua cultura continua viva, sendo cultivada, por exemplo, aqui no Brasil! Daí a importância em conhecer a Europa Latina.

        [...]

        Tópico 2

        Os romanos invadiram a Península Ibérica entre 197 antes de Cristo e 400 depois de Cristo. Quem diria, dois mil anos mais tarde, nós aqui no Brasil estamos falando uma língua latina! Quando os romanos conquistaram a Península Ibérica eles atiraram (lanças e flechas) no que viam (os coitados dos ibéricos) e acertaram no que não viam (os povos da América Latina).

        [...]

        Mas enfim, o que levou os romanos a invadirem a Península Ibérica foi uma razão tão simples quanto antiga: a ambição humana.

        [...]

        O sul da Península foi rapidamente submetido, mas o norte e o centro permaneceram por muito tempo na mão dos antigos donos do negócio. O norte foi particularmente resistente, graças à chefia de Viriato, chefe dos Lusitanos. Em 139 a.C. eles foram atraiçoados e eliminados pelos romanos. Um ano antes tinha sido fundada a cidade de Felicitas Julia Olisipo, atual Lisboa.

        [...]

        A Hispânia Citerior foi colonizada por militares, tendo-se ali desenvolvido uma cultura mais rural, menos desenvolvida economicamente, mais ligada a Roma, de onde era accessível por terra. Em consequência, o Castelhano ou Espanhol, ali desenvolvido, seria mais inovador, transformando mais fortemente o Latim Vulgar. O Catalão se constitui num caso à parte, com sua natureza de “língua-ponte”, assumindo propriedades linguísticas da Ibero-România e da Galo-România: Baldinger (1962).

        [...]

        Tópico 3

        Agora que ficou clara a importância do Latim Vulgar, seria o caso de ler algum texto escrito nessa língua.

        Pois é, meu caro, desta vez não vai dar! O Latim Vulgar era só falado, e falado por quem não dominava a escrita – sendo que naqueles tempos, ainda por cima, poucos indivíduos dominavam a escrita. Para piorar as coisas, os japoneses ainda não tinham inventado o gravador eletrônico portátil. O jeito então é comparar as línguas românicas entre si, pois sendo descendentes do Latim Vulgar, guardaram traços dele. É como diziam os antigos: “quem sai aos seus não degenera”. [...]

        Para ajudar na reconstituição do Latim Vulgar, também se pode buscar por aí um ou outro texto latino que tenha documentado essa variedade, como as comédias romanas, as inscrições em arcos-do-triunfo e em pedras tumulares, os grafitti em paredes que tenham sobrevivido (como em Pompéia, por exemplo), e por aí vai. Mas é preciso tomar cuidado com esses testemunhos, pois é evidente que quem os escreveu sabia Latim Culto, e pode ter misturado sem querer as duas variedades.

        [...]

        Tópico 4

        A latinização da Península Ibérica pelos romanos e a existência de povos e culturas pré e pós-romanos no território criaram as condições para o surgimento do Português. Vamos ver isso passo a passo. A expansão romana pela Europa teria como resultado o surgimento de um grande conjunto de línguas, denominadas línguas românicas, derivadas do Latim Vulgar. Entre os últimos tempos do Latim e o surgimento das línguas românicas, aproximadamente entre os anos 600 e 1000, falou-se na Europa o Romance. [...]

        Subtópico 4.1

        Os cidadãos romanos tinham consciência das variedades de Latim que estavam usando, tal como hoje, quando distinguimos o Português Culto do Português Popular. Naquele tempo, as variedades do Latim eram reconhecidas e designadas pelas expressões latine loqui, isto é, falar Latim Culto, e romanice loqui, isto é, falar o Latim Vulgar dialetado que se espalharia pela Europa.

        O advérbio romanice, que aparece na expressão romanice loqui, mudaria foneticamente para Romance, passando a designar primeiramente a resultante europeia da dialetação do Latim Vulgar por toda a Europa Latina, e posteriormente um gênero literário – precisamente as narrativas redigidas nessa língua, intermediária entre o Latim Vulgar e as futuras línguas românicas. É no primeiro desses sentidos que se toma aqui a palavra Romance.

        O período Romance não é conhecido em detalhes. Tudo o que se sabe é que o Romance variava geograficamente, e já não podia mais ser considerado como Latim, dadas as profundas alterações operadas na gramática da língua de Roma, nem era ainda algumas das línguas românicas que hoje conhecemos. A própria duração do Romance variou no tempo: na França, ele parece ter sido extinto em 800, quando surge o primeiro documento em Francês, os Juramentos de Estrasburgo, de 838. Na Ibéria o “prazo de validade” do Romance foi mais extenso, e ele deve ter sobrevivido até 1100. Você sabe, os bons ares do lugar, o azeite, o queijo e o vinho...

        [...]

        Subtópico 4.3

        A Ibéria não era nenhum deserto humano quando os Romanos chegaram. Eles encontraram aqui os Bascos ou Iberos, aquele povo não Indoeuropeu, e ainda os Celtas, os Ambroilírios, os Fenícios ou Cartagineses (a quem derrotaram) e os Gregos.

        [...]

        Nenhum desses povos conseguiu preservar sua língua diante do avanço romano, com exceção dos Bascos. O Latim Vulgar receberia deles contribuições lexicais, tendo preservado sua morfologia e sua sintaxe. É por isso que o Galego, o Português e o Castelhano mantêm até hoje uma gramática neolatina.

        [...]

        Subtópico 4.4

        A Península Ibérica não virou um paraíso na terra só porque os romanos tinham chegado e tomado conta do pedaço.

        Estavam os descendentes dos romanos muito felizes com suas novas propriedades hispânicas, quando o lugar entrou na mira dos germanos. Logo os germanos, que tanta confusão já tinham armado no coração mesmo do Império, e que acabariam por dar-lhe fim, em 497 d.C.! Mas não apenas os germanos fizeram estripulias no lugar! Mal começada a Era Moderna, lá vieram os Árabes acabar com a graça dos descendentes dos invasores germânicos.

        [...]

        Tópico 6

        O Português Arcaico foi falado e escrito entre os sécs. XIII e XVI, mais precisamente, até o ano de 1540.

        Se há um assunto complicado é o da datação das línguas e das fases históricas pelas quais elas passaram. Pense um pouco. A história dos povos exige datas, afinal ela é uma narrativa de eventos que se dispõem na linha do tempo. Até aí tudo bem. O problema é que na história das línguas só podemos datá-las através de documentos nos quais elas apareçam escritas. Ora, quando uma dada língua chega a ser escrita, é por que já vinha sendo falada há muito tempo! Há quanto tempo? Impossível saber. De modo que vamos olhar estas datas todas com um pé atrás, entendendo que elas são aproximativas.

        Neste quadro de dificuldades, diversos autores têm trabalhado com a hipótese de que o Português surgiu quando se deixou de escrever documentos no Romance do Noroeste da Península, adotando-se a língua que decerto já vinha sendo falada há tempos. Ora, isso se deu por volta de 1200, talvez um pouco antes, isto é, entre o séc. XII e o séc. XIII. Logo, podemos dizer – até que se descubram documentos mais antigos – que o Português se formou nessa data, e que portanto já existe há 800 anos. Velhinho, hein? Pois não é não. O Francês é pouco mais de três séculos mais velho, e o Castelhano existe desde 900 e tal. Imagine então a idade das línguas da Índia, da China e do Japão!

        [...]

        Tópico 7

        Levou tempo para que se tomasse consciência do Português como uma nova língua. Tiveram importância nesse ofício duas instituições, que agiram como centros irradiadores de cultura na Idade Média: os mosteiros, onde se levavam a cabo traduções de obras latinas, francesas e espanholas (Mosteiros de Santa Cruz e Alcobaça) e a Corte, para a qual convergiam os interesses nacionais. Escreviam ali fidalgos e trovadores, aprimorando a língua literária.

        Constituída essa consciência linguística, passamos ao século XVI, quando o debate hoje rotulado como “a questão da língua”, além da publicação das primeiras gramáticas e dicionários, focalizaram a importância do Português, sua expansão e sua oposição ao castelhano.

        Gramáticos portugueses dos séculos XVI e XVII proclamam as virtudes da língua pátria, capaz de veicular quaisquer tipos de sentimentos e arrazoados. Eles se opunham àqueles que julgavam as línguas românicas veículos toscos, insuficientes para as altas criações do espírito. E aqui entra Camões, com seus célebres versos.

        E na língua, na qual quando imagina

        Com pouca corrupção crê que é a Latina (Lus. I, 33)

        A ninguém passou despercebida a relação entre a expansão do Império e a Língua Portuguesa, que seria levada aos quatro cantos do mundo. Escritos evidenciam essa percepção, como se pode ler nos primeiros gramáticos, um dos quais, João de Barros, escreveu as Décadas da Ásia, em que trata igualmente do assunto.

        [...]

        Finalmente, o Romantismo vem encontrar os gramáticos atentos ao gênio da língua e ao papel do povo em sua elaboração. Já agora a questão da língua é entregue à ciência, personificada em Francisco Adolfo Coelho, fundador da Linguística Portuguesa. A história da língua passa a incorporar a língua não escrita. E nisto estamos.

        [...]

Ataliba T. de Carvalho. Como, onde e quando nasceu a língua portuguesa? Disponível em: http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/files/mlp/texto_9.pdf. Acesso em: 3 fev. 2015. p. 01-36.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 25-28.

Entendendo a divulgação:

01 – O que é a Europa Latina e qual sua importância para a língua portuguesa?

      A Europa Latina é a parte europeia que restou do Império Romano. É importante porque, embora o Império Romano tenha desaparecido como organização política, sua cultura continuou viva, e foi dela que se originaram as línguas latinas, incluindo o português.

02 – Quando e como os romanos invadiram a Península Ibérica?

      Os romanos invadiram a Península Ibérica entre 197 a.C. e 400 d.C. O motivo principal dessa invasão foi a ambição humana, e eles gradualmente submeteram a região, enfrentando resistência no norte, como a liderada por Viriato.

03 – Qual era a diferença entre Latim Culto e Latim Vulgar?

      O Latim Culto era a variedade formal da língua, dominada pela escrita e usada por aqueles com educação. O Latim Vulgar, por sua vez, era a língua falada cotidianamente pelas pessoas que, em sua maioria, não dominavam a escrita, e foi essa variedade que se espalhou e deu origem às línguas românicas.

04 – Por que é difícil estudar o Latim Vulgar diretamente através de textos?

      É difícil estudar o Latim Vulgar diretamente porque ele era uma língua essencialmente falada e utilizada por pessoas que não dominavam a escrita. Os textos latinos que sobreviveram são geralmente em Latim Culto, e mesmo quando há vestígios do Latim Vulgar (como em comédias romanas ou grafites), é preciso cautela, pois os autores podiam misturar as variedades.

05 – O que foi o período "Romance" na formação das línguas românicas?

      O período Romance foi uma fase intermediária, aproximadamente entre os anos 600 e 1000 d.C., entre o Latim Vulgar e o surgimento das línguas românicas. Nesse período, o Latim Vulgar já havia sofrido profundas alterações gramaticais e geográficas, mas ainda não era nenhuma das línguas românicas que conhecemos hoje.

06 – Quando se estima que o português "nasceu" como uma língua distinta?

      Estima-se que o português se formou por volta de 1200 d.C., ou seja, entre os séculos XII e XIII. Essa data é aproximada, marcada pelo momento em que documentos deixaram de ser escritos no Romance do Noroeste da Península e a língua que já era falada passou a ser registrada.

07 – Quais povos habitavam a Península Ibérica antes da chegada dos romanos, e qual deles conseguiu preservar sua língua?

      Antes dos romanos, a Península Ibérica era habitada por povos como os Bascos (ou Iberos), Celtas, Ambroilírios, Fenícios (ou Cartagineses) e Gregos. Desses, apenas os Bascos conseguiram preservar sua língua diante do avanço romano.

08 – Como a invasão dos povos germânicos e árabes influenciou a Península Ibérica após a romanização?

      Após a romanização, a Península Ibérica foi invadida pelos germanos, que desestabilizaram o Império Romano. Mais tarde, com o início da Era Moderna, os árabes também invadiram a região, alterando ainda mais o cenário cultural e linguístico.

09 – Quais instituições foram importantes para a tomada de consciência do português como uma nova língua na Idade Média?

      Duas instituições foram cruciais: os mosteiros (como os de Santa Cruz e Alcobaça), que realizavam traduções e disseminavam cultura, e a Corte, para onde convergiam os interesses nacionais e onde fidalgos e trovadores aprimoravam a língua literária.

10 – Qual o papel de autores como Camões e João de Barros na valorização da língua portuguesa?

      Autores como Camões e João de Barros desempenharam um papel fundamental na valorização do português. No século XVI, eles e outros gramáticos proclamaram as virtudes da língua pátria, defendendo sua capacidade de expressar sentimentos e ideias complexas, opondo-se àqueles que a consideravam inferior. João de Barros, em suas Décadas da Ásia, também evidenciava a relação entre a expansão do Império Português e a disseminação da língua.