domingo, 10 de agosto de 2025

NOTÍCIA: GRUPO GALPÃO REESTREIA ROMEU E JULIETA EM LONDRES - BBC BRASIL - COM GABARITO

 Notícia: Grupo Galpão reestreia Romeu e Julieta em Londres

Da BBC Brasil

        Não faltam peças de William Shakespeare nos teatros das grandes cidades brasileiras. Só em São Paulo, por exemplo, há três versões de Romeu e Julieta no momento – provavelmente, ao lado de Hamlet, a peça mais conhecida do bardo quinhentista – à disposição.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwvIkJv_WWEGJpOhnBRpH5VKGWycW1EIkBZ9h13V5DCIc9nACaazLAs1OAXDMeffuRQyC3XyIeFkP3nxzKriR5v0PwMkoZ2acO16RwT6MIERL0tSRhyphenhyphen3-i7d0tXWu2QK5xN7W6YrChKR9yNNoSg1q2wt7par3hR2D9ShKIlg2rL8qvbofpVMe3NwFWKik/s320/Romeo_and_juliet_brown.jpg


        Mas quase todos os críticos apontam uma montagem como a mais marcante no teatro contemporâneo brasileiro: o Romeu e Julieta do Grupo Galpão, que estreou no início dos anos 90, com direção de Gabriel Vilela.

        Para comemorar os 30 anos do grupo sediado em Belo Horizonte, o Galpão está remontando esta peça, que vai reestrear em Londres, no Globe Theatre, num festival que vai trazer grupos de teatro de 37 países para encenar todas as peças de William Shakespeare, cada um em sua língua.

        "Essa montagem do Grupo Galpão é uma preciosidade. Fico muito feliz que eles estejam remontando essa peça para que quem viu possa relembrar e quem não viu tenha mais esta oportunidade", disse à BBC Brasil a tradutora e crítica Bárbara Heliodóra, considerada uma das maiores autoridades em Shakespeare do Brasil.

        Depois de estrear em Londres em maio a peça deve ainda ser apresentada em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, mas não há detalhes sobre as datas nem expectativa de apresentação em outras partes do país.

        Cultura popular

        A montagem do Galpão é baseada numa tradução clássica de Shakespeare para o português, mas buscou elementos na cultura barroca mineira – evidentes mais do que tudo nos figurinos e na música – para trazer uma história universal de amor a um contexto da cultura popular brasileira.

        Aliás, o Galpão é originalmente um grupo de teatro de rua e é para esse espaço que a peça foi inicialmente concebida. O grupo já se apresentou ao ar livre para plateias de mais de 4 mil pessoas.

        "Quando Shakespeare escreveu suas peças elas eram encenadas ao ar livre. Levar Romeu e Julieta para a rua é o melhor jeito de recriar o clima do teatro do período elisabetano (do reinado de rainha Elizabete I, entre 1558 e 1603)", disse o diretor Gabriel Vilela, que aceitou o convite para dirigir a remontagem da peça.

        Os próprios ensaios da montagem original da peça do Grupo Galpão foram feitos em praça pública, numa pequena cidade do interior de Minas Gerais. "Fazíamos nossos ensaios na praça da cidade, e as pessoas que voltavam do trabalho no campo, no fim da tarde, paravam para nos ver. E as reações do público também nos ajudavam a encontrar o tom da peça", explica o ator Eduardo Moreira, o intérprete de Romeu e um dos fundadores do Grupo Galpão.

        Moreira conta que à medida que os dias passavam, a população local se envolvia na tragédia dos jovens amantes. "Algumas vezes, quando o Gabriel parava o ensaio para dar alguma instrução aos atores ou pedia para repetir a cena, as pessoas reclamavam. Começavam a gritar pra gente continuar a história", conta Moreira.

        O diretor Gabriel Vilela diz que as paixões despertadas pela tragédia chegaram a causar uma pequena confusão quando o grupo se apresentava nas ruas de Ouro Preto, cidade em que a peça estreou no início dos anos 90. "Uma mulher na plateia começou a gritar que estava apaixonada pelo Romeu e invadiu a cena", relembra.

        Pernas de pau

        Um dos aspectos mais marcantes da peça é a interpretação em cima de pernas de pau. "O Galpão sempre teve muita experiência com isso por conta de sua característica de ser um grupo de teatro de rua onde pernas de pau são muito úteis para que o público, possa ver os atores", diz Eduardo Moreira.

        Mas, além dessa razão, há também uma intenção simbólica por trás do uso do adereço. Moreira explica que Romeu e Julieta é uma tragédia de "precipitação", em que os personagens agem muito mais do que pensam. "A perna de pau da muito bem essa ideia de uma certa falta de equilíbrio. Você está lá em cima, mas pode cair a qualquer momento."

        Outra marca registrada do espetáculo é a perua Veraneio 1974 que faz as vezes de balcão onde Romeu e Julieta trocavam suas juras de amor. "Mas fizemos uma inversão: Romeu fica em cima (numa plataforma de madeira montada sobre o carro) e Julieta fica embaixo, sentada ao volante da Veraneio".

        O carro tem história: nos anos 1980, carregava os jovens atores do grupo Galpão apresentando peças nas ruas Brasil afora. "Quando convidamos Gabriel Vilela para dirigir uma peça nossa a primeira coisa que ele decidiu é que o cenário seria nossa Veraneio. Antes mesmo de saber que peça íamos fazer, já sabíamos que seria encenada no carro."

        Em geral, o carro chega a ser ligado e Romeu engata uma ré em cena. Mas no Globe Theatre – o teatro com palco ao ar livre, construído nos moldes daquele em que Shakespeare apresentava suas peças – o carro vai ter que ser empurrado porque pelas regras de casa motores não podem ser ligados ali dentro.

        "O momento mais olímpico da trajetória dessa peça foi nossa apresentação no Globe no ano 2000. Aquilo é praticamente um templo porque Shakespeare é uma religião, no melhor sentido da palavra", diz Gabriel Vilela. "Voltar agora é uma honra e uma grande emoção."

        O Galpão é o único dos 37 grupos convidados para o festival Globe to Globe a já ter se apresentado neste cultuado teatro prestes a se tornar uma torre de Babel, com cada país trazendo as palavras do mais reconhecido dramaturgo do mundo em sua língua transmitindo as mensagens, símbolos e tipos universais de William Shakespeare.

Disponível em: http://www.folha.uol.com.br/bbc/1079356-grupo-galpao-reestreia-romeu-e-julieta-em-londres.shtml. Acesso em: fev. 2013.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 89-91.

Entendendo a notícia:

01 – Por que a montagem de "Romeu e Julieta" do Grupo Galpão é considerada tão marcante no teatro contemporâneo brasileiro, e o que motivou sua remontagem?

      A montagem do Grupo Galpão é considerada a mais marcante no teatro contemporâneo brasileiro por críticos como Bárbara Heliodóra, uma das maiores autoridades em Shakespeare no Brasil. A remontagem da peça celebra os 30 anos do Grupo Galpão, sediado em Belo Horizonte, e marca sua reestreia em Londres, no Globe Theatre, como parte de um festival internacional que reúne grupos de 37 países para encenar todas as peças de Shakespeare em suas respectivas línguas.

02 – Como a montagem do Grupo Galpão incorpora elementos da cultura brasileira em uma peça clássica de Shakespeare?

      A montagem do Galpão, embora baseada em uma tradução clássica de Shakespeare para o português, buscou elementos na cultura barroca mineira para contextualizar a história universal de amor. Isso é evidente principalmente nos figurinos e na música, que trazem a peça para o universo da cultura popular brasileira, criando uma fusão entre o clássico e o regional.

03 – Qual a importância do fato de o Grupo Galpão ser originalmente um grupo de teatro de rua para a concepção de "Romeu e Julieta", e como isso se conecta com a época de Shakespeare?

      O Grupo Galpão é originalmente um grupo de teatro de rua, e a peça "Romeu e Julieta" foi inicialmente concebida para esse espaço. O diretor Gabriel Vilela explica que levar a peça para a rua é a melhor forma de recriar o clima do teatro do período elisabetano, quando as peças de Shakespeare eram encenadas ao ar livre. Essa característica do grupo permite uma autenticidade na experiência teatral, remetendo às origens do bardo e aproximando o público da performance.

04 – Descreva como os ensaios originais da peça em Minas Gerais influenciaram o tom da montagem e a interação com o público.

      Os ensaios da montagem original foram realizados em praça pública em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. O ator Eduardo Moreira, intérprete de Romeu, conta que as pessoas que voltavam do trabalho no campo paravam para assistir aos ensaios, e suas reações ajudaram a encontrar o tom da peça. O envolvimento da população era tão grande que, às vezes, eles reclamavam quando os ensaios eram interrompidos, chegando a gritar para que a história continuasse. Essa interação direta com o público nas ruas moldou a dinâmica e a expressividade da peça.

05 – Qual o significado do uso de pernas de pau pelos atores na peça, tanto do ponto de vista prático quanto simbólico?

      O uso de pernas de pau pelos atores é um dos aspectos mais marcantes da peça. Do ponto de vista prático, elas são "muito úteis para que o público possa ver os atores", especialmente porque o Grupo Galpão é um grupo de teatro de rua. Simbolicamente, as pernas de pau representam a ideia de "precipitação" na tragédia de Romeu e Julieta. Eduardo Moreira explica que elas dão a noção de uma "certa falta de equilíbrio", ilustrando como os personagens agem impulsivamente, podendo "cair a qualquer momento", o que reflete a natureza impetuosa de suas decisões.

06 – Qual elemento cênico inusitado é uma marca registrada do espetáculo, e qual a história por trás dele?

      Uma marca registrada do espetáculo é uma perua Veraneio 1974, que funciona como o balcão onde Romeu e Julieta trocam juras de amor, porém com uma inversão: Romeu fica em uma plataforma sobre o carro e Julieta sentada ao volante. O carro tem uma história simbólica, pois nos anos 1980, ele transportava os jovens atores do Grupo Galpão em suas apresentações pelas ruas do Brasil. O diretor Gabriel Vilela decidiu que o carro seria o cenário principal da peça antes mesmo de escolher qual obra seria encenada.

07 – Por que a apresentação no Globe Theatre em Londres é considerada um momento "olímpico" para o Grupo Galpão, e qual o significado do festival "Globe to Globe"?

      A apresentação no Globe Theatre é considerada um momento "olímpico" para o Grupo Galpão porque o local é visto como um "templo" para a obra de Shakespeare, que é quase uma "religião" no bom sentido. Voltar a este palco icônico, onde Shakespeare originalmente apresentava suas peças, é uma "honra e uma grande emoção" para o grupo. O festival "Globe to Globe" é significativo por ser uma "torre de Babel" artística, reunindo grupos de 37 países para encenar todas as peças de Shakespeare em suas respectivas línguas, transmitindo as mensagens universais do dramaturgo em diferentes contextos culturais. O Grupo Galpão é o único dos 37 grupos convidados que já havia se apresentado nesse teatro anteriormente (no ano 2000).

 

 

TEXTO: TODO MUNDO ODEIA ELEIÇÕES - EPISÓDIO 2 DA 2ª TEMPORADA DE TODO MUNDO ODEIA O CHRIS - COM GABARITO

Texto: Todo mundo odeia eleições

        Quando eu resolvi me candidatar à presidência do grêmio estudantil, eu me candidatei por um monte de razões. O que eu nuca quis saber é se eu queria mesmo ser presidente desse grêmio. Bom, eu quero! Sabe, eu não sei o que posso fazer como presidente do grêmio, mas sei o que eu vou tentar fazer. Eu vou tentar conseguir armários com combinações que funcionem: eu estou cheio de chegar ao meu armário e ver que tudo que tinha por lá sumiu. Vou tentar conseguir livros didáticos desta década: eu tenho livros de história que dizem que Dwight Eisenhower é o presidente. Quem é Dwight Eisenhower? Eu não sei! E a comida da cantina? Eu comi uma gelatina que estava muito mais dura do que o prato. E por que tanto salaminho? Alguém aí votou em salaminho? Nós comemos mortadela? Presunto? Dá pra sair um queijinho aí? E se servem salsicha na terça-feira, eu não quero comer a salsicha ensopada na quarta e na quinta e, na sexta, feijão com salsicha. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgofzucetFjzTNjQgiI5Qyik6jq9lkZswZOa8QLMlW02tdAPAoAqFFU5oBMG46IB50Ow-UKmfNoKdLFdUnNIm-w7Bmh-i4nqLJyBiWYPnu36TjSqHA6uqDJupT6AzEMS-AeRMZGyY18WjC2bMukPpM-S4fDNwXXUJuP8V7nh13V0m0eUcRNzkIm-FddZcI/s320/EHC_025_1920x1080_238471_1920x1080.jpg 


Dá um jeito! E a gente tem que jurar a bandeira todo dia?! É uma jura! Basta jurar uma vez! Qual é? Eles não confiam n gente? E que tal fazermos um passeio a lugares que a gente quer mesmo ir? Já chega de tanto ir ao Jardim Botânico! Que tal um parque de diversões? Ou um estádio de futebol? Vamos ver os Knicks, vamos ver os Yankees! Poxa, eu topo até ver Cats. Mas se a gente for ao Jardim Botânico mais uma vez, eu juro que eu vou arrancar os galhos de alguém. Olha, eu sei que está mais do que na hora, mas, como presidente de seu grêmio estudantil, eu prometo que as mudanças vão acontecer! Meu nome é Chris e eu sou candidato à presidente do grêmio estudantil.

Todo mundo odeia eleições. Episódio 2 da 2ª temporada de Todo mundo odeia o Chris. Paramount Pictures, 2006. Transcrição feita para esta edição / Arquivo da editora.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 17.

Entendendo o texto:  

01 – Para qual cargo Chris está se candidatando e o que ele promete se for eleito?

      Chris está se candidatando para presidente do grêmio estudantil e promete que as mudanças vão acontecer na escola.

02 – Quais são as duas principais queixas de Chris em relação aos materiais e infraestrutura da escola?

      Ele reclama que os armários com combinações não funcionam e que os livros didáticos são desatualizados, mencionando um livro de história que cita Dwight Eisenhower como presidente.

03 – O que Chris critica sobre a comida da cantina?

      Ele critica a falta de variedade, mencionando uma gelatina muito dura, muito salaminho e salsicha requentada por vários dias seguidos, em vez de outros alimentos como presunto ou queijo.

04 – Que tipo de passeio Chris sugere como alternativa ao Jardim Botânico?

      Ele sugere passeios para um parque de diversões, um estádio de futebol para ver os Knicks ou os Yankees, ou até mesmo para ver a peça "Cats".

05 – Por que Chris acredita que a jura à bandeira não precisa ser feita todos os dias?

      Ele questiona a necessidade de jurar a bandeira diariamente, argumentando que uma vez é suficiente e que a repetição diária dá a impressão de que não confiam nos alunos.

 

sábado, 9 de agosto de 2025

TEXTO: DISCURSO DISCURSO DE FORMATURA DE EJA - FRAGMENTO - COM GABARITO

 Texto: Discurso de formatura de EJA – Fragmento

        Prezadas autoridades aqui presentes, prezados colegas, amigos e familiares

        No começo, olhamos para o alto e vimos uma confusão de teorias, livros, trabalhos, provas... Sem que tivéssemos a exata noção da dimensão do desafio que nos aguardava.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtI6VYPOZLSRBr0yzRgPPKao4afqo89ut6F7Ia8-pkb2FJJYwDHRFxhw8MaF8OiHhQ13-RvOABiYSx4j2fjCGnPx4IplGFwGOuQHe5D7ZKTvvAXvFrzpi4prK4OaDAiEUkqZuE-iZ2dzykVQlDr7friCkJvl-aYtWcqoRbuq_GEHGEEW9SV6guy0E23GQ/s320/52cc3f57b52c05ba510843fcee6c101b.jpeg


        Tomamos fôlego e começamos a escalada. Subimos o primeiro degrau, e, a cada etapa vencida, a escalada tornava-se mais emocionante.

        Durante três anos, escalamos e edificamos nossas colunas, e, nesta semana, esta caminhada chega ao fim para que se possa fazer um novo começo, e podem ter certeza que sentiremos saudades do percurso. Perceber esse processo, pela dinâmica do aprendizado e do crescimento pessoal, nos permite afirmar que ele mesmo não é fruto, obviamente, somente de esforço individual, pois nenhuma pessoa constrói-se sozinha, ela soma-se aos valores de cada um. [...] Como deixar de mencionar a influência de nossos mestres? Sempre auxiliando-nos nos trabalhos escolares ainda que não percebemos. Como suprimir nosso agradecimento aos nossos companheiros e companheiras, que sempre se fizeram presentes? A eles, nossos mais sinceros sentimentos de amor.

        Quanto a nós, o que fazer daqui para frente? O que, senão enfrentar os desafios que a vida nos oferece com sabedoria, força e beleza? Ao abraçarmos o EJA, abraçamos também seus múltiplos desafios. Desafios estes que convido a todos aqueles que, como nós, não tiveram a oportunidade de vencê-los no tempo certo. Ninguém hoje no Brasil é considerado alfabetizado se não houver terminado os primeiros anos do ensino fundamental. Convido a todos que não concluíram: venham para a escola e abracem também este sonho. Estamos felizes e queremos que esta corrente aumente cada vez mais. A escola estará aqui juntamente com os professores e funcionários e os receberão de braços abertos.

        Para concluir, gostaria apenas de dizer que hoje!... Hoje, nossos alicerces encontram-se nas nuvens. Agora é tomar posse do que é nosso, e que esta cerimônia de formatura não represente uma despedida em nossas vidas; e sim um compromisso para seguirmos em frente e não desistir jamais.

        E que Deus abençoe a todos!

        Obrigada.

Disponível em: http://ailce.blogspot.com/2009/12/discurso-de-formatura-eja.html. Acesso em: 23 abr. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 137.

Entendendo o texto:

01 – Qual a principal metáfora utilizada no discurso para descrever o processo de aprendizado?

      A principal metáfora é a de uma escalada. O orador descreve a jornada educacional como uma subida, em que os estudantes "tomaram fôlego e começaram a escalada" e "subiram o primeiro degrau", tornando cada etapa "mais emocionante". Essa metáfora simboliza o esforço e a superação dos desafios para alcançar um objetivo.

02 – Além do esforço individual, a quem o orador atribui o sucesso da formatura?

      O orador reconhece que o sucesso não é fruto apenas do esforço individual. Ele agradece a influência de seus mestres, que auxiliaram nos trabalhos escolares, e de seus companheiros e companheiras, que sempre se fizeram presentes. Ele enfatiza que "nenhuma pessoa constrói-se sozinha", somando-se aos valores de cada um.

03 – Qual é o convite feito pelo orador no discurso?

      O orador convida a todos que, como eles, não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos no "tempo certo", a abraçarem o EJA. Ele reforça a importância da educação, afirmando que ninguém é considerado alfabetizado sem ter concluído o ensino fundamental, e incentiva que mais pessoas se juntem a essa "corrente" do conhecimento.

04 – Qual a mensagem principal que o orador quer transmitir sobre o futuro dos formandos?

      A mensagem principal é de continuidade e resiliência. O orador afirma que a formatura não deve ser uma despedida, mas sim o início de um "novo começo". Ele os encoraja a "enfrentar os desafios que a vida nos oferece com sabedoria, força e beleza" e a manter o compromisso de "seguir em frente e não desistir jamais".

05 – O que a frase "Hoje, nossos alicerces encontram-se nas nuvens" significa no contexto do discurso?

      A frase significa que os formandos alcançaram um nível de conhecimento e realização tão significativo que os faz sentir-se elevados, com uma base sólida para o futuro. Os alicerces, que normalmente ficam no chão, estão nas nuvens, simbolizando que eles superaram as expectativas e estão prontos para "tomar posse do que é nosso", ou seja, aproveitar as novas oportunidades que a educação lhes proporcionou.

 

REPORTAGEM: É FREVO! - FRAGMENTO - FELIPE OLIVEIRA - COM GABARITO

 Reportagem: É frevo! – Fragmento

        Ele tem cerca de 100 anos de idade, é natural do Recife e faz qualquer um se mexer. Agora, no Carnaval, queima montes de calorias. Tem gente dizendo que pode até virar a primeira dança clássica brasileira

        Quando alguém fala em dança, música ou Carnaval brasileiro, todo mundo pensa logo no samba. Mas o frevo, nascido em Pernambuco, mais precisamente no Recife, não só é igualmente brasileiro como também explode no Carnaval. A grande diferença é que, ao contrário do samba, não se espalhou pelo país.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJUlXZJpDIRoMWkd5mxTanIOuIp3CkyTJ1r_DVT-bEqsBT7w2jIr3TbzkixFF0qYN2rdLoWvpIAHke11lKwfRDnHXNEOPb9kAneTZ1H97mbV-BHWkyt9MskbTYV4KkpVE-ZZSpws15C-ib05mF3XdEwPocvW_sNirgtLtT1IH-loZAhgp6OcASlPfxD_E/s320/9c655bc5-e08d-4a90-8ba0-d288a6b02c1e.jpeg


        Claro que brasileiros de todos os cantos reconhecem o ritmo quando o ouvem. Afinal, cantores conhecidos, como Caetano Veloso ou Moraes Moreira, já gravaram frevos que ficaram famosos nacionalmente. Muitos também são capazes de identificar – ainda que para alguns seja impossível botar em prática – os passos que acompanham esse tipo de música. Mas tocar, cantar e dançar frevo é coisa de pernambucano. Uma pena, na opinião do músico e bailarino também de Pernambuco Antônio Nóbrega, que defende a possibilidade de se usar o frevo como base para o desenvolvimento de uma dança clássica genuinamente brasileira. Algo para ser ensinado nas academias, ao lado do conhecido clássico europeu e do jazz. [...]

        Saltos e piruetas

        Mas por que o papel de gerar esse produto artístico nacional não poderia ser do samba? “Porque o samba não é uma dança”, justifica Nóbrega. “É basicamente um passo, ao qual podem ser acrescidos adornos.” Opiniões à parte, o certo é que a coreografia do frevo não padece dessa carência. São cerca de 120 passos diferentes. Muitos tão acrobáticos quanto aquelas piruetas nas quais o russo Mikhail Baryshnikov é craque. Segundo o compositor erudito brasileiro César Guerra Peixe (1914-1994), trata-se de um gênero único, pois o dançarino dança a orquestração. Por isso mesmo, para compor um frevo é preciso conhecer os papéis dos vários instrumentos numa orquestra, principalmente os dos metais.

        As primeiras composições, não por acaso, foram de mestres de bandas, como José Lourenço da Silva, o Zuzinha. É que o frevo nasceu da competição entre bandas marciais (veja o quadro ao lado). Cada uma com seu grupo de capoeiras, leões-de-chácara cheios de ginga, à frente, elas foram moldando as marchas militares à cadência da luta-dança, dando origem à nova música. “O nascimento do frevo não tem data específica”, avisa o historiador Leonardo Dantas Silva, da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. “Ele foi nascendo aos poucos, resultado de uma sincronização entre música e dança.”

        Levado para o Rio, não empolgou

        Por volta de 1880 começaram a surgir as primeiras sociedades carnavalescas do Recife. Eram os chamados “clubes pedestres”. Compostos por populares, eles se apresentavam assim mesmo: a pé. A aristocracia ficava nos clubes fechados. Quando os capoeiras eram reprimidos à frente das bandas marciais [...], se refugiavam nos desfiles dessas agremiações e passavam a defender seus estandartes.

        As orquestras desses clubes tocavam polca, maxixe, tango, marchas. E também foram influenciadas pelos passos da capoeira. Quando nasceu, em 1889, é provável que o Clube Vassourinhas já tocasse o frevo. Depois o gênero evoluiu, adquirindo uma personalidade ainda mais marcante. Quem ouvia essa música nova tentava encontrar paralelos. Em visita a Recife, em 1942, o cineasta americano Orson Welles teria chegado a acha-la parecida com a italiana tarantela. Especialistas negam a semelhança.

        Difícil de identificar, o frevo era também duro de imitar. Bem que se tentou, várias vezes, levá-lo para o Rio, mas não deu certo. “Frevo não é espetáculo, que nem as escolas de samba, mas participação do povo”, explicou o estudioso Valdemar de Oliveira no livro Frevo, Capoeira e Passo. “Se não há povo participante em quantidade e, sobretudo, em qualidade, que lhe dê corpo e alma, desfilará um ajuntamento de virtuose, ou pseudo-virtuose, não frevo”.

        Malabarismo na rua não é pra qualquer um

        Se é importante conhecer bem música para compor o frevo, parece ser necessário ainda algo mais para tocá-lo bem. Valdemar de Oliveira reclama que só quando a Federação Carnavalesca Pernambucana resolveu mandar o maestro Zuzinha ao Rio, para ensaiar as bandas cariocas encarregadas de gravar as composições premiadas no Carnaval, os resultados ficaram melhores. Antes, as notas vinham corretas, ele conta, mas o andamento era errado e o ritmo, frouxo.

        Talvez haja um pouco de bairrismo na avaliação. Mais aberto, Francisco Nascimento da Silva, 60 anos, o Nascimento do Passo, resolveu até abrir uma escola em Recife para ensinar a dança a turistas ou mesmo a moradores mais duros de cintura. “Em um mês qualquer um pode se tornar um bom dançarino”, exagera. Talvez a generosidade venha do fato de que ele não é pernambucano. Veio, menino, do Amazonas. Cá para nós, um mês de aulas deve dar apenas para passar o Carnaval sem vexame, arriscando uns vinte dos 120 passos conhecidos.

        [...].

Felipe Oliveira. É frevo! Revista Superinteressante, n° 113, fev. 1997. Disponível em: http://super.abril.com.br/historia/frevo-436886.shtml. Acesso em: 22 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 118-119.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal diferença apontada entre o frevo e o samba?

      A principal diferença é a popularização. O samba se espalhou por todo o país e é universalmente associado ao Carnaval brasileiro. Já o frevo, embora seja reconhecido por brasileiros, não se espalhou tanto e é predominantemente uma manifestação cultural de Pernambuco. Outra distinção é que o frevo, com seus cerca de 120 passos, é considerado uma dança, enquanto o samba é definido na reportagem como um passo básico, ao qual podem ser acrescentados adornos.

02 – Quem é Antônio Nóbrega e qual é a sua proposta para o frevo?

      Antônio Nóbrega é um músico e bailarino pernambucano. Ele defende a ideia de que o frevo poderia se tornar a base para o desenvolvimento de uma dança clássica genuinamente brasileira, sendo ensinado em academias de dança ao lado do balé europeu e do jazz.

03 – Por que, segundo César Guerra Peixe, o frevo é considerado um gênero único?

      Segundo o compositor erudito, o frevo é único porque o dançarino "dança a orquestração". Isso significa que a dança não é apenas um acompanhamento da música, mas uma interpretação física da complexidade musical. Por isso, para compor um frevo, é preciso ter um conhecimento aprofundado dos instrumentos de uma orquestra, especialmente os de metal.

04 – Como o frevo nasceu, de acordo com o historiador Leonardo Dantas Silva?

      O frevo nasceu da competição entre bandas marciais. Essas bandas, que tinham grupos de capoeiristas à frente, foram moldando as marchas militares à cadência da capoeira (uma luta-dança), resultando em uma nova música. O historiador explica que o frevo não tem uma data de nascimento específica, mas foi o resultado de uma "sincronização entre música e dança" que aconteceu gradualmente.

05 – Qual a razão, segundo o estudioso Valdemar de Oliveira, para o frevo não ter se popularizado no Rio de Janeiro?

      Valdemar de Oliveira explica que o frevo não é um espetáculo como as escolas de samba, mas uma "participação do povo". Ele defende que a essência do frevo está na participação espontânea de um grande número de pessoas com qualidade e alma. Sem essa participação popular em massa, o frevo perde sua essência e se torna apenas um "ajuntamento de virtuose" (pessoas talentosas), mas não o frevo de verdade.

06 – Que dificuldades foram relatadas em relação à execução musical do frevo fora de Pernambuco?

      A reportagem menciona que, quando as bandas cariocas tentaram gravar composições de frevo, os resultados não foram satisfatórios. Embora as notas estivessem corretas, o andamento era errado e o ritmo, "frouxo". Somente quando um maestro pernambucano foi enviado ao Rio para ensiná-los os resultados melhoraram, indicando a necessidade de uma sensibilidade cultural e rítmica específica para tocar o frevo corretamente.

07 – Quem é Nascimento do Passo e qual sua visão sobre o aprendizado da dança?

      Nascimento do Passo, um dançarino de 60 anos que veio do Amazonas, é o dono de uma escola de frevo no Recife. Ele é descrito como "mais aberto" do que outros e acredita que qualquer pessoa pode se tornar um bom dançarino em apenas um mês de aulas. Embora a reportagem considere essa afirmação um exagero, ela mostra a visão generosa de alguém que busca democratizar a dança.

 

 

FÁBULA: A CIGARRA E A FORMIGA - LA FONTAINE - COM GABARITO

 Fábula: A cigarra e a formiga

            La Fontaine

        Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVetm3Jyu861L_t9Esp6HaEhSosnyocog5g-yUnHCOL72aB_DLa0ggqtgc7l3g-d3vIJ0IhUkSm0PWd99OlAt8u56aapfUgEDld0Ce0r4OIJDzarDlgHbKD-_51OMe_ZOnPYzWctqUbxdt4mAE8mTCtDQxtkdHMMtdwOE-wZYn6eZh46QSbn1ZWBus3L8/s320/La-cigale-et-la-fourmi.jpg

        -- Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para se aproveitar! O verão é para se divertir!

        -- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno.

        Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque e quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer.

        Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha.

        A cigarra então aconselhou:

        -- Deixa esse trabalho para as outras! Vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar!

        A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga.

        Mas, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa.

        A rainha das formigas falou então para a cigarra:

        -- Se não mudar de vida, no inverno você há de se arrepender, cigarra! Vai passar fome e frio.

        A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou:

        -- Hum!! O inverno ainda está longe, querida!

        Para a cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo!

        Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga.

        Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio.

        Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa.

        Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse à cigarra:

        -- No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós.

        Para a cigarra e para as formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas.

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=563. Acesso em: 20 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 82-83.

Entendendo a fábula:

01 – Qual era a principal diferença entre a forma de viver da cigarra e da formiga?

      A cigarra vivia o presente, aproveitando o verão para cantar e se divertir, sem se preocupar com o futuro. A formiga, por outro lado, era trabalhadora e previdente, focando em guardar comida durante o verão para se preparar para a escassez do inverno.

02 – O que a cigarra tentou fazer quando encontrou a formiga?

      Ela tentou convencer a formiga a parar de trabalhar e aproveitar o verão, cantando e dançando com ela. A cigarra não entendia a necessidade de tanto esforço, vendo o trabalho como uma "perda de tempo".

03 – Qual foi a reação da rainha das formigas ao ver a cigarra e a formiga se divertindo?

      A rainha olhou feio para a formiguinha que estava se divertindo e ordenou que ela voltasse imediatamente ao trabalho. Ela também repreendeu a cigarra, alertando que ela se arrependeria no inverno.

04 – O que aconteceu com a cigarra quando o inverno chegou?

      Ela começou a passar frio e fome, pois não havia se preparado. Desesperada, ela bateu na casa da formiga em busca de ajuda.

05 – Qual foi a atitude da formiga e de sua rainha quando a cigarra pediu ajuda?

      A formiga abriu a porta, acolheu a cigarra, deu-lhe agasalho e uma sopa quente. A rainha, por sua vez, ofereceu à cigarra a chance de ficar no formigueiro, mas com uma condição: que ela trabalhasse, tocando e cantando para todas as formigas.

06 – Qual é a lição principal ou "moral" desta versão da fábula?

      Ao contrário da versão tradicional, onde a cigarra é deixada de lado, esta fábula ensina sobre a importância da cooperação e do valor de diferentes talentos. O trabalho da formiga (provisão) e o da cigarra (arte e alegria) se complementam, tornando a vida de todos mais feliz. A moral é que cada um tem seu papel, e todos podem contribuir.

07 – De que forma a solução encontrada pela rainha das formigas representa uma nova perspectiva sobre o trabalho e o lazer?

      A rainha reconheceu que a cigarra tinha um talento que as formigas não tinham: a música. Em vez de puni-la por não ter trabalhado como as outras, ela encontrou uma forma de a cigarra contribuir com a comunidade de acordo com sua habilidade natural, transformando a música (que era vista como lazer) em uma forma de trabalho que enriqueceu a vida de todos no formigueiro.

 

CRÔNICA: ALÉM DO POSSÍVEL - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Crônica: Além do possível

              Ferreira Gullar

        Coisa fácil é julgar os outros e difícil é compreendê-los. Já afirmei, aqui, que quem admite a complexidade da realidade não pode ser radical nem sectário, pela simples razão de que, se os problemas são complexos, não serão resolvidos de uma penada. Alias, toda vez que se tenta fazê-lo, o desastre é inevitável. Mas a tendência mais comum é acreditar nas soluções milagrosas, mesmo porque aceitar que as coisas são complicadas custa muito, a não ser se se trata de nós mesmos. Claro, quando alguém nos acusa de ter agido mal, nossa resposta é sempre que não deu pra fazer melhor. “As coisas são complicadas”, a gente argumenta. E são mesmo, mas para os outros também.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgrN-1FZnXiXRai23fdTszZuI8cMijpWOoQREPvnHih5DG6bes92ZnpEE73ij-4_HZf5c7-hTbpwx1kZ53hPU6_fQ2p5XNEUDVsG91x3Uy2424fA3VsFHn3Y6TqiHdqhqFSZTxXnR7z6Mca-22v2MbTIBxWioe4sKqnMmdTQzgqi40W1tW-Haq0vVFl3w/s1600/images.jpg


        Essas considerações vêm a propósito de uma conversa que tive com uma amiga muito querida, que vive sonhando. Devo esclarecer que nasci sob o signo de Virgo e sou, portanto, segundo a discutível astrologia, um tipo da terra, que vive pesando e medindo tudo, sem tirar os pés do chão. Tanto isso é verdade que muito raramente escrevo poesia, uma vez que a poesia nos obriga a voar. Essa é a razão por que, quando me perguntam se eu sou o poeta Ferreira Gullar, eu respondo: “Às vezes”. Dá então para entender a dificuldade que tenho de discutir certas coisas com uma pessoa do signo de Balança, por exemplo. Essa minha amiga é de Balança, isto é, não só hesita, sobe e desce, como flutua o tempo todo. E por isso, apesar do carinho que nos une, frequentemente nos desentendemos.

        -- Mas você não vê que isso é loucura, menina?

        -- Loucura? Só porque desejo ir pro deserto de Atacama catar múmia?

        -- Não sabia que você virou arqueóloga!

        -- E precisa ser arqueóloga pra ir catar múmia em Atacama?

        -- Precisa, sim. Mesmo porque aquilo deve ser um campo arqueológico, supervisionado pelo governo chileno. Não pode qualquer pessoa chegar lá e começar a cavucar.

        -- Você é um chato, ouviu! É por isso que não suporto os virginianos!

        -- Você não suporta é a realidade, meu amor!

        Pedi a conta e saímos amuados do restaurante. Ao chegar em casa, refleti.

        -- Que diabo tenho eu que ficar botando areia no sonho dos outros?

        E, como bom virginiano, aleguei que só falara aquilo temendo que ela entrasse numa fria, se tocasse para o deserto de Atacama e desse com os burros n’água.

        No dia seguinte, liguei para ela e me desculpei, expliquei-lhe que minha intenção era apenas alertá-la.

        -- E você pensa que eu sou maluca? Acha que eu ia mesmo me tocar para Atacama semana que vem?

        -- Temia que...

        -- O que você não entende é que tenho necessidade de sonhar, de imaginar coisas maravilhosas. Se as levarei à prática ou não, é secundário. Às vezes levo, como a viagem que fiz ao Himalaia e a outra, a Machu Picchu. Sei muito bem que fazer é mais difícil que sonhar, e por isso mesmo é que eu sonho.

        Caí em mim. Lembrei-me de uma coisa que sei e de que às vezes me esqueço: a vida não é só o possível. Sem o impossível, não se vai muito além da próxima esquina.

Ferreira Gullar. Além do possível. Em: Ferreira Gullar: crônicas para jovens. São Paulo: Global, 2011. p. 108-109 (Coleção Crônicas para jovens).

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 80-81.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal diferença de personalidade e visão de mundo entre o narrador e sua amiga, segundo o texto?

      O narrador, um virginiano, é pragmático e realista, "pesando e medindo tudo" e mantendo os "pés no chão". Ele foca no que é possível e concreto. Sua amiga, uma libriana, é sonhadora e flutuante. Ela tem a necessidade de imaginar coisas e idealizar, mesmo que não as realize de fato. Essa diferença de temperamentos é a causa de seus desentendimentos.

02 – Por que o narrador se identifica como poeta "às vezes"?

      Ele afirma que nasceu sob o signo de Virgem e se considera um tipo da terra, o que contrasta com a natureza da poesia, que exige "voar", ou seja, imaginar e sair da realidade concreta. Por isso, ele se vê como poeta apenas em momentos específicos, quando consegue se desprender de seu lado racional e pragmático para criar.

03 – Qual o motivo do desentendimento entre o narrador e sua amiga durante a conversa no restaurante?

      A amiga, sonhadora, expressa o desejo de ir ao deserto de Atacama catar múmias, uma ideia que o narrador considera "loucura" e irrealista. Ele, com sua visão pragmática, aponta as dificuldades práticas (a necessidade de ser arqueólogo, a supervisão governamental, etc.), enquanto ela enxerga a ideia como um simples sonho.

04 – Após a discussão, qual foi a reflexão do narrador?

      Depois de se desentender com a amiga, o narrador reflete sobre sua atitude e se questiona: "Que diabo tenho eu que ficar botando areia no sonho dos outros?". Ele percebe que sua tentativa de ser realista e alertá-la sobre os perigos foi, na verdade, uma intromissão desnecessária em algo que era apenas um sonho.

05 – Qual a principal lição que o narrador aprende com a amiga no final da crônica?

      A amiga explica que a necessidade de sonhar é essencial, e que a realização ou não do sonho é algo secundário. A partir disso, o narrador compreende que a vida não se resume apenas ao "possível" e que sem o "impossível" — ou seja, sem a capacidade de sonhar e idealizar — a vida se torna limitada e sem grandes avanços.

06 – Como a crônica "Além do Possível" trata a ideia de julgamento e compreensão?

      O texto começa afirmando que "coisa fácil é julgar os outros e difícil é compreendê-los". O narrador, ao longo da narrativa, exemplifica essa ideia. Inicialmente, ele julga o sonho da amiga como loucura, sem tentar entender a sua real importância para ela. Ao final, ele a compreende e se desculpa, percebendo que sua visão pragmática o impediu de enxergar o valor do "impossível".

07 – Qual o significado da última frase da crônica: "a vida não é só o possível. Sem o impossível, não se vai muito além da próxima esquina"?

      Essa frase sintetiza o aprendizado do narrador. Ela significa que a realidade concreta e pragmática (o possível) é apenas uma parte da vida. Para que haja progresso, inovação e até mesmo um sentido maior, é preciso sonhar, ter aspirações e idealizar (o impossível). Ficar preso apenas ao que é viável impede a pessoa de ir longe, de se aventurar e de transcender a rotina.

 

CRÔNICA: RUÍDOS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: RUÍDOS

             Luís Fernando Veríssimo

        A única linguagem verdadeiramente internacional é a linguagem do corpo. Não, não os gestos: os ruídos. A tosse, o espirro, o pum, o trombone de sovaco, você os conhece. Também é a única linguagem autêntica. Talvez por isso mesmo haja tanta preocupação em disfarçá-la, e desencorajar o seu uso em público. Desde pequenos aprendemos a reprimir, na medida do possível, as manifestações naturais do nosso corpo, e a nos sentirmos embaraçados quando não dá para controlar e o corpo se faz ouvir claramente, causando espanto e mal-estar. Ao mesmo tempo, aprendemos a nos expressar com palavras e frases – ou seja, a linguagem da dissimulação, da mentira e, ela sim, da ofensa – que, por mais bem pensadas e articuladas que sejam, não tem a honestidade de um bom arroto.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmt_1Jkwf9WlWu1N8clUca1eBBhxQMyI_qA_UmOJZ8Zt6kL_MSMfEOjiAAlzilqmYeOcOb0BW_t4iwb5RCU3bwJeXHdwoD8Drj2w9T0nUtCdhI0sOBRkYkROVUuwZQP1dK45fo3fARXvnwj4UbdTuZByCTN4kQRpXkggiDHrPp6DrmZ6iQWQvkzcQZ1rA/s320/Sinais-e-ruidos-e1717186397125.jpg


        Valorizamos a hipocrisia, condenamos a autenticidade. E o que é mais civilizado, a palavra, que discrimina e exclui, ou o ronco da barriga, que é igual para todos e que aproxima as pessoas, além de descontrair o ambiente? Uns podem ser mais ou menos espalhafatosos, mas todos os homens espirram da mesma maneira. Os puns também são iguais – respeitadas as variações de entonação, inflexão e duração –, independentemente de raça, cor, classe ou credo religioso. E ninguém tosse com sotaque, ou com mais correção gramatical do que seu vizinho.

        E sustento a tese de que, para conferências de paz ou qualquer negociação internacional, os países deveriam mandar os "mal-educados", no bom sentido. Pessoas que estabelecessem, de saída, sua humanidade comum, fazendo os ruídos que todos os homens e todas as mulheres (menos) fazem, em qualquer lugar do mundo. A primeira meia hora dos encontros poderia ser só de troca de ruídos do corpo, para criar o clima. Depois, o entendimento viria naturalmente. Mas não, quem é que mandam para essas reuniões? Diplomatas. Logo diplomatas, educadíssimos, incapazes de chuparem um dente na frente de quem quer que seja!

        Não admira que ainda exista tanta discórdia no mundo.

Luís Fernando Veríssimo. O Mundo é Bárbaro: e o que nós temos a ver com isso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p. 87-88.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 78.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o autor, qual é a única linguagem verdadeiramente internacional e autêntica?

A – A linguagem escrita, pois supera barreiras de sotaque e pronúncia.

B – A linguagem verbal, pois permite expressar pensamentos complexos.

C – A linguagem dos gestos, pois é compreendida globalmente.

D – Os ruídos do corpo, como a tosse e o espirro.

02 – Qual é a principal crítica do autor em relação à educação social?

A – Ela não ensina as pessoas a se expressarem bem com palavras.

B – Ela valoriza a hipocrisia e condena a autenticidade dos ruídos do corpo.

C – Ela não considera a importância dos gestos em público.

D – Ela não prepara as pessoas para reuniões internacionais.

03 – A que o autor se refere quando fala em 'linguagem da dissimulação'?

A – Às palavras e frases, que podem ser usadas para mentir e ofender.

B – Ao sotaque e à correção gramatical na fala.

C – Aos ruídos do corpo que as pessoas tentam esconder.

D – À linguagem corporal não intencional.

04 – Qual é a proposta inusitada do autor para as conferências de paz?

A – Que os diplomatas sejam substituídos por pessoas 'mal-educadas' para criar um clima de humanidade comum.

B – Que os encontros comecem com uma discussão sobre os ruídos que mais aproximam as pessoas.

C – Que todas as reuniões sejam feitas sem o uso de palavras, apenas com ruídos.

D – Que diplomatas sejam ensinados a fazer os ruídos do corpo para se comunicarem melhor.

05 – Por que o autor argumenta que 'não admira que ainda exista tanta discórdia no mundo'?

A – Porque as pessoas valorizam a linguagem verbal em detrimento da linguagem autêntica dos ruídos corporais.

B – Porque os ruídos do corpo nem sempre são iguais para todos.

C – Porque as pessoas são incapazes de se comunicar de forma clara.

D – Porque os diplomatas são as pessoas mais educadas do mundo.