Conto:
A gente não quer só comida
Luiz
Amorim, 50 anos, é açougueiro em Brasília. O que mais você diria sobre ele só
de olhar?
A) Tem uma biblioteca de 5 mil títulos.
B) É amigo de vários artistas.
C) Aprendeu a ler aos 16 anos
As
vitrines refrigeradas exibem os melhores cortes da casa, brilhando em vermelho
vivo. O cheiro da carne crua toma o ambiente, correndo pelo ar com o zumbido
característico do freezer, que ecoa nos azulejos brancos. Até aí, tudo indica
que o açougue de Luiz Amorim é igual aos outros. Mas basta uma observação
minimamente atenta para perceber que há algo especial ali: prateleiras repletas
de livros, à disposição de quem quiser pegar e levar para casa.
Desde que se tornou dono da loja, em
1994, Luiz decidiu oferecer aos clientes não só alimento para o corpo, mas
também para a mente. Começou com uma dezena de livros, apoiados ao lado do
caixa, prontos para ser emprestados, sem cobrança e sem burocracia. “Vai 100
gramas de Machado de Assis, freguesa?”, brinca com a clientela. Hoje, ele faz
circular, diariamente, um acervo de 5 mil títulos. Além disso, duas vezes ao
ano, Luiz promove as Noites Culturais, com apresentações de artistas da cidade
e de grandes nomes da música, como Zé Ramalho e Milton Nascimento. Há também as
Quintas Culturais, quando ocorrem debates sobre cultura e lançamentos de
livros. Moacyr Scliar e Fernando Morais são alguns dos escritores que já
fizeram noites de autógrafo em pleno açougue.
A ideia de misturar carne e cultura veio
dos livros do filósofo alemão Karl Marx, nos quais Luiz aprendeu que o homem
pode transformar a realidade em que vive. Foi já maduro que ele teve acesso a
essa teoria – que ele vem aprendendo na prática no decorrer de toda a vida.
Desde os 7 anos, para ajudar a mãe a criar os seis irmãos, Luiz aceitava
qualquer trabalho: engraxou sapatos, carregou carrinhos de feira, trabalhou
como pedreiro... Aos 12, foi empregado num açougue – que compraria 20 anos
depois. Aos 16, com renda estável, procurou uma escola para aprender a ler. Um
dia, uma professora lhe emprestou um gibi que contava a história dos grandes
filósofos. No início, ele não entendeu muito bem. Mas persistiu. E, quando
conseguiu extrair significado daquelas letras, conheceu um prazer para a vida
toda. [...]
Entre
carnes e livros
Na entrevista abaixo, o
açougueiro-literato Luiz Amorim conta como os livros mudaram sua vida e dá
ideias a quem quer gostar de ler.
-- Açougue
é lugar de livro?
-- Luiz – E por que não? A vigilância
sanitária já quis fechar o estabelecimento, por achar essa mistura suspeita.
Mas não há lei que impeça. Tem gente que vem só por causa dos livros. O meu
açougue é o único em que vegetariano entra!
-- É
possível despertar o gosto pela leitura?
-- Arte é hábito. Se você tem um
ambiente que propicia a cultura, não tem como não ficar contaminado. Vários
clientes passaram a ler. Alguns já até disseram que se curaram da depressão
graças à leitura.
-- E
seus empregados?
-- Meus funcionários têm de ler pelo menos um livro por mês para ganhar
uma bonificação.
-- Mas
não basta só garantir o acesso, né?
-- O acesso é importante, mas a pessoa
também tem de tomar a iniciativa. Acho que a maior dica é andar sempre com um
livro embaixo do braço. Se você ler de duas a cinco páginas por dia, em um mês
vai ter acabado.
-- Como
ler mudou a sua vida?
-- A leitura me deu uma visão mais
crítica do mundo. E esse é o papel do açougue cultural: ele não resolve a vida
literária de ninguém, mas serve para compartilhar conhecimento, fazer com que
as pessoas reflitam.
Paulo Moura é
jornalista, sócio-diretor da Agência VIRTA e autor do blog Mosca Branca. Além
do FTC, também escreve sobre inovação e criatividade para o Hypeness.
Entendendo o conto:
01 – O que o narrador quis
dizer, com o título do texto: “A gente não quer só comida?
Contar a história
de uma pessoa que montou uma biblioteca junto ao açougue de sua propriedade.
02 – De acordo com o texto,
quem é esta pessoa?
É Luiz Amorim, 50 anos,
açougueiro em Brasília.
03 – O que há de diferente
no açougue do Sr. Luiz?
Mas basta uma
observação minimamente atenta para perceber que há algo especial ali:
prateleiras repletas de livros, à disposição de quem quiser pegar e levar para
casa.
04 – Para caracterizar o
ambiente do açougue, o texto apela para os sentidos do leitor. Marque palavras
ou expressões que confirmem essa afirmativa.
“Vai 100 gramas
de Machado de Assis, freguesa?”
Luiz promove duas vezes ao ano as Noites
Culturais.
Quintas Culturais.
Noites de autógrafo, em pleno açougue.
05 – Qual a função das
reticências em “[...] trabalhou como pedreiro...”? (3º parágrafo)
A função das
reticências, é dizer que ele teve outras profissões além das que estão
especificada.
06 – Que “prazer para a
vida” toda Luiz descobriu?
Descobriu o
quanto era maravilhoso a leitura e não parou mais.
07 – Segundo Luiz, qual o
papel do “açougue cultural”?
“A leitura me deu
uma visão mais crítica do mundo. E esse é o papel do açougue cultural: ele não
resolve a vida literária de ninguém, mas serve para compartilhar conhecimento,
fazer com que as pessoas reflitam.”
08 – Quando fizeram uma
pergunta ao Luiz Amorim, “Açougue é lugar de livro”? O que ele respondeu?
“E por que não? A
vigilância sanitária já quis fechar o estabelecimento, por achar essa mistura
suspeita. Mas não há lei que impeça. Tem gente que vem só por causa dos livros.
O meu açougue é o único em que vegetariano entra!”
09 – Luiz Amorim, dá uma
bonificação a seus empregados. Para ganhar esta bonificação o que eles tem que
fazer?
Para ganhar a bonificação, todos os
empregados tem que ler pelo menos um livro.
10 – Para Luiz Amorim, todos
tem que tomar a iniciativa para a leitura, qual a dica dele?
Para ele a maior
dica é a pessoa andar sempre com um livro embaixo do braço.
11 – O que Luiz Amorim
respondeu quando perguntaram se; “É possível despertar o gosto pela leitura?”
Arte é hábito. Se
você tem um ambiente que propicia a cultura, não tem como não ficar
contaminado. Vários clientes passaram a ler. Alguns já até disseram que se
curaram da depressão graças à leitura.
12 – De onde ele tirou a
ideia de mistura carne e cultura?
A ideia de
misturar carne e cultura veio dos livros do filósofo alemão Karl Marx, nos
quais Luiz aprendeu que o homem pode transformar a realidade em que vive.
13 – Desde quando o Luiz
Amorim trabalha? E quais foram seus empregos?
“Desde os 7 anos, para ajudar a mãe a
criar os seis irmãos, Luiz aceitava qualquer trabalho: engraxou sapatos,
carregou carrinhos de feira, trabalhou como pedreiro... Aos 12, foi empregado
num açougue – que compraria 20 anos depois.”
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