quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

TEXTO: AGÁ DOIS Ó - MANOEL F.SOUZA NETO - COM GABARITO

Texto: Agá dois ó

        A água é uma coisa líquida que vive de passear. A gente pode às vezes até não perceber, mas ela está em todos os lugares onde estamos. Às vezes é tão leve que se mistura com o ar e forma nuvens de mar. Às vezes é pesada como uma montanha, mas ainda assim brinca de flutuar sobre o oceano e fica lá, boiando, boiando, até se desmanchar.
        A água, já descobriram alguns cientistas, é o feminino de agá dois ó, sendo que sua forma singular é conhecida como gota; no plural ela se pronuncia como um monte de pingos que misturados podem formar um rio doce ou um mar salgado; depende do gosto do freguês ou da onda da maré.
        A água vive de mudar de estado: evapora hoje. Chove amanhã, na semana que vem tá fria feito gelo, depois se derrete. Adora ficar indo e voltando, fazendo estripulia de menina sapeca. Tem dias que gosta de ser aquela nuvem que encobre o sol, em outros deseja descansar sobre a copa das árvores para pegar um bronze legal.
        A água tem momentos de grandes recolhimento, quando penetrando a terra se esconde entre os espaços deixados pelos grãos de areia e fica ali quieta, depois aflora em alguma fonte e aparece como um riachinho tranquilo, ai vai crescendo de tamanho e só quando tem que se abraçar com os braços do grande oceano.
        A água não guarda nenhuma mágoa, não tem certos preconceitos e cabe em qualquer lugar. Está no nosso corpo também numa cor que é vermelha por fazer parte do sangue, mas prefere ser chamada de inodora, insípida e incolor. Suas três propriedades mais propagadas e apagadas são fruto da sua timidez de aparecer como uma das mais importantes substâncias da vida.
        A água adora circular pela terra, sobe de um jeito e já desce outra, e vive assim de mudar as cores de sua roupa. Seu mais belo vestido é feito de sete matizes de um mesmo colorido, uma grande lição de arco-íris para o mundo, onde o que mais importa é poder propor aos homens uma aliança de amor em vez de potes de ouro.
        Enredada em seus segredos, a água é mística, lava-nos de nossa tristeza quando por vezes choramos. Em lágrimas vertidas a sua chama nos purifica, nos adormece o sofrimento nos ressuscita para a maravilhosa aventura da vida.
        A água está sempre por aí circulando o planeta no seu louco automóvel – um tal de ciclo hidrológico – evaporando gasosa, precipitando líquida ou sólida, parando no ar pela intercepção infiltrando, ressurgindo, escoando às vezes um tanto superficialmente, e assim vai se remexendo toda e construindo o seu show natural – ou você nunca ouviu o rock do teto molhado, com trovão na bateria e a chuva sobre as teclas do telhado?
        A água está sofrendo de uma doença que parece incurável e [...] uma epidemia. Suja e maltrapilha ela está a cada dia menos límpida, menos potável, menos leve, menos sadia, menos corredia, menos viva no seu jeitão descontraído. Em algumas poças ela estagnou como se houvesse sofrido uma paralisia; em certos lagos se tornou escura; noutros ficou escassa e, pior ainda, parece que o grande problema advém do fato de estar sendo envenenada.
        O planeta Terra, visto de cima, lá do espaço, é uma enorme bola azul feita de água. Muitos dizem que viemos do pó e ao pó voltaremos; na verdade a vida inteira de todos os seres veio da água, nasceu as profundezas desse líquido maravilhoso. A nave azulada está à deriva, entre as bordas de duas calotas sofre os efeitos da grande estufa, e ameaça inundar o mundo. Apesar de tudo, parece que ainda nos salvaremos, e como fênix, em vez de renascer das cinzas, haveremos de renascer... no berço das águas.

         Manoel Fernandes de Souza Neto. Aula de geografia e algumas crônicas.
                                              Campina Grande: Bagagem, 2003

Interpretação do texto:

01 – A crônica que você leu fala da água. Para representar os elementos naturais, como chumbo, água, ferro e outros, são usados letras e números. A água é representada pela fórmula H2O. Observe o título e diga o que ele tem a ver com a fórmula H2O.
      Resposta pessoal. Sugestão: O título está escrito como se fala.

02 – Que outro título você daria para a crônica? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – A crônica “Agá dois ó” expõe características da água em cada parágrafo. Conte quantos parágrafos tem a crônica. Lembre-se de que o início de cada parágrafo é marcado pelo espaço deixado à esquerda. Faça uma lista como essa em seu caderno e enumere-a de acordo com o número do parágrafo correspondente do texto. Veja o exemplo a seguir:
      A crônica possui 10 parágrafos.
3° parágrafo      -      Comenta sobre as mudanças de estado da água.
9° parágrafo      -      Descreve o mau uso da água.
5° parágrafo      -      Associa a água com o surgimento da vida.
7° parágrafo      -      Descreve de forma poética o ciclo da vida.

04 – Que trechos da crônica encontram-se relacionados ao esquema, visto anteriormente, sobre o caminho das águas na natureza? Qual seria a ideia principal de cada um dos parágrafos a seguir 1, 6 e 10?
      O caminho das águas, está no 8° parágrafo.
      No 1° parágrafo: fala dos três estados em que pode-se encontrar a água.
      No 6° parágrafo: Nós podemos encontrar a água em várias cores, deixando de ser inodora, insípida e incolor.
      No 10° parágrafo: revela a importância da água na vida dos seres, desde o nascimento até a morte.

05 – No texto, encontramos algumas palavras, conforme abaixo, explique.
a)   Por que o autor falou em “potes de ouro” no 6° parágrafo, logo depois de ter falado em “arco-íris”?
--- “Arco-íris”: representa as cores que encontramos as águas.
--- “Potes de ouro”: é a riqueza que a água proporciona em nossa vida.

b)   “Muitos dizem que viemos do pó e ao pó voltaremos”. Você já ouviu essa expressão? Em que local? Você sabe onde surgiu a expressão?

Resposta pessoal do aluno.

TEXTO: COMO O REI DE UM PAÍS CHUVOSO - NÉLSON ASCHER - COM GABARITO

Texto: COMO O REI DE UM PAÍS CHUVOSO


   Um espectro (aparição ilusória) ronda o mundo atual: o espectro do tédio. Ele se manifesta de diversas maneiras. Algumas de suas vítimas invadem o “shopping center” e, empunhando um cartão de crédito, comprometem o futuro do marido ou da mulher e dos filhos. A maioria opta por ficar horas diante da TV, assistindo a “reality shows”, os quais, por razões que me escapam, tornam interessante para seu público a vida comum de estranhos, ou seja, algo idêntico à própria rotina considerada vazia, claustrofóbica.
        O mal ataca hoje em dia faixas etárias que, uma ou duas gerações atrás, julgávamos naturalmente imunizadas a seu contágio. Crianças sempre foram capazes de se divertir umas com as outras ou até sozinhas. Dotadas de cérebros que, como esponjas, tudo absorvem e de um ambiente, qualquer um, no qual tudo é novo, tudo é infinito, nunca lhes faltam informação e dados a processar. Elas não precisam ser entretidas pelos adultos, pois o que quer que estes façam ou deixem de fazer lhes desperta, por definição, a curiosidade natural e aguça seus instintos analíticos. E, todavia, os pais se veem cada vez mais compelidos a inventar maneiras de distrair seus filhos durante as horas ociosas destes, um conceito que, na minha infância, não existia. É a ideia de que, se a família os ocupar com atividades, os filhos terão mais facilidades na vida.
        Sendo assim, os pais, simplesmente, não deixam os filhos pararem. Se o mal em si nada tem de original e, ao que tudo indica, surgiu, assim como o medo, o nojo e a raiva, junto com nossa espécie ou, quem sabe, antes, também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das precondições necessárias para sofrer dele. Falamos do homem cujas refeições da semana dependiam do que conseguiria caçar na segunda-feira, antes de, na terça, estar fraco o bastante para se converter em caça e de uma mulher que, de sol a sol, trabalhava com a enxada ou o pilão. Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio, que pressupõe ócio abundante e sistemático para se manifestar em grande escala. Ninguém lhe oferecia facilidades. Por isso é que, até onde a memória coletiva alcança, o problema quase sempre se restringia ao topo da pirâmide social, a reis, nobres, magnatas, aos membros privilegiados de sociedades que, organizadas e avançadas, transformavam a faina abusiva da maioria no luxo de pouquíssimos eleitos.
        O tédio, portanto, foi um produto de luxo, e isso até tão recentemente que Baudelaire, para, há século e meio, descrevê-lo, comparou-se ao rei de um país chuvoso, como se experimentar delicadeza tão refinada elevasse socialmente quem não passava de “aristocrata de espírito”.
        Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que, previamente, eram raridades reservadas a uma elite mínima. E, se houve um produto que se difundiu com sucesso notável pelos mais inesperados andares e cantos do edifício social, esse produto foi o tédio. Nem se requer uma fartura de Primeiro Mundo para se chegar à sua massificação. Basta, a rigor, que à satisfação do biologicamente básico se associe o cerceamento de outras possibilidades (como, inclusive, a da fuga ou da emigração), para que o tempo ocioso ou inútil se encarregue do resto. Foi assim que, após as emoções fornecidas por Stalin e Hitler, os países socialistas se revelaram exímios fabricantes de tédio, único bem em cuja produção competiram à altura com seus rivais capitalistas. O tédio não é piada, nem um problema menor. Ele é central. Se não existisse o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas. Seja como for, nem está, nem soluções tradicionais (a alta cultura, a religião organizada) resolverão seus impasses. Que fazer com essa novidade histórica, as massas de crianças e jovens perpetuamente desempregados, funcionários, gente aposentada e cidadãos em geral ameaçados não pela fome, guerra ou epidemias, mas pelo tédio, algo que ainda ontem afetava apenas alguns monarcas?

ASCHER, Nélson, Folha de S. Paulo, 9 abr. 2007,
Ilustrada. (Texto adaptado)

ENTENDENDO O TEXTO:

01 – O título do texto contém, sobretudo:
A) uma alusão à antítese entre a facilidade de provimento das necessidades materiais e o vazio decorrente do ócio e da monotonia pela ausência de motivos por que lutar.
B) uma comparação que trata da dificuldade de convivência entre a opulência do poder e a manipulação decorrente do consumismo exacerbado.
C) uma metáfora relacionada à coabitação da angústia existencial contemporânea com a busca de sentidos para a vida, especialmente entre os membros da aristocracia.
D) uma referência ao conflito advindo da solidão do poder, especialmente no que se refere ao desânimo oriundo da ausência de perspectivas para a vida em sociedade.

02 – O texto NÃO menciona como causa para a presença do tédio na sociedade moderna:
A) a ausência de atividades físicas compulsórias relacionadas com a sobrevivência.
B) a facilidade de acesso aos bens que proveem as necessidades físicas primárias.
C) a limitação da mobilidade física e privação de certas liberdades.
D) a proliferação de empresas e de espaços de lazer e de consumo.

03 – A alternativa em que o termo destacado NÃO está corretamente explicado entre parênteses é:
A) “[...] aos membros privilegiados de sociedades que [...] transformavam a faina (trabalho prolongado) abusiva da maioria no luxo de pouquíssimos eleitos.”  (A CARÊNCIA, A MISÉRIA)
B) “Basta [...] que à satisfação do biologicamente básico se associe o cerceamento de outras possibilidades [...]” (A RESTRIÇÃO, A SUPRESSÃO)
C) “[...] os países socialistas se revelaram exímios fabricantes do tédio[...]” (EMINENTES, PERFEITOS)
D) “Um espectro ronda o mundo atual: o espectro do tédio.” (UM FANTASMA, UMA AMEAÇA).

04 – “O mal ataca hoje em dia faixas etárias que, uma ou duas gerações atrás, julgávamos naturalmente imunizadas a seu contágio.”
A expressão destacada pode ser substituída sem alteração significativa do sentido por:

A) a uma ou duas gerações.
B) acerca de duas gerações.
C) há uma ou duas gerações.
D) por uma ou duas gerações.

05 – “Se não existisse o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.”
Alterando-se os tempos verbais, haverá erro de coesão em:
A) Não existindo o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
B) Se não existe o tédio, não terá havido, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
C) Se não existir o tédio, não vai haver, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
D) Se não tivesse existido o tédio, não teria havido, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.

06 – A supressão da vírgula implica alteração do sentido em:
A) “Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que, previamente, eram raridades reservadas a uma elite mínima.”
Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que previamente eram raridades reservadas a uma elite mínima.
B) “Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio, que pressupõe ócio abundante e sistemático [...]”
Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio que pressupõe ócio abundante e sistemático [...]
C) “O tédio não é piada, nem um problema menor.”
O tédio não é piada nem um problema menor.
D) “[...] também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das precondições necessárias [...]”
[...] também é verdade que por milênios somente uma minoria dispunha das precondições necessárias [...]


TEXTO: OS SONHOS DOS ADOLESCENTES - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: Os sonhos dos adolescentes


   Se tivesse que comparar os jovens de hoje com os de dez ou vinte anos atrás, resumiria assim: eles sonham pequeno. É curioso, pois, pelo exemplo de pais, parentes e vizinhos, nossos jovens sabem que sua origem não fecha seu destino: sua vida não tem que acontecer necessariamente no lugar onde nasceram, sua profissão não tem que ser a continuação da de seus pais. Pelo acesso a uma proliferação extraordinária de ficções e informações, eles conhecem uma pluralidade inédita de vidas possíveis.
        Apesar disso, em regra, os adolescentes e os pré-adolescentes de hoje têm devaneios sobre seu futuro muito parecidos com a vida da gente: eles sonham com um dia-a-dia que, para nós, adultos, não é sonho algum, mas o resultado (mais ou menos resignado) de compromissos e frustrações. Eles são "razoáveis": seu sonho é um ajuste entre suas aspirações heroico-ecológicas e as "necessidades" concretas (segurança do emprego, plano de saúde e aposentadoria). Alguém dirá: melhor lidar com adolescentes tranquilos do que com rebeldes sem causa, não é? Pode ser, mas, seja qual for a qualidade dos professores, a escola desperta interesse quando carrega consigo uma promessa de futuro: estudem para ter uma vida mais próxima de seus sonhos. É bom que a escola não responda apenas à "dura realidade" do mercado de trabalho, mas também (talvez, sobretudo) aos devaneios de seus estudantes; sem isso, qual seria sua promessa? "Estude para se conformar"? Consequência: a escola é sempre desinteressante para quem para de sonhar.
        É possível que, por sua própria presença maciça em nossas telas, as ficções tenham perdido sua função essencial e sejam contempladas não como um repertório arrebatador de vidas possíveis, mas como um caleidoscópio para alegrar os olhos, um simples entretenimento. Os heróis percorrem o mundo matando dragões, defendendo causas e encontrando amores solares, mas eles não nos inspiram: eles nos divertem, enquanto, comportadamente, aspiramos a um churrasco no domingo e a uma cerveja com os amigos. É também possível (sem contradizer a hipótese anterior) que os adultos não saibam mais sonhar muito além de seu nariz. Ora, a capacidade de os adolescentes inventarem seu futuro depende dos sonhos aos quais nós renunciamos.
        Pode ser que, quando eles procuram, nas entrelinhas de nossas falas, as aspirações das quais desistimos, eles se deparem apenas com versões melhoradas da mesma vida acomodada que, mal ou bem, conseguimos arrumar. Cada época tem os adolescentes que merece.
 Adaptado de Contardo Calligaris. Folha de S.Paulo, 11/01/07

ENTENDENDO O TEXTO:

01 – O autor considera que falta aos jovens de hoje:
(A) um mínimo de discernimento entre o que é real e o que é puro devaneio.
(B) uma confiança maior nas promessas de futuro acenadas pelo mercado de trabalho.
(C) a inspiração para viver que lhes oferecem os que descartaram as idealizações.
(D) a aspiração de perseguir a realização dos sonhos pessoais mais arrojados.
(E) a disposição de se tornarem capazes de usufruir a estabilidade profissional.

02 – Atente para as seguintes afirmações:
I. As múltiplas ficções e informações que circulam no mundo de hoje impedem que os jovens formulem seus projetos levando em conta um parâmetro mais realista.
II. As escolas deveriam ser mais consequentes diante da dura realidade do mercado de trabalho e estimular os jovens a serem mais razoáveis em seus sonhos.
III. As ficções que proliferam em nossas telas são assimiladas como divertimento inconsequente, e não como sinalização inspiradora de uma pluralidade de vidas possíveis.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
(A) I, II e III.
(B) I e II, apenas.
(C) III, apenas.
(D) II, apenas.
(E) I, apenas.

03 – No segundo parágrafo, ao estabelecer uma relação entre os jovens e os adultos de hoje, o autor faz ver que:
(A) os sonhos continuam sendo os mesmos, para uns e para outros.
(B) os adultos, quando jovens, eram mais conservadores que os jovens de hoje.
(C) os jovens esperam muito mais do que os adultos já obtiveram.
(D) o patamar de realização de vida atingido pelos adultos tornou-se uma meta para os jovens.
(E) a resignação dos adultos constitui a razão de frustração dos jovens.

04 – A expressão hipótese anterior, que surge entre parênteses, faz referência à seguinte passagem do texto:
(A) É possível que (...) as ficções tenham perdido sua função essencial.
(B) Consequência: a escola é sempre desinteressante para quem para de sonhar.
(C) Pode ser que (...) eles se deparem apenas com versões melhoradas da mesma vida (...)
(D) Ora, a capacidade de os adolescentes inventarem seu futuro depende dos sonhos aos quais nós renunciamos.
(E) (...) seja qual for a qualidade dos professores, a escola desperta interesse quando carrega consigo uma promessa de futuro (...).

05 – Certa impropriedade que se verifica no uso da expressão nas entrelinhas das nossas falas poderia ser evitada, sem prejuízo para o sentido pretendido, caso o autor a tivesse substituído por:
(A) entre os parênteses das nossas conversas.
(B) no que não se explicita em nossas palavras.
(C) nas assumidas reticências do nosso estilo.
(D) na falta de ênfase de nossas declarações.
(E) no que não se sublinha em nossos discursos.




quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES): MORRO VELHO - MILTON NASCIMENTO - COM GABARITO

Música(Atividades): Morro Velho

                                          Milton Nascimento
No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada

Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias pra moçada

Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha pra apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.

Entendendo a canção:
01 – De que se trata esta canção?
      Fala da amizade de dois meninos, um branco e um negro, que vivem no campo; faz uma análise instintivamente das desigualdades sociais e do preconceito racial.

02 – Na letra da canção há uma frase que corresponde a diferença de classe social e subordinação do homem no campo.
Indique a alternativa que mostra corretamente a frase:
a)   E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.
b)   Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante.
c)   Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá.
d)   Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará.

03 – Os versos retratam a estrutura de uma sociedade cindida pelas contradições entre as classes sociais. Ao analisar a sociedade capitalista, Marx revela que o profundo antagonismo na divisão social do trabalho repercute no fenômeno educativo e a educação passa a ser compreendida como:
a)   Uma prática comercial com o objetivo de promover a melhoria da formação técnica e da qualificação dos trabalhadores para o mercado de trabalho.
b)   Instrumento de legitimação e reprodução da ordem social estruturada na oposição entre as classes sociais, garantindo a preservação da hierarquia social e o controle ideológico da classe dominante.
c)   Meio pelo qual a sociedade se renova e preserva as condições de sua própria existência.
d)   Atividade neutra e portadora de um caráter universal, cujo propósito é atuar como instrumento de transformação política da estrutura social burguesa.
e)   Atividade capaz de emancipar por si mesma as classes subalternas da sua condição de explorada.

04 – Na música Morro Velho, o que aparece como diferença e o que podemos perceber como desigualdade?
      A diferença é caracterizada pela diversidade social e cultural, embora relacionar-se com o outro que é diferente nos enriquece, pessoal e coletivamente na nossa humanidade, nas nossas identidades. Já a desigualdade é a negação do outro, muitas vezes escravizados e massacrado, mas que permanece resistindo e afirmando sua identidade. É o caso dos negros e mulheres.

05 – Em que espaço a história se passa?
      Na fazenda.

06 – Quem são os personagens apresentados e qual a relação entre eles?
      O filho do branco e o filho do preto.
      Quando crianças amigos, mas na fase de adulto a relação é de patrão e empregado.

07 – O que separa os personagens? O que acontece a partir daí?
      O filho do branco vai para a cidade grande estudar, e o filho do preto continua na fazenda.
      O filho do branco volta doutor e agora vai mandar na fazenda, ou seja, “e seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.”

08 – Na segunda estrofe o autor fala sobre as diferenças raciais e sociais, que quando criança, os personagens, não se dão conta, de que existem diferenças, querem apenas serem livres e brincar. Cite um verso que confirme a fala do autor.
      “Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho.”

09 – No verso: “Tudo verdinho, lindo a crescer”, é uma visão do universo romântico. Que ideal a letra ainda traz?
      O ideal de inocência e do mundo utópico, que é o interior do país.

10 – Onde podemos encontrar os ecos abolicionistas de Olavo Bilac na canção?
      Na relação arcaica mantida entre filho branco, que é quem vai mandar, e o filho negro, que ao final já não brinca, mas trabalha.

11 – Na terceira estrofe o autor abrange a educação, diferenças sociais, onde o filho do mais favorecido vai a cidade grande estudar, enquanto, o amigo, “filho do pobre”, fica no mesmo lugar, sem nenhuma perspectiva de mudança. Cite um verso.
      “Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande.”

12 – O autor fala de um mundo quase utópico (isto é, romântico), em que versos?
      “... peixe no riacho e estradas para se correr atrás de passarinhos.”

13 – Por que a música parece ser a mimetização da mescla de tradição e transformação da vida social e cultural brasileira?
      Porque o autor soube fotografar o costume, mas também apontar a insatisfação com esse costume, cruzando toques do romantismo e modernismo, movimentos que supõem contraditórios entre si.



ARTIGO DE OPINIÃO: UM AMOR, UMA CABANA - ANA MIRANDA - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: UM AMOR, UMA CABANA
                                         Ana Miranda


     Nossos pais diziam que para nos tornarmos seres completos era preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Meu pai, que era engenheiro, acrescentava: construir uma casa. Escrevi livros, até demais, tenho um filho e plantei uma árvore, no jardim da casa onde cresci, uma muda de pau-rosa, ou flor-do-paraíso, que havia sido esquecida ao lado de uma cova estreita e funda, uma muda frágil, com poucas folhas, mais alta do que a menininha que a salvou. A muda cresceu, transformou-se em um majestoso flamboyant, coberto de flores vermelhas.

       Mas nunca construí uma casa. Sonho com isso. Gostaria de construir uma casa de taipa, com as próprias mãos, amassar o barro, atirar o barro nos enxaiméis e fasquias de madeira. Não se trata de uma idiossincrasia, nem de um gesto poético, muito menos uma visão religiosa. A taipa é um material apaixonante. Tem uma nobreza histórica. As reforçadas casas e igrejas coloniais brasileiras foram feitas de taipa de pilão, há ainda hoje na Alemanha casas em taipa construídas no século 13, a própria muralha da China, símbolo de solidez, é taipa. A taipa tem mais de 9.000 anos, serviu a construções no Egito, na Mesopotâmia.
       Um amigo meu, arquiteto, projetou e construiu belíssimas casas de taipa. Ele se chama Cydno Silveira e o conheci em Brasília, poucos anos depois de plantar meu flamboyant. Cydno estudava na UnB quando, observando residências rurais, surpreendeu-se com a quantidade de casas de taipa, feitas de maneira intuitiva, quase como abelhas fazem suas colmeias. Nunca tinha ouvido falar naquilo em seu curso, e percebeu o quanto era elitista o ensino de arquitetura. Fotografou as casas de taipa todas que encontrava. Ele se formou, passou a trabalhar com as técnicas industriais, como concreto armado, mas nunca esqueceu a taipa. Deu-se conta de que não sabia construir da maneira mais rudimentar e resolveu aprender. Estudou durante anos a técnica. Descobriu taipas diversas, como a de pedra, usada no Piauí, a de madeira com bolas de barro, vista no Maranhão, a taipa de carnaúba, a taipa mista de moldura de tijolos, a taipa feita com sobras de madeira e sucata. Descobriu a maleabilidade incrível do barro, novas estruturas, novos dimensionamentos do espaço e imensas possibilidades de melhoria na técnica tradicional. Estudou a combinação com elementos da cultura industrial, mas sem descaracterizar a antiga construção de estuque.
        A casa de taipa nasce do chão, vem da natureza, é construída com o material que está ali, a terra e as árvores e tem uma grande contribuição a dar a um país que não oferece moradia para todos, como o Brasil. O projeto de casas populares, que Cydno afinal desenvolveu, ensina o homem a construir sua própria casa e a cuidar dela. Tem o sentido de manter viva a sabedoria popular da taipa. Está sendo feita uma experiência na cidade de Bayeux. Paraíba, para treinamento de pessoas no projeto, construção, melhoria e restauração de edificações em taipa de pau a pique. Não recebendo a casa pronta, mas construindo-a, o dono toma por ela mais amor. Se for privado de sua terra, ele saberá construir uma nova habitação. O saber lhe pode servir como meio de vida, e a profissão tem um nome: taipeiro.
      A casa de taipa é uma grande alternativa para a habitação no meio rural e nas periferias urbanas. Típica das populações mais pobres, é uma forma de independência, uma estratégia milenar de abrigo, preservada nos sertões brasileiros especialmente pelas mulheres. O sistema de autoconstrução elimina a aquisição de material, o transporte, o crédito, elimina o BNH e o processo industrial de construção, permite o mutirão e, principalmente, educa. É rápida a construção, usa-se mão de obra não qualificada, e é um instrumento para a posse imediata da terra. Permite uma construção tanto de caráter provisório quanto perene e a técnica pode ser levada a lugares onde não chega o material industrializado. Uma simples caiação evita a umidade e basta fechar as frestas onde o barbeiro gosta de fazer seu ninho. Integra a família, as mulheres e as crianças trabalham na construção e integra o grupo na sociedade quando em regime de mutirão. Apesar de tudo isso é completamente ignorada pelos meios administrativos, considerada subabitação, não há nem mesmo linha de crédito nos órgãos do governo para casa de taipa. Marcos Freire, antes de morrer, estava tratando de corrigir esse lapso. Nas esferas “civilizadas” há dificuldade em compreender a taipa. Não há legislação nem a favor nem contra. Quando da construção de Carajás, Cydno realizou um projeto de moradias em taipa de pau a pique para os empregados, utilizando o fartíssimo material do lugar. Seu projeto não foi aceito e os tijolos, o cimento e o ferro viajaram de avião até Carajás.
     Na taipa não há desperdício de material e nem agressão ecológica, a madeira usada nas estruturas é em quantidade cinco vezes menor do que a necessária na queima de tijolos para uma parede das mesmas dimensões [..].
     O Cydno vai projetar a minha casa de taipa. Vou querer na casa uma lareira, um fogão a lenha e uma vassoura daquelas de gravetos, Uma árvore frondosa por perto, pode ser flamboyant, um gramado na sombra para piquenique, contemplação ou leitura. Também dizia meu pai, nas coisas mais simples está o sentido da vida.
                                                                   Ana Miranda

 ENTENDENDO O TEXTO:

      No texto, a autora aborda uma questão social: a falta de moradia de uma grande parcela da população brasileira. E, diante dessa questão, defende um ponto de vista.
      O que ela defende como solução dos problemas de habitação para a área rural e a periferia urbana?

01 – Identifique o principal argumento que comprova este ponto de vista.
a) (  ) “A taipa é um material apaixonante. Tem uma nobreza histórica”.
b) (X)“A casa de taipa nasce do chão, vem da natureza, é construída com o material que está ali, a terra e as árvores[...]”
c) (  )A taipa tem mais de 9.000 anos, serviu a construções no Egito, na Mesopotâmia.”

02 – Marque com (x) a alternativa que traduz o que predomina no texto
a) (X)Uma análise crítica das escolhas de material para a construção de casas populares.
b) (  )Uma visão poética e expressiva em relação às casas de taipa.
c) (  )Lembranças e sentimentos da autora.
d) (  )Levante hipóteses.

03 – Por que a taipa, um material resistente ao tempo, maleável, de baixo custo e que tem baixo consumo de recursos naturais, não é utilizada nas construções de casas populares e em geral?
      Porque é completamente ignorada pelos meios administrativos, considerada subsbitaçao não há nem mesmo linha de crédito nos órgãos do governo para esta casa. Não há legislação nem a favor e nem contra.

04 – Que vantagens há em se ensinar a população a construir suas próprias casas?
      É rápida a construção, usa-se mão de obra não qualificada, e é um instrumento para a posse imediata. Integra a família, as mulheres e as crianças trabalham na construção e integra o grupo na sociedade quando em regime de mutirão.

05 – Segundo a autora, “Nas esferas ´civilizadas´ há dificuldade em compreender a taipa”. O uso das aspas na palavra civilizadas dá um tom de ironia, ou seja, sugere uma ideia exatamente contrária. Qual é essa ideia?
      Da a ideia de um tempo bem antigo, com relação ao dia de hoje.

06 – A autora cita que seu pai costumava dizer que “para nos tornarmos seres completos era preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho” e “construir uma casa”. Que princípios ou valores são destacados a partir dessas ações?
      Essa frase tem um significado muito profundo, que nos leva à nossa origem, nos religando à energia divina e nos ensinando um caminho de volta ao nosso Pai.
      A árvore está relacionada a criação do mundo e que cada um de nós tem que plantar a sua semente espiritual.
      Ter um filho - nada mais é do que compartilhar o seu conhecimento. É ter um discípulo.
      Escrever um livro - significa fazer da sua história um exemplo de superação. 



SONETO: A INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO - GREGÓRIO DE MATOS - COM GABARITO

SONETO: A INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO
                  Gregório de Matos

 
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.”
                                                                

01 – A ideia central do texto é:
a) a duração efêmera de todas as realidades do mundo;
b) a grandeza de Deus e a pequenez humana;
c) os contrastes da vida;
d) a falsidade das aparências;
e) a duração prolongada do sofrimento.


02 – A preocupação com a brevidade da vida induz o poeta barroco a assumir uma atitude que:
a) descrê da misericórdia divina e contesta os valores da religião;
b) desiste de lutar contra o tempo, menosprezando a mocidade e a beleza;
c) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apatia dos céticos;
d) se revolta contra os insondáveis desígnios de Deus;
e) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a mocidade dura.

03 – Qual é o elemento barroco mais característico da 1ª estrofe?
a) estrutura bimembre
b) estrutura correlativa, disseminativa e recoletiva
c) disposição antitética da frase
d) concepção teocêntrica
e) cultismo

04 – No texto predominaram as imagens:
a) táteis
b) olfativas
c) auditivas
d) visuais
e) gustativas

05 – Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:
a) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina.
b) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista.
c) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida.
d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.
e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas.

06 – Podemos perceber no poema muitas figuras de linguagem. Encontre as antíteses e cite os versos:
“Nasce o sol e não dura mais que um dia” – (vida/morte)
“Depois da luz, se segue a noite escura” – (claro/escuro)
“Em tristes sombras morre a formosura” – (feio/belo)
“Em contínuas tristezas a alegria” – (tristeza/alegria)

07 – Como é formado o poema?
    É formado por 2 quartetos e 2 tercetos, num total de 14 versos. Esta é a estrutura de um soneto.

08 – No poema percebemos que a linguagem barroca  enfatiza o quê?
   Tudo que é inconstante, que muda de aparência, que está em movimento. 



POEMA: NEOLOGISMO - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

 Neologismo 
                                  Manuel Bandeira

Beijo pouco, falo menos ainda
Mas, invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar
Intransitivo;
Teadoro, Teodora.

Exercícios
01 – Segundo o Autor, os meios para se manifestar ternura são:
a) (   ) falar muito                                  b) (   ) beijar muito    
c) (   )inventar palavras                         d) (  ) calar-se.

02 – Que palavra o Autor inventou para manifestar ternura:
a) (  ) intransitivo      b) (   ) cotidiana      c) (X) teadorar   
d) (   ) funda

03 – O poema chama-se Neologismo por que:
a) (   ) dá ideia de coisa ultrapassada;
b) (   ) encerra uma mensagem otimista;
c) (   ) apresenta características de versos soltos;
d) (X) introduz palavras novas na língua.

04 – Os verbos na sua opinião, estão no modo:
a) (   ) imperativo;            b) (X) indicativo;       c)  (    ) subjuntivo.

05 – O Autor inventa palavras para traduzir ternura:
a) (   ) passageiro e fugar;
b) (   ) leviana e interesseira;
c) (X) profunda e de todos os dias.

06 – Neologismo é:
a) (  ) o uso de qualquer recurso da língua pertence ao seu passado morto;
b) (  ) uso de palavras que infringem as regras atuais de grafia;
c) (X) qualquer criação atual, dentro da língua, podendo ofender a qualquer parte da gramática.