domingo, 5 de agosto de 2018

TEXTO: MEDO, MEDINHO, MEDÃO - EDSON GABRIEL GARCIA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: Medo, medinho, medão

        Pororoca ainda não havia entendido por que teria de passar por aquele estranho teste para fazer parte definitivamente da turma do Balau, na rua da sua casa.
        – É hoje à noite, Pororoca. Hoje ou nunca.
    Pororoca fez um resumo rápido das suas lembranças: tinha mudado com sua família (ele, o pai, a mãe, a avó e sua irmã Terê) para aquela rua há três semanas. A casa era grande e gostosa, tinha até quintal no fundo e jardim na frente. Aos poucos foi se acostumando com a nova escola, que não era tão nova assim, com os novos colegas da classe, com os novos conhecidos da simpática rua onde viera morar. De pouco em pouco, ele foi conhecendo a turma da rua: Rodrigo, Mané, Chico Santos, Paulo Gabriel. Era uma turma alegre, brincalhona. De cara ele ganhou o apelido de Pororoca, certamente por causa das muitas sardas no rosto. Gostou do apelido e nem se incomodou com isso. Afinal o apelido que ele tinha na outra escola, também por causa das pintas no rosto, era Mata-Borrão.
        Bem ... Pororoca já se sentia um membro da turma, e foi com surpresa que recebeu a informação de Chico Santos:
        – Olha aqui, Pororoca, se você quer fazer parte da nossa turma terá de passar por um teste.
        Pororoca achou engraçado, mas topou. Ele já tinha feito vários testes na sua vida e um a mais ou a menos não afetaria nada. Por isso topou na hora.
        – Eu topo, Chico. É só marcar. Me avisa uns dias antes pra eu me preparar.
        – Que preparar o quê, Pororoca! Se você quiser, o teste é amanhã à noite. Só preciso de tempo pra avisar todo mundo.
        – À noite!?
        – É, à noite, cara. De dia não tem graça e não dá pra fazer o teste.
        Pororoca, sem entender muito bem, pediu mais esclarecimentos:
        – Bem ... mas que tipo de teste é esse?
        – Teste de coragem, meu amigo. Precisamos saber se você tem medo ou não.
        – Medo? Medo do quê?
        – Do escuro, de assombração, de fantasma, de almas do outro mundo ...
        – Mas... por quê?
        – Olha aqui, Pororoca, não vou ficar dando entrevista. Ou você quer ou não quer!
        Pororoca não teve outro jeito, mesmo sabendo que medo era uma coisa que ele tinha de sobra. Mas pior que isso era ficar desenturmado.
        – Eu topo. Pode marcar o teste.
        – Amanhã eu te aviso o local e a hora.
        Pois bem, o local e a hora foram marcados: nove horas da noite, no fim da rua tranquila, perto de uma praça.
        Na hora combinada, lá estavam Pororoca e os futuros colegas de turma.
        – Bem ... Qual é o teste?
        – É simples! - começou explicando o Balau. - Naquela rua ali, depois da praça, no número 83, tem uma casa. Faz mais de trinta anos que ela está abandonada. As pessoas mais velhas daqui dizem que ali um casal sem filhos se suicidou logo depois do casamento. Depois disso ninguém nunca mais morou na casa. Também dizem que toda noite o casal volta e fica vagando pela casa, feito alma penada que ainda não sabe que morreu.
        – Arre! E o que tem isso a ver com o teste?
        – Tem tudo. O teste é lá.
        – Lá? Você está louco!?
        – Eu não. Se você não quer, voltamos e fim de papo.
        – Bem ...
        – Está com medo?
        Pororoca estufou o peito, morrendo de medo, e respondeu:
        – Nem medo, nem medinho, nem medão! Estou pronto.
        – Ok. O teste é o seguinte: hoje de manhã eu joguei uma laranja dentro da casa. Você deverá ir lá, entrar na casa, achar a laranja e trazer de volta. Nós esperamos aqui.
        – E onde você jogou a laranja?
        – Lá dentro, ué.
        Pororoca pensou em desistir. Mas aí ficaria sem turma ali na rua e todo mundo o chamaria de Pororoca, o medroso. Por isso decidiu ir de qualquer jeito. Não tinha outra saída: era ir ou ... ir.
        A casa era simples, pequena, abandonada, mas se não fosse a história de Balau, ninguém pensaria que era mal-assombrada. O mato crescia por todos os lados e as duas janelas estavam parcialmente arrebentadas e abertas. A porta da frente, depois do pequeno alpen­dre, também estava meio aberta. Era por ali que ele iria entrar. Pororoca juntou os cacos de coragem e entrou na casa ...
        Mas foi a conta de entrar, e um treco mole e fedido encostou-se na cabeça e no rosto dele. Isso bastou para que Pororoca arregalasse os olhos, suspendesse a respiração. No mesmo instante, deu meia volta e disparou na maior carreira da sua vida.
        Chegou quase morto onde os meninos esperavam por ele.
        -- Não deu certo ... não deu ... ufa! Não deu ... me faltou coragem, fiquei com medo! ...
        Todos os amigos caíram na risada. E foi o próprio Balau quem puxou a palavra:
        -- Ainda bem, Pororoca, que você teve medo.
        -- Ainda bem, Balau? E você ainda fica me gozando?
        -- Não. Nada disso. Você está aprovado no teste.
        -- Como aprovado???
        -- Aprovado! Isso mesmo. A gente só aprova quem tem medo.
        -- Só quem tem medo?
        -- É, nessa turma todo mundo tem medo da casa abandonada. Imagine se a gente ia deixar entrar alguém que seja corajoso!
        -- Pô, Balau! Quer dizer que com medo e tudo eu já sou da turma?
        -- Já! Nessa turma só entra quem tem medo.
        E foram embora da praça, todos os amigos, a turma do medo com mais um membro.

Edson Gabriel Garcia. Meninos & meninas: traquinagens,
Brincadeiras e emoções na rua. São Paulo, Loyola, 1992.

Entendendo o texto:
01 – Onde se passa a história que você leu?
      Na rua para a qual Pororoca recentemente havia se mudado com a família.

02 – Quanto tempo durou a história? Explique o que você observou para responder.
      Cerca de dois dias. Pororoca tinha se mudado havia três semanas, os fatos da história começam quando Pororoca é desafiado a passar por um teste no dia seguinte à noite.

03 – Por que Pororoca teria de fazer o teste?
      Para fazer parte de uma turma de amigos.

04 – Se você fosse Pororoca, aceitaria fazer esse teste? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Em que momento Pororoca sentiu mais medo?
      Pororoca sentiu mais medo quando um treco mole e fedido encostou em sua cabeça e em seu rosto dentro da casa mal-assombrada.

06 – Que sentimento o desfecho da narrativa provocou em você?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Crie outro título para esse texto e escreva no espaço abaixo.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Em sua opinião, o que teria acontecido se o teste fosse para valer, isto é, se Pororoca realmente tivesse de provar que era corajoso? Os amigos iriam aceita-Io na turma? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Releia um trecho da história.
        "Aos poucos, foi se acostuman­do com a nova escola, que não era tão nova assim."
O que você entendeu por meio da expressão destacada?
      Essa expressão explica que a escola, apesar de ser nova para Pororoca, já tinha algum tempo de existência e funcionamento.

10 – Retire do texto:
a)   Uma frase pontuada com reticências.
“— Bem... mas que tipo de teste é esse?”
b)   Uma frase pontuada com três pontos de interrogação.
“— Mas... por quê???” / “Como aprovado???”.
c)   Uma frase pontuada com ponto de exclamação e de interrogação.
“— À noite!?”

11 – Numere os fatos de acordo com a ordem em que aparecem no texto.
(7) Todos os amigos foram embora da praça.
(1) Pororoca deveria passar por um teste estranho.
(3) Pororoca topou fazer o teste.
(6) Pororoca foi aprovado no teste.
(5) Pororoca pensou em desistir.
(2) De cara ele ganhou o apelido de Pororoca.
(4) Balau explicou o teste.

12 – Reescreva as frases de acordo com a indicação do tempo verbal dos parênteses.
·        Todos os amigos caíram na risada. (Futuro)
Todos os amigos cairão na risada.
·        Pororoca fez um resumo rápido de suas lembranças. (Presente)
Pororoca faz um resumo rápido de suas lembranças.
·        De cara ele ganhou o apelido de Pororoca. (Futuro)
De cara ele ganhará o apelido de Pororoca.

13 – Utilize os verbos do quadro para completar as frases abaixo. Observe o tempo solicitado nos parênteses.

                 CORRER        BRINCAR      LER          DANÇAR
                 NADAR          RIR           ESCREVER    DIGITAR
 
 




·        Os meninos corriam atrás das meninas na hora do intervalo. (Pretérito)
·        A professora lerá um livro para os alunos durante a aula. (Futuro)
·        João dança muito no clube. (Presente)
·        Maria digitou muito no seu trabalho. (Pretérito)
·        As meninas brincarão na festa do colégio. (Futuro)
·        Meninos e meninas nadam na competição. (Presente)
·        Carlos escreveu em seu caderno novo. (Pretérito)
·        As crianças rirão do palhaço. (Futuro).


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