sábado, 25 de novembro de 2017

SONETO: À MESMA - BOCAGE - COM GABARITO

À Mesma


Texto I
        Neste soneto, Bocage fala sobre os prazeres vividos pelos amantes em um cenário acolhedor.

Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,


E, lambendo-se as areias, e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio:

Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando, e seus ardores
Dentre os aromas do pomar sombrio:

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados:

Mais doce é ver-te de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida.
                   Bocage, Manuel Maria Barbosa du. Obras de Bocarge.
                                     Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 423.


Texto II: Doçura de, no estio recente

        Manuel Bandeira reelabora, neste poema, o soneto de Bocage.

Doçura de, no estio recente,
Ver a manhã toucar-se de flores
E o rio mole queixoso
Deslizar, lambendo areias e verduras;

Doçura de ouvir as aves
Em desafio de amores
Cantos, risadas
Na ramagem do pomar sombrio.

Doçura de ver mar e céus
Anilados pela quadra gentil
Que floreia as campinas
Que alegra os corações.

Doçura muito maior
De te ver
Vencida pelos meus ais
Me dar nos teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, muito melhor do que a vida,
Puxa!
                                      Bandeira, Manoel. Poesia completa e prosa.
                                          Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. p. 78.


Interpretação do texto:
1 – O que há de comum entre os dois poemas?
      Os dois poemas dizem essencialmente o mesmo, tanto que podemos reconhecer no poema de Bandeira quase todos os versos presentes no soneto de Bocage.

2 – Em termos formais, em que eles se diferenciam?
      O poema de Bocage é um soneto composto por versos decassílabos que apresentam rimas interpoladas (ABBA ABBA CDC CDC). Manuel Bandeira abandona a forma fixa utilizada por Bocage (soneto); ele não faz uso de uma métrica regular nem de rimas.

3 – As três primeiras estrofes do soneto de Bocage introduzem um raciocínio baseado em hipóteses. A conclusão desse raciocínio é apresentada na última estofe do soneto.
a)   Que raciocínio é esse?
As hipóteses propostas nas três estrofes dizem respeito às alegrias e prazeres provocados pela possibilidade de alguém usufruir os dons da natureza.
Na primeira estrofe, o eu lírico destaca o prazer de ver uma manhã de verão se enfeitar de flores e acompanhar a trajetória do rio, que banha as areias e os prados.
Na segunda estrofe, a alegria de desfrutar o canto dos pássaros em um pomar.
Na terceira estrofe, o eu lírico fala da doçura de ver os mares e céus azulados pela primavera, que traz alegria para os corações e enche os prados de flores.

b)   Qual a conclusão a que chega o eu lírico?
O eu lírico conclui que o prazer associado à natureza é menor do que aquele oferecido pelos braços da amada.

4 – A linguagem é um elemento fundamental da releitura que Bandeira faz do soneto de Bocage. Por quê?
      Bandeira elimina as inversões sintáticas e usa sinônimos para alguns dos termos utilizados por Bocage. Ao fazer isso, produz quase uma “tradução” moderna do poema de Bocage.

5 – O poema de Bandeira apresenta palavras organizadas de forma diferente. O que essa disposição sugere ao leitor?
      Na primeira estrofe, os adjetivos mole e queixoso foram separados em dois versos independentes, que sugerem o caminho da água do rio, que desliza “lambendo areias e verduras”.
      Na segunda estrofe, a sobreposição dos substantivos amores, cantos e risadas em versos diferentes pode ilustrar o efeito dos cantos dos pássaros, que se confundem na alegria do pomar, ou também criar uma imagem gráfica que lembra a presença dos pássaros, nos galhos das árvores, enquanto cantam.

6 – Considere, agora, as diferenças identificadas.
a)   Com base nelas é possível afirmar que o segundo poema é mais moderno do que o primeiro? Explique.
Sim. O fato de não ser um poema com forma fixa, de haver uma disposição diferente das palavras, de haver uma estrutura sintática mais direta, tudo isso caracteriza um estilo mais despojado, que soa mais atual.

b)   A interjeição, puxa! presente no final do poema de Bandeira, ajuda a caracterizar um olhar mais atual para o tema do amor? Por quê?
Sim. A interjeição puxa! traduz uma certa irreverência e ironia sobre tantas maravilhas associadas ao tema do amor no poema de Bocage. Esse é um cenário positivo demais para ser apresentado por um poeta do século XX.




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