Poema: Traduzir-se
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
Linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
Linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
GULLAR, Ferreira. Poemas escolhidos. São Paulo: Ediouro, 1989. p.
96
1. De que trata o poema
de Ferreira Gullar?
O poema trata das contradições do ser
humano.
2. Como o título se
relaciona com o conteúdo do poema?
O título aponta a tentativa do eu lírico de traduzir
suas próprias
contradições.
3. Releia a última
estrofe do poema. Nela, o eu lírico apresenta
uma hipótese do que poderia ser a
arte. Que hipótese é essa?
O eu lírico se pergunta se arte não é a tentativa de tradução
de si
mesmo por meio dos contrários que o compõem,
ou seja, as várias partes (faces)
de que cada um é feito.
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