segunda-feira, 13 de novembro de 2017

CRÔNICA: PAPOS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

CRÔNICA: PAPOS
 
          Luís Fernando Veríssimo


– Me disseram…
– Disseram-me.
– Hein?
– O correto e “disseram-me”. Não “me disseram”.
– Eu falo como quero. E te digo mais… Ou é “digo-te”? – O quê?
– Digo-te que você…
– O “te” e o “você” não combinam.
– Lhe digo?

– Também não. O que você ia me dizer?
– Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a
cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
– Partir-te a cara.
– Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
– É para o seu bem.
– Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender.
Mais uma correção e eu…
– O quê?
– O mato.
– Que mato?
– Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
– Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo!
– Se você prefere falar errado…
– Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou
entenderem-me?
– No caso… não sei.
– Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
– Esquece.
– Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou
“esqueça”? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
– Depende.
– Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não
sabes-o.
– Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
– Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso
mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
– Por quê?
– Porque, com todo este papo, esqueci-lo.

Interpretação do texto:

1- Marque um X apenas na alternativa incorreta:
a) Existe um diálogo entre um par de pessoas.
b) Há uma conversa entre duas pessoas, sendo que locutor e interlocutor se alternam.
c) “O importante é me entenderem.” Essa frase destaca a importância da comunicação.
d) “Falo como todo mundo fala.” Esse período revela que, geralmente, a fala do homem é a reprodução daquilo que ele ouve.
e) O título é inadequado, visto que “papos” está no plural, e existe apenas uma conversa.

2- Esta crônica brinca com o uso do padrão culto da língua. Assim,
a) pode-se dizer que o autor quis criticar as padronizações da chamada linguagem culta. Dessa maneira, ele se utiliza da ironia.
b) é apresentado que os dois personagens dominam a norma padrão.
c) há um consenso entre os dois personagens de que pôr os pronomes no lugar correto é elitismo.
d) ambos os personagens são intransigentes e por isso se entendem.
e) um dos interlocutores aceita receber os ensinamentos do outro, que assume a postura elitista, detentor do conhecimento linguístico.

3- A colocação pronominal obedece a regras distintas. Assinale a alternativa que se encontra incorreta em relação a essas regras.
a) Far-se-á mesóclise caso o verbo esteja nos tempos futuros do indicativo.
b) A ênclise é obrigatória no início de uma oração, exceto se houver antes do verbo uma palavra atrativa.
c) A próclise ocorre quando o pronome vem antes do verbo.
d) Os advérbios de negação são exemplos de palavras atrativas que condicionam a próclise.
e) Em alguns casos, é aceito o uso de próclise e ênclise ao mesmo tempo, como na frase: “Espero que se resolvam-se todos os problemas”.

4- “Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu…
– O quê?
– O mato.
– Que mato?
– Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te.”

Nesse trecho, a palavra mato foi interpretada de duas maneiras, quais são elas?
      --- No sentido do verbo matar.
      --- No sentido de mato, ervas, floresta.

5- Através da leitura do texto, percebemos que alguém iria transmitir uma mensagem, entretanto foi esquecida. Qual é a razão para o esquecimento da mensagem?
      A discussão pela maneira de falar, ou seja, a colocação dos pronomes no lugar certo.

6 - Esse texto de Luís Fernando Verissimo trata, de forma humorística, da adequação ou não, por parte dos falantes, no uso da colocação pronominal. Qual parece ser a intenção do cronista ao tratar desse assunto?
      Por ser uma crônica ficcional ela tem a intenção de mostrar que a preocupação em excesso pode atrapalhar a comunicação entre as pessoas.

7 - O interlocutor que é corrigido, ao tentar, ironicamente, utilizar a colocação pronominal de forma adequada, comete alguns equívocos. Retire dois e explique como seria a forma adequada.
      As duas formas adequadas em:
      --- Me disseram... o correto é: Disseram-me. Não se inicia um período com os pronomes oblíquo átono (me, te, se, o, lhe, nos, vos, os, lhes).
      --- Matar-lhe-ei-te... o correto é: Matar-te-ei, porque quando é mesóclise emprega o pronome átono no meio da forma verbal, quando esta estiver no futuro.

8 - Em uma conversa informal, como é o caso do texto transcrito, essa correção é adequada? Justifique sua resposta.
      Não. O Brasil é um país cheio de pluralidades, grande em extensão, e se constitui por regiões que vivem de diferentes influências culturais, por isso devemos respeitá-las e se ouve a comunicação não devemos corrigí-las, somente na escrita.

9 - Quando um dos interlocutores afirma que “pronome no lugar certo é elitismo”, traz à tona uma interessante discussão sobre o uso da colocação pronominal segundo as regras da norma culta. Comente sobre o assunto.
      É considerado ERRO quando é uma inadequação do uso da língua, vinculada a um padrão e à aceitabilidade social de quem fala, mas não compromete a instauração da comunicação.
      AGRAMATICALIDADE é a infração a determinadas regras do sistema linguístico, que impede que a comunicação seja estabelecida.
      ELETISTA – Quando há um excesso de preocupação com a norma.

10 – O que dá início à discussão entre as personagens?
      A correção do pronome por um dos interlocutores.

11 – Por quê a forma lhe digo também não foi aprovada?
      Porque não se inicia uma frase com o pronome oblíquo.

12 – Muitas vezes a posição do pronome é determinada de acordo com o que soa mais agradável. Esse critério chama-se “Eufonia”.
De acordo com ele, reescreva a oração:
      --- Vê se esquece-me.
      Vê se me esquece.

13 – Qual é o argumento que uma personagem usa para corrigir a outra?
      Diz que é para o bem do outro.

14 – Quando um dos interlocutores do texto afirma que o correto é: “Disseram-me” e não “me disseram”, está fazendo referência a uma das regras da gramática normativa. Que regra é essa?
a)   A regra que determina o uso mesoclítico do pronome em início de oração.
b)   A regra que determina o uso enclítico do pronome em início de oração.
c)   A regra que determina o uso proclítico do pronome em início de oração.
d)   A regra que determina o uso enclítico e proclítico do pronome em início de oração.
e)   A regra que determina o uso enclítico e mesoclítico do pronome em início de oração.

15 – Em certo momento do texto, o uso do elemento em destaque gera uma ambiguidade. Marque a opção que demonstra a passagem em que isso ocorre.
a)   “- Partir-te a cara.”
b)   “Agradeço-lhe a permissão...”
c)   “- Digo-te que você...”
d)   “- O mato.”
e)   “- Porque, com todo este papo, esqueci-lo.”

16 – O texto de Luiz Fernando Veríssimo é uma crônica ficcional que tem como finalidade demonstrar que:
a)   Cada pessoa deve ter o direito de usar a língua como bem entender.
b)   A importância da gramática normativa deve ser considerada em qualquer situação de comunicação.
c)   As regras de colocação pronominal em português são muito difíceis.
d)   O aprendizado das regras de colocação de pronomes é muito importante.
e)   A preocupação excessiva com a gramática pode prejudicar a comunicação.

·        Palavras negativas atraem próclise: não, nunca, jamais, nada, ninguém, nem, de modo algum. Ex.: Nada me pertuba.

·        Alguns pronomes atraem próclise: relativos, indefinidos, demonstrativos. Ex.: A mulher que me ligou era a minha mãe.

·        Verbos no infinitivo terminado em: r, s ou z. O verbo perde a consoante e os pronomes assumem a forma: lo, la, los, las.


8 comentários:

  1. Muito interessante a atividade para explicar para os alunos a colocação pronominal. Adoro o escritor Luis Fernando Veríssimo e os alunos também gostam quando utilizamos suas crônicas em sala de aula. Parabéns!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Achei a atividade bem interessante, mas discordo do gabarito em relação à questão 14. A resposta correta não seria a letra B, "A regra que determina o uso enclítico do pronome em início de oração."? Uma vez que o interlocutor afirma que o correto é "Disseram-me e não me disseram"? A forma correta é, de fato, "disseram-me", logo, a regra utilizada foi do uso enclítico do pronome em início de oração, que é o pronome colocado após o verbo.

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