POEMA: Aos afetos, e
lágrimas derramadas na ausência da a quem queria bem
Gregório de Matos
Ardor em firme coração
nascido;
Pronto por belos olhos
derramado;
Incêndio em mares de água
disfarçado;
Rio de neve em fogo
convertido.
Tu, que em um peito abrasas
escondido;
Tu, que em um rosto corres
desatado;
Quando fogo, em cristais
aprisionado;
Quando cristal, em chamas
derretido.
Se és fogo, como passas
brandamente,
Se és neve, como queimas com
porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti
prudente!
Pois para temperar a
tirania,
Como quis que aqui fosse a
neve ardente,
Permitiu parecesse a chama
fria.
Matos, Gregório de. In: Wisnik, José Miguel
(Sel., Intr. e notas). Poemas escolhidos.
São Paulo: Cultrix, 1997. p. 218.
Interpretação do texto:
01 – Quais são os dois elementos
da natureza que se opõem e representam as contradições que o sentimento amoroso
desperta no eu lírico?
O fogo (ardor) e a água (pranto, contenção).
a)
O que cada um deles simboliza no poema?
O fogo simboliza a paixão que toma o eu lírico, e a água, o pranto
pelo sofrimento amoroso, mas também pode ser interpretada como a contenção
dessa paixão.
b)
Nas duas primeiras estrofes, quais as imagens
e metáforas utilizadas pelo eu lírico para fazer referência a esses elementos?
As imagens utilizadas para fazer referência ao fogo são: “ardor”;
“incêndio”; “abrasas”, “chamas”.
As imagens para a água temos: “pranto”; “mares de água”; “rio de
neve”; “corres desatado”; “cristais”.
02 – Releia:
“Incêndio
em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido”.
a)
Qual é a figura de linguagem que indica a
tensão entre os opostos? Explique.
A figura que indica essa tensão é a antítese: o eu lírico opõe os
termos “incêndio” a “mares de água”; e “fogo” a “rio de neve”.
b)
Há outros exemplos dessa figura no poema?
Quais?
Abrasas X corres desatado; fogo X cristais; cristal X chamas; fogo X
neve.
c)
O Barroso apresenta não apenas o confronto
dos opostos, mas também sua fusão ou aproximação. Como ela pode ser observada
nos versos transcritos?
A fusão ou aproximação dos opostos se dá pela transformação dos
elementos que simbolizam os sentimentos descritos: o “incêndio” está disfarçado
em “mares de água”; o “rio de neve” se converte em “fogo”. Assim, a paixão se
funde com a manifestação de seu refreamento/sofrimento.
03 – Quem é o interlocutor a
que o eu lírico se refere na segunda e na terceira estrofes?
O interlocutor é o sentimento amoroso, a
paixão.
a)
Como ele é caracterizado?
A paixão é caracterizada a partir de duas diferentes manifestações:
ela “queima” escondida no peito do eu lírico e corre em pranto pelo seu rosto.
Além disso, é fogo e, quando assim se manifesta, está aprisionada em cristais,
simbolizando a contensão ou a prudência com relação a esse sentimento; quando
cristal, é derretido pelas chamas.
b)
Qual é o questionamento feito pelo eu lírico
nesses versos?
O eu lírico questiona a contradição na manifestação do sentimento
amoroso: se ele é fogo, não deveria passar brandamente; se é neve, não poderia
queimar tanto. Mais uma vez, temos as contradições da paixão, que confundem o
eu lírico por uma manifestação conflituosa.
04 – No soneto, vemos a
habilidade de Gregório de Matos em trabalhar a linguagem para conciliar os
opostos. Releia os versos a seguir, observando os trechos destacados em negrito
e em itálico.
“Se és fogo, como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?”
“Como quis que aqui fosse a
neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.”
a)
No início do poema, o eu lírico apresenta a
oposição entre o calor e o frio, o fogo e a água, a paixão e a contenção (ou
refreamento). Explique de que maneira os dois primeiros versos transcritos
acima encaminham a fusão que ocorrerá entre esses elementos opostos no fim do
poema.
Nos dois versos, há paradoxos que encaminham a fusão completa entre os
opostos que se concretizam nos versos finais. Ao questionar a contradição
extrema que há entre um “fogo que passa brandamente” e a “neve que queima”, o
eu lírico aproxima os elementos que se fundirão em uma única expressão nos
últimos versos (“neve ardente” / “chama fria”).
b)
As expressões destacadas nos dois últimos
versos são paradoxos, construídos a
partir da oposição dos mesmos elementos: frio x calor; fogo x neve. Elas
encerram o mesmo sentido? Por quê?
Não. Embora sejam construídas a partir da oposição dos mesmos
elementos, temos uma inversão na porção de cada um deles: em “neve ardente”, o
primeiro elemento refere-se ao frio e o segundo ao calor; em “chama fria”,
temos primeiro a referência ao calor e depois ao frio. Por si só, essa inversão
já altera o significado de cada expressão, mas, no contexto do poema, essa
diferença é mais significativa.
c)
Considerando que a neve simboliza a
prudência/o controle e o fogo, a paixão, qual é o significado, no contexto do
poema, das expressões “neve ardente” e “chama fria”?
O paradoxo “neve ardente” pode ser interpretado como a contenção que
desaparece quando a paixão nasce; por oposição, “chama fria” pode significar a
paixão “controlada”, que não representa ameaça ou descontrole (não queima).
05 – O eu lírico afirma que
o Amor “temperou” sua tirania. De que maneira isso foi feito? Por quê?
O Amor, segundo o
eu lírico, utilizou uma estratégia para “disfarçar” a sua tirania, fazendo com
que parecesse menos ameaçadora: o que ele desejava era despertar um sentimento
mais arrebatado (“como quis que aqui fosse a neve ardente”) que eliminasse
qualquer defesa ou prudência contra a paixão. Para que isso de fato ocorresse,
fez com que a paixão parecesse, primeiro, um sentimento contido (“Permitiu
parecesse a chama fria”). Assim, garantiu que o eu lírico não se precavesse
contra a paixão que ameaçava dominá-lo.
06 – Releia a linha do
tempo. Que acontecimento ilustra como o século XVII era uma época dividida
entre a razão e a fé?
O julgamento de
Galileu Galilei pelo Tribunal do Santo Ofício.
a)
Explique de que forma esse acontecimento
exemplifica o contexto que gera o conflito do ser humano durante o Barroco.
Gostaríamos
que os alunos, ao refletirem sobre o julgamento de Galileu, percebessem que a
condenação do cientista ilustra o embate que caracteriza o conflito barroco. De
um lado, está a razão: de outro, estão a fé e os dogmas da Igreja Católica, que
condena a teoria de Copérnico por contradizer a visão geocêntrica defendida por
ela.
Muito obrigada! Seus gabaritos são sempre de grande ajuda !
ResponderExcluirMuito obrigado
ResponderExcluirObrigado me ajudou muito!
ResponderExcluirObrigada me ajudou muito msm
ResponderExcluirMuito obrigado
ResponderExcluirObrigada 😃
ResponderExcluirObrigado amei
ResponderExcluirObrigada amei
ResponderExcluirvc sempre ajuda bastante, muito obrigada ;)
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