quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SONETO: RECREIOS CAMPESTRES NA COMPANHIA DE MARÍLIA - BOCAGE - COM GABARITO

Soneto: Recreios Campestres na companhia de Marília
             Bocage


Olha Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para,
Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

                                                         Bocage, Manoel M. Barbosa du.
                        Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968. p. 152.

Interpretação do texto:
01 – Leia o soneto abaixo. Nele, o poeta português Bocage constrói um cenário muito específico com os elementos da natureza.
a)   A quem se dirige o eu lírico?
O eu lírico se dirige a uma mulher, chamada Marília.

b)   Que convite ele faz a essa pessoa?
Que observe, com ele, as perfeições da natureza.

02 – Como a natureza é apresentada no poema?
      A natureza é apresentada de modo positivo: o rio Tejo “sorri”, as borboletas coloridas brincam, enquanto o rouxinol e a abelhinha voam; o campo é “alegre” e a manhã é clara. Em resumo, o cenário apresentado pelo eu lírico é alegre e acolhedor.

a)   No último terceto, a caracterização da natureza funciona como argumento para convencer Marília do quanto ela é amada. Explique qual é a relação estabelecida entre a natureza e os sentimentos do eu lírico.
O eu lírico usa a natureza para mostrar como o seu estado de espírito depende da visão de Marília. Quando caracteriza a natureza de modo positivo, definido um ambiente marcado pela alegria e pelo otimismo, está preparando a apresentação do argumento final: “Tudo o que vês, se eu não te vira, / Mais tristeza que a morte me causara”. A alegria e o bem-estar promovidos pelo lugar agradável em que se encontram perderiam o significado se ele não pudesse ver a sua amada Marília.

03 – Observe os verbos associados aos elementos da natureza e o diminutivo empregado no texto. O que eles demonstram?
     Os verbos associados aos elementos da natureza demonstram ações simples e inocentes: o rio sorri, o vento brinca, o rouxinol suspira, a abelhinha gira. O diminutivo abelhinha transmite uma certa infantilização e, portanto, marca inocência.  
  
a)   Explique de que modo a linguagem foi utilizada para sugerir um espaço agradável e inocente.
A combinação da descrição positiva, das ações associadas à natureza e do diminutivo provoca uma sensação de que há um clima de festa, de brincadeira que se desenrola naquele campo alegre diante do olhar de Marília.

04 – Há, no cenário natural do soneto, uma evidente artificialidade. Em que ela pode ser percebida?
      A perfeição do cenário sugere tratar-se de uma natureza artificial. O modo infantilizado como os elementos da natureza são referidos no poema também reforça a ideia de uma natureza pouco natural.

a)   Essa artificialidade pode ser comparada aos jardins do Palácio de Versalhes? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Espera-se que o aluno perceba que, no poema, a natureza é tão “construída” pelo olhar de Bocage quanto os jardins do palácio.

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