CRÔNICA: Repórter
Policial
Stanislaw Ponte Preta
O repórter policial, tal como o locutor
esportivo, é um camarada que fala uma língua especial, imposta pela
contingência: quanto mais cororoca melhor. Assim como o locutor esportivo
jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter policial é um
entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital
de hospital. De jeito nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer
vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples
indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.
E assim sucessivamente. Qualquer
cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa
diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar), é logo apelidado de
testemunha-chave. Suspeito é Míster X, advogado é causídico, soldado é militar,
marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de
um crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas
posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral.
Num crime descrito pela imprensa
sangrenta a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se veste, ...
mas basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e
mete lá: “A vítima trajava terno azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto,
que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário policial.
Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de
trânsito, as mulheres dos outros, os repórteres policiais nasceram para
complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro de uma
dessas casas da banha, por exemplo, é batata... a manchete no dia seguinte tá
lá: “Suíno atacou comerciário”.
Questões:
01 - “...quanto mais
cororoca melhor...” Pelo que se pode deduzir do texto, o significado de
“cororoca” é equivalente a:
(A) simples;
(B) literário;
(C) antiquado:
(D) moderno;
(E) enrolado.
02 - “...O repórter policial é um entortado literário...”
porque:
(A) escreve como os bons escritores da nossa língua;
(B) acredita que literatura consiste no emprego de termos
pouco comuns;
(C) corrige as expressões de gíria e os inconvenientes da
língua falada;
(D) inventa palavras que nunca existiram;
(E) facilita, com sua simplicidade, a compreensão da
notícia.
03 - “Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de
atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição
intestinal foi parar num hospital”. Esta afirmativa, no contexto, dá a entender
que:
(A) a vítima prefere ficar no anonimato;
(B) pessoas envolvidas em ocorrência policial procuram
medicar-se por conta própria;
(C) poucos vão para um hospital para não serem
importunados por repórteres;
(D) os repórteres policiais raramente usam o
termo “hospital”;
(E) os repórteres policiais deturpam a realidade.
04 - A vítima se encontra em decúbito dorsal quando está:
(A) de barriga para cima;
(B) de barriga para baixo;
(C) de cócoras;
(D) virada de lado;
(E) de bruços.
05 - Segundo o Autor, os repórteres policiais empregam o
termo “testemunha-chave” de forma:
(A) inadequada;
(B) apropriada;
(C) casual;
(D) irreverente;
(E) literária.
06 - Ao se referir aos repórteres policiais como
“rapaziada sadia”, o Autor revela:
(A) apreço pela juventude;
(B) desprezo pelos jovens;
(C) cuidado com a saúde dos repórteres;
(D) espírito de “gozação”;
(E) preconceito contra os que cuidam do seu estado
físico.
07 - “... é preciso estar acostumado ao “métier” para
morar no noticiário policial”. Isto significa que:
(A) só os literatos entendem o noticiário policial;
(B) qualquer leitor entende o noticiário policial;
(C) os repórteres policiais fazem um curso especial para
usar certas expressões;
(D) é preciso usar gíria para que até mesmo os pouco
instruídos entendam o noticiário;
(E) só com a leitura frequente do noticiário
policial é que entendemos os termos usados.
08 - As manchetes de reportagem policial, segundo se
depreende do texto, costumam ser:
(A) bombásticas/ambíguas;
(B) ingênuas/simples;
(C) enganadoras/deturpadas;
(D) sérias/perspicazes;
(E) literárias/cuidadosas.
09 - Assinale a alternativa cuja frase encerra a ideia de
condicionalidade:
(A) “... é um camarada que fala uma língua especial ...”;
(B) “... quanto mais cocoroca melhor ...”;
(C) “Qualquer cidadão que vai à Polícia ...”;
(D) “Mas basta virar vítima de crime”;
(E) “Se um porco morde a perna de um caixeiro
...”
10 - A palavra “copeira” é formada pelo mesmo processo de
derivação que:
(A) “vítima”;
(B) “Polícia”;
(C) “caixeiro”;
(D) “língua”;
(E) “classe”.
11 - Identifique a alternativa cuja sequência de palavras
são acentuadas pelo mesmo princípio norteador:
(A) “polícia, língua, literário”;
(B) “polícia, repórter, também”;
(C) “língua, contingência, vítima”;
(D) “literário, nosocômio, decúbito”;
(E) “doméstica, língua, incômodas”.
12 - Observe a frase: “... os que se prezam nunca
chamariam um hospital de hospital”. A forma verbal “chamariam” se encontra:
(A) no pretérito perfeito do modo indicativo;
(B) no pretérito imperfeito do modo indicativo;
(C) no futuro do pretérito do modo indicativo;
(D) no pretérito imperfeito do modo subjuntivo;
(E) no pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo.
13 - “Qualquer cidadão que vai à Polícia ...”, a crase
que ocorre na expressão “à Polícia” se justifica pelo mesmo razão que a da
alternativa:
(A) os policiais saíram às quatro horas em ponto;
(B) os policiais agiam às escondidas;
(C) os policiais retornaram às praias desertas da região;
(D) os policiais chegaram à noite do dia treze;
(E) os policiais agem num estilo à Lampião.
14 - Marque a alternativa cuja frase apresenta um verbo
irregular da segunda conjugação:
(A) “... o locutor esportivo jamais chamou nada pelo
nome...”;
(B) “Só vai para o nosocômio”;
(C) “apelido que eles puseram no ato de investigar”;
(D) “... a vítima nunca se vestiu”;
(E) “A vítima trajava”.
15 - Considere o enunciado “... fala uma língua especial,
imposta pela contingência...”, o vocábulo “contingência” tem como antônimo:
(A) eventualidade;
(B) casualidade;
(C) iminência;
(D) proximidade;
(E) necessidade.
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