MENSAGEM: COM CARIDADE
“Todas
as vossas coisas sejam feitas com caridade.” – Paulo. (1ª Epístola aos
Coríntios, 16:14.)
Ainda existe muita gente que não
entende outra caridade, além daquela que se veste de trajes humildes aos
sábados ou domingos para repartir algum pão com os desfavorecidos da sorte, que
aguarda calamidades públicas para manifestar-se ou que lança apelos comovedores
nos cartazes da imprensa.
Não podemos discutir as intenções
louváveis desse ou daquele grupo de pessoas; contudo, cabe-nos reconhecer que o
dom sublime é de sublime extensão.
Paulo indica que a caridade,
expressando amor cristão, deve abranger todas as manifestações de nossa vida.
Estender a mão e distribuir reconforto
é iniciar a execução da virtude excelsa. Todas as potências do espírito, no
entanto, devem ajustar-se ao preceito divino, porque há caridade em falar e
ouvir, impedir e favorecer, esquecer e recordar. Tempo virá em que a boca, os
ouvidos e os pés serão aliados das mãos fraternas nos serviços do bem supremo.
Cada pessoa, como cada coisa, necessita
da contribuição da bondade, de modo particular.
Homens que dirigem ou que obedecem
reclamam-lhe o concurso santo, a fim de que sejam esclarecidos no departamento
da Casa de Deus, em que se encontram. Sem amor sublimado, haverá sempre
obscuridade, gerando complicações.
Desempenha tuas mínimas tarefas com
caridade, desde agora. Se não encontras retribuição espiritual, no domínio do
entendimento, em sentido imediato, sabes que o Pai acompanha todos os filhos
devotadamente.
Há pedras e espinheiros? Fixa-te em
Jesus e passa.
Mensagens
Espírita: O livro dos Espíritos
ALLAN KARDEC –
Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas
e respostas
CONSIDERAÇÕES
E CONCORDÂNCIAS BÍBLICAS CONCERNENTES À CRIAÇÃO
59 – Os povos formaram
ideias bem divergentes sobre a Criação, conforme o grau de suas luzes. A razão,
apoiada na Ciência, reconheceu a inverossimilhança de algumas teorias. O que
foi revelado pelos Espíritos confirma a opinião há muito tempo admitida pelos
homens mais esclarecidos.
A objeção que se
pode fazer a essa teoria é a de estar em contradição com o texto dos livros
sagrados. No entanto, uma análise séria leva a reconhecer que essa contradição
é mais aparente que real, e que resulta da interpretação dada a um sentido
muitas vezes alegórico.
A questão do primeiro homem, representado
por Adão, como único tronco da humanidade, não é, de forma alguma, a única a
respeito da qual as crenças religiosas tiveram que se modificar. O movimento da
Terra pareceu, numa certa época, tão contrária ao texto sagrado, que não há
forma de perseguições de que essa teoria não tenha sido o pretexto. E, no
entanto, a Terra gira, apesar dos anátemas, e hoje em dia ninguém poderia
contestar este fato sem pôr em risco a sua própria razão.
A Bíblia diz igualmente que o mundo foi
criado em seis dias, e fixa a época da criação em cerca de 4.000 anos antes da
era cristã. Até então, a Terra não existia; ela foi tirada do nada. O texto é
formal; e eis que a Ciência positiva, a Ciência inexorável vem provar o
contrário. A formação do globo terrestre está escrita em caracteres
irrecusáveis no mundo fóssil, e está provado que os seis dias da criação
constituem outros tantos períodos, cada um deles possuindo, talvez, várias
centenas de milhares de anos. Isso não é mais um sistema, uma doutrina, uma
opinião isolada; trata-se de um fato tão certo como aquele do movimento da
Terra, que a teologia não pôde deixar de admitir, prova evidente do erro a que
se está sujeito quando se tomam ao pé da letra as expressões de uma linguagem
que quase sempre é figurada. Com isso, devemos então concluir que a Bíblia é um
erro? Não; mas que os homens se enganaram ao interpretá-la.
Ao explorar os arquivos da Terra, a
Ciência descobriu a ordem em que os diferentes seres vivos aparecem na
superfície, e essa ordem está de acordo com aquela indicada no Gênesis, com a
diferença de que, em vez de ter saído miraculosamente das mãos de Deus em
algumas horas, realizou-se, sempre por sua vontade, mas segundo a lei das
forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Deus seria, por essa razão,
menos grandioso e menos poderoso? Sua obra seria menos sublime por não gozar do
prestígio da instantaneidade? Evidentemente não; seria necessário ter uma ideia
bem mesquinha da Divindade para não reconhecer Sua onipotência nas leis eternas
que estabeleceu para reger os mundos. A Ciência, longe de desmerecer a obra
divina, apresenta-a para nós sob um aspecto mais grandioso e mais conforme às
nações que temos do poder e da majestade de Deus, pelo fato mesmo de que ela se
realiza sem derrogar as leis da Natureza.
A Ciência, quanto a isso de acordo com
Moisés, coloca o homem por último na ordem da criação dos seres vivos. Contudo,
Moisés coloca o dilúvio universal no ano de 1654, enquanto a geologia nos
mostra o grande cataclisma como anterior a aparição do homem, visto que até
hoje não se encontra, nas camadas primitivas, nenhum indício de presença humana
nem de animais pertencentes à mesma categoria do homem, do ponto de vista
físico. Porém, nada prova que isso seja impossível; diversas descobertas já
lançaram dúvidas a esse respeito. Portanto, pode ser que de uma hora para outra
se adquira a certeza material dessa anterioridade da raça humana, e, então,
reconhecer-se-á que, nesse ponto como em outros, o texto bíblico é uma figura.
A questão que resta a saber é se o cataclisma geológico é o mesmo que o de Noé.
Ora, a duração necessária para a formação de camadas fósseis não permite
confundi-los, e a partir do momento em que se tiver descoberto os indícios da
existência do homem antes da grande catástrofe, ficará provado que Adão não é o
primeiro homem, ou que sua criação se perde nos confins dos tempos. Contra a
evidência não há raciocínios possíveis, e será preciso aceitar esse fato, como
se aceitou o do movimento da Terra e os seis períodos da Criação.
A existência do homem antes do dilúvio
geológico é, na verdade, ainda hipotética, mas não nos parece ser tanto assim.
Admitindo-se que o homem tenha surgido pela primeira vez sobre a Terra há 4.000
anos antes de Cristo, e que 1650 anos mais tarde toda a aça humana foi
destruída, com exceção de uma única família, conclui-se que o povoamento da
Terra date somente da época de Noé, ou seja, 2.3350 anos antes da nossa era.
Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no século XVIII a.C.,
encontraram esse país bastante povoado e já bem avançado em civilização. A
História prova que, nessa época, as Índias e outras regiões eram igualmente
prósperas, mesmo sem leva em conta a cronologia de certos povos, que remota a
uma época bem mais remota. Teria sido então necessário que, do século XXIV
a.C., ao XVIII a.C., ou seja, no espaço de seiscentos anos, não somente a
posteridade de um único homem tivesse podido povoar todas as imensas regiões
então conhecidas, supondo-se que as outras não o fossem, mas que, nesse curto
intervalo, a espécie humana tivesse podido elevar-se da ignorância absoluta do
estado primitivo ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que
contraria todas as leis antropológicas.
A diversidade de raças vem ainda reforçar
essa opinião. O clima e os hábitos produzem, sem dúvida, modificações nas
características físicas, mas sabe-se até onde pode ir a influência dessas
causas, e, além disso, o exame fisiológico prova haver, entre certas raças,
diferenças estruturais mais profundas que aquelas produzidas pelo clima. O
cruzamento das raças produz os tipos intermediários; ele tende a apagar os
caracteres extemos, mas não os produz; apenas cria variedades. Ora, para que
tenha ocorrido cruzamento de raças, seria necessário que houvesse raças
distintas. Como explicar a existência delas, atribuindo-se-lhes um tronco comum
e, sobretudo, tão próximo? Como admitir que, em alguns séculos, certos
descendentes de Noé tivessem se transformado a ponto de produzir a raça etíope,
por exemplo? Tal metamorfose não é mais admissível do que a hipótese de um
tronco comum para o lobo e a ovelha, o elefante e o pulgão, a ave e o peixe.
Ainda uma vez: nada pode prevalecer contra a evidência dos fatos. Tudo se
explica, pelo contrário, admitindo-se a existência do homem antes da época que
lhe é comumente designada; admitindo-se a diversidade das origens; Adão como
alguém que viveu há 6.000 anos e povoou uma região ainda desabitada; o dilúvio
de Noé como uma catástrofe parcial confundida com o cataclisma geológico;
levando-se em conta, enfim, a forma alegórica característica do estilo
oriental, que se encontra nos livros sagrados de todos os povos. Por isso é
prudente não acusar tão levianamente de falsas as doutrinas que podem, cedo ou
tarde, e como tantas outras, oferecer provas de sua autenticidade àqueles que
as combatem. As ideias religiosas, longe de perderem algo, engrandecem-se
quando caminham ao lado da Ciência. É o único meio de não mostrar ao ceticismo
um lado vulnerável.
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