Texto: Os Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos são um desafio ao
bom senso. Tome-se o arremesso do martelo. Terem inventado que
tal coisa é uma atividade digna de ser praticada, digna de
ser chamada de “esporte” e, para culminar, digna de figurar entre as
modalidades olímpicas mostra como são instigantes os caminhos que a mente
humana é capaz de percorrer. Tome-se o salto com vara. Por que saltar com vara?
É outra invenção que só pode ser atribuída à tendência da mente humana em fugir
do que é natural e razoável. E a corrida com barreiras? E o salto triplo? A
rigor seria até dispensável o trabalho de selecionar uma ou outra modalidade. O
esporte como um todo, e em especial a mania de superação que contamina seus
praticantes, já repousaria sobre a premissa absurda de contrariar o prazer do
sossego e do repouso.
Todo o universo atlético ganha um
sentido, no entanto, quando nos damos conta de que ali se reencena a luta
humana pela sobrevivência. A corrida tem sua origem na fuga das feras ou dos
grupos rivais; a corrida com obstáculos, na dificuldade de superar os charcos,
os barrancos e os espinheiros; o salto em distância, na ultrapassagem dos
riachos; o salto em altura, na tentativa de alcançar os frutos no alto das
árvores. Até o salto com vara ganha uma lógica: é o momento em que
o homem primitivo se torna capaz de inventar ferramentas para superar os
obstáculos impostos pela natureza. E o arremesso do martelo, assim como o do
disco e o do dardo, visita a quadra em que o homem criou as armas para
substituir os próprios punhos na caça e no enfrentamento dos inimigos.
Os Jogos Olímpicos miram na Grécia e acertam na pré -história. São uma releitura da Idade da Pedra. Ou melhor: uma parte dos Jogos. Os esportes com bola pertencem a outro capítulo da história da humanidade. Se nossos ancestrais demoraram tanto para inventar a roda, demoraram ainda mais para chegar à bola. A bola tem como principal característica uma esplendorosa inutilidade. É um brinquedo. As modalidades do atletismo lembram as sofridas necessidades da subsistência, na era em que a espécie procurava se consolidar sobre o planeta – fugir, comer, enfrentar o inimigo, contornar os obstáculos, conquistar a fêmea. Já a bola se notabiliza pela ausência de função nas lides pela sobrevivência. Por isso mesmo representa a conquista de um novo patamar, de inestimável valor, na escala da evolução: o patamar da diversão.
Os Jogos Olímpicos miram na Grécia e acertam na pré -história. São uma releitura da Idade da Pedra. Ou melhor: uma parte dos Jogos. Os esportes com bola pertencem a outro capítulo da história da humanidade. Se nossos ancestrais demoraram tanto para inventar a roda, demoraram ainda mais para chegar à bola. A bola tem como principal característica uma esplendorosa inutilidade. É um brinquedo. As modalidades do atletismo lembram as sofridas necessidades da subsistência, na era em que a espécie procurava se consolidar sobre o planeta – fugir, comer, enfrentar o inimigo, contornar os obstáculos, conquistar a fêmea. Já a bola se notabiliza pela ausência de função nas lides pela sobrevivência. Por isso mesmo representa a conquista de um novo patamar, de inestimável valor, na escala da evolução: o patamar da diversão.
Consolidada e confiante em si mesma, a
espécie permite-se o luxo de brincar. O arremesso do martelo, mesmo
não sendo mais com martelo, continua assustador. Haja músculo, para atirar
aquela bola de ferro. Haja peso, para dar os rodopios que precedem seu
lançamento. É uma atividade que pode causar admiração pela força, nunca pela
astúcia. Já os passes no futebol ou as levantadas do vôlei mostram que, nos
esportes com bola, a força é temperada, e às vezes até substituída, pela
habilidade. O martelo pode até causar assombro, mas nunca provocará um sorriso.
Já o drible, no futebol e no basquete, ou a “largada” no vôlei, manobras cujo
objetivo é enganar o adversário, representam a intromissão do humor na
competição. Do martelo à bola, desenha-se um percurso em cujo ponto de chegada
a ênfase está menos nos músculos do que no uso da massa cinzenta alojada no
cocuruto do animal humano.
(Roberto Pompeu de
Toledo. Veja. 27 de agosto de 2008,
p.170, com
adaptações)
Entendendo o texto:
01 – Segundo o autor:
(A) a qualificação de
“esporte” atribuída a certas modalidades disputadas nos Jogos Olímpicos não se
justifica mais nas condições da vida moderna.
(B) a interferência do humor
nas competições esportivas gera desrespeito aos competidores mais fracos,
desestimulando o espírito olímpico.
(C) algumas
explicações para a presença de determinadas modalidades esportivas nos Jogos
Olímpicos se encontram na própria história da humanidade.
(D) a seriedade que sempre
envolveu a realização dos Jogos Olímpicos pode ser comprometida por atitudes
antiesportivas em certas modalidades.
(E) as modalidades em que
sobressai a força física dos atletas, embora possam causar estranheza, são
preferíveis aos esportes com bola, que estimulam a brincadeira.
02 – Considere as
afirmativas abaixo:
I. A prática de certas
modalidades esportivas, que se mantêm tradicionalmente, apenas vem confirmar
que nem sempre há explicações lógicas para as atitudes humanas.
II. As diversas modalidades
esportivas tradicionalmente agrupadas nos Jogos Olímpicos apontam para as
necessidades básicas da história da humanidade.
III. A associação do uso da
inteligência ao preparo físico dos atletas denota um degrau superior na linha
evolutiva do homem.
Está correto o que se afirma
em:
(A) I, apenas.
(B) III, apenas.
(C) I e II, apenas.
(D) II e III,
apenas.
(E) I, II e III.
03 – Os Jogos Olímpicos são
um desafio ao bom senso. É correto afirmar, a partir da observação acima:
(A) A ressalva −
Todo o universo atlético ganha um sentido, no entanto − garante a coerência
entre a frase que inicia o texto e o desenvolvimento, até a conclusão final.
(B) O desenvolvimento do
texto lhe acrescenta uma conclusão de certa forma incoerente, ao afirmar que há
um percurso em cujo ponto de chegada a ênfase está menos nos músculos do que no
uso da massa cinzenta.
(C) A opinião inicial,
desfavorável à manutenção de certas modalidades esportivas que mostram como são
instigantes os caminhos que a mente humana é capaz de percorrer, garante a
unidade de todo o desenvolvimento textual.
(D) A afirmativa faz sentido
até o último parágrafo, em que o autor se vale do mesmo tipo de linguagem
crítica quando se refere às manobras cujo objetivo é enganar o adversário e que
representam a intromissão do humor na competição.
(E) Para o autor, a
realização dos Jogos Olímpicos na época contemporânea perdeu sentido, tanto por
terem se transformado em um espetáculo grandioso de força e poder, quanto por
serem uma releitura da Idade da Pedra.
04 – O texto se desenvolve
como:
(A) condenação generalizada
a algumas modalidades dos Jogos Olímpicos, por exigirem esforço físico além das
possibilidades do ser humano.
(B) censura indireta aos
responsáveis pela realização dos Jogos Olímpicos por manterem neles certas
modalidades que nada têm de esportivas.
(C) elogio à maneira moderna
de realização dos Jogos Olímpicos, em que se incluíram modalidades mais
recentes, com bola, em meio às mais antigas.
(D) apresentação, do início
até hoje, de informações baseadas em dados históricos a respeito da origem e
desenvolvimento dos Jogos Olímpicos.
(E) considerações
a respeito das modalidades em disputa nos Jogos Olímpicos, correlacionando-os à
linha evolutiva da humanidade.
05 – Como inferência, o
ditado popular que pode ser aplicado ao conteúdo do 3º e do 4º parágrafos é:
(A) Nem só de pão
vive o homem.
(B) Quem ama o feio, bonito
lhe parece.
(C) Nem tudo que reluz é
ouro.
(D) Deus dá o frio conforme
o cobertor.
(E) Quem espera sempre alcança.
06 – Considerando-se o
contexto, o segmento cujo sentido está corretamente transcrito em outras
palavras é:
(A) como são instigantes os
caminhos = caso sejam possíveis os meios.
(B) fugir do que é natural e
razoável = desconsiderar problemas mais graves.
(C) mania de
superação = insistência na obtenção de melhores resultados.
(D) nas lides pela
sobrevivência = nos rumos de uma vida melhor.
(E) a conquista de um novo
patamar = uma premiação além do esforço empregado.
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