domingo, 28 de outubro de 2018

POEMA: ISMÁLIA - ALPHONSUS DE GUIMARAENS - COM QUESTÕES GABARITADAS

POEMA: ISMÁLIA


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar.
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As assas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

                                            GUIMARAENS, Alphonsus de. Ismália. In: Roteiro da poesia brasileira – 
                          Simbolismo Seleção e prefácio de Lauro Junkes. São Paulo: Global, 2006. P. 62-3.

 ENTENDENDO O POEMA

1 – O poema “Ismália” é bastante sonoro Identifique, nele, elementos responsáveis por essa sonoridade.
     O uso da rendondilha maior, versos de sete sílabas poéticas e o uso recorrente de palavras rimando com final – eu e –ar em todas as estrofes.

2 -   O poema trabalha com inúmeras antíteses. Identifique-as.
     Céu/mar; subir/descer; perto/longe; alma/corpo; alto/baixo (em relação a torre).

3 -   Qual o tema trabalhado no poema? De que forma as antíteses acentuam essa temática?
     O tema do poema é a loucura de Ismália. As antíteses acentuam essa temática porque deixam clara a divisão de Ismália, sua loucura. O fato de ela sentir-se perdida, insatisfeita, incapaz de escolher entre desejos contrários.

4 -   Explique o sentido da última estrofe do poema.
     Ismália não consegue suportar a loucura e se suicida Dessa maneira, realiza seu desejo de alcançar o céu e o mar ao mesmo tempo, já que seu corpo se lança ao mar e sua alma sobe ao céu.

5 -   Uma das marcas centrais do Simbolismo é a sugestão, levar o leitor a perceber o que está por trás e além das palavras usadas pelo poeta. A partir disso, é possível afirmar que o poema “Ismália” apresenta essa marca? Justifique sua resposta.
     Sim. O poeta trabalha com símbolos, como a partição em dois desejos inconciliáveis para retratar a loucura Do mesmo modo, o suicídio vem sugerido nas entrelinhas, cabe ao leitor captar a atmosfera do poema e compreender o que se passou com Ismália.

06 – Alguns poemas de Alphonsus de Guimaraens ligam-se à tradição medieval. Observe no texto os seguintes aspectos formais: métrica, ritmo e paralelismos.
a)   O poema em estudo liga-se ou não a essa tradição? Justifique.
Sim, liga-se a tradição medieval, devido aos aspectos formais do texto, segue as características do Simbolismo, onde os poemas possuem um triângulo, misticismo, amor e morte.

b)   Que outro movimento literário perseguiu a mesma tradição medieval?
O movimento que seguiu a mesma tradição medieval foi o Romantismo.

07 – Todo o poema é constituído com base em antíteses. As antíteses articulam-se em torno dos desejos contrários de Ismália, que se dividem entre a realidade espiritual e a realidade concreta.
a)   Identifique dois pares de antíteses no texto.
As antíteses no poema estão nas últimas estrofes: “Sua ALMA subiu ao céu / Seu CORPO desceu ao mar”. Antíteses são ideias contrárias, opostas. Corpo e alma são palavras contrárias entre si.

b)   Reconheça o elemento que representa a realidade espiritual e o que representa a realidade concreta.
Espiritual – “Sua Alma subiu ao céu”.
Concreto – “Seu Corpo desceu ao mar”.

08 – O Simbolismo, por ser um movimento anti-lógico e anti-racional, valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Retire do texto palavras ou expressões que comprovem essa característica simbolista.
      As características do simbolismo com os verbos: enlouqueceu, sonhar, além de desvario, “Como um anjo” e “As asas que Deus lhe deu”.

09 – Tal qual no Barroco e no Romantismo, o poema estabelece relações entre corpo e alma ou matéria e espírito. Com base no desfecho do poema, responda:
a)   Céu e mar relacionam-se ao universo material ou espiritual?
Universo espiritual é representado pela lua do céu e o universo concreto é representado pela lua do mar.

b)   Ismália conseguiu realizar o desejo simbolista de transcendência espiritual?
Sim, porque a morte, no período simbolista é vista como elemento libertador. Quando Ismália cai ao mar, ela realiza esse desejo.

c)   Pode-se afirmar que, para os simbolistas, sonho e loucura levam à libertação? Justifique.
Sim, para os simbolistas, sonho e loucura tornam os homens livres, pois a razão e a lógica prendem o homem a este duro mundo real, e transpassar os limites significa a libertação da alma.

10 – Identifique alguns elementos responsáveis pela intensa musicalidade que caracteriza o poema, considerando antológico tanto em relação à produção do autor quanto em relação ao Simbolismo brasileiro.
      As rimas, os versos curtos (sete sílabas métricas), as assonâncias, as aliterações, as reticências e os paralelismos atribuem intensa musicalidade ao texto.

11 – Relendo a 1ª e 2ª estrofes, percebemos que o texto tem a loucura e a morte como tema.
a)   A 1ª estrofe desencadeia uma sequência de imagens com as quais o sujeito poético atribui uma dimensão lírica e metafísica à loucura de Ismália. Identifique e explique essas imagens.
A partir do momento em que enlouqueceu, Ismália “Pôs-se na torre a sonhar...”, isto é, tornou-se como que superior em relação ao real e entregou-se a um onirismo – “Viu uma lua no céu, / Viu outra lua no mar” – que pode significar busca de unidade cósmica, de reunião do corpo (a lua do mar) com a alma (a lua do céu).

b)   Na 2ª estrofe quais são os desejos de Ismália e o que representam?
Os desejos de Ismália – querer subir ao céu / querer subir ao mar – parecem representar a morte, aqui entendida como reunião entre corpo e alma, integração com a natureza.

12 – Mencione e interprete as características temáticas simbolistas da 3ª estrofe.
      Na 3ª estrofe o canto de Ismália associa-se à manifestação de sua loucura, e também à proximidade em que se encontra do céu, da transcendência espiritual, caracterizando fortemente a presença do estilo Simbolista.

13 – Na 4ª estrofe, o que acontece com Ismália?
a)   Do ponto de vista de uma visão racional da existência.
Ismália se suicida.

b)   Do ponto de vista de uma visão simbolista da existência.
Ao morrer, a alma de Ismália “sobe ao céu”, enquanto seu corpo “desce ao mar”, com o movimento das “asas que Deus lhe deu”. Ou seja, ela reencontra a unidade perdida, a transcendência, a transfiguração para a dimensão esoiritual e metafísica da existência.





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