quinta-feira, 4 de outubro de 2018

CRÔNICA: HORA DE DORMIR - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Hora de Dormir
                Fernando Sabino


— Por que não posso ficar vendo televisão?
— Porque você tem de dormir.
— Por quê?
— Porque está na hora, ora essa.
— Hora essa?
— Além do mais, isso não é programa para menino.
— Por quê?
— Porque é assunto de gente grande, que você não entende.

— Estou entendendo tudo.
— Mas não serve para você. É impróprio.
— Vai ter mulher pelada?
— Que bobagem é essa? Ande, vá dormir que você tem colégio amanhã cedo.
— Todo dia eu tenho.
— Está bem, todo dia você tem. Agora desligue isso e vá dormir.
— Espera um pouquinho.
— Não espero não.
— Você vai ficar aí vendo e eu não vou.
— Fico vendo não, pode desligar. Tenho horror de televisão. Vamos, obedeça a seu pai.
— Os outros meninos todos dormem tarde, só eu que durmo cedo.
— Não tenho nada ver com os outros meninos: tenho que ver com meu filho. Já para a cama.
— Também eu vou para a cama e não durmo, pronto. Fico acordado a noite toda.
— Não comece com coisa não, que eu perco a paciência.
— Pode perder.
— Deixe de ser malcriado.
— Você mesmo que me criou.
— O quê? Isso é maneira de falar com seu pai?
— Falo como quiser, pronto.
— Não fique respondendo não: cale essa boca.
— Não calo. A boca é minha.
— Olha que eu ponho de castigo.
— Pode pôr.
— Venha cá! Se der mais um pio, vai levar umas palmadas.
—  ...
— Quem é que anda ensinando esses modos? Você está ficando é muito insolente.
— Ficando o quê?
— Atrevido, malcriado. Eu com sua idade já sabia obedecer. Quando é que eu teria coragem de responder a meu pai como você faz. Ele me descia o braço, não tinha conversa. Eu porque sou muito mole, você fica abusando... Quando ele falava está na hora de dormir, estava na hora de dormir.
— Naquele tempo não tinha televisão.
— Mas tinha outras coisas.
— Que outras coisas?
— Ora, deixe de conversa. Vamos desligar esse negócio. Pronto, acabou-se. Agora é tratar de dormir.
— Chato.
— Tome, para você aprender. E amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai.
—...
— E não adianta ficar aí chorando feito bobo. Venha cá.
— Amanhã eu não vou ao colégio.
— Vai sim senhor. E não adianta ficar fazendo essa carinha, não pense que me comove. Anda, venha cá.
— Você me bateu...
— Bati porque você mereceu. Já acabou, pare de chorar. Foi de leve, não doeu nem nada. Peça perdão a seu pai e vá dormir.
—...
— Por que você é assim, meu filho? Só para me aborrecer. Sou tão bom para você, você não reconhece. Faço tudo que você me pede, os maiores sacrifícios. Todo dia trago para você uma coisa da rua. Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e quando chego em casa para descansar um pouco, você vem com essas coisas. Então é assim que se faz?
—...
— Então você não tem pena do seu pai? Vamos! Tome a bênção e vá dormir.
— Papai.
— Que é?
— Me desculpe.
— Está desculpado. Deus te abençoe. Agora vai.
— Por que não posso ficar vendo televisão? 
                                                                     (Fernando Sabino)
Entendendo a crônica:

01 – Responda:
a) Quem são as personagens do texto?
      O pai e o filho.

b) Há um narrador que apresenta as personagens e informa ao leitor quem
      O autor.

02 – Releia o seguinte trecho da conversa:
“— Por que não posso ficar vendo televisão?
— Porque você tem de dormir.
— Por quê?
— Porque está na hora, ora essa.
— Hora essa?
— Além do mais, isso não é programa para menino.
— Por quê?
— Porque é assunto de gente grande...”

Responda:
a) Qual é o motivo da discussão entre as personagens?
      É que o filho queria continuar assistindo a televisão.

b) O garoto insiste em perguntar por que não pode continuar vendo televisão. Como você explica a insistência dele?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Quais são os argumentos que o pai utiliza para convencer o filho a desligar a tevê?
      São: Hora de dormir – O programa impróprio – Assunto de adulto.

04 – O menino aceita os argumentos dados pelo pai? Justifique sua resposta.
      Não. Porque ele quer de toda maneira continuar assistindo a televisão.

05 – Releia algumas falas do menino:
“—Também vou para a cama e não durmo, pronto.”
“—Pode perder [a paciência].”
“— Falo como quiser, pronto.”
“—Não calo. A boca é minha.”
Essas falas revelam a atitude de resistência do menino em relação ao pai. Copie em seu caderno a alternativa que melhor traduz a atitude do menino:
a) O menino não aceita os argumentos, mas respeita a autoridade do pai.
b) O menino não aceita os argumentos e desafia a autoridade do pai.
c) O menino aceita os argumentos, mas desafia a autoridade do pai.
d) O menino aceita os argumentos e respeita a autoridade do pai.

06 – Copie a frase que melhor traduz a reação do pai diante da atitude do filho:
a)  Fica calmo e continua a argumentar a favor da necessidade de dormir do filho.
b) Perde a calma, mas continua a argumentar a favor da necessidade de dormir do filho.
c)  Fica calmo, mas usa as palmadas como recurso para fazer valer os seus argumentos.
d) Perde a calma e usa as palmadas como recurso para fazer valer os seus argumentos.

07 – A certa altura do texto, o menino diz:
       “—Você me bateu...” 
       Transcreva a frase do diálogo que revela o momento em que o pai bate no filho.
      “— Tome, para você aprender. E amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai.”

08 – Releia:
“— Papai.
 — Que é?
 — Me desculpe.
 — Está desculpado. Deus te abençoe. Agora vai.”
a) Se o pai tivesse terminado nesse ponto, quem teria vencido na troca de argumento?
      O pai.

b) Entretanto, o texto não termina nesse ponto. Releia a frase final do texto e explique a que conclusão se pode chegar:
“— Por que não posso ficar vendo televisão?”
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O filho mesmo não tendo razão ainda continua insistindo a ver televisão.


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