sábado, 4 de agosto de 2018

TEXTO: OS REQUINTES DA MISÉRIA - FOLHA DE SÃO PAULO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: OS REQUINTES DA MISÉRIA


       Já se tornou um aborrecido lugar-comum afirmar que o Brasil possui dimensões continentais. Os ufanistas que tanto repisaram essa fórmula para receitar esperança no futuro do país talvez não tenham previsto que a quantidade e a variedade de problemas desse "gigante" infelizmente também teriam grandezas igualmente continentais.
        Recente levantamento feito pelo Centro de Referências, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes do Distrito Federal arrolou nada menos que 13 tipos de exploração sexual de menores em 20 Estados. A lista leva a supor que, desgraçadamente, para muitos brasileiros, a atividade sexual já deixou de ser um meio de prazer e realização, para se transformar em passaporte de entrada no mais dantesco dos infernos possíveis.
        De norte a sul do país, segundo a pesquisa, a iniciação sexual de milhares de menores ocorre por meio de exploração turística, prostituição em garimpos, navios e grandes centros urbanos, escravidão e tráfico, estupro, incesto e abuso sexual domésticos, leilões de virgindade, mutilações, homicídios e encarceramento.
        Só na região metropolitana de Belém (PA) existem pelo menos 7,5 mil prostitutas entre 12 e 18 anos. Nem mesmo os Estados mais ricos do Sudeste e Sul do país estão livres desse odioso mercado do sexo infantil.
        A cada nova amostragem das dimensões que vão assumindo a miséria e todas as perversões que a ela se associam no Brasil, corre-se o risco de que o país alcance notoriedade não por suas enormes potencialidades, mas pela diversidade de aberrações que foi capaz de produzir -algumas delas, infelizmente, com alta cotação no mercado internacional.
        Torna-se inevitável assim constatar que o desafio da modernização do país não pode estar dissociado de um resoluto combate a todas as formas de desigualdade e exclusão social, a começar das que já atingiram os extremos da crueldade. 
                                                     Folha de São Paulo, 15 abr. 1996.
Entendendo o texto:
01 – Qual a importância do primeiro parágrafo para o texto?
      É uma introdução genética ao tema, que não é apresentado nesse parágrafo. Sua função é deixar bastante claro que se trata de um problema de repercussões profundas, capaz de abalar a imagem de si mesmos que alguns setores da sociedade brasileira gostam de atribuir ao país.

02 – Que tipo de informações nos transmite o segundo parágrafo? Qual sua importância para o texto?
      Esse parágrafo nos informa que há “nada menos” do que tipos de exploração sexual de menores em vinte estados brasileiros. É importante ressaltar que esses dados provêm de uma fonte autorizada e responsável, o Centro de Referências, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes do Distrito Federal.

03 – Qual a relação de conteúdo entre o primeiro e o segundo parágrafo?
      O segundo parágrafo consiste numa particularização (a exploração sexual de crianças e adolescentes) do que foi enunciado no primeiro (os problemas continentais do Brasil). Em outras palavras: caminha-se do geral para o particular.

04 – Qual a importância da alusão ao Centro de Referências, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes do Distrito Federal (segundo parágrafo)?
      É a chamada referência a uma autoridade como fonte dos dados utilizados para o encaminhamento da argumentação.

05 – Comente o valor argumentativo das expressões destacadas a seguir. Para fazer isso satisfatoriamente, procure-as no texto a fim de contextualizá-las:
a)   “... arrolou nada menos que 13 tipos...” (2° parágrafo).
A expressão destaca a quantidade como exagerada.

b)   “... existem pelo menos 7,5 mil prostitutas...” (4° parágrafo).
Tem o mesmo papel da anterior, indicando ainda que a cifra pode ser mais elevada.

c)   Nem mesmo os Estados mais ricos...” (4° parágrafo).
A expressão aumenta a força do argumento ao apresenta-lo como pouco esperado.

d)   “Torna-se inevitável assim constatar...” (último parágrafo).
A palavra encaminha uma conclusão.

06 – Ocorrem, no texto, vários advérbios terminados em –mente. Encontre-os e analise seu emprego e seu valor argumentativo.
        O aluno deve perceber que, além de seu papel tradicional – advérbios de modo (igualmente, no primeiro parágrafo) –, esses advérbios são utilizados no texto dissertativo para exprimir avaliações do produtor do texto. É ele quem avalia certos fatos e indica essas avaliações por meio de termos como infelizmente (primeiro e quarto parágrafos), desgraçadamente (2° parágrafo). 
   
07 – Observe o emprego dos adjetivos no texto e responda: que papel exercem essas palavras no desenvolvimento da argumentação? Retire um exemplo do texto para explicar sua resposta.
      O aluno deve perceber que o adjetivo não só pode indicar caracterização – o que é tradicionalmente ensinado pela gramática –, mas também pode exprimir a avaliação do produtor do texto em relação aos fatos apontados. Estão nesse último caso adjetivos como aborrecido, dantesco, odioso, resoluto.

08 – Observe a construção “... não por suas enormes potencialidades, mas pela diversidade de aberrações que foi capaz de produzir...” (5° parágrafo). Em sua opinião, o emprego da estrutura “não... mas...” consegue que efeito sobre o leitor?
      A primeira parte da estrutura apresenta ao leitor posição diferente daquela adotada pelo produtor do texto, que coloca sua opinião na segunda parte da estrutura. Isso faz com que o leitor veja nessa segunda parte um argumento de mais força do que o da primeira.

09 – Comente o valor argumentativo da construção “Torna-se inevitável assim constatar que...” (último parágrafo).
      É uma estrutura aparentemente impessoal que induz a aceitar como inquestionável e absolutamente lógica a conclusão a que se vai chegar.

10 – Você conhece o problema analisado pelo texto? De que forma esse problema se relaciona com você?
      Resposta pessoal do aluno.

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