ARTIGO DE OPINIÃO: Sobre
os Velhos
O
envelhecimento médio brasileiro enriquecerá a população
As palavras ancião, velho, velhice são
bonitas, são um elogio, assim como jovem, juventude. A pessoa velha também é
jovem. E é criança, conserva dentro de si tudo o que viveu. Esse é o encanto da
velhice. É o tempo da plenitude.
Os velhos são pessoas sábias, que têm
muito a nos ensinar. Devemos retribuir com veneração, respeito, amor. Não
aquele amor bondoso e opressivo, aquela “tirania que inventa cuidados e temores
que machucam”. Uma vez saí com minha nora e uma amiga sua, muito gentil, que me
dava a mão a cada meio fio da rua, e me enchia de cuidados, tantos que acabei
tropeçando. Como escreveu Paulo Mendes Campos, “libertemos os velhos de nossa
fatigante bondade”.
A verdade é que gosto muito dos velhos.
Acho bonitas as marcas da vivência, os cabelos brancos, as pausas na fala de um
velho, seus silêncios significativos, suas impaciências, nossa fragilidade
humana exposta, sua experiência. Sempre gostei de pessoas experientes, porque
sempre gostei de aprender. Desde menina procurei a companhia de pessoas mais
velhas. E hoje me sinto uma pessoa tão velha, tão velha como se tivesse
quinhentos anos. E tenho, mesmo, porque escrevi livros passados nos séculos 16,
17, 18, 19 e 20, e é como se eu tivesse realmente vivido nesses tempos. Costumo
brincar com o poeta Marco Lucchesi dizendo que ele é o único amigo mais velho
do que eu, pois escreve sobre a origem do universo, as estrelas, os desertos.
Ainda assim, nunca me sinto à altura de dizer o que diz um velho, nem tenho a
mesma intensidade, nem a mesma segurança, não tenho a mesma prudência, nem o
mesmo juízo agudo e eficaz. Cada palavra que um ancião diz vem carregada de
significados, memórias, histórias vividas, de conhecimentos e autoridade. Suas
palavras têm maior peso, maior valor. Ser velho é sinônimo de ser sábio.
Os velhos vivem um fenômeno curioso
chamado ecmnésia. Uma luz misteriosa
vem a suas mentes, e eles se recordam cada vez mais de seu passado distante, de
sua infância, lembram-se de detalhes, revivem com intensidade coisas
acontecidas em suas vidas. Eles gostam de relatar essas memórias, e é
maravilhoso ouvi-las. Essa criação inteligente da natureza nasce de um
sentimento de preservação da memória, e a memória é uma negação do tempo.
Porque o tempo é apenas uma convenção para organizarmos nossa compreensão do
mundo. Tudo o que existiu continua a existir, e os velhos nos ensinam essa e
outras lições.
Durante muitos anos, o Brasil foi um
país de jovens, quando havia um crescimento da população maior que o
crescimento da expectativa de vida. Hoje, as pessoas nascem menos e vivem mais.
O Brasil está se tornando um país de velhos, e imagino que isso vá melhorar as
coisas. A pressa, o ímpeto, a rebeldia, o sentimento de imortalidade, a
descrença, a falsa sensação de que sabem tudo, essas coisas dos jovens, vão dar
lugar à experiência, maturidade, fé, e maior capacidade de amor e compreensão.
Cuidado, jovens, aí vêm os velhos, furiosos.
Ana Miranda é escritora, autora de Boca
do Inferno, Desmundo,
Amrik, Dias &
Dias, Deus-dará, entre outros livros.
Extraído da revista Caros
Amigos, n° 92, novembro/2004.
Entendendo o texto:
01 – Por que o subtítulo diz
que o envelhecimento enriquecerá a população?
Porque os velhos são pessoas sábias, que
têm muito o que ensinar para os jovens.
02 – Por que a autora, no
título do texto, coloca o nome “Sobre os Velhos”?
Porque ela acha um palavra bonita, assim
como ancião, velhice são elogios.
03 – A autora diz que toda
pessoa velha também é jovem, o que ela quis dizer?
Que a pessoa velha conserva dentro de si
tudo o que viveu quando criança (jovem).
04 – De acordo com o texto,
o que é o tempo da plenitude?
É o tempo que os idosos tem para que
possam usufruir das coisas boas da vida, que quando jovens não foi possível.
05 – Qual é o tipo de
cuidado e gratidão, que temos que ter com os idosos e qual não podemos ter?
Temos que
retribuir com veneração, respeito e amor. E nunca com aquele amor bondoso e
opressivo. Aquela “Tirania que inventa cuidados e temores que machucam”.
06 – Quais são as marcas da
vivência dos velhos?
Os cabelos brancos; As pausas na fala; Os
silêncios significativos; Suas impaciências; Sua fragilidade humana e suas
experiências.
07 – De acordo com a autora,
cada palavra de um idoso, vem carregado de significados, quais são?
Vem carregados de memórias; histórias
vividas; de conhecimentos e autoridades.
08 – Os velhos vivem um
fenômeno curioso chamado ecmnésia, o
que significa?
É um tipo de amnésia, em que o indivíduo
conserva a memória de fatos anteriores, revivem com intensidade coisas
acontecidas em sua vida passada.
09 – Por que o Brasil
durante muitos anos, foi considerado um País de jovens?
Porque havia um crescimento da população
maior que o crescimento da expectativa de vida.
10 – De acordo com o texto,
o Brasil está se tornando um País de velhos, o que a autora quis dizer?
Que a pressa, o ímpeto, a rebeldia, o
sentimento de imortalidade, a descrença, a falsa sensação de que sabem tudo,
essas coisas dos jovens, vão dar lugar à experiência, maturidade, fé, e maior
capacidade de amor e compreensão.
11 – Por quem foi escrito
este texto?
Pela escritora Ana Miranda.
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