domingo, 17 de julho de 2022

CRÔNICA: EXPERIÊNCIA NOVA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Experiência nova   

               Luís Fernando Veríssimo

        Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e levaram para a delegacia.

        – Que vida mansa, hein, vagabundo? Roubando galinha pra ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai pra cadeia!

        – Não era pra mim não. Era pra vender.

        – Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

        – Mas eu vendia mais caro.

        – Mais caro?

        – Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.

        – Mas eram as mesmas galinhas, safado.

        – Os ovos das minhas eu pintava.

        – Que grande pilantra…

        Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.

        – Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega…

        – Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio.

        – E o que você faz com o lucro do seu negócio?

        – Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui a exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para os programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

        O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:

        – Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

        – Trilionário. Sem contar o que eu sonego do Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

        – E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

        – Às vezes. Sabe como é.

        – Não sei não, excelência. Me explique.

        – É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui pego, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.

        – O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

        – Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

        – Sim. Mas primário, e com esses antecedentes…

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Todas as comédias. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Fonte: Livro Língua Portuguesa – Singular & Plural – 7° ano – Laura de Figueiredo – 2ª edição. São Paulo, 2015 – Moderna. p. 262-4.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Oligopólio: domínio do mercado por um pequeno número de empresas.

·        Superfaturar: cobrar preço exageradamente alto, geralmente de forma fraudulenta.

·        Iminência: ameaça.

·        Antecedentes: fatos do passado de uma pessoa.

02 – Por que o delegado vai mudando a forma como trata o cara que foi pego roubando galinhas?

      Porque o delegado percebe que ele, apesar de criminoso, é rico e importante.

03 – Ovigopólio é um neologismo (palavra nova) criado pela fusão de duas outras palavras. Quais são elas?

      Ovo e oligopólio.

04 – Deduza: O que seria um ovigopólio?

      É a união dele e outros donos de galinheiro se juntaram para dominar o mercado de ovos.

05 – Quais são o sujeito e o núcleo do sujeito na oração “O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso”?

      Sujeito: O delegado; Núcleo: delegado.

06 – De que tipo é esse sujeito: simples ou composto? Justifique.

      Sujeito simples, pois tem apenas um núcleo.

07 – Releia este trecho:

        “O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:”

I – Na oração destacada, quem foi que perguntou?

      O delegado.

II – O que você observou na oração para responder à pergunta anterior?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O sentido do texto e a terminação do verbo.

08 – Fizemos algumas modificações nesse trecho que você releu. Leia.

        “O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e o delegado perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois o delegado perguntou:

I – O que foi modificado nesse trecho?

      Foi colocado o substantivo “delegado” antes do verbo “perguntou”.

II – O que você achou da modificação? Justifique sua opinião.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O texto ficou repetitivo.

III – Em sua opinião, por que o autor optou por não escrever todos os sujeitos de todos os verbos desse trecho?

      Provavelmente, para o texto não ficar repetitivo.

 

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