domingo, 31 de julho de 2022

ARTIGO EXPOSITIVO: LITERATURA LEITORES E LEITURA - MARISA LAJOLO - COM GABARITO

 Artigo expositivo: Literatura leitores e leitura                 

                               Marisa Lajolo

        Não se pode dizer que literatura é aquilo que cada um considera literatura? Por que não incluir no conceito de literatura as linhas que cada um rabisca em momentos especiais, como o poema que seu amigo fez para a namorada, mandou para ela e não mostrou para mais ninguém? Por que não chamar de literatura a história de bruxas e bichos que de noite, à hora de dormir, sua mãe inventava para você e seus irmãos? [...]

        Esses textos não têm a mesma cidadania literária que o romance famoso de Gustave Flaubert (1821-1880) ou de José de Alencar (1829-1877)? [...]

        E discutir literatura é abrir os olhos e ouvidos, e olhar e ouvir em volta, ler livros, meditar sobre as frases pintadas a spray em muros e edifícios da cidade, e fazer a eles a pergunta: o que é literatura? [...]

        Alguns livros são muito conhecidos e estão em todas as livrarias, todos conhecem o nome de quem os escreveu. [...]

        Já outros – muitos e muitos outros – não desfrutam desta festa toda.

        Seus nomes são desconhecidos, suas obras são difíceis de serem encontradas, não constam das bibliotecas, ninguém fala delas. Eles imprimem às vezes seus próprios livros e não encontram leitores para além da família e dos amigos mais próximos.

        Em pequenas comunidades, cantadores, repentistas, contadores de histórias – embora só raramente projetem seus nomes nos circuitos eruditos das grandes cidades – são amados e respeitados por um público, que é fiel a eles.

        Enquanto isso, em segmentos modernos e requintados da indústria livreira, livros de grande sucesso – os best-sellers – podem ser escritos em uma espécie de linha de montagem, começando a produção da obra por um levantamento das expectativas do público: tipo de história de que gosta mais, frequência esperada de cenas de sexo e de violência, cenários e ambientes preferidos, coisas assim. Com base nesses dados, pode-se escrever um romance sob medida para um certo tipo de público. Como investimento comercial, livros desse figurino correm riscos mínimos e oferecem boas perspectivas de retorno financeiro. [...]

        Com formas tão diferentes de produção e circulação de objetos igualmente denominados literatura, será que é possível defini-la? Vamos chamar igualmente de literatura os romances de autores contemporâneos consagrados como Ariano Suassuna e Lya Luft, poesias de Manoel de Barros ou de Adélia Prado e as produções quase anônimas de cantadores de feira e autores marginais? Vão para o mesmo saco (de gatos...) best-sellers escritos quase que de encomenda e requintadas obras de vanguarda que apenas poucos leitores entendem? [...]

        Será que são literatura os poemas adormecidos em gavetas, pastas, fitas, disquetes, CDs, cadernos e arquivos pelo mundo afora, os romances que a falta de oportunidade impediu que fossem publicados, peças de teatro nunca lidas nem encenadas e que jamais encontrarão ouvidos de gente? Será que tudo isso é literatura?

        Pode ser, pode ser...

        E, se não é literatura, por que não é? Para uma coisa ser considerada literatura tem de ser escrita? Tem de ser editada? Tem de ser impressa em livro e vendida ao público? [...]

        A resposta é simples. Tudo isso é, não é e pode ser que seja literatura. Depende do ponto de vista, do significado que a palavra tem para cada um, da situação na qual se discute o que é literatura. [...]

LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001. p. 12-16.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 92-4.

Entendendo o artigo expositivo:

01 – Registre no caderno a alternativa que melhor sintetiza o objetivo do texto.

a)   Conceituar literatura de forma objetiva.

b)   Problematizar conceitos de literatura do ponto de vista da indústria cultural, dos leitores e da tradição.

c)   Valorizar a literatura popular, os repentistas e os contadores de história.

d)   Mostrar as origens da literatura do ponto de vista histórico.

e)   Criticar uma certa parcela de leitores que valoriza best-sellers.

02 – Releia a seguinte passagem:

        “Esses textos não têm a mesma cidadania literária que o romance famoso de Gustave Flaubert (1821-1880) ou de José de Alencar (1829-1877)?”

a)   A que se refere expressão Esses textos?

Refere-se aos exemplos de textos citados anteriormente: textos escritos e não publicados, contos infantis, etc.

b)   O que significa a expressão de sentido figurado cidadania literária?

A expressão foi usada para caracterizar os textos que costumam ser destacados pela crítica dos jornais, pela mídia e o ambiente acadêmico (escolas, universidades, etc.)

03 – Leia o verbete:

        Best-seller: [...] [Ingl.]

1.   Livro que é um sucesso de livraria, que vende muito.

Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.

a)   Conforme a definição acima, você já leu algum best-seller? Qual?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Qual é a opinião da autora do texto sobre os best-sellers?

Ela os considera uma literatura com objetivo mais comercial.

c)   Em que trecho do texto ela demonstra esse ponto de vista?

“Espécie de linha de montagem, começando a produção da obra com um levantamento das expectativas do público”, “Como investimento comercial”.

d)   Você concorda com a opinião de Marisa Lajolo a respeito dos best-sellers? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

04 – Que tipo de frase é usado nos dois parágrafos iniciais? Com que objetivo?

      Frases interrogativas, usadas com o objetivo de problematizar o conceito de literatura.

05 – Para garantir a continuidade do assunto (a temática do texto), a autora articula as ideias usando recursos sintáticos (relação entre palavras e ideias) e semânticos (escolha de vocábulos). Identifique a alternativa em que esses recursos não foram interpretados corretamente e corrija-a no caderno.

a)   [...] Esses textos não têm a mesma cidadania literária [...]

Retoma a ideia do parágrafo anterior, usando a palavra “textos”, de sentido mais amplo (hiperônimo).

b)   [...] Já outros – muitos e muitos outros – não desfrutam desta festa toda. [...]

Contrapõe escritores desconhecidos a escritores consagrados.

c)   [...] Enquanto isso, em segmentos modernos e requintados da indústria livreira [...]

Introduz uma situação simultânea mas contrastante em relação à do parágrafo anterior: best-sellers x literatura popular.

d)   [...] A resposta é simples. Tudo isso é, não é e pode ser que seja literatura. [...]

Enfatiza o que foi perguntado nos parágrafos anteriores.

A autora não enfatiza o que foi perguntado, mas responde, resumindo as questões apontadas ao longo do texto

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