Reportagem: Uma geração descobre o prazer de ler – Fragmento
Bruno Meier
Ler obras juvenis ou best-sellers é
apenas o começo de uma longa e produtiva convivência com os livros. Essa é a
lição que anima os jovens a se aventurarem na boa literatura atual e nos
clássicos
[...] Em janeiro, a universitária Iris
Figueiredo, de 18 anos, anunciou em seu blog a intenção de organizar encontros
para discutir clássicos da literatura. A ideia era reunir jovens que estavam cansados
de ler as séries de ficção que lideram as vendas nas livrarias e passar a ler
obras de grandes autores. Trinta respostas chegaram rapidamente. No mês
seguinte, o evento notável de Iris começou: vinte adolescentes procuraram uma
sombra junto ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói – cada um com seu
exemplar de Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, debaixo do braço e
sentaram-se para conversar. Durante duas horas, leram os trechos de sua
preferência, analisaram a influência da autora sobre escritores contemporâneos
(descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em
diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding) e destrincharam
os dilemas pelos quais passaram a vivaz Elizabeth Bennett e o arrogante Mr. Darcy,
os protagonistas do romance. Iris se entusiasma ao falar do sucesso de suas
reuniões que já abordaram títulos como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar
Wilde, 1984, de George Orwell, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Desde
pequena, ela é boa leitora. Mas foi só ao descobrir a série Harry Potter que se
apaixonou pela leitura e a transformou em parte central de seu dia a dia.
Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma
década atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um
fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à
frente, argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter
os livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras
e propiciar a evolução desses iniciantes. Jovens como Iris desmentem essa tese
de forma cabal. Ler é prazer. E, uma vez que se prova desse deleite, ele é mais
e mais desejado. Basta um pequeno empurrãozinho como o que a universitária
ofereceu por meio do convite em seu blog - para que o leitor potencial
deslanche e, guiado por sua curiosidade, se aventure pelos caminhos infinitos
que, em 3000 anos de criação literária, incontáveis autores foram abrindo para
seus pares.
Várias vezes, no decorrer do último
século, previu-se a morte dos livros e do hábito de ler. O avanço do cinema, da
televisão, dos videogames, da internet, tudo isso iria tornar a leitura
obsoleta. No Brasil da virada do século XX para o XXI o vaticínio até parecia
razoável: o sistema de ensino em franco declínio e sua tradição de fracasso na
missão de formar leitores, o pouco apreço dado à instrução como valor social
fundamental e até dados muito práticos, como a falta e a pobreza de bibliotecas
públicas e o alto preço dos exemplares impressos aqui, conspiravam (conspiram,
ainda) para que o contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de
maneira irremediável. Contra todas as expectativas, porém, vem surgindo uma
nova e robusta geração de leitores no país movida, sim, por sucessos globais
como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy Jackson. [...]
Também para os cidadãos mais maduros
abriram-se largas portas de entrada à leitura. A autoajuda (e os romances com
fortes tintas de autoajuda, como A Cabana) é uma delas; os volumes que às vezes
caem nas graças do público, como A Menina que Roubava Livros, ou os autores que
tem o dom de fisgar com suas histórias, como o romântico Nicholas Sparks, são
outra. E os títulos dedicados a recuperar a história do Brasil, como 1808, 1822
ou Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, são uma terceira, e
muito acolhedora, dessas portas. É mais fácil tornar a leitura um hábito,
claro, quando ela se inicia na infância. Mas qualquer idade é boa, é favorável,
para adquirir esse gosto. Basta sentir aquele comichão do prazer, e da
curiosidade – e então fazer um esforço, bem pequeno, para não se acomodar a uma
zona de conforto, mas seguir adiante e evoluir na leitura.
VEJA Especial. São
Paulo, ed. 2217, ano 44, n° 20, 18 maio 2011, p. 98-108.
Fonte: Livro Língua Portuguesa –
Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 85-7.
Entendendo a reportagem:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Cético: Que duvida de tudo, descrente.
·
Cobal: Rigorosa; completa, perfeita.
·
Vaticínio: Ato de adivinhar o futuro.
·
Comichão: Desejo irresistível, urgente, premente.
02 – Qual é a ideia central
dessa reportagem?
Os jovens
descobrem o prazer de ler por meio da leitura de obras juvenis e de
best-sellers.
03 – Segundo a reportagem, o
que tem contribuído para a formação de uma nova geração de leitores no país?
A leitura de obras juvenis ou de
best-sellers pelos jovens e a leitura de obras de autoajuda e de romances com
elementos capazes de atrair o público adulto.
04 – Muitos especialistas
apontam o uso das novas tecnologias como uma ameaça ao hábito da leitura. As
informações apresentadas na reportagem negam ou confirmam isso? Explique.
Negam, relatando que, por meio de um
blog, uma universitária organizou encontros para discutir clássicos da
literatura.
05 – Para escrever uma
reportagem, o repórter faz entrevistas com especialistas ou testemunhas. Quem
Bruno Meier entrevistou e o que o(a) entrevistado(a) faz?
Ele entrevistou a
universitária Íris Figueiredo, de 18 anos, que organiza encontros de discussão
e leitura de clássicos da literatura.
06 – Leia o verbete:
Emular
[do lat. Aemulare] V. t. d.
1.
Ter emulação com; rivalizar ou competir com;
disputar preferência a: Grande ambicioso, não se impõe limites: emula amigos e inimigos.
2.
Pôr-se par a par de; igualar: O jovem poeta
procura emular Carlos
Drummond de Andrade.
3.
Seguir o exemplo de; imitar. [...]
Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.
a) Explique o sentido da palavra emuladas em:
“[...]
Descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de
Bridget Jones, de Helen Fielding. [...]”
Imitadas, copiadas. Corresponde à acepção 3 do verbete.
b) O que se pode deduzir dessa afirmação?
Pode-se deduzir que os escritores contemporâneos são influenciados
pelos autores clássicos e os imitam.
07 – Releia o trecho a
seguir:
“[...]Quando
a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década
atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de
resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente,
argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter os
livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e
propiciar a evolução desses iniciantes. [...]”.
Segundo a reportagem, isso se confirmou?
Não. Na reportagem se afirma que, apesar
dessas expectativas, está surgindo no Brasil uma grande geração de leitores,
motivada “por sucessos globais como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy
Jackson”.
08 – Releia mais este
trecho:
“[...] No Brasil da virada do século XX
para o XXI, o vaticínio até parecia razoável: [...]”.
a) Vaticínio tem o sentido de profecia. A que vaticínio o trecho acima se refere?
À morte dos livros e ao hábito de ler.
b) O que sustentava a crença nesse vaticínio?
Problemas no sistema de ensino, sua tradição de fracasso na formação
de leitores, o pouco valor dado à ilustração formal como valor fundamental, a
falta de bibliotecas públicas e o pequeno acervo das existentes e o alto preço
dos livros.
09 – Releia:
“[...]a
falta e a pobreza de bibliotecas públicas e o alto preço dos exemplares
impressos aqui, conspiravam (conspiram, ainda) para que o
contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de maneira irremediável.
[...]”.
a) Qual é o sentido das formas verbais conspiravam e conspiram, nesse trecho?
Iam/vão contra o acesso do público aos livros e à leitura.
b) Qual é o significado do trecho que está entre parênteses?
Acrescenta-se, dessa forma, a informação de que esses problemas ainda
persistem.
10 – Explique o sentido de
“Um livro puxa outro”, de acordo com o contexto em que foi usado.
“Um livro puxa outro” significa que a
leitura de um best-seller destinado ao público jovem, como Harry Potter (de J.
K. Rowling), por exemplo, pode levar à leitura de muitos outros clássicos, como
Grande sertão: veredas (de Guimarães Rosa) todos os citados no quadro, entre
outros.
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