domingo, 31 de julho de 2022

REPORTAGEM: UMA GERAÇÃO DESCOBRE O PRAZER DE LER - (FRAGMENTO) - BRUNO MEIER - COM GABARITO

 Reportagem: Uma geração descobre o prazer de ler – Fragmento

                       Bruno Meier

        Ler obras juvenis ou best-sellers é apenas o começo de uma longa e produtiva convivência com os livros. Essa é a lição que anima os jovens a se aventurarem na boa literatura atual e nos clássicos

        [...] Em janeiro, a universitária Iris Figueiredo, de 18 anos, anunciou em seu blog a intenção de organizar encontros para discutir clássicos da literatura. A ideia era reunir jovens que estavam cansados de ler as séries de ficção que lideram as vendas nas livrarias e passar a ler obras de grandes autores. Trinta respostas chegaram rapidamente. No mês seguinte, o evento notável de Iris começou: vinte adolescentes procuraram uma sombra junto ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói – cada um com seu exemplar de Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, debaixo do braço e sentaram-se para conversar. Durante duas horas, leram os trechos de sua preferência, analisaram a influência da autora sobre escritores contemporâneos (descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding) e destrincharam os dilemas pelos quais passaram a vivaz Elizabeth Bennett e o arrogante Mr. Darcy, os protagonistas do romance. Iris se entusiasma ao falar do sucesso de suas reuniões que já abordaram títulos como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, 1984, de George Orwell, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Desde pequena, ela é boa leitora. Mas foi só ao descobrir a série Harry Potter que se apaixonou pela leitura e a transformou em parte central de seu dia a dia. Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter os livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e propiciar a evolução desses iniciantes. Jovens como Iris desmentem essa tese de forma cabal. Ler é prazer. E, uma vez que se prova desse deleite, ele é mais e mais desejado. Basta um pequeno empurrãozinho como o que a universitária ofereceu por meio do convite em seu blog - para que o leitor potencial deslanche e, guiado por sua curiosidade, se aventure pelos caminhos infinitos que, em 3000 anos de criação literária, incontáveis autores foram abrindo para seus pares.

        Várias vezes, no decorrer do último século, previu-se a morte dos livros e do hábito de ler. O avanço do cinema, da televisão, dos videogames, da internet, tudo isso iria tornar a leitura obsoleta. No Brasil da virada do século XX para o XXI o vaticínio até parecia razoável: o sistema de ensino em franco declínio e sua tradição de fracasso na missão de formar leitores, o pouco apreço dado à instrução como valor social fundamental e até dados muito práticos, como a falta e a pobreza de bibliotecas públicas e o alto preço dos exemplares impressos aqui, conspiravam (conspiram, ainda) para que o contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de maneira irremediável. Contra todas as expectativas, porém, vem surgindo uma nova e robusta geração de leitores no país movida, sim, por sucessos globais como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy Jackson. [...]

        Também para os cidadãos mais maduros abriram-se largas portas de entrada à leitura. A autoajuda (e os romances com fortes tintas de autoajuda, como A Cabana) é uma delas; os volumes que às vezes caem nas graças do público, como A Menina que Roubava Livros, ou os autores que tem o dom de fisgar com suas histórias, como o romântico Nicholas Sparks, são outra. E os títulos dedicados a recuperar a história do Brasil, como 1808, 1822 ou Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, são uma terceira, e muito acolhedora, dessas portas. É mais fácil tornar a leitura um hábito, claro, quando ela se inicia na infância. Mas qualquer idade é boa, é favorável, para adquirir esse gosto. Basta sentir aquele comichão do prazer, e da curiosidade – e então fazer um esforço, bem pequeno, para não se acomodar a uma zona de conforto, mas seguir adiante e evoluir na leitura.

 


          [...]

VEJA Especial. São Paulo, ed. 2217, ano 44, n° 20, 18 maio 2011, p. 98-108.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 85-7.

Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Cético: Que duvida de tudo, descrente.

·        Cobal: Rigorosa; completa, perfeita.

·        Vaticínio: Ato de adivinhar o futuro.

·        Comichão: Desejo irresistível, urgente, premente.

02 – Qual é a ideia central dessa reportagem?

      Os jovens descobrem o prazer de ler por meio da leitura de obras juvenis e de best-sellers.

03 – Segundo a reportagem, o que tem contribuído para a formação de uma nova geração de leitores no país?

      A leitura de obras juvenis ou de best-sellers pelos jovens e a leitura de obras de autoajuda e de romances com elementos capazes de atrair o público adulto.

04 – Muitos especialistas apontam o uso das novas tecnologias como uma ameaça ao hábito da leitura. As informações apresentadas na reportagem negam ou confirmam isso? Explique.

      Negam, relatando que, por meio de um blog, uma universitária organizou encontros para discutir clássicos da literatura.

05 – Para escrever uma reportagem, o repórter faz entrevistas com especialistas ou testemunhas. Quem Bruno Meier entrevistou e o que o(a) entrevistado(a) faz?

      Ele entrevistou a universitária Íris Figueiredo, de 18 anos, que organiza encontros de discussão e leitura de clássicos da literatura.

06 – Leia o verbete:

        Emular [do lat. Aemulare] V. t. d.

1.   Ter emulação com; rivalizar ou competir com; disputar preferência a: Grande ambicioso, não se impõe limites: emula amigos e inimigos.

2.   Pôr-se par a par de; igualar: O jovem poeta procura emular Carlos Drummond de Andrade.

3.   Seguir o exemplo de; imitar. [...]

Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.      

a)   Explique o sentido da palavra emuladas em:

“[...] Descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding. [...]”

Imitadas, copiadas. Corresponde à acepção 3 do verbete.

b)   O que se pode deduzir dessa afirmação?

Pode-se deduzir que os escritores contemporâneos são influenciados pelos autores clássicos e os imitam.

07 – Releia o trecho a seguir:

        “[...]Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter os livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e propiciar a evolução desses iniciantes. [...]”. Segundo a reportagem, isso se confirmou?

      Não. Na reportagem se afirma que, apesar dessas expectativas, está surgindo no Brasil uma grande geração de leitores, motivada “por sucessos globais como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy Jackson”.

08 – Releia mais este trecho:

        “[...] No Brasil da virada do século XX para o XXI, o vaticínio até parecia razoável: [...]”.

a)   Vaticínio tem o sentido de profecia. A que vaticínio o trecho acima se refere?

À morte dos livros e ao hábito de ler.

b)   O que sustentava a crença nesse vaticínio?

Problemas no sistema de ensino, sua tradição de fracasso na formação de leitores, o pouco valor dado à ilustração formal como valor fundamental, a falta de bibliotecas públicas e o pequeno acervo das existentes e o alto preço dos livros.

09 – Releia:

        “[...]a falta e a pobreza de bibliotecas públicas e o alto preço dos exemplares impressos aqui, conspiravam (conspiram, ainda) para que o contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de maneira irremediável. [...]”.

a)   Qual é o sentido das formas verbais conspiravam e conspiram, nesse trecho?

Iam/vão contra o acesso do público aos livros e à leitura.

b)   Qual é o significado do trecho que está entre parênteses?

Acrescenta-se, dessa forma, a informação de que esses problemas ainda persistem.

10 – Explique o sentido de “Um livro puxa outro”, de acordo com o contexto em que foi usado.

      Um livro puxa outro” significa que a leitura de um best-seller destinado ao público jovem, como Harry Potter (de J. K. Rowling), por exemplo, pode levar à leitura de muitos outros clássicos, como Grande sertão: veredas (de Guimarães Rosa) todos os citados no quadro, entre outros.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário