Reportagem: Fios soltos e caídos de postes são risco para moradores do Recife
G1
flagrou fios presos em árvores e suspensos por falhas em postes. Na última
quinta-feira (9), menino morreu após tocar em um fio no chão.
Luna Markman Do G1 PE
Jorge da Costa mostra altura do fio e o perigo que fiação tão baixa pode representar (Foto: Luna Markman/G1) O registro de mais uma morte por
descarga elétrica no Grande Recife alerta para falhas na gestão e manutenção de
fios e postes da região. Na última quinta (9), o menino Ênio Marcondes Ferreira
de Brito, 11 anos, morreu após tocar em um fio caído no chão, no bairro de Pau
Amarelo, em Paulista. Entre 2008 e 2014, a Agência de Regulação de Pernambuco
(Arpe) registrou 113 acidentes fatais na rede da Companhia Energética de
Pernambuco (Celpe). O G1 percorreu todas as zonas da capital, na
sexta-feira (10), e constatou que uma simples caminhada pode se tornar um
risco. A reportagem encontrou fios caídos no chão, presos em árvore e orelhão e
suspensos entre postes, o que ameaça pedestres e motoristas.
No Recife, os postes são compartilhados
pelas redes elétrica e de telefonia - e é bem aí que está o problema. De acordo
com o engenheiro elétrico Clidenor Moura, no topo dos postes vai a rede de alta
tensão, que distribui energia das subestações da Celpe, com tensão a partir de
13.800 Volts. Mais abaixo ficam os cabos da rede de baixa tensão, com 380 V.
Por fim, os cabos de telefonia, com 1 Volt.
O engenheiro diz que o nível de tensão
dos cabos de telefonia é pequeno e não causaria choque, mas o risco de acidente
não é nulo. "Se um cabo de telefonia, que é um condutor de metal, tocar em
um cabo da rede elétrica energizado e desencapado, poderá ocasionar sim um
choque elétrico e a vítima pode até morrer", explicou.
Fotos capturadas pelo G1 foram enviadas à Celpe. Em nota, a companhia informou que os casos retratados se tratavam de fios de telecomunicações. Por ser responsável pelos postes, a empresa afirmou que vai notificar as operadoras para que realizem a regularização dos cabos.
Em relação ao compartilhamento dos
postes, a Celpe informou que criou um grupo de trabalho com a finalidade de
cobrar das operadoras de telecomunicações a identificação e regularização dos
casos de fiação em desacordo com as normas setoriais. As distribuidoras de
energia elétrica de todo o País, por força da Resolução Conjunta nº 001/1999,
da Aneel/Anatel/ANP, são obrigadas a compartilhar seus postes com as operadoras
de telefonia, TV a cabo e transmissão de dados, entre outras.
Ainda segundo a Celpe, embora a
legislação vigente preconize que cada uma das operadoras zele por suas redes,
na prática, verifica-se o descumprimento das normas legais pela maioria das
empresas de telecomunicações. Por fim, a concessionária esclareceu que o valor
arrecadado com aluguel dos postes é revertido para a modicidade tarifária, não
se constituindo em receita adicional para a concessionária.
O G1 procurou a Arpe,
responsável por regular os serviços públicos delegados pelo Estado, para
questionar sobre a fiscalização em relação à Celpe, mas a reportagem foi
informada que o retorno não poderia ser dado na sexta.
Clima
de insegurança
Durante a reportagem, pedestres
expressaram sentimento de medo e insegurança em relação aos fios,
principalmente, pela dúvida: dá ou não choque? Identificar apenas com a visão o
que é rede elétrica e o que é telefônica não é tão simples para leigos e o
desempregado Jorge Luiz da Costa prefere não fazer o teste com as mãos.
Ele passava pela Praça Flemming, no
bairro da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, quando se deparou com uma fiação
solta. Bastou levantar o braço para ver que era possível tocá-la. "Acho
que isso aqui tem algum risco. Se chover, por exemplo. Pode ser também que caia
no chão e cause um acidente a um idoso ou a uma criança", disse.
A mesma "surpresa" teve o
zelador Edmário Silva, que varria uma calçada na Avenida 17 de Agosto, em Casa
Forte, também na região Norte, quando foi alertado para a existência de um
grosso fio amarrado em uma árvore. "A pessoa fica olhando para baixo e nem
percebe. Eu chega tomei um susto. Acho que dá choque se tocar", comentou.
Sonho
ainda distante
Em dezembro passado, a Câmara de Vereadores
do Recife aprovou projeto de lei que obriga empresas energéticas e de
telecomunicações a embutir no subsolo todo o cabeamento, até 2015. A lei diz
que essas empresas devem adaptar ou substituir a fiação de toda a cidade. No
entanto, não prevê nenhuma obrigação ou despesa para a Prefeitura do Recife. Em
entrevista ao G1, no dia 31 de dezembro, o prefeito Geraldo Júlio reiterou
que o embutimento faz parte do seu programa de governo, mas não deu prazo para
início das obras, explicando que o governo precisa de recursos da iniciativa
privada. Só para o Bairro do Recife, seria necessário o investimento de R$ 60
milhões.
Olhar
atento
Há seis meses, o designer e ilustrador
Eduardo Souza, 22 anos, passou a fotografar postes e fios do Recife. Não por
acaso, a data coincide com a morte do advogado e músico Davi Santiago, 37
anos, eletrocutado depois de se enroscar com um fio de um poste na Avenida
Visconde de Jequitinhonha, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.
Na época, Eduardo morava longe do
trabalho e, no caminho, começou a reparar em várias "bizarrices".
"Tirava fotos porque achava absurda essa situação", explicou. As
imagens são postadas no Instagram e num tumblr criado por ele, chamado "Recife,
cidade dos fios e dos postes”.
A ideia é que a página seja
colaborativa. "Foi uma atitude meio crítica, mas nada planejado em relação
aos resultados. Pensei que as pessoas iam despertar também para isso, mandando
foto para que a gente possa mostrar quais são as áreas mais perigosas. Por ter
esse olhar de designer, acredito também que esses fios e postes influenciam a
paisagem da cidade", disse.
No momento em que Eduardo tirava fotos,
na manhã da sexta, do poste que fica em frente à Fundação Joaquim Nabuco
(Fundaj), em Casa Forte, o aposentado Fernando Aquino reclamou que a situação
já está assim há mais de um mês.
"É um absurdo isso. Venho almoçar
aqui perto e sempre vejo isso. Há poucos meses, meu filho estava correndo em
Boa Viagem quando se deparou com um fio no chão. Ele teve que sair driblando,
com medo de levar choque e morrer", contou.
Disponível em: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/01/fios-soltos-e-caidos-de-postes-sao-risco-para-moradores-do-recife.html.
Acesso em: 28 jan. 2015.
Fonte: Livro Língua
Portuguesa – Singular & Plural – 7° ano – Laura de Figueiredo – 2ª edição.
São Paulo, 2015 – Moderna. p. 123-7.
Entendendo a reportagem:
01 – Resuma o problema que a
reportagem relata.
Segundo o texto,
há problemas com fios das redes elétricas e de telefonia do Grande Recife,
colocando em risco a vida das pessoas.
02 – Que órgãos o jornal procurou
para relatar o problema? Qual seria a responsabilidade de cada um feles?
A Companhia
Energética de Pernambuco (Celpe), responsável pelos postes que sustentam a rede
elétrica, e as de telefonia; a Agência de Regulação de Pernambuco, responsável
por regular os serviços públicos delegados pelo Estado.
03 – Houve resposta
satisfatória desses órgãos?
A Celpe se
posicionou, afirmando que os fios com problemas seriam das operadoras de
telefonia e que iria notifica-las para que realizassem a regulação dos cabos.
Já a Arpe não conseguiu dar uma resposta em tempo para a reportagem.
04 – Há em seu bairro,
especialmente em sua rua, problemas assim? Retome a lista de problemas
ambientais que você fez e, se necessário, faça acréscimos, já indicando quem
poderia ou deveria ajudar a resolvê-los.
Resposta pessoal
do aluno.
05 – Releia: “O registro de mais uma morte por descarga
elétrica no Grande Recife alerta para falhas na gestão e manutenção de fios e
postes da região”. Com que possível intencionalidade foram usadas as palavras
em destaque? O que se pretende causar no leitor?
A expressão banaliza a morte, como se já
tivesse se tornado comum morrer por descarga elétrica no Grande Recife. Seu
uso, possivelmente, visa chamar a atenção do leitor par isso.
06 – Quem a reportagem
entrevistou para saber sobre os riscos de haver em um mesmo poste fios das
redes elétrica e de telefonia? Por que provavelmente essa pessoa foi escolhida
como fonte e sua fala, citada?
Clidenor Moura.
Por ser engenheiro esse entrevistado tem uma opinião técnica, com conhecimentos
específicos sobre o tema, que o qualificam para falar do assunto. Assim, a
citação de uma fala fortalece a posição da reportagem de que há problemas na
fiação do Recife, funcionando como um argumento de autoridade.
07 – O que são os pontos em
vermelho no infográfico que integra a reportagem?
São locais em que há emaranhados de fios,
colocando em risco as pessoas que passam perto.
· Como as informações trazidas pelo infográfico ampliam o que está sendo relatado na reportagem?
Na reportagem são relatados problemas de fiação em algumas
localidades, como praça Flemming e Cada Forte. Já o infográfico apresenta, de
forma objetiva e econômica, várias ruas, de diferentes bairros, com o mesmo
problema, dando, assim, ao leitor uma dimensão bem maior do problema com fiação
na cidade do Recife.
08 – Por que Eduardo Souza
também foi entrevistado e citado na reportagem?
Ele se valeu das
redes sociais para criar o canal “Recife, cidade dos fios e dos postes”, em que
publica fotografias de postes e fiação em situações de risco.
09 – Releia:
“Há seis meses, o designer e ilustrador
Eduardo Souza, 22 anos, passou a fotografar postes e fios do Recife. Não por
acaso, a data coincide com a morte do advogado e músico Davi Santiago
[...]”.
a) Que ideia está implícita no trecho destacado?
A de que a morte de Davi Santiago mobilizou a iniciativa de Eduardo
Souza.
b) Compare a iniciativa de Eduardo Souza com a de José Carlos Pereira. O que há em comum? Qual exige a solução de forma mais direta? Por quê?
A iniciativa do jovem Eduardo Souza contribuiu para a
conscientização das pessoas e funciona como uma espécie de denúncia coletiva e
pública do problema, pressionando os responsáveis por sua solução, mas de forma
indireta, uma vez que seus canais na internet podem ser acessados por qualquer
pessoa, sem ter um interlocutor específico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário