Texto: O corpo fala – demais!
José Angelo Gaiarsa
Com Reich começamos a ampliar a noção
de que o corpo fala tanto quanto a palavra. Na verdade sem este contexto,
não-verbal, sem esta cara e gesto, sem este tom de voz, sem esta situação e
personagens, a frase não terá sentido – este sentido. A análise da comunicação
verbal feita levando-se em conta exclusivamente as palavras é tão inócua como
estudar aerodinâmica na Lua – onde não há atmosfera e não pode existir avião
como nós o conhecemos.
O que dá sustentação, força e sentido
aos pronunciamentos verbais é precisamente a cara, o tom de voz, o gesto e a
posição. Tudo isso entra em cena, isto é, numa situação. (...)
De tal forma a palavra engoliu a
comunicação humana, que para a maior parte das pessoas ela é toda a
comunicação. Mas tanto a observação atenta das pessoas como o cuidadoso
registro cinematográfico das mesmas vão nos mostrando que qualquer diálogo
envolve três conjuntos expressivos simultâneos – quando menos.
Primeiro o que eu disse ou pensei – e
que pode ser escrito. Depois o meu tom de voz e/ou a música da frase, que é
inteiramente outra coisa, a revelar o tempo inteiro minha disposição emocional.
Quando tristes, com raiva, interessados ou ressentidos, nossa voz revela o
tempo todo os sentimentos que acreditamos secretos – ou que nem percebemos!
Além da letra e da música da palavra,
temos a encenação ou a dança gestual – as caras, as poses e gestos que
acompanham a frase. Qualquer pronunciamento envolve todos esses elementos, e a
alteração de qualquer um deles altera o sentido do que pretendemos comunicar.
Sabemos todos que é assim, mas arrastados pelo sentido das palavras, quase
nunca lembramos que é assim. Nem usamos – intencionalmente – o que sabemos.
VAMOS
ENTRAR
Fizemos uma descrição da nossa
capacidade expressiva vista por fora. Vamos tentar dizer alguma coisa sobre
ela, conforme a percebemos interiormente.
A imensa maioria das pessoas acredita,
ao falar, que o importante é o rosário das palavras, que este rosário diz
exatamente o que elas pretendem e, implicitamente, o que a música da voz e a
dança dos gestos estarão completamente de acordo ou integradas às palavras
ditas.
Mas se fosse assim a pessoa não
estranharia nada, nem a própria figura vista num teipe, nem a própria voz e
suas inflexões ouvidas num gravador. Muito menos estranharia as reações dos
outros “ao que ela disse!”.
Nossa estranheza ante nossa imagem e
nossa voz mede exatamente a distância ou a diferença entre o que pretendemos
comunicar, e o que o outro recebe – ou entende.
Como se percebe, é sempre o corpo que
atrapalha! Quem manda ele não usar a voz certa ou fazer o gesto que cabe?
É tal nossa inconsciência de nossa
música vocal e do que ela insinua, dos nossos gestos e o que eles sugerem que,
ao percebermos, que o outro não nos entendeu atribuímos a ele, invariavelmente,
a culpa. Ele é que não prestou atenção, que não se interessa. Que está azedo ou
com raiva, com inveja e quanto mais.
Sempre ele, a culpa é sempre dele. Você
conhece muito bem este refrão leitor – não conhece?
Perceber o próprio corpo significa, em
todas as situações, reconhecer todas as nossas intenções, tanto as que vão
expressas nas palavras, como as que vão incluídas no tom da voz, nos gestos,
nos olhares, na expressão da boca, no jeito do corpo... (...).
GAIARSA,
José Ângelo. O que é corpo. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 14-25. Coleção
Primeiros Passos.
Fonte: Livro Língua
Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016.
p. 23 – 6.
Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Reich: Wilhelm Reich (1897-1957) foi um psicólogo e psicanalista
austríaco.
·
Inócua: inocente, inofensiva; dispensável, desinteressante.
·
Aerodinâmica: estudo do ar e de outros gases em movimento.
·
Rosário
das palavras: expressão de
linguagem figurada que significa “muitas palavras pronunciadas de uma vez e
sucessivamente”.
02 – O texto que você leu
é um trecho do livro “O que é
corpo”, de José Angelo Gaiarsa, que faz parte da coleção “Primeiros Passos”.
a) De acordo com o título da coleção, a quem o texto se destina? Ou seja, qual é o seu público-alvo?
O público-alvo da coleção são pessoas não especializadas nos temas
por ela trazidos, mas interessadas em conhece-los melhor.
b) Em sua opinião, por que essa coleção tem esse nome?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A expressão “primeiros passos”
sugere que o público a ser atingido não é especializado nos temas propostos.
Trata-se de uma coleção que se propõe publicar sobre diversos assuntos para
iniciantes.
03 – Entre as concepções e
os pontos de vista apresentados a seguir há uma/um que não foi apresentado pelo
autor. Registre-a/o no caderno.
a) O
enunciado verbal por si só nem sempre dá conta de expressar as intenções de
quem fala/ouve.
b) A
linguagem corporal, junto com a verbal, constrói o sentido do que se quer
comunicar na língua falada.
c) Os
diálogos orais se constroem simultaneamente com a linguagem verbal, a
entonação e a linguagem gestual, em dada situação.
d) Sem a expressão corporal e a entonação de voz, a palavra é
destituída de sentido.
e) Do
mesmo modo que a palavra, a expressão corporal é capaz de produzir sentido.
04 – Registre no caderno a
passagem em que o autor explica o que é contexto não verbal.
A passagem do
texto em que se encontra essa explicação está no início do primeiro parágrafo:
“[...] o corpo fala tanto quanto a palavra. [...] sem esta cara e gesto, sem
este tom de voz, sem esta situação e personagens, a frase não terá sentido –
este sentido”.
05 – Registre no caderno a
alternativa que não expressa
um dos objetivos do texto.
a) Apresentar informações a respeito da linguagem.
b) Descrever o processo de interlocução.
c) Apresentar conceitos.
d) Dar instruções ao leitor, a fim de que ele melhore o seu desempenho linguístico.
06 – Em textos de divulgação
científica, é comum o autor reescrever trechos sem alterar o sentido, ou seja,
fazer uma paráfrase. A reescrita tem
a finalidade de promover a clareza e facilitar a compreensão do texto.
a)
Leia:
“Na verdade sem este contexto, não-verbal, sem esta cara e gesto, sem este tom de voz, sem esta situação e personagens, a frase não terá sentido – este sentido.”.
a) Essa sentença, extraída do texto de José Angelo Gaiarsa, é paráfrase de outro trecho do mesmo texto. Identifique-o e registre-o no caderno.
“O que dá sustentação, força e sentido
aos pronunciamentos verbais é precisamente a cara, o tom de voz, o gesto e a
posição. Tudo isso numa cena, isto é, numa situação”.
b) Leia este outro trecho:
“[...] qualquer diálogo envolve três
conjuntos expressivos simultâneos [...]”. Em que trecho do texto
essa informação é paráfrase?
No trecho seguinte: “Qualquer pronunciamento envolve todos esses
elementos, e a alteração de qualquer um deles altera o sentido do que
pretendemos comunicar”.
07 – Para organizar seus
argumentos de forma didática, o autor enumera “três conjuntos expressivos simultâneos”, que, segundo ele, compõem
o diálogo. Identifique-os e registre-os no caderno.
Primeiro, a fala e/ou a escrita. Segundo,
o tom de voz e/ou a música da frase. Terceiro, a encenação ou a dança gestual,
a expressão corporal.
08 – Em algum(ns) dos
trechos abaixo, o emprego da primeira pessoa do discurso representa o ponto de
vista do autor e daqueles que compartilham de sua opinião. Registre esse(s)
trecho(s) no caderno e justifique sua(s) escolha(s).
a) Com Reich começamos a ampliar a noção de que o corpo fala tanto quanto a palavra.
b) Fizemos uma descrição da nossa capacidade expressiva vista por fora.
c) Primeiro o que eu disse ou pensei – e que pode ser escrito.
d) Nossa estranheza ante nossa imagem e nossa voz mede exatamente a distância ou a diferença entre o que pretendemos comunicar e o que o outro recebe – ou entende.
Trechos a e d. Em a, o
uso da primeira pessoa do plural denota que o autor busca o aval nas teorias do
psicanalista Wilhelm Reich e conta a adesão dos leitores, que certamente
compartilham de seu ponto de vista. Em d,
o autor se inclui entre aqueles que eventualmente vivem essa situação.
09 – Leia as afirmações a
seguir:
O processo interativo é uma encenação e os interlocutores são as personagens.
A palavra é toda comunicação.
·
A falta de sintonia entre palavras, voz e
gesto dificulta a interação.
· O importante é o rosário de palavras
a) Qual (ou quais) das afirmações representa(m) opiniões do autor? Registre-as no caderno.
O processo interativo é uma encenação e os interlocutores são as
personagens. A falta de sintonia entre palavras, voz e gesto dificulta a
interação.
b) Qual (ou quais) das afirmações representa(m) opiniões do senso comum e é (são) contrária(s) à tese defendida pelo autor?
A palavra é toda comunicação. O importante é o rosário de palavras.
10 – Leia os recursos
argumentativos expostos a seguir e registre no caderno aquele que não foi usado
no texto.
a) Citação de autoridade no assunto.
b) Exemplificação e comparação.
c) Contraposição de ideias.
d) Enumeração de ideias.
e) Uso de dados numéricos e estatísticos.
f)
Retomada de ideias usando o recurso da
paráfrase (reescrita usando outras palavras).
11 – Você concorda com a
tese do autor? Explique no caderno.
Resposta pessoal
do aluno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário